Universidade Federal de Pernambuco
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Departamento de História
História Moderna II
Docente: Severino Vicente da Silva
Trabalho escrito e apresentado pelos Graduandos do V período em História:
Armando Augusto Siqueira
Luiz Henrique Assis de Barros
Manoel Felipe Batista Da Fonseca
Roberto Luiz de Carvalho Freire
Wanderson Édipo de França
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AS CIDADES NA IDADE MODERNA OCIDENTAL
Das Cidades no Cenário da Economia Capitalista Mercantil e da Ineficiência das Interligações entre elas no Século XVII.
Por volta do século XVI as relações de produção ainda eram predominantemente feudais, embora tivesse início o processo de transformações. A mudança era produzida pelas atividades mercantis, na esfera da circulação de mercadorias a grandes distâncias. Configurava-se o mercado em nível mundial. As organizações feudais que se caracterizavam por serem voltadas para uma ordem interna, gradualmente passavam a visar uma ordem cada vez mais ampla e externa. Novos valores, padrões, ideais e perspectivas são incutidos na mentalidade da sociedade européia. No tocante à economia:
Antes mesmo da centralização política, em sua forma mais absoluta, ter encontrado expressão no plano barroco, o centro de gravidade começara sutilmente a passar para uma nova constelação de forças econômicas. A política do Estado, chamada mercantilismo, que procurava transferir à direção centralizada da coroa o protecionismo e o controle monopolístico da cidade medieval, revelou ser apenas uma fase de transição.
A instituição que representou essas novas significações leva o nome de capitalismo. O século XVII foi um palco decisivo para as transições do modo de produção feudal para o capitalista. “No século XVII, o capitalismo altera a balança de poder. A partir daquela época, o estímulo à expansão urbana veio principalmente dos mercadores, dos financistas e dos senhores de terras, que serviam às suas necessidades.” Tais estímulos fez com que os horizontes fossem ampliados mais e mais. Não que o comércio estivesse estagnado na Idade Média. Prova disso são as redes de comércio existentes em tal período, destacando-se a Liga Hanseática . Mas é na Idade Moderna que acontecerá a Revolução Comercial, ampliando o perímetro de transações de comércio a níveis cada vez mais globais.
O hermetismo das cidades medievais já não comportava as expansões dentro das muralhas. Dessa forma:
As novas forças favoreciam a expansão e a dispersão em todas as direções, da colonização além dos mares à construção de novas indústrias, cujos melhoramentos tecnológicos simplesmente cancelavam todas as restrições medievais. A demolição de suas muralhas urbanas foi, ao mesmo tempo, prática e simbólica.
As forças que fez com que as muralhas das cidades medievais ruíssem foram grandemente aumentadas pela pressão da invenção de equipamentos mecânicos e da produção industrial em larga escala. A princípio, a circulação predominava perante a produção. O capital comercial só deixa de ocupar seu lugar de destaque quando ele abre caminho para o insipiente capital industrial, a produção em série.
Foi com Frederico, o grande, ao abandonar os costumes germânicos pondo as terras em bases jurídicas romanas, que um dos pilares do feudalismo foi minado. “Quando a terra se tornou um produto, e não um bem permanente, fugiu a qualquer controle comunal.” Assim, outra brecha se abriu para que o sistema com base no capital despontasse e preparasse o túmulo sistema feudal.
O resultado foi a introdução dos costumes da praça de mercado, de modo universal, nos diversos cantos da cidade. Assim, nenhuma parcela dela ficava isenta de mudança, desde que esta pudesse ser conseguida por meio da troca de um lucro. “A atividade comercial das cidades manifesta-se a princípio, nas feiras e nos mercados, segundo toda uma hierarquia que vai do simples mercado (às vezes chamado de feira) à grande feira internacional, passando por feiras de irradiação local ou regional.” A cidade é regida por uma complexa ordem social de mercado. Afirma Munford:
O capitalismo, dessa maneira, por sua própria natureza, solapou a autoridade local, tanto quanto a auto-suficiência local, e introduziu um elemento de instabilidade, aliás, de corrosão ativa, nas cidades existentes. Em sua ênfase na especulação, não na segurança, nas inovações lucrativas antes que nas tradições conservadoras do valor e na continuidade, o capitalismo tendeu a desmantelar toda a estrutura da vida urbana e a colocá-la numa nova base impessoal: o dinheiro e o lucro.
Dentro do capitalismo a cidade tem como finalidade a acumulação de capital, além de sua própria maior expansão. Segundo afirmativa de Ferdinand Braudel: “A cidade tanto cria a expansão como é criada por ela.” Ainda ele:
...qualquer cidade, seja ela qual for, é antes de tudo um mercado. Faltando este, é impensável a cidade; inversamente ela pode situar-se fora de uma aldeia, até na concha de uma enseada exposta ao mar, numa simples encruzilhada de estradas, sem que por isso cresça aí uma cidade. Com efeito, todas as cidades têm necessidade de estar enraizada, de ser alimentadas pela terra e pelas pessoas que as rodeiam.
A raiz da cidade é, pois, o campo. Mundo rural e mundo urbano são elementos co-dependentes. A organização urbana é impraticável sem a organização rural. Ambos se complementam. “O mercado urbano é, pois, indispensável ao mundo rural.” Cidades mercantis, industriais, financeiras. Aglomerado demográfico não-agrícola reciprocamente consumidor e fornecedor do mundo rural. “Nunca uma cidade se apresenta sem o acompanhamento de outras cidades. Umas senhoras, outras servas ou mesmo escravas, estão ligadas, formam uma hierarquia, na Europa, na China ou em qualquer lugar.”
Hierarquia essa, válido lembrar, que não se traduz em nível campo/cidade. Não se trata de uma hierarquia dicotômica que põe em pólos opostos o rural e o urbano. “A oposição entre a cidade e o campo começa com a passagem da barbárie à civilização, do regime das tribos ao Estado, da localidade à nação e encontra-se em toda a história da civilização até os nossos dias.” Como já foi dito, campo e cidade são co-dependentes e não entidades excludentes.
O comércio à longa distância trouxe consigo a necessidade de ligações eficientes e rápidas. Porém, a economia capitalista não se apresentou de maneira concomitante á evolução dos meios de conexão entre as cidades. “As vias romanas, como artérias da terra, constituíam um milagre de construção do passado.” As expansões marítimas imprimem uma expressiva vitória para as ligações universais. Vitória esta, porém, “sem nada alterar quanto à lentidão, à imperfeição dos transportes propriamente ditos que continuam a constituir um dos limites permanentes à economia do Ancien Régime. Até o século XVIII, as navegações são intermináveis, os transportes terrestres estão como que paralisados.”
As vias eram mal projetadas e conservadas com pouco zelo. As vias que pareciam fugir à quase regra de ausência de planejamento geral eram as que faziam parte de cidades cuja fundação remontava aos tempos romanos. O caos era um corolário do uso da terra pelo proprietário, haja vista que boa parte das parcelas de terreno estava arrendada, e seus direitos de construção podiam ser vendidos.
Assim, as pessoas erigiam imóveis arbitrariamente, desde que pagassem taxas à Coroa ou à Igreja. “A desordem e a triste condição física da rua medieval resultavam do processo de crescimento. Os canais de comunicação entre as comunas, situadas na fronteira dos povoados, raramente se interligavam, e os burgos não eram planejados para se relacionarem entre si.”
A transição da Idade Média para Idade Moderna tem como característica a nova importância dada ao tempo. “A introdução de relógios urbanos no século XIII e XIV foi apenas um sintoma do fato de que os negócios já não eram regulados pelo sol e pelos poderes da estrutura humana.” As transações comerciais fazia necessário transportes que percorressem grandes extensões em tempos reduzidos. Necessidade essa que o capitalismo não teve atendida a contento no século XVII.
O desenvolvimento inexistente ou insuficiente dos meios de transporte entre as cidades no século XVII representou um obstáculo para o progresso do capitalismo. O arcaísmo dos meios de transporte e a fixidez dos itinerários foi um entrave para que as cidades comerciais se expandissem. “O crescimento da cidade comercial foi um processo lento, pois teve de enfrentar resistência tanto na estrutura quanto nos costumes da cidade medieval.” Nos diz Braudel a respeito dos transportes do tempo do Império Romano para o do século XVII:
nada mudou ou o que mudou foi muito pouco. E tudo isso comanda, dificulta as trocas comerciais e até as meras relações humanas. Os correios da época levam semanas, meses a chegar aos seus destinos. Só haverá “derrota do espaço”, como diz Ernst Wagemann, a partir de 1857, com a instalação do primeiro cabo marítimo internacional. A estrada de ferro, o barco a vapor, o telégrafo, o telefone inauguram demasiado tarde as verdadeiras comunicações de massa em escala mundial.
Já dizia Paul Valéry: “Napoleão anda tão devagar como Júlio César.” Tal assertiva parece-nos um exagero, mas carrega consigo uma parcela de verdade. A média de deslocamento é fazer cerca de 100 km por dia. Mais que isso é uma façanha poucas vezes realizadas. “Se as grandes cidades atraem a si as notícias rápidas é porque pagam a pressa e sempre tiveram meios de forçar o espaço. Um destes meios será, evidentemente, a construção de estradas empedradas ou pavimentadas, mas estas, durante muito tempo, são meras exceções.” Era em estradas ruins e com velocidades ridículas que cavalos, carros, barcos e correios a pé se locomoviam no século XVII.
As distâncias que se podia cobrir a pé era o que algumas vezes estabelecia os limites do crescimento da cidade. O ritmo de ampliação urbana podia ser diretamente proporcional ao desenvolvimento dos transportes. Porém, o aumento do perímetro das cidades era ditado por pressões multifacetadas, não se limitando ao atraso dos transportes, mas, bastante influenciado por ele.
Não se pretende nesse ensaio ser feita uma descrição dos transportes no século XVII. O propósito é mostrar até que ponto:
a troca, que é o instrumento de qualquer sociedade econômica em progresso, foi prejudicada pelos limites que lhe eram impostos pelos transportes: a lentidão, o seu magro fluxo, a sua irregularidade e, finalmente, o seu elevado custo. Tudo encalha nestas dificuldades. Para nos familiarizarmos com esta antiga e persistente realidade podemos repetir a frase já citada de Paul Valéry: “Napoleão desloca-se á mesma velocidade de Júlio César.”
A cidade moderna é, pois, como um organismo vivo. Assemelha-se a um coração pulsante que recebe e distribui um fluxo intenso e contínuo. Para tanto, faz-se necessário uma rede de artérias que conduzam tal fluxo em direção ao coração. Este necessita mais e mais de um fluxo rápido e regular. Porém, as veias e artérias que o alimenta não atendem satisfatoriamente as necessidades cardíacas. As cidades do século XVII são notoriamente influenciadas pela capacidade de conexões urbanas possíveis. Tais cidades:
representam enormes despesas, a sua economia só pode ser equilibrada de fora, outros terão que pagar seus luxos. Então, para que servem elas, neste Ocidente onde tão poderosamente surgem e se impõem? Fabricam os Estados modernos, tarefa enorme, encargo enorme. Marcam uma reviravolta na história do mundo. Fabricam os mercados nacionais sem os quais o Estado moderno seria pura ficção.
Diz-nos Lewis Munfor:
Ora, o crescimento do próprio Estado nacional, o desenvolvimento do capitalismo foi, em parte, em esforço necessário para vencer a sérias limitações da economia medieval. No esforço para alcançar uma segurança estática, as corporações medievais tinham resistido a novas invenções e novos métodos de trabalho; apegavam-se a seus segredos de ofício, às fórmulas esotéricas, a seus “mistérios”.
Em meados do século XVII, em 1628, com a obra de William Harvey, De motu cordis, uma nova compreensão corporal surge. Harvey apregoa uma nova visão do corpo, cuja sua estrutura, seu estado de saúde e sua relação com a alma dão origem a um novo modelo de imagem do homem. “Essa mais recente compreensão do corpo coincidiu com o advento do capitalismo moderno, contribuindo para o nascimento de grande transformação social: o individualismo. O homem moderno é, acima de tudo um ser humano móvel.” Um ser que circula dentro de um mercado livre, de trabalho e mercadorias, de modo parecido à circulação sanguínea.
Portanto, para transpor os obstáculos limitativos da economia medieval, foi de capital importância o papel dos novos mercadores aventureiros e empreendedores. Estes que buscavam expandir a sua produção e ampliar seus mercados. Para tanto eles incentivaram inovações tecnológicas como a máquina de tecer e balizaram-se grandemente em áreas de além-mar, à procura de matérias-primas e produtos acabados.
Assim, o embarque e o intercâmbio desses artigos configuraram uma característica determinante das cidades prósperas. Dessa forma, cada vez mais a vida econômica fugiu do controle da municipalidade. A ampliação do mercado em grosso, dedicado a operações à longa distância por meio do dinheiro e do crédito, procurando grandes lucros especulativos, teve início nas cidades medievais, com o desenvolvimento das transações de longa distância, o que não se deu sem obstáculos. Estes que residiam, principalmente, nas ineficiências das interligações entre as cidades.
A Cidade Barroca e o Palácio
As configurações estéticas das cidades barrocas eram personificações do drama e ritual que dominavam a sociedade, e na corte tinham seu maior expoente e vitrine. A corte, por sua vez, era o grande núcleo de prestígio e poder, e as grandes decisões do estado tinham nela o seu ponto de partida. Neste contexto, o palácio – habitat da corte – representava papel social importante no seio das cidades do século XVII.
O palácio tinha duas frentes: do lado urbano, vinha as rendas, os tributos, os impostos, o comando do exercito e o controle dos órgãos de estado; do lado rural, os homens e mulheres bem constituídos, bem alimentados e bem sexuados, que formavam o corpo da corte e que recebiam as honrarias, os emolumentos e as propinas que o rei magnanimamente lhes concedia. O poder e o prazer, uma ordem seca e abstrata e uma radiante sensualidade eram os dois pólos daquela vida.
A corte era um mundo a parte do resto da sociedade, sendo a vida cercada de responsabilidades sob o destino do estado e das vidas dos súditos plebeus, ao mesmo tempo marcada por ociosidades, formalidades sem inúteis e muita ostentação de riqueza e do poder que detinham. Lewis Munford apresenta um pouco sobre a lógica de vida nas cortes: “O ritual da corte era uma tentativa para confirmar o faz-de-conta do poder absoluto por meio de um drama especial”.
O prazer era um dever, o ócio, um serviço, e o trabalho honesto, a mais mesquinha forma de degradação. Para torna-se aceito na corte barroca, era necessário que um objeto ou uma função que mostrasse características de exótica inutilidade. •
A corte barroca influenciou diretamente vários aspectos importantes das cidades, entre estas influências, pode-se tomar como destaque a necessidade por monumentos e obras ostentadoras. Os palácios foram uma recorrente forma de expressão da necessidade da aristocracia barroca por obras suntuosas.
O palácio era uma construção complexa, com vários detalhes e secções, não era vista apenas como uma construção, mas carregava consigo os ideários da época, tendo cada parte das construções significados bastante marcantes. A palavra Palazzo, vem da língua italiana, e significa uma construção magnificente que possa ser ocupada por um senhor ou um príncipe mercador, e tem origens no período inicial da era Moderna. Era representado por grandes torres e constrições verticais, que marcaram as paisagens de cidades como Bolonha, Bari ou Milão.
Em termos barrocos, o palácio teve seu sentido ampliado, passando a designar amplidão e um poder auto-suficiente. Também ganhou novas formas, passando a ser construído cada vez mais no plano horizontal e apresentando figura mais marcante. Foi uma forma de manifestar a amplitude e o domínio daquele que ali residiam – a nobreza -, sobre aqueles que de longe admiravam – os plebeus-.
Os palácios barrocos eram construções marcadas por uma arquitetura imponente e complexa, e seus cômodos interiores ofereciam o máximo de luxo e sofisticação que a tecnologia da época poderia oferecer. A magnitude destes palácios era de forma tão grande, que muitas vezes o núcleo central da cidade não comportava espaço para abrigá-los, tendo que serem alojados em áreas antes periféricas, incluindo novas áreas no contexto urbano.
O Palácio de Versalhes é um grande exemplo disto, quando Luis XIV, buscou nos arredores de Paris, lugar para a construção de sua residência e da nata da aristocracia francesa, sendo o grande símbolo centro do poder no antigo regime francês.
a partir do século XV, deu-se maior ênfase à amplidão horizontal: o poder se propagou. Não tendo espaço na cidade, escapava para os subúrbios, como fez Luis XIV, que lembrando como tinha sido forçado a abandonar Paris por causa de um levanta popular em sua juventude, resolveu refugiar-se em Versalhes: uma capital suburbana.
A complexidade do palácio fez com que dele, uma série de outros ambientes e monumentos surgissem nas cidades. Hotéis, galerias de arte, museus, academias, prédios de escritórios, teatros e ambientes de entretenimento são exemplos o legado deixado pelos palácios e os hábitos palacianos para as cidades. Legado este que carrega a relação orgânica entre o “estilo barroco de vida e suas instituições típica ” para a posteridade.
Na sociedade barroca, com o patrocínio aristocrático e ambientado no palácio, o teatro assumiu sua forma moderna, e passou a reproduzir os dramas desta sociedade através da arte cênica. A perspectiva espacial da cidade barroca se fez pela primeira oportunidade no cenário pintado que representava a uma rua e construções, e não na cidade real. Os grandes urbanistas do período barroco eram não por coincidência cenógrafos.
A própria cidade nova era, na realidade, um ensaio de desenho cênico formal: um telão de fundo para o poder absoluto. Quando as finanças reais eram inadequadas para desempenhar feitos suficientemente grandiosos de construção em mármore, a aparência era falsificada em tinta e gesso, ou uma fachada monumental mascarava portentosamente a insignificante construção que havia por trás.
A influência do palácio se mostra mais poderosa na sociedade barroca, por meio dos aspectos de prazer, recreação, exibição e do aspecto teatral que marcava as vidas das pessoas. O prazer na sociedade barroca era o “ponto de origem e ao mesmo tempo, o próprio caminho da decadência” .
O prazer, para as massas, em todas as grandes cidades ou em suas mais remotas casas de diversão e salões de dança, à margem das estradas, é o prazer barroco: a exibição, o lustre, o gasto, as excitações visuais com conquistas eróticas ou possibilidades suberoticas, tudo isso devidamente pago, acompanhado pelo comer e beber em restaurantes e cafés necessariamente dispendiosos. E quando o jardim de prazer especial desapareceu com a expansão e o congestionamento da cidade, o mesmo ele mento voltou a nela se introduzir, em bairros apropriados.”
Os jardins tinham muita importância dentro da vida barroca palaciana, proporcionando o tão procurado prazer, sendo uma das áreas que mais preocupava os seus arquitetos e paisagistas. O complexo de palácios de Versalhes, maior símbolo da arquitetura barroca, é marcado por vastos jardins e bosques, com fontes que requeriam a mais avançada tecnologia e técnicas da época.
Maior símbolo da monarquia absoluta francesa, Versalhes é um dos maiores palácios do mundo, tendo sido construído em 1664 durante o governo de Luis XIV. Construído ao lado de um pavilhão de caça do rei, nos arredores da capital Paris, a obra do palácio foi confiada ao arquiteto Louis Le Vau e ao arquiteto paisagista André le Notrê. A opulência de Versalhes se expressa por meio de seus números: 2.000 janelas, 700 quartos, 1.250 lareiras e 700 hectares de parque. Entre os anos de 1664-1710, com algumas pausas, foram feitas em quatro fases a construção e expansão do complexo palaciano.
Os custos de manutenção do Palácio de Versalhes, do complexo de palácios menores e jardins eram bastante altos. É estimado que a conservação e manutenção, incluindo o cuidado e alimentação do staff e da família Real, consumiam entre 10 e 25 por cento dos rendimentos da França.
O complexo de Versalhes era muito importante para Luis XIV, em seus planos de centralização e implementação de um forte regime absoluto na França. Todo poder da França emanava de Versalhes. Luis XIV esperava controlar a nobreza do país, por meio de mantê-los vigiados, juntos a ele em sua propriedade, e desta forma Luis evitava que os grandes nobres desenvolvessem o seu próprio poder regional à custa do seu Poder Real. Toda nobreza de posições mais destacada, era requerido estadia em um período do ano no complexo de Versalhes.
O modelo de Versalhes, com sua opulência, luxo arquitetônico e os hábitos de sua corte, logo influenciou e gerou cópias na monarquia de outros países. Nas grandes cidades européias, pode-se notar a influência barroca de Versalhes, na medida em que grandes palácios barrocos e as suas dependências agora alojavam a burocracia em funcionamento. Também se pode ter como influencia do Palácio de Versalhes, a construção de palácios como o Peterhof – de Pedro, o grande, na Rússia-, o Palácio de Herrenchiemsee – na Baviera, que era quase que uma cópia idêntica do principal prédio do complexo de Versalhes -, La Granja - na Espanha, nas cercanias de Madrid -, o Palácio Real de Queluz - em Portugal, próximo de Lisboa -, e a cidade de Potsdam, na Prússia, construída por ordem de Frederico da Prussia.
Com exceção das cidades coloniais, as principais cidades construídas entre os séculos XVI e XIX, eram cidades residência para o rei e sua nobreza cortesã – como Versalhes, Karlsruhe e Potsdam -, ou cidades de guarnição, residências do poder real.
Somente em tais cidades podia a teoria barroca do planejamento ser plenamente obedecida em todos os setores: a tentativa de Christopher Wren, que procurou fazer isso em Londres após o grande incêndio de 1670, foi obstada por arraigados hábitos mercantis e ciosos direitos de propriedade. Quer como cidadela para seu exercito, quer como morada permanente para o príncipe e sua corte, a cidade barroca era, na realidade, um “espetáculo de comando.
A arquitetura e urbanismo barrocos foram construídos à base do despotismo, coerção e força. O patrocínio e a vaidade real fizeram com que o urbanismo planejado fosse associado ao poder arbitrário. As obras eram tidas como prioridades para o estado, com uso freqüente da força quando preciso, em ocasiões como a demolições de construções para poder edificar o prédio desejado pelo governante ou na rigidez pela velocidade nas construções. Desta feita, na maioria das vezes, o urbanista tinha conhecimento ou formação militar. Muitas vezes, as construções das grandes obras do período barroco tinham início com a demolição de “obstáculos” a imponência da nova obra.
Muitas vezes, tais obstáculos eram habitações humanas, lojas, igrejas, vizinhanças, monumentos preciosos, base de todo um tecido de hábitos e relações sociais. A remoção generalizada dos prédios que incorporavam tais formas apagava as cooperações e lealdades de uma existência, às vezes de muitas. O fato de realizar um “trabalho limpo”, o planejador tinha que destruir preciosos órgãos sociais, que não podiam ser substituídos tão facilmente como se podem pavimentar ruas e construir casas, não parecia importante ao engenheiro militar de então.
Tendo sido abordado o seu caráter despótico e militar, o plano de urbano barroco tinha distinção da antiga formalidade medieval, com quarteirões quase que simétricos e uniformes, e abordava formas mais descontraídas e belas. A exemplo disto são feitas praças, belos monumentos, e o traçado das ruas agora toma formato de asterisco – com partida de um ponto central, avenidas irradiavam para outras áreas da cidade, sendo este ponto central um local de importância -, como por exemplo, em Versalhes, que todas grandes avenidas chegavam a Versalhes.
O esquema do sítio central, círculos ou praças abertas, dominados por monumentos, flanqueados simetricamente por edifícios públicos, com avenidas a partir de tais centros, alterou profundamente todas as dimensões da construção. Ao contrario da cidade medieval, através da qual se deve caminhar lentamente, para apreciar suas incessantes transformações de massa e silhueta, seus detalhes complicados e surpreendentes, pode-se perceber toda cidade barroca quase de um só olhar. Mesmo que aquilo que não se vê pode-se facilmente introduzir na imaginação, uma vez que se achem estabelecidas as linhas de orientação.
A arquitetura barroca teve muita influência, sendo cidades como Paris, Madrid, Viena, Berlin e São Petersburgo bastante marcadas em suas arquiteturas e urbanismos por traços do barroco. Foi adotado em Paris, por exemplo, nos tempos de Napoleão I e Napoleão III um remodelamento e ampliação do centro urbano da cidade que resgatou formas barrocas. O barroco permaneceu influenciando a arquitetura e urbanismo após o século XVII, e sendo os palácios até hoje, as maiores testemunhas desta linha arquitetônica e urbanística.
O culto barroco do poder tem sido ainda mais tenaz que a ideologia medieval: continuou existindo e se estendeu a outros departamentos da vida, criando “napoleões” não simplesmente nas coisas do Estado, mas nos negócios e nas finanças, embora sua arregimentação perdesse progressivamente o vívido sentimento de expressão estética que realmente possuíam os grandes praticantes de suas fases iniciais. Por meio dos próprios efeitos da democracia, o absolutismo barroco apertou suas garras sobre a sociedade.
Durante a fase do Barroco do século XVII, seus governantes e, em geral, os indivíduos das classes dominantes não são senhores que vivem no campo: são ricos que habitam a cidade e burocratas que ali administram e enriquecem. Ao mesmo tempo, embora haja um mal-estar no campo, que por todos os lados explode em revoltas ocasionais, no século XVII são as populações urbanas as que inquietam o poder e às quais se dirige normalmente a política de sujeição, que se traduz, inclusive, em mudanças topográficas da cidade barroca. É também nela onde se levantam os monumentos históricos: Roma, Wien, Praga, Paris, Madrid, Sevilha e Valência concentram, juntamente com muitas outras, as criações de pintores, arquitetos, escultores etc. Nessas urbes barrocas se produz e consome a volumosa carga de literatura que floresce no século XVII. Essa mesma literatura reflete o indiscutível predomínio dos ambientes urbanos. De imediato, revela-nos que seus personagens vivem nas cidades, deslocam-se de umas para outras, nelas acontece a ação, e em seu espaço têm lugar as magníficas festas que animaram o século XVII, com grande contraste de luz e sombra. O drama da cultura barroca é um drama característicamente urbano.
Tapié no seu livro “Le baroque et la societé de l’Europe moderne”, ao estabelecer uma conexão entre Barroco e Sociedade, apresentou-o como uma cultura rural, dominada por uma mentalidade camponesa, sob a ação de uma economia agrária, de maneira que nos países de economia comercial mais desenvolvida não teriam penetrado as novas formas culturais. O auge da monarquia, a hierarquização revigorada da sociedade, o fortalecimento da propriedade da terra, a reconstituição dos grandes domínios senhoriais e o agravamento da situação do camponês são os fatos básicos da época e denotam uma sociedade predominantemente agrária, senhorial e nobre no topo, camponesa na imensa maioria dos seus componentes. Destarte, Tapié defende que o predomínio da sociedade agrária é um fato evidente da conservação, em ampla medida, dos usos da vida camponesa, e, por conseguinte, a cultura barroca seria rural.
Porém, os aspectos sociopolíticos a isso vinculados, desde o predomínio administrativo das monarquias, em boa parte burocratizadas, até a revalorização da propriedade territorial, produzida pelos investimentos citadinos, ou a urbanização dos costumes senhoriais na vida cotidiana, embora os poderosos, em alguns casos, retornem ao campo são manifestações urbanas muito características. Deste modo, Maravall (1997) contrapõe a tese de Tapié com o seguinte exemplo:
não podemos deixar de lembrar que as grandes e esplendorosas igrejas do século XVII, em geral, não se encontram no campo, à maneira dos ricos monastérios cluniances, ou dos grandes monumentos de Cister, mas em meio a povoadas e extensas cidades. Nelas estão os suntuosos templos jesuítas, e não sabemos de outros templos mais representativamente barrocos.
Outro estudioso da temática, Francastel, em sua obra “Limites chronologiques, limites géographiques et limites sociales du baroque” vincula o aparecimento e desenvolvimento do Barroco a um meio agrário: o Barroco triunfou em todos os lugares em que se manteve uma sociedade de tipo agrícola e feudal, conduzida por membros da Igreja, em todos os lugares em que reinem sem contestação uma ordem tradicional. É preservador dos costumes e dos modos de apresentação.
As idéias de Francastel acerca do caráter agrário do Barroco exposto acima é passível de algumas críticas: primeiro, o termo “feudal” é um anacronismo que conduz ao equívoco; segundo, o império da ordem tradicional tenha sido imposto sem contestação – quando são conhecidas as fortes tensões sociais nas quais o Barroco se apóia e das quais nasce essa nova cultura; por último, nessa sociedade, mais do que uma sociedade “de tipo agrário”, seria próprio chamá-la de “economia agrária”, já que, os modelos culturais que se impõem, em conformidade com os grupos nelas predominantes, se acham marcadamente transformados por um processo de urbanização.
Assim, após ter sido exposto alguns argumentos que defendiam a natureza do Barroco como rural, agrária, além dos contra-argumentos a tais idéias, podemos afirmar que ocorreram transformações importantes no panorama desse tema, com alterações no papel atribuído aos grupos sociais e a todo tipo de fatores operantes sobre a matéria. Maravall (1997) é claro ao explicar:
o Barroco produz-se e desenvolve-se em uma época na qual os movimentos demográficos já obrigam a distinguir entre meio rural e sociedade agrária. Surge, então, essa cultura da cidade, dependente das condições pelas quais se vai expandindo a urbanização e que operam inclusive sobre zonas rurais próximas, relacionadas com a cidade; uma cultura que se mantém vinculada, como a própria sociedade urbana, a uma base de preponderante economia agrária, na qual se alcançou, no entanto, um nível considerável de relações mercantis e monetárias, com a conseqüente mobilidade disto decorrente, e de cujos primeiros resultados devemos partir para entender os fatos sociais e culturais que a nova época nos oferece
Ainda contra-argumentado a idéia de Francastel do reino sem contestação da ordem tradicional a ponto de continuar a ser feudal, mesmo no século XVII, Anderson (1995) diz:
quando os Estados absolutistas se constituíram no Ocidente, a sua estrutura foi fundamentalmente determinada pelo reagrupamento feudal contra o campesinato, após a dissolução da servidão; mas ela foi secundariamente sobredeterminada pela ascensão de uma burguesia urbana que, depois de uma série de avanços técnicos e comerciais, evoluía agora em direção as manufaturas pré-industriais numa escala considerável (grifo do autor).
Anderson (1995) continua:
a ameaça da inquietação camponesa, incontestavelmente constitutiva do Estado absolutista, sempre se conjugou, assim, com a pressão do capital mercantil ou manufatureiro no seio das economias ocidentais em seu conjunto, moldando os contornos do poder de classe aristocrático na nova era. A forma peculiar do Estado absolutista no Ocidente deriva desta dupla determinação.
O fato que pode ter sido passível de dúvida do novo regime político frente à sociedade da Europa Ocidental na Idade Moderna – a permanência do status quo do campesinato, embora de forma remodelada, dos privilégios da aristocracia e pelo emergente poder da burguesia – que se refletirão marcadamente nos contrastes da dramática sociedade barroca, Perry Anderson explica:
o paradoxo aparente do absolutismo na Europa Ocidental era que ele representava fundamentalmente um aparelho para a proteção da propriedade e dos privilégios aristocrático, embora ao mesmo tempo, os meios através dos quais tal proteção era promovida pudessem simultaneamente assegurar os interesses básicos das classes mercantis e manufatureiras emergentes.
Londres e Amsterdã
Na Idade Média e na Renascença, Londres compõe-se de duas partes: a City e Westminster. A City, localizada na foz do Tamisa, constitui-se no centro comercial de maior relevância da Inglaterra. Já Westminster tem como sede o governo e o parlamento, simbolizando o controle do Estado moderno com sua burocracia permanente e administração financeira, sendo estendida pouco a pouco a outros departamentos de Estado. De acordo com Braudel (1970):
Westminster é completamente diferente de Versailles ( criação tardia e ex nihilo) é absolutamente uma cidade antiga e viva. Ao lado da Abadia, o palácio Westminster, abandonado por Henrique VIII, tornou-se a sede do Parlamento e dos principais tribunais: homens de lei e pleiteantes encontram-se aí. A Realeza instalou-se um pouco mais longe, em Whitehall, no Palacio Branco, na margem do Tamisa.
Westminster, é pois ao mesmo tempo Versailles, Saint Denis, e ainda, para ter maior importância, o Parlamento de Paris. Dito isso para assinalar a extrema atração deste segundo pólo no desenvolvimento de Londres.
Pelo fato de não estar sujeita à ameaça militar como outras cidades daquela época, Londres cresce como uma cidade aberta. Uma “coroa” de subúrbios é formada forma-se ao redor da city, seguindo o traçado das ruas dos campos. O incêndio de devastador de 1666 em boa parte da city e metade da periferia ocidental dá ocasião para reconstrução da capital inglesa de acordo com o plano do arquiteto Wren que foi apresentado ao rei Carlos II. Todavia, falta a monarquia inglesa recursos e autoridade para tal empresa. O máximo que consegue fazer é: o alargamento das ruas principais e regulamentar a altura das novas casas. A Catedral de São Paulo e as varias igrejas por Wren e seus colaboradores.
Após a revolução de 1689, a monarquia inglesa torna-se hegemônica na Europa; Londres ultrapassa Amsterdã como centro comercial e financeiro mundial e tornando-se a maior cidade européia de então.
Interessante observar que Londres torna-se a primeira cidade burguesa na qual a forma urbana independe da intervenção governamental ou de uma classe dominante restrita, mas sim do somatório das pequenas iniciativas particulares.
De acordo com Benevolo (2005):
Este prodigioso desenvolvimento não é dirigido por um plano municipal, como Amsterdã, nem pelos arranjos monumentais da Corte, como em Paris. Londres é um mosaico de pequenas iniciativas – loteamentos promovidos pelos proprietários de terrenos, nobres ou burgueses – alternados com freqüentes espaços verdes, públicos ou particulares.
Diferentemente das cidades que são produtos do Absolutismo dominante da época, as cidades holandesas ainda são governadas como cidades-estado com administração coletiva da burguesia mercantil, com suas leis e instituições próprias. Dessa forma, Amsterdã cresce combinando elementos administrativos medievais e a ciência e a tecnologia moderna junto com a regularidade visual renascentista. Na primeira metade do século XVI já é uma cidade portuária com cerca de 40.000 habitantes. Em 1481 faz-se necessária a demolição dos muros da cidade para o crescimento.
Ao Contrario de Londres, em Amsterdã executa-se um plano que foi aprovado em 1607, onde o Governo desapropria o terreno para construção de casas e canais concêntricos na cidade.
A vida nesta cidade é intensa, sendo os canais ambientes de vida e circulação intensa. As habitações e locais de trabalho pertencem aos cidadãos e não a um soberano absoluto. No fim do Século XVII possui uma superfície de 650 hectares e uma população de 200.000 habitantes. Observa Zumthor (1989) que:
Essa metrópole edificou-se nos lugares aparentemente menos propícios ao seu desenvolvimento: os pântanos formados na embocadura do Amstel, num braço do mar do Tjsel. O aglomerado primitivo edificou-se sobre algumas faixas de terra perpendiculares a este.
Sua fisionomia demonstra a vitalidade das regras urbanísticas medievais, estabelecendo uma relação frutífera entre o poder publico e as iniciativas privadas, permanecendo por longo tempo a cidade mais moderna da Europa e também modelo urbanístico para cultura urbanística européia até o século XX.
REFERÊNCIAS
ANDERSON, Perry. Linhagens do Estado Absolutista. São Paulo. Ed. Brasiliense. 1995
BENEVOLO, Leonardo. História da Cidade. São Paulo. Ed.Perspectiva. 2005
BRAUDEL, Ferdinand. Civilização Material e Capitalismo. Volume I. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
LE GOFF, Jacques. O Apogeu da Cidade Medieval. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
LITTELL E MIFFLIN. World History: patterns of interactions. 2001
MARAVALL, Jose Antonio. A Cultura do Barroco. São Paulo. Edusp. 1997
MUNFORD, Lewis, As Cidades na História: suas origens, transformações e perspectivas. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
SENNETT, Richard. Carne e Pedra: o corpo da cidade na civilização ocidental. Tradução de Marcos Aarão Reis. Rio de Janeiro: BestBolso, 2008.
Zumthor, Paul. A Holanda no tempo de Rembrandt. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
MUNFORD, Lewis. As Cidades na História: suas origens, transformações e perspectivas. São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 445
A Liga Hanseática distribuía mercadorias por todo o norte da Europa. Fundada em 1161, operava no setor do comércio marítimo, entre Genova e Veneza, na Itália, depois entre Londres e os Países Baixos, até o porto da Alemanha, de onde os produtos seguiam por terra.
Ibidem, p. 445.
MUNFORD, Lewis. Op. cit., p. 452.
LE GOFF, Jacques. O Apogeu da Cidade Medieval. São Paulo: Martins Fontes, 1992. p. 69.
MUNFORD, Lewis. Op. cit., p. 451.
BRAUDEL, Ferdinand. Civilização Material e Capitalismo. Volume I. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 459.
LE GOFF, Jacques. Op. cit., p. 56
BRAUDEL, Ferdinand. Op. cit., p. 441.
MARX, Karl. Apud BRAUDEL, Ferdinand. Op. cit., p. 439.
SENNETT, Richard. Carne e Pedra: o corpo da cidade na civilização ocidental. Tradução de Marcos Aarão Reis. Rio de Janeiro: BestBolso, 2008. p. 196.
BRAUDEL, Ferdinand. Op. cit., p. 379.
SENNETT, Richard. Op. Cit., p. 196.
MUNFORD, Lewis. Op. cit., p. 449.
Ibidem. p. 446.
BRAUDEL, Ferdinand. Op. cit., p. 379.
BRAUDEL, Ferdinand. Op. cit., p. 386.
Ibidem, p. 390.
BRAUDEL, Ferdinand. Op. cit., p. 483.
MUNFORD, Lewis. Op. cit., p. 451.
SENNETT, Richard. Op. Cit., p. 261.
MUNFORD, Lewis, As Cidades na História. São Paulo: Martins Fontes, 2004. P. 407
MUNFORD, Lewis, Op. cit., p. 407
MUNFORD, Lewis, Op. cit., p. 410
Ibidem, p. 410
Ibidem, p. 411
MUNFORD, Lewis, Op. cit., p. 112
Ibidem, p. 412
Littell e Mifflin. World History: Patterns of Interactions. 2001
MUNFORD, Lewis, Op. cit., p. 419
MUNFORD, Lewis, Op. cit., p. 420
MUNFORD, Lewis, Op. cit., p. 423
Ibidem, p. 432
MARAVALL, 1997 Ibidem, p. 432, p. 190
MARAVALL, 1997, p. 191
ANDERSON, 1995, p. 22
ANDERSON, 1995, p. 23
BRAUDEL, 1970, p. 469
BENEVOLO ,2005, p.542
sexta-feira, 19 de junho de 2009
sábado, 6 de junho de 2009
Bairro da Várzea
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO
DISCIPLINA: HISTÓRIA DA CULTURA
PROFESSOR: SEVERINO VICENTE DA SILVA
CURSO: TURISMO / 1º PERÍODO/ TARDE
BAIRRO DA VÁRZEA
GRUPO:
BRUNA BARBOSA,
EDUARDA MATIAS,
GABRIELA BARROS,
MARÍLIA VIDAL,
MAYRA RIBEIRO
Sumário:
Do poeta Joaquim Cardozo
Introdução
1. História da Várzea
1.2- Usina São João da Várzea
2. Igrejas da Várzea
2.1- Igreja de Nossa Senhora do Rosário
2.2- Igreja de Nossa Senhora do Livramento
3. Casarões da Várzea
4. A Várzea atualmente
5. Arquidiocese de Olinda e Recife
6. Universidade Federal de Pernambuco
6.1 História
6.2 UFPE hoje
7. Oficina de cerâmica Francisco Brennand
7.1- Francisco Brennand
8. Instituto Ricardo Brennand
8.1Castelo
8.2- Pinacoteca
8.3- Biblioteca
Bibliografia
Do Poeta Joaquim Cardozo:
A Várzea tem cajazeiras...
Cada cajazeira um ninho
Que entre o verde e o azul oscila;
Em redes de ramos verdes
Me estendo como um caminho,
Me espreguiço dessa várzea,
E me embalo desse ninho.
INTRODUÇÃO
O nosso grupo ficou responsável por pesquisar detalhes de um bairro tão rico em historia e cultura que é a Várzea. Um bairro de pouco crescimento estrutural, entretanto que “abriga” em seu circulo um grande acervo cultural e estudantil.
Nossa pesquisa foca os principais pontos turísticos, detalhes do bairro, população, histórico, para que possamos ir desvendando aos poucos cada pedaço desse grande Recife.
História da Várzea:
Suas terras foram as primeiras a serem repartidas entre os colonos portugueses que iniciaram a povoação de Pernambuco, na 1ª metade do século XVI.
A várzea do Capibaribe foi escolhida para o plantio de cana-de-açúcar. O 1º engenho do lugar foi o Santo Antônio fundado nos primeiros anos da colonização por Diego Gonçalves, e o que ficaria mais conhecido foi o Engenho São João. As terras eram férteis, com água em abundância e logo os engenhos se multiplicaram.
Por volta de 1630, a Várzea do Capibaribe tinha 16 engenhos de açúcar em plena atividade. Na parte mais central das terras, à margem direita do rio, foi-se formando uma povoação, o povoado teve crescimento rápido e virou uma Freguesia sob a invocação de Nossa Senhora do Rosário. Em 1746, a Freguesia da Várzea contava com 2.998 habitantes, 18 capelas, 11 engenhos em atividade e 4 de fogo morto..
No final da 1ª metade do século XIX, com o comércio crescendo no Centro do Recife, esses engenhos antigos, incluindo o São João, foram transformados em celeiros da cidade, com plantio de alface, feijão e frutas, além da cana. A povoação da Várzea virou uma disputada colônia de férias. As águas cristalinas do rio atraíam recifenses que vinham de todas as partes da cidade. Esses banhos (que diziam ter poder de cura) movimentaram a localidade até 1880, quando teve início a poluição do Capibaribe e a colônia de férias perdeu força.
1.2- Usina São João da Várzea:
Era São João da Várzea uma usina de médio porte. Em 1914 dispunha a usina de 11 km. de estrada de ferro, sete tanques para álcool e uma produção de 70.000 toneladas de açúcar. Em 1929, com a morte do seu fundador( Francisco do Rego Barros de Lacerda), a usina passa a ser dirigida por sua viúva, D. Maria da Conceição do Rego Barros Lacerda, que, em 1933, apresenta uma produção de 37.853 sacos (60kg.) de açúcar, tendo, no ano seguinte, transferido a sua propriedade para os irmãos Ricardo Lacerda de Almeida Brennand e Antônio Luís de Almeida Brennand, proprietários da usina Santo Inácio. A Usina São João da Várzea continuou em atividade até o ano de 1943, quando veio encerrar sua produção de açúcar e álcool, passando as suas terras destinadas a outras atividades industriais. Naquela extensa área, antes ocupada secularmente pelos canaviais dos primitivos engenhos e mais recentemente da primitiva usina, foram construídas cerâmicas, bem como fábricas de azulejos, de porcelana, de vidros, siderúrgica e outras unidades do Grupo Brennand.
Segundo o historiador Pereira da Costa (Arredores do Recife), “na freguesia da Várzea, no Engenho São João, que em 1645 se discutiram os planos de revolta contra os holandeses”. No período da guerra da restauração (1645-1654), funcionou na freguesia da Várzea “toda a governança e mecanismo oficial da capitania de Pernambuco”.
2. Igrejas da Várzea:
Na praça matriz da Várzea encontram-se duas igrejas a de Nossa Senhora do Rosário ao centro e a igreja de Nossa Senhora do Livramento.
2.1- Igreja de Nossa Senhora do Rosário:
A primeira capela da Várzea dataria de 1612, hoje Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário. Nela foi sepultado, em 1648, Dom Antônio Felipe Camarão, governador dos índios e que se destacou nas lutas para a expulsão dos holandeses na capitania de Pernambuco. Na sacristia da igreja, escavações recentes desenvolvidas sob orientação do departamento de Arqueologia da UFPE, foi encontrado o cemitério das vítimas das duas Batalhas dos Guararapes (1648 e 1649).
Em 29 de Novembro de 1859, Dom Pedro II visitou a Várzea para se inteirar desse novo sítio histórico e concedeu à Matriz o título de “Imperial Matriz de Nossa Senhora do Rosário da Várzea”, com direito de levar a coroa imperial na fachada.
A igreja matriz da várzea passou por reformas, entre 1868 e 1872, nada restando da primitiva capela de Nossa Senhora do Rosário.
2.2-Igreja de Nossa Senhora do Livramento:
A igreja pertencia a uma irmandade de homens escravos. Apesar do belo frontispício, que conserva suas características primitivas, não está em perfeitas condições e por dentro já foi toda restaurada. Possui ainda um prédio de dois pavimentos no qual funcionou o seminário da Várzea, hoje apenas serve de morada para os padres.
3. Casarões da Várzea:
Vários casarões chamam a atenção para o bucolismo da Várzea dos nossos dias, salientando-se dentre eles o que serve de sede ao Educandário Magalhães Bastos, no final da Rua Francisco Lacerda. Construído em 1897 por Napoleão Duarte, o prédio destinava-se, segundo placa comemorativa, ao "Asilo da Infância Desvalida, de ambos os sexos, fundado e pelo Com. Antônio José de Magalhães Bastos, comerciante que foi nesta cidade".
Há também o Instituto Santa Maria Mazzarello, fundado em 29 de março de 1938 e ainda hoje funciona no mesmo endereço. No início era uma escola para crianças filhas dos operários da fábrica ao lado (hoje, TELEMAR) e acolhia essas crianças em gratuitamente em regime de semi-internato. Logo surgiu um ensino noturno para jovens operários, domésticas, um jardim de infância e um ginásio industrial. Porém gradativamente foram extintos esses ensinos com a implantação do 1º grau fundamental e os ensinos médios de 1º e 2º graus.
Um outro casarão que hoje encontra-se as ruínas é o antigo hospital Odontológico Magitot, que de acordo com a arquiteta Terezinha Pereira está com uma proposta desde 2008 para ser restaurado e transformado em um centro cultural.
4. A várzea Atualmente:
A Várzea é o segundo maior bairro em extensão territorial do município, ocupando uma área de aproximadamente 2.260 hectares, com uma população de 64.512 habitantes, que, de acordo com o IBGE tinham uma renda mensal de em torno de R$ 700,00. Em 1746 essa freguesia podia contar com 2.998 habitantes, 18 capelas, 11 engenhos em atividade e quatro de fogo morto (ou seja, desativados), o que nos revela como a população cresceu. O bairro integra a quarta região político-administrativa do recife (RPA-4) se localiza a oeste da cidade do Recife, fica entre os bairros do Curado, Cidade Universitária, Iputinga e Caxangá. A Várzea é bastante arborizada, cortada pelo rio Capibaribe, não apresenta muitos edifícios, a residência em sua maioria são casas e os poucos prédios que tem geralmente são de até seis andares. Essa "arrumação" arquitetural proporciona benefícios aos moradores, pois tem melhor passagem do ar, sendo, portanto um dos bairros com o clima mais agradável.
O comércio é bastante estático, ou melhor, não tem muito crescimento, é um comércio muito artesanal, iniciado pela própria população local em busca de renda para sustentar a família. Apesar de o comercio não esta em crescimento, a Várzea é palco de grandes atividades culturais, é na Várzea que se encontra o Instituto Ricardo Brennand (com um acervo de peças medievais); O ateliê de Francisco Brennand (que retrata esculturas em argila); o Conservatório da Várzea; a Igreja de Nossa Senhora do Rosário (datada de 1612); a Arquidiocese de Olinda e Recife (criada em 15 de julho de 1614), além de outros pontos como a sede da Oi e a Companhia Industrial de Vidros (CIV), uma empresa que é um exemplo de sucesso, pois é responsável pela geração de vários empregos diretos e indiretos, não só em Recife, como em Vitória, Salvador e Fortaleza, locais onde possui fábrica.
Apesar de possuir grandes centros culturais, bastante conhecidos, a praça pública da Várzea é um grande palco para eventos promovidos pela população local, ou ate mesmo outros trazidos por autores em descobrimento. Sendo assim, sede de grandes amostras culturais.
Além de possuir toda essa estrutura, a Várzea ainda é privilegiada pela sua localização. O bairro se encontra muito próximo a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), como também o Centro Federal de Educação de Pernambuco (CEFET-PE), e a Universidade Rural de Pernambuco (UFRPE), sendo assim, ela consegue abrigar vários estudantes que vem de outros estados, municípios em busca de uma melhor formação, e estadia. Por isso, o transporte é bastante eclético, para que se possa atender a demanda que existe; pois é a Várzea o local onde se encontra grandes terminais integrados, como o de TI Camaragibe, TI Macaxeira, TI Barro e TI Caxangá nessa área é o mais utilizado.
5. Arquidiocese de Olinda e Recife.
A delimitação feita para atender a necessidades peculiares em um território (prelazia territorial) ou de um grupo de fiéis (prelazia pessoal), São similares às igrejas particulares e, como estas, têm fiéis, clero e pastor próprio. A de Pernambuco foi criada em 15/07/1614 pela Bula "Fasti noviorbis" do Papa Paulo V. O Papa Urbano VIII com a Bula "Romanus Pontifex" do dia 06/07/1624 a constituiu sufragânea(são dioceses) da então Diocese de São Salvador da Bahia. O Papa Inocêncio XI, no dia 16/11/1676, pela Bula "Ad sacram Beati Petri sedem" a elevou como diocese, denominando-se Diocese de Olinda. Em 05/12/1910 foi elevada à Arquidiocese e Sede Metropolitana pelo Decreto da Sagrada Congregação Consistorial. Pela Bula "Cum urbs Recife" do Papa Bento XV de 26/07/1918, passou a denominar-se Arquidiocese de Olinda e Recife, que encontra-se na Av. Afonso Olindense, 1764 Várzea - Recife – PE.
A Arquidiocese (Diocese de um Arcebispo ,onde ele próprio, um bispo, ou um patriarca tem total jurisdição na diocese,ou seja, tem o direito de julgamento limitado ao seu território) de Olinda e Recife (Archidioecesis Olindensis et Recifensis) é uma circusncrição eclesiástica da Igreja Católica no estado de Pernambuco. Pertence ao Conselho Episcopal Regional Nordeste II da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. A sede arquiepiscopal se encontra em Olinda, onde se encontra a Catedral; contudo, no centro histórico do Recife, localiza-se a Concatedral de São Pedro dos Clérigos.
6. Universidade Federal de Pernambuco.
6.1- História
A história da Universidade Federal de Pernambuco tem início em 11 de agosto de 1946, data de fundação da Universidade do Recife (UR), criada por meio do Decreto-Lei da Presidência da República nº 9.388, de 20 de junho de 1946. A UR reunia a Faculdade de Direito do Recife, a Escola de Engenharia de Pernambuco, a Faculdade de Medicina do Recife, com as escolas anexas de Odontologia e Farmácia, a Escola de Belas Artes de Pernambuco e a Faculdade de Filosofia do Recife.
Passados 19 anos, a Universidade do Recife é integrada ao grupo de instituições federais do novo sistema de educação do País, recebendo a denominação de Universidade Federal de Pernambuco, autarquia vinculada ao Ministério da Educação.
Em 1948, começa a construção do campus universitário. A discussão sobre a localização da obra foi iniciada um ano antes. Entre os lugares cogitados, estavam terrenos nos bairros de Joana Bezerra, Santo Amaro e Ibura, a área da Faculdade de Direito, no Centro do Recife; e um loteamento na Várzea, mesmo espaço onde antes funcionou o Engenho do Meio e hoje está a UFPE. Essa escolha ocorreu em razão de existir uma avenida projetada para o local. Também foram consideradas as condições climáticas e a topografia do terreno.
Os recursos usados na aquisição e implantação do campus universitário foram provenientes do Governo do Estado, que alocou 0,10% dos impostos de vendas e consignações para a edificação do projeto. Os primeiros prédios construídos no campus foram o Broteiro, espaço destinado à criação de animais, que ficou localizado na área onde atualmente estão o Departamento de Nutrição e o Centro de Ciências da Saúde. A concepção do projeto arquitetônico do campus foi do arquiteto veneziano Mário Russo.
O primeiro reitor da universidade foi o professor Joaquim Ignácio de Almeida Amazonas, que também ocupou o cargo de diretor da Faculdade de Direito. Amazonas desempenhou a função de reitor por 12 anos.
6.2- UFPE Hoje
Segundo avaliações dos Ministérios da Educação (MEC) e de Ciência e Tecnologia (MCT), a Universidade Federal de Pernambuco é uma das melhores universidades do País, em ensino (graduação e pós-graduação) e pesquisa científica, sendo a melhor do Norte-Nordeste. As avaliações levam em consideração, para a graduação, os índices de desempenho dos alunos no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), a estrutura das instituições e o investimento em professores e nos cursos, reunidos agora no Índice Geral de Cursos (IGC) e da titulação e produção científica dos professores da pós-graduação – pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), estas duas avaliações do MEC. No caso da pesquisa, o resultado do Censo 2006 do Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil, realizado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do MCT, mantém a UFPE entre as dez melhores universidades do País em ensino e pesquisa, em termos qualitativos e quantitativos dos grupos de pesquisa. A Universidade tem um total de 387 grupos de pesquisa certificados.
7. Oficina Cerâmica Francisco Brennand:
A oficina surge em 1971, nas ruínas semi-abandonadas da Cerâmica São João da Várzea, empresa fundada pelo pai de Francisco Brennand em 1917 e desativada em 1945. Na empresa do seu pai, eram produzidas telhas e tijolos, depois de desativada, Francisco Brennand resolveu aproveitar os enormes galpões para instalar seu ateliê/oficina. As terras se encontravam no Engenho Santos Cosme e Damião, no bairro histórico da Várzea, e cercada por remanescentes da Mata Atlântica e pelas águas do Rio Capibaribe, distando 16 km do centro da cidade do Recife.
A Oficina Cerâmica Francisco Brennand é ao mesmo tempo oficina e museu. Cercados por jardins encontram-se exposições permanentes representadas por murais, esculturas e painéis, cerca de 2.000 peças de grande e médio porte. Um lugar único no mundo, a oficina constitui-se num conjunto arquitetônico monumental original, onde a obra se associa à arquitetura para dar forma a um universo dionisíaco, subterrâneo, sexual e religioso. A forma como são modeladas as esculturas é excelente, a queima é realizada em forno de alta temperatura (1.400 Cº), combustão a óleo.
Em dezembro de 2003, Brennand inaugurou o espaço “Accademia”. Trata-se de um pavilhão construído, especialmente, para expor desenhos, pinturas e peças cerâmicas de pequeno porte. Na Academia estão expostos mais de 200 trabalhos feitos ao longo de quase 60 anos e é onde o artista se revela um grande colorista, um cultivador do erotismo requintado e um desenhista e pintor de primeira.
7.1- Francisco Brennand :
Francisco de Paula Coimbra de Almeida Brennand, nasceu no Estado de Pernambuco, na Cidade do Recife em 1927. Após completar os estudos colegiais, Brennand teve o incentivo da família para cursar a Faculdade de Direito e suceder o pai na direção dos negócios da família. Desistiu, no entanto, e dedicou-se à carreira artística
Conquistou o 1º Prêmio no Salão de Pintura no Museu do Estado de Pernambuco em 1947 e em 1948. Começou a trabalhar intensamente realizando exposições de pintura e cerâmica em vários museus e galerias de todo o país. Executou vários murais em edifícios no Recife, deixou sua marca registrada nos espaços do Shopping Center Recife, no Marco Zero, em 1958 inaugura o mural do Aeroporto Internacional dos Guararapes, etc.
Francisco Brennand já expôs sua arte em diversas cidades brasileiras e em muitos países: Recife, Salvador, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Brasília, Olinda, Natal, João Pessoa, Manaus, Curitiba e nos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, França, Espanha, Bélgica, Itália, Suíça, Uruguai e Venezuela. A obra de Francisco Brennand consta de livros, filmes, artigos, entrevistas etc.
8. Instituto Ricardo Brennand:
É um complexo formado pelo castelo, pinacoteca e biblioteca voltado à preservação da arte e da cultura. O instituto foi fundado em 2002 com o objetivo de levar aprendizado a grandes parcelas da população.
8.1- Castelo:
O Museu de Armas Castelo São João, reúne a mais importante coleção de armas para caça e armaduras das mais diversas origens e épocas, cobrindo um espaço de tempo entre os séculos XV e XXI, provenientes da Europa, Ásia, América e África.
Essas obras de arte estão reunidas em coleções de Pintura, brasileira e estrangeira, Armaria, Tapeçaria, Artes Decorativas, Escultura e Mobiliário.
8.2- Pinacoteca:
A pinacoteca do Instituto Ricardo Brennand foi inaugurada em setembro de 2002 com a exposição internacional “Albert Eckhout Volta ao Brasil 1644-2002”. Atualmente o IRB está em cartaz com as mostras: “Frans Post e o Brasil Holandês”, “Paisagem Brasileira do Século XIX” e “O Julgamento de Nicolas Fouquet”.
O Instituto Ricardo Brennand coloca Pernambuco no roteiro das grandes exposições Nacionais e Internacionais. Com 1200 m², o salão expositivo tem capacidade de receber até duas mostras simultaneamente e conta com equipamentos de alta tecnologia para preservação de umidade, temperatura, luminosidade e segurança. Além do espaço expositivo, a Pinacoteca do Instituto Ricardo Brennand é composta por foyer, auditório com capacidade para 100 pessoas, banheiros, reserva técnica, loja, cafeteria, biblioteca e sala do conselho (reservada para eventos).
8.3- Biblioteca:
Projetada para reunir mais de cem mil volumes, detém atualmente um acervo próximo dos 20.000 itens: entre livros, opúsculos, periódicos, partituras, discos, fotografias, álbuns iconográficos e obras raras, em fase inicial de processamento.
A coleção de Obras Raras abriga obras do século XVI ao XX, dificilmente encontradas em outras bibliotecas ou arquivos. O tema principal dessa coleção são livros sobre o Brasil, escritos por viajantes do século XVII ao XIX, e livros escritos no período colonial e imperial, obras de grande interesse para a pesquisa histórica, artística, cultural, política, de costumes, de história natural, etc.
Bibliografia:
http://www.brennand.com.br/
http://www.ceramicanorio.com/
http://www.viagemdeferias.com/
http://www.recifediaenoite.hpg.ig.com.br/
http://www.ufpe.com.br/
http://www2.uol.com.br/JC/_2000/1802/cd1802q.htm
http://www.pe-az.com.br/subsecao_ler.php?id=MjQw
http://pt.wikipedia.org/wiki/V%C3%A1rzea_(bairro_do_Recife)
http://www.fundaj.gov.br/notitia/servlet/newstorm.ns.presentation.NavigationServlet?publicationCode=16&pageCode=320&textCode=942&date=currentDate
http://www.inst-mazzarello.com.br/web/imp_hist_varzea.asp
http://andreabrelaz.blogspot.com/2008_04_20_archive.html
CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO
DISCIPLINA: HISTÓRIA DA CULTURA
PROFESSOR: SEVERINO VICENTE DA SILVA
CURSO: TURISMO / 1º PERÍODO/ TARDE
BAIRRO DA VÁRZEA
GRUPO:
BRUNA BARBOSA,
EDUARDA MATIAS,
GABRIELA BARROS,
MARÍLIA VIDAL,
MAYRA RIBEIRO
Sumário:
Do poeta Joaquim Cardozo
Introdução
1. História da Várzea
1.2- Usina São João da Várzea
2. Igrejas da Várzea
2.1- Igreja de Nossa Senhora do Rosário
2.2- Igreja de Nossa Senhora do Livramento
3. Casarões da Várzea
4. A Várzea atualmente
5. Arquidiocese de Olinda e Recife
6. Universidade Federal de Pernambuco
6.1 História
6.2 UFPE hoje
7. Oficina de cerâmica Francisco Brennand
7.1- Francisco Brennand
8. Instituto Ricardo Brennand
8.1Castelo
8.2- Pinacoteca
8.3- Biblioteca
Bibliografia
Do Poeta Joaquim Cardozo:
A Várzea tem cajazeiras...
Cada cajazeira um ninho
Que entre o verde e o azul oscila;
Em redes de ramos verdes
Me estendo como um caminho,
Me espreguiço dessa várzea,
E me embalo desse ninho.
INTRODUÇÃO
O nosso grupo ficou responsável por pesquisar detalhes de um bairro tão rico em historia e cultura que é a Várzea. Um bairro de pouco crescimento estrutural, entretanto que “abriga” em seu circulo um grande acervo cultural e estudantil.
Nossa pesquisa foca os principais pontos turísticos, detalhes do bairro, população, histórico, para que possamos ir desvendando aos poucos cada pedaço desse grande Recife.
História da Várzea:
Suas terras foram as primeiras a serem repartidas entre os colonos portugueses que iniciaram a povoação de Pernambuco, na 1ª metade do século XVI.
A várzea do Capibaribe foi escolhida para o plantio de cana-de-açúcar. O 1º engenho do lugar foi o Santo Antônio fundado nos primeiros anos da colonização por Diego Gonçalves, e o que ficaria mais conhecido foi o Engenho São João. As terras eram férteis, com água em abundância e logo os engenhos se multiplicaram.
Por volta de 1630, a Várzea do Capibaribe tinha 16 engenhos de açúcar em plena atividade. Na parte mais central das terras, à margem direita do rio, foi-se formando uma povoação, o povoado teve crescimento rápido e virou uma Freguesia sob a invocação de Nossa Senhora do Rosário. Em 1746, a Freguesia da Várzea contava com 2.998 habitantes, 18 capelas, 11 engenhos em atividade e 4 de fogo morto..
No final da 1ª metade do século XIX, com o comércio crescendo no Centro do Recife, esses engenhos antigos, incluindo o São João, foram transformados em celeiros da cidade, com plantio de alface, feijão e frutas, além da cana. A povoação da Várzea virou uma disputada colônia de férias. As águas cristalinas do rio atraíam recifenses que vinham de todas as partes da cidade. Esses banhos (que diziam ter poder de cura) movimentaram a localidade até 1880, quando teve início a poluição do Capibaribe e a colônia de férias perdeu força.
1.2- Usina São João da Várzea:
Era São João da Várzea uma usina de médio porte. Em 1914 dispunha a usina de 11 km. de estrada de ferro, sete tanques para álcool e uma produção de 70.000 toneladas de açúcar. Em 1929, com a morte do seu fundador( Francisco do Rego Barros de Lacerda), a usina passa a ser dirigida por sua viúva, D. Maria da Conceição do Rego Barros Lacerda, que, em 1933, apresenta uma produção de 37.853 sacos (60kg.) de açúcar, tendo, no ano seguinte, transferido a sua propriedade para os irmãos Ricardo Lacerda de Almeida Brennand e Antônio Luís de Almeida Brennand, proprietários da usina Santo Inácio. A Usina São João da Várzea continuou em atividade até o ano de 1943, quando veio encerrar sua produção de açúcar e álcool, passando as suas terras destinadas a outras atividades industriais. Naquela extensa área, antes ocupada secularmente pelos canaviais dos primitivos engenhos e mais recentemente da primitiva usina, foram construídas cerâmicas, bem como fábricas de azulejos, de porcelana, de vidros, siderúrgica e outras unidades do Grupo Brennand.
Segundo o historiador Pereira da Costa (Arredores do Recife), “na freguesia da Várzea, no Engenho São João, que em 1645 se discutiram os planos de revolta contra os holandeses”. No período da guerra da restauração (1645-1654), funcionou na freguesia da Várzea “toda a governança e mecanismo oficial da capitania de Pernambuco”.
2. Igrejas da Várzea:
Na praça matriz da Várzea encontram-se duas igrejas a de Nossa Senhora do Rosário ao centro e a igreja de Nossa Senhora do Livramento.
2.1- Igreja de Nossa Senhora do Rosário:
A primeira capela da Várzea dataria de 1612, hoje Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário. Nela foi sepultado, em 1648, Dom Antônio Felipe Camarão, governador dos índios e que se destacou nas lutas para a expulsão dos holandeses na capitania de Pernambuco. Na sacristia da igreja, escavações recentes desenvolvidas sob orientação do departamento de Arqueologia da UFPE, foi encontrado o cemitério das vítimas das duas Batalhas dos Guararapes (1648 e 1649).
Em 29 de Novembro de 1859, Dom Pedro II visitou a Várzea para se inteirar desse novo sítio histórico e concedeu à Matriz o título de “Imperial Matriz de Nossa Senhora do Rosário da Várzea”, com direito de levar a coroa imperial na fachada.
A igreja matriz da várzea passou por reformas, entre 1868 e 1872, nada restando da primitiva capela de Nossa Senhora do Rosário.
2.2-Igreja de Nossa Senhora do Livramento:
A igreja pertencia a uma irmandade de homens escravos. Apesar do belo frontispício, que conserva suas características primitivas, não está em perfeitas condições e por dentro já foi toda restaurada. Possui ainda um prédio de dois pavimentos no qual funcionou o seminário da Várzea, hoje apenas serve de morada para os padres.
3. Casarões da Várzea:
Vários casarões chamam a atenção para o bucolismo da Várzea dos nossos dias, salientando-se dentre eles o que serve de sede ao Educandário Magalhães Bastos, no final da Rua Francisco Lacerda. Construído em 1897 por Napoleão Duarte, o prédio destinava-se, segundo placa comemorativa, ao "Asilo da Infância Desvalida, de ambos os sexos, fundado e pelo Com. Antônio José de Magalhães Bastos, comerciante que foi nesta cidade".
Há também o Instituto Santa Maria Mazzarello, fundado em 29 de março de 1938 e ainda hoje funciona no mesmo endereço. No início era uma escola para crianças filhas dos operários da fábrica ao lado (hoje, TELEMAR) e acolhia essas crianças em gratuitamente em regime de semi-internato. Logo surgiu um ensino noturno para jovens operários, domésticas, um jardim de infância e um ginásio industrial. Porém gradativamente foram extintos esses ensinos com a implantação do 1º grau fundamental e os ensinos médios de 1º e 2º graus.
Um outro casarão que hoje encontra-se as ruínas é o antigo hospital Odontológico Magitot, que de acordo com a arquiteta Terezinha Pereira está com uma proposta desde 2008 para ser restaurado e transformado em um centro cultural.
4. A várzea Atualmente:
A Várzea é o segundo maior bairro em extensão territorial do município, ocupando uma área de aproximadamente 2.260 hectares, com uma população de 64.512 habitantes, que, de acordo com o IBGE tinham uma renda mensal de em torno de R$ 700,00. Em 1746 essa freguesia podia contar com 2.998 habitantes, 18 capelas, 11 engenhos em atividade e quatro de fogo morto (ou seja, desativados), o que nos revela como a população cresceu. O bairro integra a quarta região político-administrativa do recife (RPA-4) se localiza a oeste da cidade do Recife, fica entre os bairros do Curado, Cidade Universitária, Iputinga e Caxangá. A Várzea é bastante arborizada, cortada pelo rio Capibaribe, não apresenta muitos edifícios, a residência em sua maioria são casas e os poucos prédios que tem geralmente são de até seis andares. Essa "arrumação" arquitetural proporciona benefícios aos moradores, pois tem melhor passagem do ar, sendo, portanto um dos bairros com o clima mais agradável.
O comércio é bastante estático, ou melhor, não tem muito crescimento, é um comércio muito artesanal, iniciado pela própria população local em busca de renda para sustentar a família. Apesar de o comercio não esta em crescimento, a Várzea é palco de grandes atividades culturais, é na Várzea que se encontra o Instituto Ricardo Brennand (com um acervo de peças medievais); O ateliê de Francisco Brennand (que retrata esculturas em argila); o Conservatório da Várzea; a Igreja de Nossa Senhora do Rosário (datada de 1612); a Arquidiocese de Olinda e Recife (criada em 15 de julho de 1614), além de outros pontos como a sede da Oi e a Companhia Industrial de Vidros (CIV), uma empresa que é um exemplo de sucesso, pois é responsável pela geração de vários empregos diretos e indiretos, não só em Recife, como em Vitória, Salvador e Fortaleza, locais onde possui fábrica.
Apesar de possuir grandes centros culturais, bastante conhecidos, a praça pública da Várzea é um grande palco para eventos promovidos pela população local, ou ate mesmo outros trazidos por autores em descobrimento. Sendo assim, sede de grandes amostras culturais.
Além de possuir toda essa estrutura, a Várzea ainda é privilegiada pela sua localização. O bairro se encontra muito próximo a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), como também o Centro Federal de Educação de Pernambuco (CEFET-PE), e a Universidade Rural de Pernambuco (UFRPE), sendo assim, ela consegue abrigar vários estudantes que vem de outros estados, municípios em busca de uma melhor formação, e estadia. Por isso, o transporte é bastante eclético, para que se possa atender a demanda que existe; pois é a Várzea o local onde se encontra grandes terminais integrados, como o de TI Camaragibe, TI Macaxeira, TI Barro e TI Caxangá nessa área é o mais utilizado.
5. Arquidiocese de Olinda e Recife.
A delimitação feita para atender a necessidades peculiares em um território (prelazia territorial) ou de um grupo de fiéis (prelazia pessoal), São similares às igrejas particulares e, como estas, têm fiéis, clero e pastor próprio. A de Pernambuco foi criada em 15/07/1614 pela Bula "Fasti noviorbis" do Papa Paulo V. O Papa Urbano VIII com a Bula "Romanus Pontifex" do dia 06/07/1624 a constituiu sufragânea(são dioceses) da então Diocese de São Salvador da Bahia. O Papa Inocêncio XI, no dia 16/11/1676, pela Bula "Ad sacram Beati Petri sedem" a elevou como diocese, denominando-se Diocese de Olinda. Em 05/12/1910 foi elevada à Arquidiocese e Sede Metropolitana pelo Decreto da Sagrada Congregação Consistorial. Pela Bula "Cum urbs Recife" do Papa Bento XV de 26/07/1918, passou a denominar-se Arquidiocese de Olinda e Recife, que encontra-se na Av. Afonso Olindense, 1764 Várzea - Recife – PE.
A Arquidiocese (Diocese de um Arcebispo ,onde ele próprio, um bispo, ou um patriarca tem total jurisdição na diocese,ou seja, tem o direito de julgamento limitado ao seu território) de Olinda e Recife (Archidioecesis Olindensis et Recifensis) é uma circusncrição eclesiástica da Igreja Católica no estado de Pernambuco. Pertence ao Conselho Episcopal Regional Nordeste II da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. A sede arquiepiscopal se encontra em Olinda, onde se encontra a Catedral; contudo, no centro histórico do Recife, localiza-se a Concatedral de São Pedro dos Clérigos.
6. Universidade Federal de Pernambuco.
6.1- História
A história da Universidade Federal de Pernambuco tem início em 11 de agosto de 1946, data de fundação da Universidade do Recife (UR), criada por meio do Decreto-Lei da Presidência da República nº 9.388, de 20 de junho de 1946. A UR reunia a Faculdade de Direito do Recife, a Escola de Engenharia de Pernambuco, a Faculdade de Medicina do Recife, com as escolas anexas de Odontologia e Farmácia, a Escola de Belas Artes de Pernambuco e a Faculdade de Filosofia do Recife.
Passados 19 anos, a Universidade do Recife é integrada ao grupo de instituições federais do novo sistema de educação do País, recebendo a denominação de Universidade Federal de Pernambuco, autarquia vinculada ao Ministério da Educação.
Em 1948, começa a construção do campus universitário. A discussão sobre a localização da obra foi iniciada um ano antes. Entre os lugares cogitados, estavam terrenos nos bairros de Joana Bezerra, Santo Amaro e Ibura, a área da Faculdade de Direito, no Centro do Recife; e um loteamento na Várzea, mesmo espaço onde antes funcionou o Engenho do Meio e hoje está a UFPE. Essa escolha ocorreu em razão de existir uma avenida projetada para o local. Também foram consideradas as condições climáticas e a topografia do terreno.
Os recursos usados na aquisição e implantação do campus universitário foram provenientes do Governo do Estado, que alocou 0,10% dos impostos de vendas e consignações para a edificação do projeto. Os primeiros prédios construídos no campus foram o Broteiro, espaço destinado à criação de animais, que ficou localizado na área onde atualmente estão o Departamento de Nutrição e o Centro de Ciências da Saúde. A concepção do projeto arquitetônico do campus foi do arquiteto veneziano Mário Russo.
O primeiro reitor da universidade foi o professor Joaquim Ignácio de Almeida Amazonas, que também ocupou o cargo de diretor da Faculdade de Direito. Amazonas desempenhou a função de reitor por 12 anos.
6.2- UFPE Hoje
Segundo avaliações dos Ministérios da Educação (MEC) e de Ciência e Tecnologia (MCT), a Universidade Federal de Pernambuco é uma das melhores universidades do País, em ensino (graduação e pós-graduação) e pesquisa científica, sendo a melhor do Norte-Nordeste. As avaliações levam em consideração, para a graduação, os índices de desempenho dos alunos no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), a estrutura das instituições e o investimento em professores e nos cursos, reunidos agora no Índice Geral de Cursos (IGC) e da titulação e produção científica dos professores da pós-graduação – pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), estas duas avaliações do MEC. No caso da pesquisa, o resultado do Censo 2006 do Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil, realizado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do MCT, mantém a UFPE entre as dez melhores universidades do País em ensino e pesquisa, em termos qualitativos e quantitativos dos grupos de pesquisa. A Universidade tem um total de 387 grupos de pesquisa certificados.
7. Oficina Cerâmica Francisco Brennand:
A oficina surge em 1971, nas ruínas semi-abandonadas da Cerâmica São João da Várzea, empresa fundada pelo pai de Francisco Brennand em 1917 e desativada em 1945. Na empresa do seu pai, eram produzidas telhas e tijolos, depois de desativada, Francisco Brennand resolveu aproveitar os enormes galpões para instalar seu ateliê/oficina. As terras se encontravam no Engenho Santos Cosme e Damião, no bairro histórico da Várzea, e cercada por remanescentes da Mata Atlântica e pelas águas do Rio Capibaribe, distando 16 km do centro da cidade do Recife.
A Oficina Cerâmica Francisco Brennand é ao mesmo tempo oficina e museu. Cercados por jardins encontram-se exposições permanentes representadas por murais, esculturas e painéis, cerca de 2.000 peças de grande e médio porte. Um lugar único no mundo, a oficina constitui-se num conjunto arquitetônico monumental original, onde a obra se associa à arquitetura para dar forma a um universo dionisíaco, subterrâneo, sexual e religioso. A forma como são modeladas as esculturas é excelente, a queima é realizada em forno de alta temperatura (1.400 Cº), combustão a óleo.
Em dezembro de 2003, Brennand inaugurou o espaço “Accademia”. Trata-se de um pavilhão construído, especialmente, para expor desenhos, pinturas e peças cerâmicas de pequeno porte. Na Academia estão expostos mais de 200 trabalhos feitos ao longo de quase 60 anos e é onde o artista se revela um grande colorista, um cultivador do erotismo requintado e um desenhista e pintor de primeira.
7.1- Francisco Brennand :
Francisco de Paula Coimbra de Almeida Brennand, nasceu no Estado de Pernambuco, na Cidade do Recife em 1927. Após completar os estudos colegiais, Brennand teve o incentivo da família para cursar a Faculdade de Direito e suceder o pai na direção dos negócios da família. Desistiu, no entanto, e dedicou-se à carreira artística
Conquistou o 1º Prêmio no Salão de Pintura no Museu do Estado de Pernambuco em 1947 e em 1948. Começou a trabalhar intensamente realizando exposições de pintura e cerâmica em vários museus e galerias de todo o país. Executou vários murais em edifícios no Recife, deixou sua marca registrada nos espaços do Shopping Center Recife, no Marco Zero, em 1958 inaugura o mural do Aeroporto Internacional dos Guararapes, etc.
Francisco Brennand já expôs sua arte em diversas cidades brasileiras e em muitos países: Recife, Salvador, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Brasília, Olinda, Natal, João Pessoa, Manaus, Curitiba e nos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, França, Espanha, Bélgica, Itália, Suíça, Uruguai e Venezuela. A obra de Francisco Brennand consta de livros, filmes, artigos, entrevistas etc.
8. Instituto Ricardo Brennand:
É um complexo formado pelo castelo, pinacoteca e biblioteca voltado à preservação da arte e da cultura. O instituto foi fundado em 2002 com o objetivo de levar aprendizado a grandes parcelas da população.
8.1- Castelo:
O Museu de Armas Castelo São João, reúne a mais importante coleção de armas para caça e armaduras das mais diversas origens e épocas, cobrindo um espaço de tempo entre os séculos XV e XXI, provenientes da Europa, Ásia, América e África.
Essas obras de arte estão reunidas em coleções de Pintura, brasileira e estrangeira, Armaria, Tapeçaria, Artes Decorativas, Escultura e Mobiliário.
8.2- Pinacoteca:
A pinacoteca do Instituto Ricardo Brennand foi inaugurada em setembro de 2002 com a exposição internacional “Albert Eckhout Volta ao Brasil 1644-2002”. Atualmente o IRB está em cartaz com as mostras: “Frans Post e o Brasil Holandês”, “Paisagem Brasileira do Século XIX” e “O Julgamento de Nicolas Fouquet”.
O Instituto Ricardo Brennand coloca Pernambuco no roteiro das grandes exposições Nacionais e Internacionais. Com 1200 m², o salão expositivo tem capacidade de receber até duas mostras simultaneamente e conta com equipamentos de alta tecnologia para preservação de umidade, temperatura, luminosidade e segurança. Além do espaço expositivo, a Pinacoteca do Instituto Ricardo Brennand é composta por foyer, auditório com capacidade para 100 pessoas, banheiros, reserva técnica, loja, cafeteria, biblioteca e sala do conselho (reservada para eventos).
8.3- Biblioteca:
Projetada para reunir mais de cem mil volumes, detém atualmente um acervo próximo dos 20.000 itens: entre livros, opúsculos, periódicos, partituras, discos, fotografias, álbuns iconográficos e obras raras, em fase inicial de processamento.
A coleção de Obras Raras abriga obras do século XVI ao XX, dificilmente encontradas em outras bibliotecas ou arquivos. O tema principal dessa coleção são livros sobre o Brasil, escritos por viajantes do século XVII ao XIX, e livros escritos no período colonial e imperial, obras de grande interesse para a pesquisa histórica, artística, cultural, política, de costumes, de história natural, etc.
Bibliografia:
http://www.brennand.com.br/
http://www.ceramicanorio.com/
http://www.viagemdeferias.com/
http://www.recifediaenoite.hpg.ig.com.br/
http://www.ufpe.com.br/
http://www2.uol.com.br/JC/_2000/1802/cd1802q.htm
http://www.pe-az.com.br/subsecao_ler.php?id=MjQw
http://pt.wikipedia.org/wiki/V%C3%A1rzea_(bairro_do_Recife)
http://www.fundaj.gov.br/notitia/servlet/newstorm.ns.presentation.NavigationServlet?publicationCode=16&pageCode=320&textCode=942&date=currentDate
http://www.inst-mazzarello.com.br/web/imp_hist_varzea.asp
http://andreabrelaz.blogspot.com/2008_04_20_archive.html
quinta-feira, 4 de junho de 2009
Companhias de Comércio na Idade Moderna
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
PROFESSOR: SEVERINO VICENTE DA SILVA
DISCIPLINA: HISTÓRIA MODERNA II
COMPANHIAS DE COMÉRCIO NA IDADE MODERNA.
Escrito por:
Anna Maria Litwark
Cláudio Muniz
Karolina Kneip
Poliana Priscila
RECIFE - 2009
ÍNDICE
1. Introdução
2. Companhias Holandesas
3. Companhias Ibéricas
3.1 Companhias Portuguesas
3.2 Companhias Espanholas
4. Companhias Inglesas
5. Companhias de Outros Estados
5.1 Companhias Suecas
5.2 Companhias Francesas
5.3 Companhias Dinamarquesas
6. Conclusão
7. Bibliografia
1. INTRODUÇÃO
O sistema de Companhias de Comércio foi um reflexo das medidas mercantilistas adotadas pelos Estados nacionais europeus. Desempenharam, portanto, um papel preponderante na montagem e manutenção de seus Impérios coloniais durante a Idade Moderna. Esse viés expansionista desempenhado por essas nações desemborcou na estruturação da burguesia mercantil em detrimento da aristocracia representada pelos setores arcaicos da sociedade.
O Estado centrou em suas mãos as rédeas para promover a riqueza das nações e indivíduos. Para tanto, se utilizou do intervencionismo monopolista no mundo mercantil. “Os pioneiros da expansão européia foram Portugal e Espanha e a primazia garantiu-lhes a montagem de um vasto Império colonial” (JUNIOR, 2004, p.09). No entanto, esse pioneirismo não lhes conferiu a dianteira na formação das Companhias de comércio.
A prática de comercializar “em conjunto” desde a Roma antiga rendeu os subsídios necessários para que os mercadores, posteriormente conhecidos como “homens de negócio”, lançassem os alicerces para a estruturação de grandes grupos e associações de capital para o comércio em grande escala. Foram, portanto, primeiramente, sociedades anônimas e depois Companhias, que promoveram o intercâmbio do capital anônimo com o estatal, que marcaram definitivamente as estratégias de colonização e comércio na Europa Ocidental moderna. Societas Maris/ Vera (do século XI), Compagnia (século XII), Sociedades em Comandita (século XVI), Sociedades por ações (século XVI e XVII) foram concebidas no seio do comércio do Mediterrâneo e desembocaram, finalmente, nas Companhias monopolísticas do século XVII.
O mercantilismo de privilégios das Companhias se delineou de diversas formas; diferenciando-se de país a país, de acordo com suas tradições políticas e ideológicas. Enquanto que, por exemplo, na Inglaterra moderna a Coroa permitia certa liberdade de ação por parte dos administradores de tais companhias, na Holanda, a empresa era o sustentáculo da Coroa: ela a representava no ultramar e seus lucros eram basicamente recambiados para pagar as dívidas do Estado. Já na França, elas eram feitas e refeitas ao bel-prazer monárquico.
Essas companhias participavam de um jogo capitalista “nervosíssimo”. Segundo Braudel. Os privilégios das Companhias eram regidos por uma regra de três;
O monopólio de uma companhia depende da confluência de três realidades: primeiro o Estado, mais ou menos eficaz, nunca ausente; o mundo mercantil, isto é os capitais, o banco, o crédito, os clientes – um mundo hostil ou cúmplice, ou as duas coisas ao mesmo tempo; e por fim uma zona de comércio para ser explorada de longe, a qual, por si só, determina muitas coisas. (BRAUDEL, 2000, pp.392-393).
Tais empresas eram regidas por estatutos. Neles constavam as obrigações e os diretos dos participantes, o funcionamento geral da companhia, sua administração e estrutura, levando em conta sempre que se estruturavam em vias de metrópole para colônia.
A dianteira e o sucesso das grandes Companhias inglesas e holandesas influenciaram uma gama de outras empresas; assim como acirraram as disputas no mundo mercantil, fazendo com que outros países incursionassem nessa empreitada.
2. COMPANHIAS HOLANDESAS
As companhias de comércio holandesas tiveram seu inicio de forma bastante evolutiva, partindo das companhias menores dominadas pelo capital familiar para as grandes companhias monopolistas de capital aberto e anônimo.
As pequenas companhias chamadas de Pré-companhias (voor-compagnies) tiveram seu começo nas experiências anteriores das províncias do norte, a “União de Utrech”, com o chamado por Braudel de “Périplo triunfal” em 1595 à direção do Indico, expedição essa chefiada por Houtman. Ocupando Java em 1597 e tomando a Ilha Mauricia em 1598 tornando um sucesso essa primeira experiência. Depois das vantagens, Houtman, obtém apoio dos Estados Gerais para continuar as viagens com fins comercias, surgindo desta forma a companhia de lugares distantes (Compagine van Verre). Na esteira desse sucesso outras companhias foram surgindo para continuar a explorar e dominar no mar Báltico e Norte o comércio marítimo de madeira, equipamento naval e metais, peixes, manteiga e queijo.
Antes mesmo da criação das Companhias das Índias Orientais(1602) e Ocidentais(1621), os holandeses haviam acumulado toda uma experiência com a navegação. Primeiro, ao realizarem comércio no Mar Báltico e do Norte. Segundo, ao se lançarem para as Américas, especialmente para o Brasil. (NASCIMENTO, p.32)
As experiências na América datam de 1587, quando um corsário inglês observa no momento do ataque a Salvador, a presença de uma nau holandesa no ancoradouro da cidade. As províncias mantinham boa relação com Portugal e faziam o transporte de diversas cargas para a colônia como o vinho do Porto, o sal de Setúbal, o açúcar do Brasil e os Escravos da Angola. As experiências na América não se resumiram apenas ao comércio formal. As práticas piratas também foram amplamente exploradas, não sendo exclusividade dos holandeses já que os ingleses, franceses e alemães faziam uso desse artifício.
O uso freqüente uso, até em então seguido, de preferirem os comerciantes de Lisboa o fretarem, para o Brasil, urcas flamengas, mais bem construídas e artilhadas do que os barcos portugueses, não só foi prejudicial à marinha de guerra, que da mercante se alimenta, como levou ao Brasil muitos estrangeiros.(VARNAGEM apud NASCIMENTO, p.35)
Assim, a Companhia das Índias Orientais (1602) surge de uma experiência marítimo-comercial bem sucedida, trazendo uma união de outras companhias menores, saindo de um capital de investimento mercantil mais reduzido de clã para uma experiência de capital aberto, formando uma sociedade anônima, cujo corpo diretor compunha-se de dezessete membros (os herren XVII). Ela se forma como uma representação do Estado no estrangeiro, podendo fazer acordos, tratados, erguer fortes, atacar e saquear navios. Tudo isso com a concessão estatal que, teoricamente, duraria 20 anos e perdurou até 1740. A companhia se estrutura no momento de guerra do estado holandês contra a união ibérica e estendo a luta até ao ponto que Boxer (BOXER, 2001) chama de Primeira Guerra Mundial (por levar a luta desde Amazonas até a Angola e as ilhas de Timor). A companhia tem como função, de fato, a atividade da guerra para o controle comercial, seguindo-se do controle territorial e um esforço de colonização. Na luta contra os portugueses, a companhia leva vantagem e toma o controle do comércio de cravo, pimenta, noz-moscada e canela, fazendo trocas comerciais com o Japão, China e Índia.
Saindo em direção ao Oriente, depois de algumas décadas, conseguiu a Companhia das Índias orientais o controle do comércio do cravo, pimenta, da noz-moscada e da canela de forma que, já por volta de 1663, alerta Boxer “granjearam dos portugueses a posição de proprietários da parte do leão no negocio de transportes em águas asiáticas, entre o Japão e a Arábia” (NASCIMENTO, p.46)
A criação da Companhia deu inicio as atividades de forma organizada e empreendedora, que travava disputas não apenas militarmente, mas também diplomaticamente; obtendo com isso os lucros, que eram o objetivo máximo e irredutível da companhia, não importando “onde”, “quando” ou “como fosse” para que essa meta fosse alcançada.
A experiência holandesa no Oriente, nos moldes de um empreendimento organizado, teve vez com a criação da Companhia das Índias Orientais (VOC) em 1602. Contra os portugueses que aí já haviam instalado desde o inicio do século XVI, travou a Companhia uma disputa que envolveu não só armas, mas a diplomacia. Para conquistar um espaço no comércio asiático, contou a VOC com diversas tentativas.(NASCIMENTO, p.45)
A Companhia das Índias Ocidentais surge na esteira de sua irmã mais velha e bem-sucedida oriental, mas ela não surge inconseqüentemente, apenas para atacar as possessões ibéricas no atlântico. Pelo contrario, ela é resultado de uma experiência de sucesso anterior, por mais que um dos seus objetivos seja realmente fazer a guerra para dividir o bolo de comércio de açúcar, pau-brasil, sal e escravos no Atlântico. Tinha a pretensão de ocupar vários pontos, por haver vários objetos de interesse como o açúcar de Pernambuco e da Bahia; da Angola, os escravos e do Rio da Prata, o ouro e a prata, que sempre compuseram a lista de ambição flamenga, não podendo assim apenas se focalizar em uma área portuária.
Tudo indica que as intenções da Companhia das Índias Ocidentais, pelo menos no Brasil, não estivesse, voltadas única e exclusivamente para a conquista de um só ponto do litoral, Na mira dos neerlandeses se encontravam outros portos do Atlântico, Além do Recife e Salvador, o Rio de Janeiro e a região do Prata compuseram a lista de possibilidades. (NASCIMENTO, p.49)
Ela, como a Companhia Oriental, tinha um capital semi-privado, mas se organizava de uma forma um pouco diferente, pois havia dezenove conselheiros e era subdivida em câmaras de comércio.
Subdivida em câmaras de comércio, a WIC era presidida pelo Conselho de XIX, dos quais oito representavam a Câmara de Amsterdam, quatro a da Zelândia, dois a de Mosa (Roterdam), dois para o Distrito do Norte (Hoorn e Frísia), dois para a cidade e distrito de Groningen e um décimo nono nomeado para representar os Estados Gerais.
À Companhia Ocidental ficou o legado de perdedora, pois ela não obteve o mesmo sucesso que a sua predecessora.
3. AS COMPANHIAS IBÉRICAS
A perda do monopólio comercial europeu pelos países ibéricos botou em risco a manutenção de seus impérios ultramarinos. A revitalização da economia colonial, tanto quanto a da Península, nasceu da aplicação de políticas mercantilistas que tomaram corpo com a adoção do sistema de companhias privilegiadas de comércio.
As companhias espanholas e portuguesas podem ser compreendidas como estatais. Baseadas no exclusivismo metropolitano, mecanismo essencial do sistema colonial, essas empresas ligavam as colônias à Metropóle através do monopólio das relações comerciais. Entretanto, é interessante analisar um pouco mais detalhadamente o funcionamento das mesmas para perceber que o controle estatal esbarrava na ação dos personagens principais do mundo mercantil (homens de negócio).
3.1 COMPANHIAS PORTUGUESAS
Foram uma tentativa do Estado português de modernizar o sistema de monopólios comerciais, atingindo seu apogeu no período pombalino (iniciado durante o século XVIII). As grandes companhias foram criadas tardiamente e com pouco capital quando comparadas às companhias inglesas e holandesas. E após, a Restauração (1640) tinham o objetivo basilar de savaguardar o vunerável império português das ambições das mais fortes nações européias.
O privilégio das companhias iam desde o monopólio do comércio, da navegação e dos direitos ficais até o “direito de senhoria”, ou seja, a organização política dos territórios ocupados, podendo armar exércitos e marinhas de guerra para executar operações terrestres e navais que resultassem na ampliação das possessões marítimas. (VAINFAS, 2000, p. 128).
1. Primeiras Companhias
Companhia da Índia Portuguesa – Foi fundada em 1549. É a mais antiga das companhias de seu gênero no país. Esta companhia foi instituída com capitais da Coroa. Visava incrementar os negócios com o Estado Português da Índia, diante da crescente concorrência da Espanha e dos Países Baixos nos Oceano Índico e Pacífico.
• Companhia de Comércio das Índias Orientais – Foi fundada em 1628, sob o governo filipino. Foi logo extinta, em 1633, por falta de capitais.
• Companhia Geral do Comércio do Brasil – Fundada em 1649, essa Companhia era, primeiramente, responsável por expulsar definitivamente os holandeses que ainda ententavam contra a costa brasileira. Também fazia o viés de revitalizadora dos processos de produção de açucar. Mas o seu monopólio tinha a função de comercializar e assim fornecer mão-de-obra escrava para a região Nordeste do Brasil; e, em segundo plano, garantir o abastecimento e a qualidade do açucar destinado à metrópole. Atuava nas capitanias brasileiras que iam do Rio Grande à São Vicente. Ímpar pelo seu regimento, que lhes conferiam o dever e direito de armar suas frotas e de construir navios em estaleiros importantes, tanto em terras lusitanas, quanto no ultramar. Detinha, por fim, o monopólio de vinhos, cereais, azeite e bacalhau a ser destinado à colônia na América, podendo fixar os preços dos produtos. Podia também exportar madeiras tropicais, pagando uma parte dos impostos à metrópole.
• Companhia de Cacheu, Rios e Comércio da Guiné - 1676, detinha o monopólio do comércio de escravos (direito ao tráfego na Guiné e no Cabo Verde; exportar escravos para Portugal e Américas), tecidos e marfim. Decai em 1682.
• Companhia do Comércio do Maranhão - Fundada em 1682, detinha o monopólio de comércio com o Estado do Maranhão por 20 anos; tendo ainda privilégios de isenção de algumas taxas, de um juizo privado e da escravidão de indígenas que pudessem ser conquistados. Detinha também o comércio de escravos para a região, sobre a plantação e comercialização do açucar e do algodão, e o dever do transporte seguro desses gêneros ao seu lugar de destino. A Companhia começa a decair a partir do escandalo do abuso de poder dos seus diretores, que desvalorizavam e cobravam em excesso os gêneros, além de não cumprir acordos relativos ao tráfego de escravos para a colônia. Desse escândalo, resultou a eclosão da Revolta dos Beckman (em 1684) e à posterior extinção da Companhia em 1685.
• Companhia do Cacheu e Cabo Verde – Companhia criada por um Alvará Régio de 1690; visava a substituição da Companhia de Cacheu, extinta em 1682. Apresentava, portanto, objetivos mesmos: comercializar tecidos, marfim e escravos da Guiné e do Cabo Verde para o Brasil. Apresentou um curto período de sucesso, comcomitante ao seu monopólio de comércio de escravos na América espanhola (1696-1703).
2. Companhias de Pombal
“As companhias criadas sob inspiração do Marquês de Pombal deveriam ter uma função associada a Coroa, integrando um plano integrado de colonização formulado pelo Estado”. (JÚNIOR, 2004, p.23). Está associação também tinha o intuito de fortalecer a elite mercantil portuguesa em detrimento do capital estrangeiro e dos anseios da elite colonial.
• Companhia de Comércio da Ásia Portuguesa – Fundada em 1753, detinha o monopólio de 10 anos de comércio com a China e Índia. Suas pretenções logo tiveram que ser abandonadas; um maremoto ocorrido em Lisboa em 1755 (que destruiu os navios da Companhia e os produtos contidos neles); as aspirações políticas do filho de seu principal acionista, Feliciano (que tentara derrubar o marquês de Pombal); e o reembolso de empréstimos concedidos pelos Estado português, trouxe-lhe prejuízos irreversíveis em 1760.
• Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão - Fundada em 1755, propunha o controle e o formento da atividade comercial nessa região. A partir da escravidão, traçou uma política de desenvolvimento agrário e do comércio; tendo para tanto, contado com inúmeros privilégios: monopólio de vinte anos para o tráfico de escravos, do transporte naval e de outras mercadorias para o Grão-Pará e Maranhão; dispunha também de navios da Armada Real para a escolta de seus navios de transporte; tinham o reconhecimento real dos seus funcionários (à serviço da Coroa); prioridade para as suas mercadorias nas Alfândegas; foro especial. Maria I extinguiu a Companhia em 1778, depois de ter paulatinamente retirado o privilégio do monopólio. A sua liquidação porém, só foi concluída em 1914.
• A Companhia Geral de Comércio de Pernambuco e Paraíba - Fundada em 1759, detinha o monopólio do comércio na área de Pernambuco e suas capitanias subalternas; como também do tráfico delas para a Costa da África. Possuia privilégios parecidos com os de sua congênere do Grão-pará e Maranhão. A empresa que em tese iria promover o dinamismo da empresa açucareira, maior circulação de numerário, promover empréstimos aos produtores coloniais, como também fortalecer a elite mercantil da capitania; foi um instrumento de barganha para os que ocuparam os cargos diretivos da respectiva Companhia, em Pernambuco. O empobrecimento da capitania como um todo, foi a principal causa para que a população pernambucana exigisse sua extinção. Foi destutuída de seus privilégios em 1780, mas suas liquidação se arrascou até o início do século XX.
• Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro - Fundada em 1756, detinha o exclusivo da produção e distribuição dos vinhos da região demarcada do Douro, os conhecidos vinhos do Porto, privilegiados com isenção de impostos no comércio e nas exportações. Estes tinham uma grande procura no mercado britânico e um peso crescente na balança comercial portuguesa, à época. A Companhia estabeleceu a primeira região vinícola demarcada do mundo. A resistência e a hostilidade dos ingleses e de boa parte da burguesia de negócios do Porto quanto à Companhia, antes e depois da sua formação, obrigaram Carvalho e Melo, em 1756–1757, a tomar medidas duras e repressivas, mas determinantes para o sucesso daquela Instituição, que veio a ter um papel determinante no crescimento. Os comerciantes da época aperceberam-se com surpresa de que os comuns vinhos do Dourienses, que pecavam pela sua aspereza e adstringência, ao casarem com a aguardente adicionada perdiam a sua acidez excessiva, amaciavam-se no paladar e os seus aromas eram consideravelmente realçados.
• A Companhia Geral das Reais Pescarias do Reino do Algarve - destinava-se a controlar e fomentar a actividade da pesca no litoral sul do reino. 1773, à qual eram concedidos privilégios e garantias tais como o monopólio na exploração das pescarias em todo o Algarve, a redução de todos os direitos do pescado a 20%, e a entrega, à Companhia, de todo o espólio das armações pertencentes à Fazenda Real o que, em si, representava significativo aporte de capital. A Companhia, com sede em Lisboa, era composta por quatro membros (um dos quais residia no Algarve), eleitos pelos accionistas que detivessem, no mínimo, cinco acções. Possuía ainda três administradores, um em Lagos, um em Faro e outro em Tavira. As concessões da Companhia foram sempre anualmente renovadas até 1836, data da extinção da mesma.
Após o vislumbrar das principais características de funcionamento das empresas, pode-se dizer que tanto em Portugal como na Espanha, a elite mercantil dirigente não era um joguete nas mãos do Estado, e sim o elemento poderoso no jogo capitalista. O homem de negócio ibérico tirou proveito da necessidade que realeza tinha de arregimentar capitais em torno das companhias, para que a partir delas, pudessem controlar o mercando ultramarino em seu próprio proveito. Estas artimanhas fizeram com que paulatinamente, os ódios da população das áreas monopolizadas aumentassem, como também promoveu o aumento do comércio ilícito.
Pode-se dizer que até determinado ponto as companhias ibéricas atingiram seu objetivo principal: manter os impérios ibéricos. Mas não fez com que a economia destes países fosse estruturada, o que ocasionou no não aproveitamento da aceleração e acumulação de capitalista que outras nações européias usufruíram na época moderna.
3.2 COMPANHIAS ESPANHOLAS
Estas empresas dividem-se em dois grupos - aquelas formadas para comércio exterior, e aquelas formadas para fins internos dentro da Espanha (principalmente para promover a indústria têxtil). A Compania de San Fernando de Sevilla se enquadra entre os dois, sendo formada principalmente, para o reavivamento da indústria têxtil em torno de Sevilha, mas também tinha a autorização de comerciarlizar com as colônias espanholas.
3.2.1. Companhias ultramarinas
• Compania de Honduras - Foi criada em 1714, para importar determinados produtos de madeira na área da América Central. A empresa rapidamente desmoronou.
• Real Compania Guipuzcoana de Caracas – Foi criada em 1728, por um grupo de comerciantes da província Guipuzcoa, na parte basca da Espanha, para o comércio com a província de Caracas, na Venezuela, com os objetivos de : desenvolver a sua agricultura, principalmente de cacau ; vigiar a costa para impedir o comércio ilegal com estrangeiros, principalmente os holandeses de Curaçau. A empresa tinha o direito de enviar dois navios por ano a partir de San Sebastian ou Pasajes, carregando todos os tipos de mercadorias espanholas. Para a viagem de regresso dos navios traziam metais preciosos, cacau, açúcar, tabaco e couros. Desde o início, a empresa foi muito rentável, pagando substanciais dividendos aos seus acionistas. A empresa abusou de seu monopólio, cobrando preços exorbitantes para os bens importados, além de baixar constantemente os preços pagos pelos produtos aos coloniais. Os desmandos desemborcaram, no ano de 1749, em uma rebelião por parte dos colonos. Em desses desmandos da companhia, o governo espanhol reduziu os privilégios da empresa e introduzir preços fixos para a compra de produtos coloniais. Em 1781 a empresa perdeu o monopólio com a Venezuela, e em 1785 foi absorvido pela companhia Filipina.
• Compania de Galícia – formada com o intuito de preencher o espaço deixado pela companhia de Honduras, detinha o monopólio sobre corante advindo da madeira encontrada em Campeche. Durou poucos anos, pois o mercado de corante já estava nas mãos do ingleses.
• A Real Compania de Comércio de la Habana – criada em 1740, essa empresa detinha o monopólio de comércio de mercadorias espanholas (essencialmente têxteis, porcelana e farinha) e cubanas (tabaco, açucar e couro), sendo responsável também pelas transações entre esses dois países. Situada em Havana, tinha acionistas metropolitanos e criollos, mas logo sua relativa prosperidade decaiu, quando se descobriram fraudes da administração cubana (o diretor Arosteg fazia o uso indevido do monopólio para comercializar escravos, para lucro próprio); e a corrupção foi tamanha que, mesmo afastados os infratores, o monopólio foi perdido. Posteriormente, já bastante abalada e quase paralisada, a empresa sofre vários reveses, mas sua dissolução final só ocorre em meados do século XIX.
• Real Compania de Comércio de Barcelona – Empresa espanhola mais comentada, foi fundada em 1755 e detinha o monopólio do comércio com várias partes da América Central (São Domingos, Porto Rico e Ilha Margarita), bem como tarifas e privilégios (como o direito de travessias em Honduras e Guatemala). Pouco rentável no início, só detinha 2 navios, ilhas pobres e muitos prejuízos. Posteriormente, consegue, baseando-se no trabalho escravo, a concessão pela Coroa do comércio com outras ilhas e terras, como a Venezuela e Argentina. Atingiu seu climax em 1771, quando foi capaz de pagar suas primeiras dívidas. Porém decaiu em 1785, devido à falta de recursos, sendo depois incorporada pela Compania Filipina.
• Compania de Filipinas – Empresa desenhada aos moldes da Companhia de Caracas, foi enfim posta em prática em 1785 (55 anos depois de ser pensada). Detinha o status de comercializar todos os produtos produzidos na metrópole com as colônias americanas ; assim como também produtos orientais. Incorporou as empresas de Caracas e Barcelona, e recebeu o monopólio de 20 anos para comercializar com as Filipinas, China e Índia. Enfrentou problemas diplomáticos e comerciais com a Holanda. Teve entre seus grandes acionistas, o Banco de San Carlos e os cinco grêmios de Madrid. Conseguiu manter um alto padrão lucrativo, até que a partir de 1789, começa a sofrer duros e sucessivos golpes (emissões de obrigações, baixas na frota, guerra espanhola contra a Inglaterra, Guerra Peninsular), mas consegue sobreviver até 1834, quando é formalmente dissolvida.
3.2.2. As companhias internas
• Compania de Zarza la Mayor – criada em 1746, detinha amplos privilégios de comercializar na própria Espanha e em países vizinhos a lã e a seda fabricadas em Extremadura; assim como as frutas e o couro. Abusou de seus privilégios, e acabou sendo unida com a Compania de Granada, fundando a Compania de Extremadura; o que apresentou um completo fracasso.
• Real Companhia de Comercio y fábricas de Zaragoza – criada em 1746, a empresa detinha o comércio de todos os produtos industrializados de Aragão, com o intuito de promover essa área espanhola atrasada. Comercializava, sobretudo, o papel, a lã e a seda. Porém logo entrou em declínio; muitas foram as fraudes e a corrupção se alastrou na empresa, levando-a a falência em 1774.
• Real Compania de San Fernando de Sevilla – criada em 1747, tinha o intuito de promover os produtos da província, principalmente os de caráter têxtil. Vendia seus excedentes às províncias vizinhas e também para as colônias espanholas nas Índias; e detinha o comércio com áreas em que comercializavam também as Companias de Caracas e Havana. Corrupta e ineficaz, Foi dissolvida em meados de 1780, culminação de um processo de baixa crescente.
• Compania de Granada – criada em 1747, detinha o monopólio do setor têxtil de Granada, podendo exportar para várias áreas circunvizinhas. Apresentou uma vida útil muito pequena, de apenas 3 anos, devido principalmente ao abuso de poderes monopolísticos.
• Compania de Comercio y fábricas de Toledo – Resultante da antiga companhia da província, foi formada em 1748 e detinha o monopólio têxtil da região. Posteriormente é unida as Companias de Extremadura e Granada, mas logo se separa destas. Apresentou sempre lucros modestos, decretando falência em 1755. Sobreviveu às duras penas até 1778, quando foi formalmente dissolvida.
• A Compania General de Comercio y de los cinco grêmios mayores de Madrid (Guildas) – Grupo famoso de guildas (que produziam seda, lã e outros panos), de 1679, adquiriu privilégios, direitos e caracteres monopolísticos em 1731. Em 1732, já aparentava ser uma empresa bastante lucrativa e já fazia pequeno comércio às Índias. Foi um sucesso, sendo uma das principais companhias espanholas e se alargou rapidamente, alcançando o comércio com outras áreas, como Cidade do México, Vera Cruz, Lima e Guatemala. Formou escritórios comerciais em Londres, Paris e Hamburgo. Possuía sua própria frota de navios. Adquiriu posteriormente também o direito de recolher os impostos reais; controlando várias fábricas; construindo canais; fornecendo ao exército e marinha nacional os subsídios. Também ofereceu alimentos para Madri, dentre outras ações. Realizou por esses tempos, monopólio de comércio com o Marrocos, adquirindo também caracteres de Banco e principal financiador. Decaiu a partir de 1790 (devido as guerras espanholas, avanço das tropas napoleônicas, por fim, a Emancipação da América Espanhola); sendo finalmente liquidada na primeira metade do século XIX. Algumas de suas atividades continuaram sob uma nova Companhia, a Fabril de los cinco Gremios.
• Compania de Comercio y Fomento de fabricas de San Carlos – Criada em 1767, detinha a função de desenvolver a indústria têxtil de Castela. Pouco lucrativa, foi dissolvida em 1773.
• Compania de Ezcaray – criada em 1773 com o intuito de promover o comércio dos produtos da região da Rioja, apresentou curta vida, sendo extinta logo depois.
4. COMPANHIAS INGLESAS.
As Companhias de comércio inglesas surgem, como já foi visto, em meio a um contexto mercantilista no qual outras companhias européias se constiruíram. Entretanto, algumas companhias inglesas duraram muitos anos, sendo consideradas como o esteio do expansionsimo britânico. A Companhia das Índias Ocidentais é o exemplo máximo dessa afirmação. (JÚNIOR, 2004, p. 13)
A partir do século XV, começam a surgir na Inglaterra associações comerciais com características de companhias de comércio. A Company of Merchant Adventurers of London, resonsável pela comercialização interna e exportação de roupas de origem lanífera, é criada em 1407, através de uma Carta Real concedida por Henrique IV. Sua organização ainda é similar a uma grande “irmandade”, na qual todos os sócios são igualmente responsáveis pelos lucros e prejuízos da companhia. Essa forma estrutural é muito comum à outras companhias desse mesmo período, que seguiam uma lógica organizacional muito similar às das primeiras sociedades comericias italianas.
É válido ressaltarmos que as ilhas britânicas ainda eram constituídas por regiões essencialmente agrárias. A Inglaterra dos primeiros anos do século XVI era um país “atrasado”, sem uma marinha forte e com a maior parte de sua população vivendo nas zonas rurais. (BRAUDEL, 1996, p. 395) Não obstante, havia uma nascente expansão de suas atividades manufatureiras, especialmente ligadas a produção têxtil. Paralelamente, Portugal e Espanha colhiam os frutos do comércio com as índias, enquanto o estado inglês “aceitou sem murmurar o duplo monopólio ibérico.” (CHAUNU, 1984, p. 314)
Após a primeira metade do século XVI, outras duas importantes companhias foram criadas pela Inglaterra, suficientemente interessada em aproveitar-se das vantagens que cricundavam a expansão comercial moderna: a Muscovy Company e a Levant Company.
A Muscovy Company, criada em 1555, tinha a intenção de manter comércio de peles e roupas em lã com a longíqua região onde atualmente se situa a Rússia. O império russo, além de ser um parceiro potencialmente rico, é relativamente próximo de uma das principais áreas visadas pelos ingleses: a China. (BRAUDEL, 1996, p. 374) Já a Levant Company colocava-se em um ponto estratégico e se estabelecia em uma importante rota comercial no Oriente Médio, onde as especiarias e produtos vindos de várias regiões eram comercializados.
Essas companhias criadas não eram suficientes para uma Inglaterra, que já anseava pela quebra do monopólio espanhol e português. Era necessário estabelecer comércio direto com as Índias Orientais e, para tanto, comerciantes ingleses resolvem criar a primeira Companhia das Índias Orientais.
Em 1600, integrantes de muitas companhias se reuniram em prol de um projeto que visava ao estabelecimento de entrepostos mercantis na região do Índico. Para tanto, foi enviado um pedido à rainha Elizabeth no mesmo ano, para a concessão de monopólio na região das índias. Aceita a requisição, a Companhia das Índias Orientais envia suas primeiras embarcações ao Índico em 1601.
É válido ressaltar que a Inglaterra do século XVII já começava a contar com uma importante rede de banqueiros, financistas, transportadores e seguradoras; que tinham o papel de facilitar as transações comerciais das companhias e garantir a integridade das mercadorias. (MAURO, 1975, p. 29-31) A companhia das Índias Orientais, obviamente, colherá os benefícios dessa malha de infra-estrutura de transportes e comércio.
Começando com um capital inicial que girava em torno de 80.000 libras, a Companhia das Índias Orientais gerou lucros exorbitantes não só para os seus acionistas , mas também ao governo inglês, que recebia parte dos lucros em troca da concessão do monopólio. Karl Marx (MARX, 1853) faz duras críticas às relações entre governo e a Companhia, que se utilizavam, muitas vezes, da corrupção para garantir privilégios e lucros mútuos. É importante frisar que o corte temporal feito no artigo de Marx não atinge apenas a época da monarquia absoluta inglesa, mas também o período após a Revolução Gloriosa (1689), onde o Parlamento ganha mais poder.
A hegemonia dessa companhia, durante os séculos XVII e XVIII foi ameaçada não só por companhias de mesma finalidade criadas por outros países, mas por companhias constituídas no seio da própria Inglaterra. Essas últimas eram, vez ou outra, formadas no seio de setores insatisfeitos com os privilégios concedidos pela Coroa. No entanto, apesar das constantes crises enfrentadas, a Companhia das Índias Orientais teve um papel hegemônico no Índico e na China, absorvendo outras sociedades criadas posteriormente e fincando as bases para uma futura intervenção política nesses territórios.
Na parte ocidental do globo terrestre, os ingleses estabeleceram importantes relações comerciais no Atlântico. Na África Ocidental, o comércio inglês foi semelhante ao holandês e ao francês (MAURO, 1975, p. 51). A primeira Companhia com carta de privilégios foi fundada em 1618 e em 1672, foi criada a grande Royal African Company of England. Essa última foi uma gigante na comercilização de escravos africanos para as colônias portuguesas, espanholas, norte-americanas e as ilhas do Caribe.
Na América Central, a Inglaterra contava com sólidas possessões no Mar das Antilhas (MAURO, 1975, p. 52). A produção agrícola nessas ilhas era voltada para a exportação e para a fabricação de “moedas de troca” de escravos africanos. Além disso, parte do território hoje pertencente aos Estados Unidos da América, era oficialmente uma possessão inglesa. Ainda na América do Norte, a Inglaterra concede carta a Hudson’s Bay Company em 1670. Essa empresa disputou com os franceses o comércio de peles em territórios pertencentes, atualmente, ao Canadá e Estados Unidos.
5. COMPANHIAS DE OUTROS ESTADOS
5.1 COMPANHIA SUECA
A Suécia no reinado de Gustavo Adolfo, em 1619, criou a Companhia de Comércio da Suécia para controlar o cobre e depois o ferro. Os suecos possuíam grandes vantagens quanto ao cobre sobre o ferro, pois o ferro se encontrava em toda a Europa, enquanto na Suécia havia uma farta quantidade de cobre.Entretanto, a Suécia, para o ferro, levava a vantagem de ter um minério de ferro altamente qualificado e puro. A qualidade do produto colocava a Suécia em posição confortável sobre as outras nações européias. Argumenta Wallerstein que a Suécia “conseguiu concorrer, e muito eficazmente, tirando partido de uma questão de sorte e transformando-a numa vantagem sócio-econômica”. A participação do Estado foi decisiva para a Suécia.
A extração do ferro remontava na Suécia pelo menos ao século XII. Já então a fina qualidade do seu ferro maleável, o osmund, era conhecida em toda a Europa. Foi Gustavo Vasa o primeiro que, na primeira metade do século XVI, se irritou ao ver que o osmund de baixo preço era exportado para a Alemanha, para ser forjada em barras de alto preço. Para acabar com esta fuga de recursos, mandou vir técnicos alemães e criou forjas na Suécia. Apesar disso, continuou a produzir-se mais osmund que ferro em barra. O osmund representou dois terços da produção até ao período de 1600 a 1650, altura em que a proporção de ambos se equilibrou. Lançou-se uma indústria de aço. A passagem da extração de osmund para a forja de ferro em barra exigiu um investimento de capital considerável, em boa parte adiantado pelo rei.(WALLERSTEIN apud KAMINISHI)
A Suécia concentrou esforços na expansão político-comercial, no comércio marítimo e na frota mercante. Porém, os recursos foram insuficientes para a manutenção da política sueca. A Suécia tinha uma população muito escassa em termos europeus e, portanto, uma pequena base financeira para o seu aparelho de Estado.
5.2 COMPANHIAS FRANCESAS
A primeira tentativa francesa de instalar uma Companhia privilegiada de comércio se deu no governo de Luis XI, que decidira implantar uma companhia de comércio no mediterrâneo, bem anterior às grandes navegações. A tentativa se mostrou fracassada; e frustrou algumas que vieram posteriormente, até cerca do século XVII.
Mais tarde, a idéia de implementação de tais Companhias encontram maturidade principalmente a partir do governo de Luis XIV. Richelieu foi o primeiro estadista que encorajou a criação de Companhias de Comércio (como a de Morbihan e a dos Cem associados no Canadá). Posteriormente, essa iniciativa encontrou em Colbert um grande defensor. Colbert participou do planejamento e instauração de cerca de 10 Companhias, sendo, portanto, o maior implementador dessa empreitada, que visava à unção de súditos e Estado, para um comércio forte e global.
Em 1603, a “França” viaja formalmente para as Índias; e, numa tentativa de assegurar o monopólio da colonização em terras “conquistadas” , Henrique IV autoriza a primeira Compagnie des Indes Orientales em 1604. Essa Compagnie contou com todo um aparato governamental; que lhe assegurou o monopólio dos produtos extraídos por 15 anos. Mas, é apenas em 1610 que podemos destacar uma certa relevância da empresa, quando ela conta com viagens regulares e com uma pequena frota. Porém, logo a empresa é extinta: a organização da frota, utilizando-se de aparatos e tecnologia holandesa, acaba por irritar a VOC, causando sérios embaraços externos com as Províncias Unidas. Outras tentativas foram realizadas de restauração ou implantação de uma nova Compagnie, em 1615 e em 1635.
Podemos destacar que, apesar de inúmeras tentativas, apenas em 1664 a implementação de Companhias francesas de Comércio aparentam ser uma bom negócio. Nesse ano, Colbert instala suas duas principais Companhias: As Compagnies des Indes Orientales e Ocidentales; empresas autárquicas, porém voltadas também à receita estatal.
A Compagnie des Indes Orientales, responsável pelas relações no hemisfério oriental, apresentou uma vida útil de 55 anos (1664-1719), e era resultado direto da fusão de três importantes Companhias: a Compagnie D´Oriente, a Compagnie da China e a Compagnie de Madagáscar. Detinha o monopólio por 50 anos do Índico e Pacífico, assim como todas as Ilhas e Terras que podia conquistar. Apresentou durante seus dez primeiros anos, fracasso, apesar da grande venda inicial de ações; e fracassada também se tornou sua tentativa de ocupação e colonização a Madagascar (transformada em principal Ilha de extração). A Companhia apresentou relativo progresso chegando, inclusive, a aumentar sua rota comercial com a implantação, em 1668, de escritórios comerciais espalhados pela Índia. Porém em 1671, seu transporte marítimo decaia, devido aos maus negócios, trazendo ruína e guerras constantes em 1672. Em 1682, a empresa perde o monopólio devido à desconfiança da Coroa; mas luta até 1719, quando é formalmente dissolvida.
A Compagnie des Indes Ocidentales, responsável pelas relações no hemisfério ocidental, foi bem menos sucedida do que sua gêmea Oriental. Durou cerca de dez anos (1664-1674), apesar de gozar de grandes privilégios cedidos pelo governo; como o monopólio de comércio e colonização dos importantes territórios do Canadá, Antilhas, Cayenne e todos que pudessem vencer na América Central e também do Senegal e costa da Guiné. Contava, para tanto, com 40 anos de monopólio em que só se pagava metade dos direitos à Coroa. Sua ruína se dá em 1764, quando o Rei lhe retira os privilégios e reúne sob sua égide, novamente, os territórios envolvidos. Após sua dissolução; parte advinda das constates guerras com a Inglaterra, parte devido a desconfiança estatal na Companhia; muito se foi feito na tentativa de não- cessação total do comércio com esses territórios.
Em 1717, o banqueiro John Law funda a Compagnie d´Ocidente (ou Du Mississipi), também em resposta às reivindicações desses comerciantes. Essa importante Companhia detinha por 25 anos o monopólio do comércio de pele de castor canadense e da exploração de territórios franceses no além-mar ocidental. Porém só dura até 1719, quando junto com Compagnie des Indes Orientales e outras, funda a maior e mais importante Companhia francesa: A Compagnie des Indes.
Esta Compagnie des Indes durou cerca de 70 anos; e representou, portanto, um rearranjo de importantes empresas nacionais; como a Compagnie d´Ocidente, a des Indes Orientales, a Compagnie da China, a de Santo Domingo, da África, Guiné e Senegal. Ela realizou, a partir de então, a unção também de todos os monopólios dessas empresas; tendo recebido, posteriormente, o monopólio de todos os comércios ultramarinos franceses. Através de sua fusão com o Banco Royale, ganhou o direito nunca concedido anteriormente a uma empresa comercial, o de emitir notas. Porém essa fusão resulta num colapso apenas um ano depois e faz com que a Companhia decrete falência em 1721. Limitou-se ao comércio, e em 1722, conseguiu se reorganizar e resistir, recebendo em 1723, um voto de confiança de Luis XV, que concede a ela livre privilégios, principalmente sobre o monopólio de tabaco e café.
Até 1626, a empresa progride; mas esse ano marca, acima de tudo, o começo do período áureo da Companhia, que dura até 1746. Esses 20 anos representam anos de grandes feitos, como o pagamento de dívidas anteriores e trazem riqueza e prosperidade para os principais portos franceses, como o L´Oriente. Nesses tempos também se estabeleceu em vários escritórios na Índia, Cantão, Lêmen, Pérsia, Basra e Norte da África; que eram responsáveis pelo comércio de porcelanas, papéis de parede, lascas e chá da China, pano de algodão e seda da China e Índia, café do Lêmen, pimenta do Mahé, ouro, marfim e escravos da África.
Em 1746, a companhia começa a decair; fato acelerado pelas guerras francesas com a Inglaterra, principalmente a dos Sete Anos, que traz mais ruína à França, que perde navios nos combates, e territórios de bastante valor, como a região canadense. Em 1769, a Coroa francesa, que sempre fora desconfiada quanto a Companhias privilegiadas de Comércio, retira o monopólio de sua principal Companhia monopolística. A situação se agrava e, em 1770, o Rei lança um edital exigindo que a Companhia transfira todos os bens, direitos e propriedades para o Estado francês, cabendo à Coroa, a partir de então, a liquidação das dívidas dos acionistas e as anuidades das ações até a liquidação total. Essa atitude reinol extingue em 1770 a Companhia, e sua junta de liquidação termina os trabalhos em 1790.
Luis XVI tenta, em 1785, criar uma nova Companhia, na tentativa de gerir o comércio e manter os comerciantes sob seu domínio. A essa nova Compagnie des Indes, é dado um monopólio de 7 anos de comércio com todos os territórios ao leste do Cabo da Boa Esperança. Possuía uma frota média de 11 navios, que faziam escassas e regulares viagens à Índia e Ásia; e prospera até meados de 1790, quando a Assembléia Nacional revolucionária retira seus privilégios em 1790. Comercializa até fins do século XVIII, mas sua liquidação se dá apenas em 1826.
No entanto, escritórios de comércio e portos indianos continuam sob égide francesa até 1949.
5.3 COMPANHIA DINAMARQUESA
A principal Companhia privilegiada dinamarquesa de comércio foi a East India Company, empresa baseada nas contemporâneas holandesas e inglesas. Nunca alcançou a potência e a capacidade de monopólio de comércio de uma região, assim como foi tida como bastante frágil e intimamente ligada ao bel-prazer reinol.
Foi instaurada em 1616, pelo monarca Christian IV e contou, logo de início, com a desconfiança dos comerciantes nacionais. Empresa instalada com a parceria da Holanda fez de Tranquebar sua principal possessão além-mar; sua colônia e ponto de referência na Índia.
Foi tida como de pequeno porte; e, viajando a partir de 1618 (com o objetivo de alcançar a costa Coromandel e firmar acordos com o Ceilão) fez cerca de sete viagens de Tranquebar à Companhag, metrópole dinamarquesa. Apresenta, nos primeiros anos, ineficiência comercial; devido, sobretudo aos inúmeros naufrágios e ao pouco dinheiro lançado na empreitada.
Ocupa efetivamente Tranquebar em 1621 e os dinamarqueses passam a comercializar sobre duas principais rotas: a de pimenta, vinda de Tenasserim, e a de Massacar, de cravo. A partir de então participam do chamado “país de comércio”, adotando em 1625, uma postura essencialmente neutra no comércio global; e criando por outro lado, uma extensa rede de escritórios na Índia, a exemplo de outros países contemporâneos. A partir dessa posição, ocorrem sucessivas transferências de poder, advindas, sobretudo da crise monetária e comercial (que começa a se revelar em 1627 e desemboca com o bloqueio marítimo a Tranquebar em 1639); e uma insistência cada vez mais impertinente do Rei em manter a empresa colonizando uma Tranquebar já bastante combalida. Em 1639, dois navios (os últimos por um período de 29 anos) são mandados pelo Rei na tentativa de findar os impasses em Tranquebar.
A partir de 1640, a situação de Tranquebar piora. Isolada, sem apóio da metrópole (comprometida com seus próprios problemas externos), se vê assolada por uma afinidade de guerras com ilhas e territórios vizinhos; além de motins dinamarqueses na colônia. 1648 assume papel chave nesse processo: ano do motim , enfim, tira Leyel do comando supremo de Tranquebar (comando designado pela Companhia e pelo Rei) e instaura sucessivos governos não-oficiais na colônia. Também foi o ano da morte de Christian IV. Isso faz com que, em 1650, pressionado por acionistas, Frederico III, seu sucessor, enfim dissolvesse a sociedade, pondo Tranquebar na posição, mais uma vez, de “terra de ninguém”; não-colonizada pela Companhia nem pelo Reino, preocupado com guerras religiosas e externas contra, principalmente, a Suécia.
Tranquebar resiste a duras penas, e em 1669, o bloqueio de 29 anos chega ao fim: a fragata Faero parte de Compenhag, com a tentativa de reavivar a colônia (expandindo-a e firmando acordos de paz com as terras em guerra, além de proclamar Andersen comandante supremo); e instaura, em 1670, uma segunda East India Company. Esta segunda empresa tenciona novas rotas de comércio com Bantam e a Ilha de Sunda. Detinha 40 anos de monopólio, privilégio subscrito numa carta régia. Após relativo progresso, recebe de Christian V mais 40 anos de monopólio. Esse período é reconhecido como o período áureo da Companhia, em que muitas negociações importantes são tratadas, e o comércio apresenta lucros bastante significativos.
O fim dessa Companhia começa a se dar a partir da primeira década do século XVIII; devido principalmente às Grandes Guerras do Norte, que causam prejuízos incalculáveis ao reino da Dinamarca, e consequentemente, à Companhia. Mesmo depois da paz de 1720, pouco pode ser feito no sentido de recuperar a economia da Companhia. Em 1726, Frederico IV recusa um pedido de ajuda à Companhia, e em 1729, os acionistas dissolvem a lucrativa empresa.
CONCLUSÃO
Nesse breve trabalho a respeito das companhias modernas de comércio, procurou-se caracterizar essas empresas, suas formas de organização e sua relevância econômica e política para as metrópoles européias; em meio a um contexto de competição entre as potências européias. Essas potências procuravam garantir privilégios e postos de influências em regiões produtoras de produtos valiosos no mercado internacional ou em zonas de intercâmbio comercial.
Assentamos as bases dessa pesquisa nas obras de alguns renomados estudiosos, que tratam desse tema tão importante a respeito das práticas comerciais e suas influências na construção dos estados modernos europeus.
Pudemos acompanhar a criação dessas sociedades em vários países, sendo observados os interesses expansionistas que pululavam no universo do comércio além-mar europeu e a estreita relação que a maior parte delas possuía com os Estados Nacionais modernos. Também foram vistas algumas causas de sucesso ou fracasso desses empreendimentos comerciais, que representavam a mentalidade “colonizadora” presente em diversos países da Europa durante a Idade Moderna.
Por fim, esperamos ter contribuído, ao menos de forma modesta, para o entendimento geral da relevância das Companhias de Comércio na construção histórica de interações comerciais e políticas entre as mais variadas regiões, desde o Atlântico ao Pacífico.
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CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
PROFESSOR: SEVERINO VICENTE DA SILVA
DISCIPLINA: HISTÓRIA MODERNA II
COMPANHIAS DE COMÉRCIO NA IDADE MODERNA.
Escrito por:
Anna Maria Litwark
Cláudio Muniz
Karolina Kneip
Poliana Priscila
RECIFE - 2009
ÍNDICE
1. Introdução
2. Companhias Holandesas
3. Companhias Ibéricas
3.1 Companhias Portuguesas
3.2 Companhias Espanholas
4. Companhias Inglesas
5. Companhias de Outros Estados
5.1 Companhias Suecas
5.2 Companhias Francesas
5.3 Companhias Dinamarquesas
6. Conclusão
7. Bibliografia
1. INTRODUÇÃO
O sistema de Companhias de Comércio foi um reflexo das medidas mercantilistas adotadas pelos Estados nacionais europeus. Desempenharam, portanto, um papel preponderante na montagem e manutenção de seus Impérios coloniais durante a Idade Moderna. Esse viés expansionista desempenhado por essas nações desemborcou na estruturação da burguesia mercantil em detrimento da aristocracia representada pelos setores arcaicos da sociedade.
O Estado centrou em suas mãos as rédeas para promover a riqueza das nações e indivíduos. Para tanto, se utilizou do intervencionismo monopolista no mundo mercantil. “Os pioneiros da expansão européia foram Portugal e Espanha e a primazia garantiu-lhes a montagem de um vasto Império colonial” (JUNIOR, 2004, p.09). No entanto, esse pioneirismo não lhes conferiu a dianteira na formação das Companhias de comércio.
A prática de comercializar “em conjunto” desde a Roma antiga rendeu os subsídios necessários para que os mercadores, posteriormente conhecidos como “homens de negócio”, lançassem os alicerces para a estruturação de grandes grupos e associações de capital para o comércio em grande escala. Foram, portanto, primeiramente, sociedades anônimas e depois Companhias, que promoveram o intercâmbio do capital anônimo com o estatal, que marcaram definitivamente as estratégias de colonização e comércio na Europa Ocidental moderna. Societas Maris/ Vera (do século XI), Compagnia (século XII), Sociedades em Comandita (século XVI), Sociedades por ações (século XVI e XVII) foram concebidas no seio do comércio do Mediterrâneo e desembocaram, finalmente, nas Companhias monopolísticas do século XVII.
O mercantilismo de privilégios das Companhias se delineou de diversas formas; diferenciando-se de país a país, de acordo com suas tradições políticas e ideológicas. Enquanto que, por exemplo, na Inglaterra moderna a Coroa permitia certa liberdade de ação por parte dos administradores de tais companhias, na Holanda, a empresa era o sustentáculo da Coroa: ela a representava no ultramar e seus lucros eram basicamente recambiados para pagar as dívidas do Estado. Já na França, elas eram feitas e refeitas ao bel-prazer monárquico.
Essas companhias participavam de um jogo capitalista “nervosíssimo”. Segundo Braudel. Os privilégios das Companhias eram regidos por uma regra de três;
O monopólio de uma companhia depende da confluência de três realidades: primeiro o Estado, mais ou menos eficaz, nunca ausente; o mundo mercantil, isto é os capitais, o banco, o crédito, os clientes – um mundo hostil ou cúmplice, ou as duas coisas ao mesmo tempo; e por fim uma zona de comércio para ser explorada de longe, a qual, por si só, determina muitas coisas. (BRAUDEL, 2000, pp.392-393).
Tais empresas eram regidas por estatutos. Neles constavam as obrigações e os diretos dos participantes, o funcionamento geral da companhia, sua administração e estrutura, levando em conta sempre que se estruturavam em vias de metrópole para colônia.
A dianteira e o sucesso das grandes Companhias inglesas e holandesas influenciaram uma gama de outras empresas; assim como acirraram as disputas no mundo mercantil, fazendo com que outros países incursionassem nessa empreitada.
2. COMPANHIAS HOLANDESAS
As companhias de comércio holandesas tiveram seu inicio de forma bastante evolutiva, partindo das companhias menores dominadas pelo capital familiar para as grandes companhias monopolistas de capital aberto e anônimo.
As pequenas companhias chamadas de Pré-companhias (voor-compagnies) tiveram seu começo nas experiências anteriores das províncias do norte, a “União de Utrech”, com o chamado por Braudel de “Périplo triunfal” em 1595 à direção do Indico, expedição essa chefiada por Houtman. Ocupando Java em 1597 e tomando a Ilha Mauricia em 1598 tornando um sucesso essa primeira experiência. Depois das vantagens, Houtman, obtém apoio dos Estados Gerais para continuar as viagens com fins comercias, surgindo desta forma a companhia de lugares distantes (Compagine van Verre). Na esteira desse sucesso outras companhias foram surgindo para continuar a explorar e dominar no mar Báltico e Norte o comércio marítimo de madeira, equipamento naval e metais, peixes, manteiga e queijo.
Antes mesmo da criação das Companhias das Índias Orientais(1602) e Ocidentais(1621), os holandeses haviam acumulado toda uma experiência com a navegação. Primeiro, ao realizarem comércio no Mar Báltico e do Norte. Segundo, ao se lançarem para as Américas, especialmente para o Brasil. (NASCIMENTO, p.32)
As experiências na América datam de 1587, quando um corsário inglês observa no momento do ataque a Salvador, a presença de uma nau holandesa no ancoradouro da cidade. As províncias mantinham boa relação com Portugal e faziam o transporte de diversas cargas para a colônia como o vinho do Porto, o sal de Setúbal, o açúcar do Brasil e os Escravos da Angola. As experiências na América não se resumiram apenas ao comércio formal. As práticas piratas também foram amplamente exploradas, não sendo exclusividade dos holandeses já que os ingleses, franceses e alemães faziam uso desse artifício.
O uso freqüente uso, até em então seguido, de preferirem os comerciantes de Lisboa o fretarem, para o Brasil, urcas flamengas, mais bem construídas e artilhadas do que os barcos portugueses, não só foi prejudicial à marinha de guerra, que da mercante se alimenta, como levou ao Brasil muitos estrangeiros.(VARNAGEM apud NASCIMENTO, p.35)
Assim, a Companhia das Índias Orientais (1602) surge de uma experiência marítimo-comercial bem sucedida, trazendo uma união de outras companhias menores, saindo de um capital de investimento mercantil mais reduzido de clã para uma experiência de capital aberto, formando uma sociedade anônima, cujo corpo diretor compunha-se de dezessete membros (os herren XVII). Ela se forma como uma representação do Estado no estrangeiro, podendo fazer acordos, tratados, erguer fortes, atacar e saquear navios. Tudo isso com a concessão estatal que, teoricamente, duraria 20 anos e perdurou até 1740. A companhia se estrutura no momento de guerra do estado holandês contra a união ibérica e estendo a luta até ao ponto que Boxer (BOXER, 2001) chama de Primeira Guerra Mundial (por levar a luta desde Amazonas até a Angola e as ilhas de Timor). A companhia tem como função, de fato, a atividade da guerra para o controle comercial, seguindo-se do controle territorial e um esforço de colonização. Na luta contra os portugueses, a companhia leva vantagem e toma o controle do comércio de cravo, pimenta, noz-moscada e canela, fazendo trocas comerciais com o Japão, China e Índia.
Saindo em direção ao Oriente, depois de algumas décadas, conseguiu a Companhia das Índias orientais o controle do comércio do cravo, pimenta, da noz-moscada e da canela de forma que, já por volta de 1663, alerta Boxer “granjearam dos portugueses a posição de proprietários da parte do leão no negocio de transportes em águas asiáticas, entre o Japão e a Arábia” (NASCIMENTO, p.46)
A criação da Companhia deu inicio as atividades de forma organizada e empreendedora, que travava disputas não apenas militarmente, mas também diplomaticamente; obtendo com isso os lucros, que eram o objetivo máximo e irredutível da companhia, não importando “onde”, “quando” ou “como fosse” para que essa meta fosse alcançada.
A experiência holandesa no Oriente, nos moldes de um empreendimento organizado, teve vez com a criação da Companhia das Índias Orientais (VOC) em 1602. Contra os portugueses que aí já haviam instalado desde o inicio do século XVI, travou a Companhia uma disputa que envolveu não só armas, mas a diplomacia. Para conquistar um espaço no comércio asiático, contou a VOC com diversas tentativas.(NASCIMENTO, p.45)
A Companhia das Índias Ocidentais surge na esteira de sua irmã mais velha e bem-sucedida oriental, mas ela não surge inconseqüentemente, apenas para atacar as possessões ibéricas no atlântico. Pelo contrario, ela é resultado de uma experiência de sucesso anterior, por mais que um dos seus objetivos seja realmente fazer a guerra para dividir o bolo de comércio de açúcar, pau-brasil, sal e escravos no Atlântico. Tinha a pretensão de ocupar vários pontos, por haver vários objetos de interesse como o açúcar de Pernambuco e da Bahia; da Angola, os escravos e do Rio da Prata, o ouro e a prata, que sempre compuseram a lista de ambição flamenga, não podendo assim apenas se focalizar em uma área portuária.
Tudo indica que as intenções da Companhia das Índias Ocidentais, pelo menos no Brasil, não estivesse, voltadas única e exclusivamente para a conquista de um só ponto do litoral, Na mira dos neerlandeses se encontravam outros portos do Atlântico, Além do Recife e Salvador, o Rio de Janeiro e a região do Prata compuseram a lista de possibilidades. (NASCIMENTO, p.49)
Ela, como a Companhia Oriental, tinha um capital semi-privado, mas se organizava de uma forma um pouco diferente, pois havia dezenove conselheiros e era subdivida em câmaras de comércio.
Subdivida em câmaras de comércio, a WIC era presidida pelo Conselho de XIX, dos quais oito representavam a Câmara de Amsterdam, quatro a da Zelândia, dois a de Mosa (Roterdam), dois para o Distrito do Norte (Hoorn e Frísia), dois para a cidade e distrito de Groningen e um décimo nono nomeado para representar os Estados Gerais.
À Companhia Ocidental ficou o legado de perdedora, pois ela não obteve o mesmo sucesso que a sua predecessora.
3. AS COMPANHIAS IBÉRICAS
A perda do monopólio comercial europeu pelos países ibéricos botou em risco a manutenção de seus impérios ultramarinos. A revitalização da economia colonial, tanto quanto a da Península, nasceu da aplicação de políticas mercantilistas que tomaram corpo com a adoção do sistema de companhias privilegiadas de comércio.
As companhias espanholas e portuguesas podem ser compreendidas como estatais. Baseadas no exclusivismo metropolitano, mecanismo essencial do sistema colonial, essas empresas ligavam as colônias à Metropóle através do monopólio das relações comerciais. Entretanto, é interessante analisar um pouco mais detalhadamente o funcionamento das mesmas para perceber que o controle estatal esbarrava na ação dos personagens principais do mundo mercantil (homens de negócio).
3.1 COMPANHIAS PORTUGUESAS
Foram uma tentativa do Estado português de modernizar o sistema de monopólios comerciais, atingindo seu apogeu no período pombalino (iniciado durante o século XVIII). As grandes companhias foram criadas tardiamente e com pouco capital quando comparadas às companhias inglesas e holandesas. E após, a Restauração (1640) tinham o objetivo basilar de savaguardar o vunerável império português das ambições das mais fortes nações européias.
O privilégio das companhias iam desde o monopólio do comércio, da navegação e dos direitos ficais até o “direito de senhoria”, ou seja, a organização política dos territórios ocupados, podendo armar exércitos e marinhas de guerra para executar operações terrestres e navais que resultassem na ampliação das possessões marítimas. (VAINFAS, 2000, p. 128).
1. Primeiras Companhias
Companhia da Índia Portuguesa – Foi fundada em 1549. É a mais antiga das companhias de seu gênero no país. Esta companhia foi instituída com capitais da Coroa. Visava incrementar os negócios com o Estado Português da Índia, diante da crescente concorrência da Espanha e dos Países Baixos nos Oceano Índico e Pacífico.
• Companhia de Comércio das Índias Orientais – Foi fundada em 1628, sob o governo filipino. Foi logo extinta, em 1633, por falta de capitais.
• Companhia Geral do Comércio do Brasil – Fundada em 1649, essa Companhia era, primeiramente, responsável por expulsar definitivamente os holandeses que ainda ententavam contra a costa brasileira. Também fazia o viés de revitalizadora dos processos de produção de açucar. Mas o seu monopólio tinha a função de comercializar e assim fornecer mão-de-obra escrava para a região Nordeste do Brasil; e, em segundo plano, garantir o abastecimento e a qualidade do açucar destinado à metrópole. Atuava nas capitanias brasileiras que iam do Rio Grande à São Vicente. Ímpar pelo seu regimento, que lhes conferiam o dever e direito de armar suas frotas e de construir navios em estaleiros importantes, tanto em terras lusitanas, quanto no ultramar. Detinha, por fim, o monopólio de vinhos, cereais, azeite e bacalhau a ser destinado à colônia na América, podendo fixar os preços dos produtos. Podia também exportar madeiras tropicais, pagando uma parte dos impostos à metrópole.
• Companhia de Cacheu, Rios e Comércio da Guiné - 1676, detinha o monopólio do comércio de escravos (direito ao tráfego na Guiné e no Cabo Verde; exportar escravos para Portugal e Américas), tecidos e marfim. Decai em 1682.
• Companhia do Comércio do Maranhão - Fundada em 1682, detinha o monopólio de comércio com o Estado do Maranhão por 20 anos; tendo ainda privilégios de isenção de algumas taxas, de um juizo privado e da escravidão de indígenas que pudessem ser conquistados. Detinha também o comércio de escravos para a região, sobre a plantação e comercialização do açucar e do algodão, e o dever do transporte seguro desses gêneros ao seu lugar de destino. A Companhia começa a decair a partir do escandalo do abuso de poder dos seus diretores, que desvalorizavam e cobravam em excesso os gêneros, além de não cumprir acordos relativos ao tráfego de escravos para a colônia. Desse escândalo, resultou a eclosão da Revolta dos Beckman (em 1684) e à posterior extinção da Companhia em 1685.
• Companhia do Cacheu e Cabo Verde – Companhia criada por um Alvará Régio de 1690; visava a substituição da Companhia de Cacheu, extinta em 1682. Apresentava, portanto, objetivos mesmos: comercializar tecidos, marfim e escravos da Guiné e do Cabo Verde para o Brasil. Apresentou um curto período de sucesso, comcomitante ao seu monopólio de comércio de escravos na América espanhola (1696-1703).
2. Companhias de Pombal
“As companhias criadas sob inspiração do Marquês de Pombal deveriam ter uma função associada a Coroa, integrando um plano integrado de colonização formulado pelo Estado”. (JÚNIOR, 2004, p.23). Está associação também tinha o intuito de fortalecer a elite mercantil portuguesa em detrimento do capital estrangeiro e dos anseios da elite colonial.
• Companhia de Comércio da Ásia Portuguesa – Fundada em 1753, detinha o monopólio de 10 anos de comércio com a China e Índia. Suas pretenções logo tiveram que ser abandonadas; um maremoto ocorrido em Lisboa em 1755 (que destruiu os navios da Companhia e os produtos contidos neles); as aspirações políticas do filho de seu principal acionista, Feliciano (que tentara derrubar o marquês de Pombal); e o reembolso de empréstimos concedidos pelos Estado português, trouxe-lhe prejuízos irreversíveis em 1760.
• Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão - Fundada em 1755, propunha o controle e o formento da atividade comercial nessa região. A partir da escravidão, traçou uma política de desenvolvimento agrário e do comércio; tendo para tanto, contado com inúmeros privilégios: monopólio de vinte anos para o tráfico de escravos, do transporte naval e de outras mercadorias para o Grão-Pará e Maranhão; dispunha também de navios da Armada Real para a escolta de seus navios de transporte; tinham o reconhecimento real dos seus funcionários (à serviço da Coroa); prioridade para as suas mercadorias nas Alfândegas; foro especial. Maria I extinguiu a Companhia em 1778, depois de ter paulatinamente retirado o privilégio do monopólio. A sua liquidação porém, só foi concluída em 1914.
• A Companhia Geral de Comércio de Pernambuco e Paraíba - Fundada em 1759, detinha o monopólio do comércio na área de Pernambuco e suas capitanias subalternas; como também do tráfico delas para a Costa da África. Possuia privilégios parecidos com os de sua congênere do Grão-pará e Maranhão. A empresa que em tese iria promover o dinamismo da empresa açucareira, maior circulação de numerário, promover empréstimos aos produtores coloniais, como também fortalecer a elite mercantil da capitania; foi um instrumento de barganha para os que ocuparam os cargos diretivos da respectiva Companhia, em Pernambuco. O empobrecimento da capitania como um todo, foi a principal causa para que a população pernambucana exigisse sua extinção. Foi destutuída de seus privilégios em 1780, mas suas liquidação se arrascou até o início do século XX.
• Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro - Fundada em 1756, detinha o exclusivo da produção e distribuição dos vinhos da região demarcada do Douro, os conhecidos vinhos do Porto, privilegiados com isenção de impostos no comércio e nas exportações. Estes tinham uma grande procura no mercado britânico e um peso crescente na balança comercial portuguesa, à época. A Companhia estabeleceu a primeira região vinícola demarcada do mundo. A resistência e a hostilidade dos ingleses e de boa parte da burguesia de negócios do Porto quanto à Companhia, antes e depois da sua formação, obrigaram Carvalho e Melo, em 1756–1757, a tomar medidas duras e repressivas, mas determinantes para o sucesso daquela Instituição, que veio a ter um papel determinante no crescimento. Os comerciantes da época aperceberam-se com surpresa de que os comuns vinhos do Dourienses, que pecavam pela sua aspereza e adstringência, ao casarem com a aguardente adicionada perdiam a sua acidez excessiva, amaciavam-se no paladar e os seus aromas eram consideravelmente realçados.
• A Companhia Geral das Reais Pescarias do Reino do Algarve - destinava-se a controlar e fomentar a actividade da pesca no litoral sul do reino. 1773, à qual eram concedidos privilégios e garantias tais como o monopólio na exploração das pescarias em todo o Algarve, a redução de todos os direitos do pescado a 20%, e a entrega, à Companhia, de todo o espólio das armações pertencentes à Fazenda Real o que, em si, representava significativo aporte de capital. A Companhia, com sede em Lisboa, era composta por quatro membros (um dos quais residia no Algarve), eleitos pelos accionistas que detivessem, no mínimo, cinco acções. Possuía ainda três administradores, um em Lagos, um em Faro e outro em Tavira. As concessões da Companhia foram sempre anualmente renovadas até 1836, data da extinção da mesma.
Após o vislumbrar das principais características de funcionamento das empresas, pode-se dizer que tanto em Portugal como na Espanha, a elite mercantil dirigente não era um joguete nas mãos do Estado, e sim o elemento poderoso no jogo capitalista. O homem de negócio ibérico tirou proveito da necessidade que realeza tinha de arregimentar capitais em torno das companhias, para que a partir delas, pudessem controlar o mercando ultramarino em seu próprio proveito. Estas artimanhas fizeram com que paulatinamente, os ódios da população das áreas monopolizadas aumentassem, como também promoveu o aumento do comércio ilícito.
Pode-se dizer que até determinado ponto as companhias ibéricas atingiram seu objetivo principal: manter os impérios ibéricos. Mas não fez com que a economia destes países fosse estruturada, o que ocasionou no não aproveitamento da aceleração e acumulação de capitalista que outras nações européias usufruíram na época moderna.
3.2 COMPANHIAS ESPANHOLAS
Estas empresas dividem-se em dois grupos - aquelas formadas para comércio exterior, e aquelas formadas para fins internos dentro da Espanha (principalmente para promover a indústria têxtil). A Compania de San Fernando de Sevilla se enquadra entre os dois, sendo formada principalmente, para o reavivamento da indústria têxtil em torno de Sevilha, mas também tinha a autorização de comerciarlizar com as colônias espanholas.
3.2.1. Companhias ultramarinas
• Compania de Honduras - Foi criada em 1714, para importar determinados produtos de madeira na área da América Central. A empresa rapidamente desmoronou.
• Real Compania Guipuzcoana de Caracas – Foi criada em 1728, por um grupo de comerciantes da província Guipuzcoa, na parte basca da Espanha, para o comércio com a província de Caracas, na Venezuela, com os objetivos de : desenvolver a sua agricultura, principalmente de cacau ; vigiar a costa para impedir o comércio ilegal com estrangeiros, principalmente os holandeses de Curaçau. A empresa tinha o direito de enviar dois navios por ano a partir de San Sebastian ou Pasajes, carregando todos os tipos de mercadorias espanholas. Para a viagem de regresso dos navios traziam metais preciosos, cacau, açúcar, tabaco e couros. Desde o início, a empresa foi muito rentável, pagando substanciais dividendos aos seus acionistas. A empresa abusou de seu monopólio, cobrando preços exorbitantes para os bens importados, além de baixar constantemente os preços pagos pelos produtos aos coloniais. Os desmandos desemborcaram, no ano de 1749, em uma rebelião por parte dos colonos. Em desses desmandos da companhia, o governo espanhol reduziu os privilégios da empresa e introduzir preços fixos para a compra de produtos coloniais. Em 1781 a empresa perdeu o monopólio com a Venezuela, e em 1785 foi absorvido pela companhia Filipina.
• Compania de Galícia – formada com o intuito de preencher o espaço deixado pela companhia de Honduras, detinha o monopólio sobre corante advindo da madeira encontrada em Campeche. Durou poucos anos, pois o mercado de corante já estava nas mãos do ingleses.
• A Real Compania de Comércio de la Habana – criada em 1740, essa empresa detinha o monopólio de comércio de mercadorias espanholas (essencialmente têxteis, porcelana e farinha) e cubanas (tabaco, açucar e couro), sendo responsável também pelas transações entre esses dois países. Situada em Havana, tinha acionistas metropolitanos e criollos, mas logo sua relativa prosperidade decaiu, quando se descobriram fraudes da administração cubana (o diretor Arosteg fazia o uso indevido do monopólio para comercializar escravos, para lucro próprio); e a corrupção foi tamanha que, mesmo afastados os infratores, o monopólio foi perdido. Posteriormente, já bastante abalada e quase paralisada, a empresa sofre vários reveses, mas sua dissolução final só ocorre em meados do século XIX.
• Real Compania de Comércio de Barcelona – Empresa espanhola mais comentada, foi fundada em 1755 e detinha o monopólio do comércio com várias partes da América Central (São Domingos, Porto Rico e Ilha Margarita), bem como tarifas e privilégios (como o direito de travessias em Honduras e Guatemala). Pouco rentável no início, só detinha 2 navios, ilhas pobres e muitos prejuízos. Posteriormente, consegue, baseando-se no trabalho escravo, a concessão pela Coroa do comércio com outras ilhas e terras, como a Venezuela e Argentina. Atingiu seu climax em 1771, quando foi capaz de pagar suas primeiras dívidas. Porém decaiu em 1785, devido à falta de recursos, sendo depois incorporada pela Compania Filipina.
• Compania de Filipinas – Empresa desenhada aos moldes da Companhia de Caracas, foi enfim posta em prática em 1785 (55 anos depois de ser pensada). Detinha o status de comercializar todos os produtos produzidos na metrópole com as colônias americanas ; assim como também produtos orientais. Incorporou as empresas de Caracas e Barcelona, e recebeu o monopólio de 20 anos para comercializar com as Filipinas, China e Índia. Enfrentou problemas diplomáticos e comerciais com a Holanda. Teve entre seus grandes acionistas, o Banco de San Carlos e os cinco grêmios de Madrid. Conseguiu manter um alto padrão lucrativo, até que a partir de 1789, começa a sofrer duros e sucessivos golpes (emissões de obrigações, baixas na frota, guerra espanhola contra a Inglaterra, Guerra Peninsular), mas consegue sobreviver até 1834, quando é formalmente dissolvida.
3.2.2. As companhias internas
• Compania de Zarza la Mayor – criada em 1746, detinha amplos privilégios de comercializar na própria Espanha e em países vizinhos a lã e a seda fabricadas em Extremadura; assim como as frutas e o couro. Abusou de seus privilégios, e acabou sendo unida com a Compania de Granada, fundando a Compania de Extremadura; o que apresentou um completo fracasso.
• Real Companhia de Comercio y fábricas de Zaragoza – criada em 1746, a empresa detinha o comércio de todos os produtos industrializados de Aragão, com o intuito de promover essa área espanhola atrasada. Comercializava, sobretudo, o papel, a lã e a seda. Porém logo entrou em declínio; muitas foram as fraudes e a corrupção se alastrou na empresa, levando-a a falência em 1774.
• Real Compania de San Fernando de Sevilla – criada em 1747, tinha o intuito de promover os produtos da província, principalmente os de caráter têxtil. Vendia seus excedentes às províncias vizinhas e também para as colônias espanholas nas Índias; e detinha o comércio com áreas em que comercializavam também as Companias de Caracas e Havana. Corrupta e ineficaz, Foi dissolvida em meados de 1780, culminação de um processo de baixa crescente.
• Compania de Granada – criada em 1747, detinha o monopólio do setor têxtil de Granada, podendo exportar para várias áreas circunvizinhas. Apresentou uma vida útil muito pequena, de apenas 3 anos, devido principalmente ao abuso de poderes monopolísticos.
• Compania de Comercio y fábricas de Toledo – Resultante da antiga companhia da província, foi formada em 1748 e detinha o monopólio têxtil da região. Posteriormente é unida as Companias de Extremadura e Granada, mas logo se separa destas. Apresentou sempre lucros modestos, decretando falência em 1755. Sobreviveu às duras penas até 1778, quando foi formalmente dissolvida.
• A Compania General de Comercio y de los cinco grêmios mayores de Madrid (Guildas) – Grupo famoso de guildas (que produziam seda, lã e outros panos), de 1679, adquiriu privilégios, direitos e caracteres monopolísticos em 1731. Em 1732, já aparentava ser uma empresa bastante lucrativa e já fazia pequeno comércio às Índias. Foi um sucesso, sendo uma das principais companhias espanholas e se alargou rapidamente, alcançando o comércio com outras áreas, como Cidade do México, Vera Cruz, Lima e Guatemala. Formou escritórios comerciais em Londres, Paris e Hamburgo. Possuía sua própria frota de navios. Adquiriu posteriormente também o direito de recolher os impostos reais; controlando várias fábricas; construindo canais; fornecendo ao exército e marinha nacional os subsídios. Também ofereceu alimentos para Madri, dentre outras ações. Realizou por esses tempos, monopólio de comércio com o Marrocos, adquirindo também caracteres de Banco e principal financiador. Decaiu a partir de 1790 (devido as guerras espanholas, avanço das tropas napoleônicas, por fim, a Emancipação da América Espanhola); sendo finalmente liquidada na primeira metade do século XIX. Algumas de suas atividades continuaram sob uma nova Companhia, a Fabril de los cinco Gremios.
• Compania de Comercio y Fomento de fabricas de San Carlos – Criada em 1767, detinha a função de desenvolver a indústria têxtil de Castela. Pouco lucrativa, foi dissolvida em 1773.
• Compania de Ezcaray – criada em 1773 com o intuito de promover o comércio dos produtos da região da Rioja, apresentou curta vida, sendo extinta logo depois.
4. COMPANHIAS INGLESAS.
As Companhias de comércio inglesas surgem, como já foi visto, em meio a um contexto mercantilista no qual outras companhias européias se constiruíram. Entretanto, algumas companhias inglesas duraram muitos anos, sendo consideradas como o esteio do expansionsimo britânico. A Companhia das Índias Ocidentais é o exemplo máximo dessa afirmação. (JÚNIOR, 2004, p. 13)
A partir do século XV, começam a surgir na Inglaterra associações comerciais com características de companhias de comércio. A Company of Merchant Adventurers of London, resonsável pela comercialização interna e exportação de roupas de origem lanífera, é criada em 1407, através de uma Carta Real concedida por Henrique IV. Sua organização ainda é similar a uma grande “irmandade”, na qual todos os sócios são igualmente responsáveis pelos lucros e prejuízos da companhia. Essa forma estrutural é muito comum à outras companhias desse mesmo período, que seguiam uma lógica organizacional muito similar às das primeiras sociedades comericias italianas.
É válido ressaltarmos que as ilhas britânicas ainda eram constituídas por regiões essencialmente agrárias. A Inglaterra dos primeiros anos do século XVI era um país “atrasado”, sem uma marinha forte e com a maior parte de sua população vivendo nas zonas rurais. (BRAUDEL, 1996, p. 395) Não obstante, havia uma nascente expansão de suas atividades manufatureiras, especialmente ligadas a produção têxtil. Paralelamente, Portugal e Espanha colhiam os frutos do comércio com as índias, enquanto o estado inglês “aceitou sem murmurar o duplo monopólio ibérico.” (CHAUNU, 1984, p. 314)
Após a primeira metade do século XVI, outras duas importantes companhias foram criadas pela Inglaterra, suficientemente interessada em aproveitar-se das vantagens que cricundavam a expansão comercial moderna: a Muscovy Company e a Levant Company.
A Muscovy Company, criada em 1555, tinha a intenção de manter comércio de peles e roupas em lã com a longíqua região onde atualmente se situa a Rússia. O império russo, além de ser um parceiro potencialmente rico, é relativamente próximo de uma das principais áreas visadas pelos ingleses: a China. (BRAUDEL, 1996, p. 374) Já a Levant Company colocava-se em um ponto estratégico e se estabelecia em uma importante rota comercial no Oriente Médio, onde as especiarias e produtos vindos de várias regiões eram comercializados.
Essas companhias criadas não eram suficientes para uma Inglaterra, que já anseava pela quebra do monopólio espanhol e português. Era necessário estabelecer comércio direto com as Índias Orientais e, para tanto, comerciantes ingleses resolvem criar a primeira Companhia das Índias Orientais.
Em 1600, integrantes de muitas companhias se reuniram em prol de um projeto que visava ao estabelecimento de entrepostos mercantis na região do Índico. Para tanto, foi enviado um pedido à rainha Elizabeth no mesmo ano, para a concessão de monopólio na região das índias. Aceita a requisição, a Companhia das Índias Orientais envia suas primeiras embarcações ao Índico em 1601.
É válido ressaltar que a Inglaterra do século XVII já começava a contar com uma importante rede de banqueiros, financistas, transportadores e seguradoras; que tinham o papel de facilitar as transações comerciais das companhias e garantir a integridade das mercadorias. (MAURO, 1975, p. 29-31) A companhia das Índias Orientais, obviamente, colherá os benefícios dessa malha de infra-estrutura de transportes e comércio.
Começando com um capital inicial que girava em torno de 80.000 libras, a Companhia das Índias Orientais gerou lucros exorbitantes não só para os seus acionistas , mas também ao governo inglês, que recebia parte dos lucros em troca da concessão do monopólio. Karl Marx (MARX, 1853) faz duras críticas às relações entre governo e a Companhia, que se utilizavam, muitas vezes, da corrupção para garantir privilégios e lucros mútuos. É importante frisar que o corte temporal feito no artigo de Marx não atinge apenas a época da monarquia absoluta inglesa, mas também o período após a Revolução Gloriosa (1689), onde o Parlamento ganha mais poder.
A hegemonia dessa companhia, durante os séculos XVII e XVIII foi ameaçada não só por companhias de mesma finalidade criadas por outros países, mas por companhias constituídas no seio da própria Inglaterra. Essas últimas eram, vez ou outra, formadas no seio de setores insatisfeitos com os privilégios concedidos pela Coroa. No entanto, apesar das constantes crises enfrentadas, a Companhia das Índias Orientais teve um papel hegemônico no Índico e na China, absorvendo outras sociedades criadas posteriormente e fincando as bases para uma futura intervenção política nesses territórios.
Na parte ocidental do globo terrestre, os ingleses estabeleceram importantes relações comerciais no Atlântico. Na África Ocidental, o comércio inglês foi semelhante ao holandês e ao francês (MAURO, 1975, p. 51). A primeira Companhia com carta de privilégios foi fundada em 1618 e em 1672, foi criada a grande Royal African Company of England. Essa última foi uma gigante na comercilização de escravos africanos para as colônias portuguesas, espanholas, norte-americanas e as ilhas do Caribe.
Na América Central, a Inglaterra contava com sólidas possessões no Mar das Antilhas (MAURO, 1975, p. 52). A produção agrícola nessas ilhas era voltada para a exportação e para a fabricação de “moedas de troca” de escravos africanos. Além disso, parte do território hoje pertencente aos Estados Unidos da América, era oficialmente uma possessão inglesa. Ainda na América do Norte, a Inglaterra concede carta a Hudson’s Bay Company em 1670. Essa empresa disputou com os franceses o comércio de peles em territórios pertencentes, atualmente, ao Canadá e Estados Unidos.
5. COMPANHIAS DE OUTROS ESTADOS
5.1 COMPANHIA SUECA
A Suécia no reinado de Gustavo Adolfo, em 1619, criou a Companhia de Comércio da Suécia para controlar o cobre e depois o ferro. Os suecos possuíam grandes vantagens quanto ao cobre sobre o ferro, pois o ferro se encontrava em toda a Europa, enquanto na Suécia havia uma farta quantidade de cobre.Entretanto, a Suécia, para o ferro, levava a vantagem de ter um minério de ferro altamente qualificado e puro. A qualidade do produto colocava a Suécia em posição confortável sobre as outras nações européias. Argumenta Wallerstein que a Suécia “conseguiu concorrer, e muito eficazmente, tirando partido de uma questão de sorte e transformando-a numa vantagem sócio-econômica”. A participação do Estado foi decisiva para a Suécia.
A extração do ferro remontava na Suécia pelo menos ao século XII. Já então a fina qualidade do seu ferro maleável, o osmund, era conhecida em toda a Europa. Foi Gustavo Vasa o primeiro que, na primeira metade do século XVI, se irritou ao ver que o osmund de baixo preço era exportado para a Alemanha, para ser forjada em barras de alto preço. Para acabar com esta fuga de recursos, mandou vir técnicos alemães e criou forjas na Suécia. Apesar disso, continuou a produzir-se mais osmund que ferro em barra. O osmund representou dois terços da produção até ao período de 1600 a 1650, altura em que a proporção de ambos se equilibrou. Lançou-se uma indústria de aço. A passagem da extração de osmund para a forja de ferro em barra exigiu um investimento de capital considerável, em boa parte adiantado pelo rei.(WALLERSTEIN apud KAMINISHI)
A Suécia concentrou esforços na expansão político-comercial, no comércio marítimo e na frota mercante. Porém, os recursos foram insuficientes para a manutenção da política sueca. A Suécia tinha uma população muito escassa em termos europeus e, portanto, uma pequena base financeira para o seu aparelho de Estado.
5.2 COMPANHIAS FRANCESAS
A primeira tentativa francesa de instalar uma Companhia privilegiada de comércio se deu no governo de Luis XI, que decidira implantar uma companhia de comércio no mediterrâneo, bem anterior às grandes navegações. A tentativa se mostrou fracassada; e frustrou algumas que vieram posteriormente, até cerca do século XVII.
Mais tarde, a idéia de implementação de tais Companhias encontram maturidade principalmente a partir do governo de Luis XIV. Richelieu foi o primeiro estadista que encorajou a criação de Companhias de Comércio (como a de Morbihan e a dos Cem associados no Canadá). Posteriormente, essa iniciativa encontrou em Colbert um grande defensor. Colbert participou do planejamento e instauração de cerca de 10 Companhias, sendo, portanto, o maior implementador dessa empreitada, que visava à unção de súditos e Estado, para um comércio forte e global.
Em 1603, a “França” viaja formalmente para as Índias; e, numa tentativa de assegurar o monopólio da colonização em terras “conquistadas” , Henrique IV autoriza a primeira Compagnie des Indes Orientales em 1604. Essa Compagnie contou com todo um aparato governamental; que lhe assegurou o monopólio dos produtos extraídos por 15 anos. Mas, é apenas em 1610 que podemos destacar uma certa relevância da empresa, quando ela conta com viagens regulares e com uma pequena frota. Porém, logo a empresa é extinta: a organização da frota, utilizando-se de aparatos e tecnologia holandesa, acaba por irritar a VOC, causando sérios embaraços externos com as Províncias Unidas. Outras tentativas foram realizadas de restauração ou implantação de uma nova Compagnie, em 1615 e em 1635.
Podemos destacar que, apesar de inúmeras tentativas, apenas em 1664 a implementação de Companhias francesas de Comércio aparentam ser uma bom negócio. Nesse ano, Colbert instala suas duas principais Companhias: As Compagnies des Indes Orientales e Ocidentales; empresas autárquicas, porém voltadas também à receita estatal.
A Compagnie des Indes Orientales, responsável pelas relações no hemisfério oriental, apresentou uma vida útil de 55 anos (1664-1719), e era resultado direto da fusão de três importantes Companhias: a Compagnie D´Oriente, a Compagnie da China e a Compagnie de Madagáscar. Detinha o monopólio por 50 anos do Índico e Pacífico, assim como todas as Ilhas e Terras que podia conquistar. Apresentou durante seus dez primeiros anos, fracasso, apesar da grande venda inicial de ações; e fracassada também se tornou sua tentativa de ocupação e colonização a Madagascar (transformada em principal Ilha de extração). A Companhia apresentou relativo progresso chegando, inclusive, a aumentar sua rota comercial com a implantação, em 1668, de escritórios comerciais espalhados pela Índia. Porém em 1671, seu transporte marítimo decaia, devido aos maus negócios, trazendo ruína e guerras constantes em 1672. Em 1682, a empresa perde o monopólio devido à desconfiança da Coroa; mas luta até 1719, quando é formalmente dissolvida.
A Compagnie des Indes Ocidentales, responsável pelas relações no hemisfério ocidental, foi bem menos sucedida do que sua gêmea Oriental. Durou cerca de dez anos (1664-1674), apesar de gozar de grandes privilégios cedidos pelo governo; como o monopólio de comércio e colonização dos importantes territórios do Canadá, Antilhas, Cayenne e todos que pudessem vencer na América Central e também do Senegal e costa da Guiné. Contava, para tanto, com 40 anos de monopólio em que só se pagava metade dos direitos à Coroa. Sua ruína se dá em 1764, quando o Rei lhe retira os privilégios e reúne sob sua égide, novamente, os territórios envolvidos. Após sua dissolução; parte advinda das constates guerras com a Inglaterra, parte devido a desconfiança estatal na Companhia; muito se foi feito na tentativa de não- cessação total do comércio com esses territórios.
Em 1717, o banqueiro John Law funda a Compagnie d´Ocidente (ou Du Mississipi), também em resposta às reivindicações desses comerciantes. Essa importante Companhia detinha por 25 anos o monopólio do comércio de pele de castor canadense e da exploração de territórios franceses no além-mar ocidental. Porém só dura até 1719, quando junto com Compagnie des Indes Orientales e outras, funda a maior e mais importante Companhia francesa: A Compagnie des Indes.
Esta Compagnie des Indes durou cerca de 70 anos; e representou, portanto, um rearranjo de importantes empresas nacionais; como a Compagnie d´Ocidente, a des Indes Orientales, a Compagnie da China, a de Santo Domingo, da África, Guiné e Senegal. Ela realizou, a partir de então, a unção também de todos os monopólios dessas empresas; tendo recebido, posteriormente, o monopólio de todos os comércios ultramarinos franceses. Através de sua fusão com o Banco Royale, ganhou o direito nunca concedido anteriormente a uma empresa comercial, o de emitir notas. Porém essa fusão resulta num colapso apenas um ano depois e faz com que a Companhia decrete falência em 1721. Limitou-se ao comércio, e em 1722, conseguiu se reorganizar e resistir, recebendo em 1723, um voto de confiança de Luis XV, que concede a ela livre privilégios, principalmente sobre o monopólio de tabaco e café.
Até 1626, a empresa progride; mas esse ano marca, acima de tudo, o começo do período áureo da Companhia, que dura até 1746. Esses 20 anos representam anos de grandes feitos, como o pagamento de dívidas anteriores e trazem riqueza e prosperidade para os principais portos franceses, como o L´Oriente. Nesses tempos também se estabeleceu em vários escritórios na Índia, Cantão, Lêmen, Pérsia, Basra e Norte da África; que eram responsáveis pelo comércio de porcelanas, papéis de parede, lascas e chá da China, pano de algodão e seda da China e Índia, café do Lêmen, pimenta do Mahé, ouro, marfim e escravos da África.
Em 1746, a companhia começa a decair; fato acelerado pelas guerras francesas com a Inglaterra, principalmente a dos Sete Anos, que traz mais ruína à França, que perde navios nos combates, e territórios de bastante valor, como a região canadense. Em 1769, a Coroa francesa, que sempre fora desconfiada quanto a Companhias privilegiadas de Comércio, retira o monopólio de sua principal Companhia monopolística. A situação se agrava e, em 1770, o Rei lança um edital exigindo que a Companhia transfira todos os bens, direitos e propriedades para o Estado francês, cabendo à Coroa, a partir de então, a liquidação das dívidas dos acionistas e as anuidades das ações até a liquidação total. Essa atitude reinol extingue em 1770 a Companhia, e sua junta de liquidação termina os trabalhos em 1790.
Luis XVI tenta, em 1785, criar uma nova Companhia, na tentativa de gerir o comércio e manter os comerciantes sob seu domínio. A essa nova Compagnie des Indes, é dado um monopólio de 7 anos de comércio com todos os territórios ao leste do Cabo da Boa Esperança. Possuía uma frota média de 11 navios, que faziam escassas e regulares viagens à Índia e Ásia; e prospera até meados de 1790, quando a Assembléia Nacional revolucionária retira seus privilégios em 1790. Comercializa até fins do século XVIII, mas sua liquidação se dá apenas em 1826.
No entanto, escritórios de comércio e portos indianos continuam sob égide francesa até 1949.
5.3 COMPANHIA DINAMARQUESA
A principal Companhia privilegiada dinamarquesa de comércio foi a East India Company, empresa baseada nas contemporâneas holandesas e inglesas. Nunca alcançou a potência e a capacidade de monopólio de comércio de uma região, assim como foi tida como bastante frágil e intimamente ligada ao bel-prazer reinol.
Foi instaurada em 1616, pelo monarca Christian IV e contou, logo de início, com a desconfiança dos comerciantes nacionais. Empresa instalada com a parceria da Holanda fez de Tranquebar sua principal possessão além-mar; sua colônia e ponto de referência na Índia.
Foi tida como de pequeno porte; e, viajando a partir de 1618 (com o objetivo de alcançar a costa Coromandel e firmar acordos com o Ceilão) fez cerca de sete viagens de Tranquebar à Companhag, metrópole dinamarquesa. Apresenta, nos primeiros anos, ineficiência comercial; devido, sobretudo aos inúmeros naufrágios e ao pouco dinheiro lançado na empreitada.
Ocupa efetivamente Tranquebar em 1621 e os dinamarqueses passam a comercializar sobre duas principais rotas: a de pimenta, vinda de Tenasserim, e a de Massacar, de cravo. A partir de então participam do chamado “país de comércio”, adotando em 1625, uma postura essencialmente neutra no comércio global; e criando por outro lado, uma extensa rede de escritórios na Índia, a exemplo de outros países contemporâneos. A partir dessa posição, ocorrem sucessivas transferências de poder, advindas, sobretudo da crise monetária e comercial (que começa a se revelar em 1627 e desemboca com o bloqueio marítimo a Tranquebar em 1639); e uma insistência cada vez mais impertinente do Rei em manter a empresa colonizando uma Tranquebar já bastante combalida. Em 1639, dois navios (os últimos por um período de 29 anos) são mandados pelo Rei na tentativa de findar os impasses em Tranquebar.
A partir de 1640, a situação de Tranquebar piora. Isolada, sem apóio da metrópole (comprometida com seus próprios problemas externos), se vê assolada por uma afinidade de guerras com ilhas e territórios vizinhos; além de motins dinamarqueses na colônia. 1648 assume papel chave nesse processo: ano do motim , enfim, tira Leyel do comando supremo de Tranquebar (comando designado pela Companhia e pelo Rei) e instaura sucessivos governos não-oficiais na colônia. Também foi o ano da morte de Christian IV. Isso faz com que, em 1650, pressionado por acionistas, Frederico III, seu sucessor, enfim dissolvesse a sociedade, pondo Tranquebar na posição, mais uma vez, de “terra de ninguém”; não-colonizada pela Companhia nem pelo Reino, preocupado com guerras religiosas e externas contra, principalmente, a Suécia.
Tranquebar resiste a duras penas, e em 1669, o bloqueio de 29 anos chega ao fim: a fragata Faero parte de Compenhag, com a tentativa de reavivar a colônia (expandindo-a e firmando acordos de paz com as terras em guerra, além de proclamar Andersen comandante supremo); e instaura, em 1670, uma segunda East India Company. Esta segunda empresa tenciona novas rotas de comércio com Bantam e a Ilha de Sunda. Detinha 40 anos de monopólio, privilégio subscrito numa carta régia. Após relativo progresso, recebe de Christian V mais 40 anos de monopólio. Esse período é reconhecido como o período áureo da Companhia, em que muitas negociações importantes são tratadas, e o comércio apresenta lucros bastante significativos.
O fim dessa Companhia começa a se dar a partir da primeira década do século XVIII; devido principalmente às Grandes Guerras do Norte, que causam prejuízos incalculáveis ao reino da Dinamarca, e consequentemente, à Companhia. Mesmo depois da paz de 1720, pouco pode ser feito no sentido de recuperar a economia da Companhia. Em 1726, Frederico IV recusa um pedido de ajuda à Companhia, e em 1729, os acionistas dissolvem a lucrativa empresa.
CONCLUSÃO
Nesse breve trabalho a respeito das companhias modernas de comércio, procurou-se caracterizar essas empresas, suas formas de organização e sua relevância econômica e política para as metrópoles européias; em meio a um contexto de competição entre as potências européias. Essas potências procuravam garantir privilégios e postos de influências em regiões produtoras de produtos valiosos no mercado internacional ou em zonas de intercâmbio comercial.
Assentamos as bases dessa pesquisa nas obras de alguns renomados estudiosos, que tratam desse tema tão importante a respeito das práticas comerciais e suas influências na construção dos estados modernos europeus.
Pudemos acompanhar a criação dessas sociedades em vários países, sendo observados os interesses expansionistas que pululavam no universo do comércio além-mar europeu e a estreita relação que a maior parte delas possuía com os Estados Nacionais modernos. Também foram vistas algumas causas de sucesso ou fracasso desses empreendimentos comerciais, que representavam a mentalidade “colonizadora” presente em diversos países da Europa durante a Idade Moderna.
Por fim, esperamos ter contribuído, ao menos de forma modesta, para o entendimento geral da relevância das Companhias de Comércio na construção histórica de interações comerciais e políticas entre as mais variadas regiões, desde o Atlântico ao Pacífico.
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