quarta-feira, 19 de novembro de 2008

O encontro intelectual de Newton e Voltaire

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA



O ENCONTRO INTELECTUAL DE NEWTON E VOLTAIRE



Alunos: Juliana Mangabeira
Thiago Florentino

Curso: História 5º Período Noite
Profº: Severino Vicente da Silva


Recife, 17 de novembro de 2008.

SUMÁRIO


Introdução.....................................................04
Biografia de Isaac Newton......................................05
Biografia de Voltaire..........................................08
Pensamento de Isaac Newton.....................................12
Encontro intelectual de Newton e Voltaire......................16
Conclusão......................................................24
Bibliografia...................................................25






Introdução

Anterior a esta introdução encontra-se um pequeno sumário, e este me servirá igualmente, de pequeno exemplo.
No decorrer daquela construção, sumário, impacientou-nos uma possível retirada de um tópico, chamado Pensamento de Voltaire, e que conseqüentemente nos levou a pensar sobre a razão de tal fato. A questão que se apresentou fora que, a inexistência do tal tópico quebraria uma ordem, ordem que fora construída não apenas naquele mísero sumário, mas anterior ao todo.
Reflete-se bem neste exemplo o quão avançado esta o nosso censo de ordem, a ponto de que, uma quebra de uma ordem de algo que ainda não fora nem construído, pode nos despertar os sentidos, nesse caso de algo errado.

Esse sentimento, de algo errado, pode ter sido o que Newton sentira ao ver as hipóteses mecanicistas de Descartes, não pela sua impossibilidade, mas pela sua possível contestação. Lembremos que o relógio fora inventado mais de em século antes do nascimento de Newton e com ele modificaram-se o trabalho, a sociedade. Além de que ocorrera a ascensão da técnica.
Não sendo à toa o uso do relógio como exemplo comum a duas máquinas universais. Mas a diferença entre elas foram as suas bases. Uma hipotética, Descartes, a outra com uma base matemática, Newton.

Descartes criara um turbilhão hipotético enquanto Newton estabelecera uma ordem simples e uniforme. Não que ele não soubesse que seria fundamental ter uma legitimação matemática, já que com ele, a matemática eleva-se a um novo patamar onde ela “não é só a ciência das relações entre os números, mas também o próprio modelo da realidade física” , mas ele não tivera a capacidade de realizara.
Newton o fez e abalou o mundo até então cartesiano, Voltaire sentido a revolução intelectual, estuda e a leva para a França cartesiana. Transforma os números em crítica, sarcasmo, e tolerância. Pois para o mundo e sua seguinte revolução os dois foram igualmente importantes, pois como Wolfgang Goethe dissera: “Foi Voltaire quem suscitou personalidades como Diderot, d’Alambert, Beaumarchais e outros ainda, já que, para ser simplesmente alguma coisa em relação a ele, era preciso ser muito.” Não pensemos como matemáticos, mas sim como historiadores!


Biografia de Isaac Newton


No natal de 1642 numa pequena fazenda inglesa do condado de Lincolm, Woolsthore, nasce o pequeno Isaac Newton, Filho de Hanna Ascough e de Isaac Newton, nascera prematuro e muito pequeno tanto que as parteiras consideravam um milagre que ele sobrevivesse. Seu pai morrera pouco antes de seu nascimento e sua mãe logo se casara novamente com um rico pastor, Barnabas Smith. O pequeno Isaac aos dois anos não foi muito querido pelo seu padrasto e então o menino foi morar com sua avó materna Margery Ascough,

A infância do pequeno Newton foi um tanto turbulenta, principalmente por causa de tantas tragédias e rejeições, o que refletiu e muito para a formação da personalidade forte, dura, vingativa e obsessiva, muito biógrafos de Newton afirmam que se não fosse por essa sua personalidade forte e obsessiva ele na teria se tornado o grande gênio que foi.

Vemos como exemplo de seu espírito vingativo que em seu diário estavam recordações como, “ ameaçar meu pai e minha mãe Smith de queimá-los junto com a casa” .
Aos cinco anos Isaac Newton freqüentou escolas públicas aldeãs de em Skillington e Stoke, onde era descrito como desatento e preguiçoso. Com o falecimento de seu padrasto, sua mãe recebe uma fortuna de herança, Newton tem dez anos e vai juntamente com sua avó morar com a sua mãe e seu meio irmão e suas duas meias-irmãs.

Entre os anos de 1655 a 1660, Newton vai para a Free Gramar School, uma escola pública onde aprendeu latim, grego, hebraico, aritmética e geometria. Embora fosse uma criança que desde cedo dava sinais de gostar de construir, inventar coisas como relógios, pipas, máquinas movidas a camundongo, fazer desenhos arquitetônico e pela sua paixão pelo conhecimento, não era um aluno que conseguia se aplicar nos estudos e nem tirar boas notas.

Na Gramar School, havia uma excelente biblioteca com muitos livros de história, religiosos e clássicos, além de ser vizinha de uma biblioteca pública com mais de 40 mil títulos.

Por seu descaso com a escola, sua mãe decide o tirar da instituição de ensino e decide que seu filho mais velho tomaria conta dos negócios da família, mas para a sua decepção o jovem Newton era pior na administração do que na escola. Então o irmão de Hanna a orientou a colocar o menino novamente na escola a fim de que terminasse os seus estudos. E foi a partir daí que o jovem Newton mudou radicalmente de comportamento e passando a ser um jovem distraído, contudo genial.
Em 1661, entra como pensionista pobre (subsizar) no Trinity College of Cambridge onde passaria a maior parte do resto de sua vida e, para poder estudar na universidade, Newton faz serviços domésticos, como por exemplo, arrumar os quartos dos professores.

Em 1664, foi eleito schoolar e passou a receber um incentivo financeiro para estudar, não necessitando mais realizar tarefas domésticas.
Em 1665, quando a peste assolou a Inglaterra, Newton retorna a sua cidade natal e onde ficaria por dois anos, esse período é chamado por muitos por “anos miraculosos” , “anos admiráveis”, foi nesse período que Newton produziu suas obras principais, sendo o período mais fecundo intelectualmente de Isaac Newton. Foram concebidos o teorema do binômio, o método das tangentes, o cálculo das fluxões, a atração gravitacional e a teoria das cores.
Em 1666 teve, como seu objetivo principal no estudo, o Comentário Cartesiano de van Schooten e seu mentor era Descartes.

Em 1667, tornou-se membro da Congregação de Cambridge e ao retornar a Universidade apresenta ao seu mestre, Isaac Barrow, cinco memórias sobre o cálculo infinitesimal e não relatou a descoberta que fizera durante o seu recesso: a gravitação universal. Isaac só vem relatar sua descoberta em 1689, por insistência do astrônomo Edmond Halley. Ainda nesse mesmo ano faz descobertas sobre a aceleração circular, que chamará de “centrípeta” e por conseqüência passa a estuda com mais afinco a gravitação terrestre.

Em 1669 assumiu a cátedra de matemática, onde ensinaria também geometria, astronomia, estática e outras disciplinas matemáticas, a qual pertencera ao seu mestre, que abrira mão ao seu favorecimento e ficaria ministrando essa cátedra como professor laucasiano por 30 anos. Formula a teoria das cores e constrói um telescópio de reflexão com pequenas dimensões e com grande poder de resolução.
Foi seu mestre que levou um protótipo do seu telescópio para a Royal Society, e o que rendeu a Newton um cargo de fellow, da agremiação em 1671. Apresentou um relatório sobre a teoria das cores, ou seja, a decomposição da luz branca pelo prisma e que as cores amarelo, azul e vermelho, não se decompunham por serem cores primitivas.

Hooke foi um de seus mais terríveis críticos e dizia que o trabalho sobre a tória das cores estava presente em outro, Micrografia. Durante os anos de 1672 e 1673 Newton viu-se desesperado para responder aos seus opositores, o que o levou a sair da Royal Society e a uma depressão nervosa, além de não publica nada por um bom tempo, e só publicou Lectione opticae, após a morte de Hooke.
Em 1676 Newton rebate as ofensas de Hooke na qual dizia: “Se vi mais longe foi porque estava sobre os ombros de gigantes” .
Em nos anos de 89, 90, e 1701, Newton foi representante da universidade de Cambridge no parlamento inglês.

Em 1699 foi nomeado presidente da Casa da Moeda onde também assumiu o cargo de inspetor.
Em 1703 foi presidente da Royal Society e ficou nesse cargo até o fim de sua vida.

Em 16 de abril de 1705, como homenageado de Cambridge, foi consagrado cavaleiro pela rainha Ana, passando a ser chamado como Sir Isaac Newton.
Trabalhou intensamente até o fim de sua vida e morreu aos 84 anos no dia 20 de março de 1727 e “foi sepultado, o caixão carregado por duques e condes, na abadia de Westminster, depois de funerais a que estiveram presentes estadistas, nobres e filósofos.”




Biografia de Voltaire



François Marie Arouet, ou simplesmente Voltaire, nasceu em 21 de novembro de 1694 em Paris François Marie Arouet, ou simplesmente Voltaire, nasceu em 21 de novembro de 1694 em Paris, de um difícil parto e sem esperança de viver. Sua mãe, Marquerite Daumard, descendente da pequena burguesia de Poitou morrera quando ele tinha seis anos, seu pai era tabelião, pagador de especiarias e receber de multas na Câmara de contas, possuía uma pequena fortuna e queria que seu filho se tornasse advogado real.

Quando criança adorava ler e escrever versos e dava indícios de que não seria um bom literato, contudo ainda jovem recebera uma herança de uma cortesã, de dois mil francos para que fossem gastos em sua educação, principalmente em livros, o que lhe proporcionou uma razoável biblioteca. Fora educado pelo seu padrinho, o abade de Châteauneuff.

Em 1704, vai para o colégio jesuíta – Louis, Le Grand – onde segundo um relatório escolar era descrito como “rapaz de talento, mas patife notável” , logo em seguida é introduzido pelo seu padrinho em círculos de jovens, a exemplo de “livres-pensadores”.

Em 1713, viaja numa missão diplomática para a Holanda, mas especificamente para Haya, para a realização da Paz de Utrech como secretário do Marquês de Châteauneuff. Na Holanda conhecera uma jovem chamada Olympe Dernoyer, cujo apelido era Pimpete, com quem durante o dia lhe escrevia cartas ardentes com juras de amor eterno e durante a noite pulava o muro de sua casa.
Voltaire pretendia se casar com Pimpete, contudo havia um problema ela era protestante e para que o casamento fosse realizado teria que ser autorizado pela Igreja, sendo assim o casamento não pôde ser realizado, pois o Bispo Evereux não autorizou o casamento e por isso o romance chegara ao fim. Pimpete foi a única paixão de Voltaire embora este não achasse digno algo que lhe fizesse perder a razão e admitia que suas únicas paixões eram a razão e a justiça.
Profundamente triste e desiludido Voltaire retorna à França e escreve uma ode a Luís XIII, em 1715, escreve Édipo, sua peça trágica e a Henríada, poema épico sobre a Liga e Henrique IV.

Aos 21 anos, Voltaire, escreve duas composições irreverentes sobre Luís XV, príncipe regente, e, a partir daí, todas as sátiras feitas sobre o regente lhe são atribuídas, o que resultará numa fuga de Paris, para Sully – sur – Loire; e ao retornar à Paris é preso e levado para a Bastilha, onde ficaria preso por onze meses ( de abril de 1717 a maio de 1718).

Devido as suas constantes confusões, e também às suas sátiras, faz com que Voltaire fique conhecido na sociedade como um rapaz “turbulento” e é descrito num relatório policial como: “Um Moço magro, lábios finos e apertados, sem barba, olhos vivos e perspicazes, jeito de sátiro, terrivelmente malicioso, encantador e muito bem tratado com perfume de essência de cravo” .

Torna-se amante de Suznne de Livrey, passa a freqüentar salões mundanos, com o seu jeito sedutor e malicioso agrada também a jovem rainha, Maria Leczinsk, escreve versos para as damas e poemas satíricos.
Em 1715 é estreada sua peça trágica, Édipo, e com o sucesso dessa peça passar a ter muito dinheiro e a se tornar um homem de negócios, não muito honesto; passa a emprestar dinheiro, torna-se fornecedor do exército e rouba no abastecimento, financia todo tipo de tráfico, inclusive o negreiro, que é muito rentável na época, e também passa a investir em loterias mal planejadas pelo governo, compra todos os bilhetes e é sorteado. Tais investimentos fazem com que Voltaire passe a ter uma corte que o acompanha.

Em 1726 um incidente com o duque de Sully, cavaleiro de Rohan, fez com que Voltaire levasse uma surra a mando do duque, isso causa-lhe indignação e Voltaire desafia o cavaleiro de Rohan para um duelo que não se realiza.Trata-se de um nobre, um cavaleiro não duela com qualquer um, e Voltaire era apenas um burguês. O nobre não duela com Voltaire, mas o manda para a Bastilha, Voltaire então foge para a Inglaterra e onde ficaria por três anos.

Na Inglaterra, Voltaire passa a freqüentar círculos da alta cultura inglesa e onde teve contato com escritores, filósofos, cientistas, historiadores, etc. foi um período intelectual muito fecundo para Voltaire e naquele país admira-se com a liberdade religiosa, e a relativa igualdade entre nobres e burgueses, relações que eram completamente opostas na França.

Através de cartas difunde o pensamento e os conhecimentos ingleses, principalmente a teoria empirista e John Locke e o método matemático de Newton, além de outros. Essas cartas se tornariam futuramente em sua obra “Cartas Filosóficas” que causaria um verdadeiro escândalo na sociedade e seria condenada à fogueira, por se tratar de uma obra que desrespeitava as autoridades, os bons costumes e a religião, tal obra fora publicada em 1733 na Inglaterra e, em 1734, clandestinamente, na França. Esse acontecimento faz com Voltaire, fuja mais uma vez da França, só que dessa vez ele vai para o castelo de Cirey.

Em Cirey, no castelo de sua amante, a Sra. Châtelet, escreve as cartas em forma de panfletos e somente cinco anos depois é que elas são publicadas, A marquesa era a tradutora de Newton, muito culta e inteligente. Nesse castelo Voltaire passa a se dedicar as ciências naturais, pois tinha em suas mãos um excelente laboratório.
Durante sua estadia em Cirey, recebe cartas de Frederico II, futuro rei da Prússia, o convidando para que Voltaire lhe ensinasse francês, Voltaire termina por aceitar o convite e assume o cargo de camareiro-mor e foi recebido com muitas homenagens.
Voltaire estimula Frederico II a construir um teatro na cidade, inspirado por D’Alembert e repudiado por Rosseau, o que termina com o relacionamento com este, que sempre fora contrário à construção de um teatro na cidade.

Contudo, como não poderia deixar de ser Voltaire, começa com seus negócios ilícitos na Prússia e que não agrada o rei, além disso, as publicações não autorizadas pelo mesmo, faz com que Voltaire seja expulso da Prússia, embora tempo depois seja perdoado pelo rei.

Com o apoio de Madame Pompadour, a favorita de Luís XV, é nomeado historiador-real e publica A História da Guerra de 1741, em 1746 é eleito para a academia francesa.
Em 1747, publica Mennon,a 1º versão de Zadigo e, por desobediência foge para o castelo da duquesa de Maim, no castelo de Sceaux, para quem escreve vários contos.
Em Genebra, compra a residência “as Delícias” e onde se dá bem com os pastores evangélicos, com a sociedade local e com os enciclopedistas, que querem a colaboração de Voltaire.

Em 1759 publica O Cândido e em 1762-1763 defende o caso Calas, que se refere a um jovem cometera suicídio; como era de costume, quem cometesse suicídio seria arrastado nu pela cidade para servir de exemplo aos outros. O pai do garoto por não querer ver o corpo do seu filho sofrer tal humilhação arrumou testemunhas para que dissessem que seu filho morrera de causa naturais, todavia o boato que correra na cidade era o de que o pai matara o garoto para que este na se tornasse católico, logo Jean Calas foi preso, torturado e morto. O resto da família arruinada foge e relata tudo a Voltaire, que assume a sua defesa.

Outro caso de intolerância acontece na França, foi o de um jovem cavaleiro que foi morto por carregar consigo uma edição do Dicionário Filosófico, uns dos primeiros livros de bolso, e por fazer manifestações libertinas, atribuídas aos filósofos. Tudo faz com que Voltaire sinta-se culpado por tantas mortes e vá para a Suíça, onde criticaria duramente o cristianismo e suas perseguições.
Cansado de ver tantos casos de intolerância, Voltaire decide escrever Tratados sobre a Tolerância, seus inimigos respondem queimando seus livros e, através da Madame de Pompadour, tenta comprá-lo com cargos eclesiásticos e com dinheiro. Por respeito a Madame, Voltaire nem responde às propostas.

Em 1773, tem uma crise de estrangúria, que põe sua vida em risco, e é publicado o “Touro Branco”, que é uma crítica à bíblia.
Em 1776, vê na Constituição Americana um triunfo da liberdade.
Em 1778, ocorre a representação de Irene, morre em 30 de maio de 1778, é enterrado na abadia de Sullières, na Champagne e em 1791 seu corpo é transferido para o Panteão de Paris.





Pensamento de Isaac Newton



A princípio, o pensamento newtoniano evidencia-se através da observância de quatro “regras do raciocínio filosófico” construídas pelo próprio filósofo e expressas no início do livro III dos Principia.

“Não devemos admitir mais causas para coisas naturais do que as que são tanto verdadeiras como suficientes para explicar as suas aparências.” Esta é a primeira das regras, a qual torna evidente o uso de teorias simples para a explicação da natureza, ou ainda, do postulado da simplicidade da natureza, pois ela “não faz nada em vão ao passo que, com muitas coisas, faz-se em vão o que se pode fazer com poucas. Com efeito, a natureza ama a simplicidade e não superabunda em causas supérfluas”.

Atrelada a anterior à segunda regra assim diz:
Por isso, tanto quanto possível, aos mesmos efeitos devemos atribuir às mesmas causas. Como na questão da respiração no homem e no animal, no caso da queda das pedras na Europa e na América, no problema da luz do nosso fogo de cozinha e do sol ou no fato da reflexão da luz sobre a Terra e sobre os planetas.

Assim nos é possível dizer que Newton expressa o postulado da uniformidade da natureza. Postulado que é ainda confirmado pela terceira regra que diz:
As qualidades dos corpos que não admitem aumento nem diminuição de grau e que se descobre pertencerem a todos os corpos no interior do âmbito dos nossos experimentos devem ser considerados qualidades universais de todos os corpos.

Por fim na quarta e última regra:
Na filosofia experimental, as proposições inferidas por indução geral dos fenômenos devem ser consideradas como estritamente verdadeiras ou como muito próximas da verdade, apesar das hipóteses contrárias que possam ser imaginadas, até quando se verifiquem outros fenômenos, pelos quais se tornem mais exatos ou então sejam submetidas a exceções.

Assim o pensamento newtoniano fora baseado e através desses dois postulados, onde a natureza é simples e uniforme, e que se assenta sua idéia mais caracterizadora, ou seja, “o sistema mundo é grande máquina”.

Newton chega a esse sistema através do método exposto em sua última regra do raciocínio filosófico, pois chegara a ele, pelas proposições inferidas por indução geral dos fenômenos, ou melhor, pelos sentidos, isto é, pelas observações e experimentos. Tomemos por evidência, o postulado da simplicidade da natureza nesse sistema através das próprias palavras do filosofo quando diz:

Esse sistema extremamente maravilhoso do Sol, dos planetas e dos cometas só pode ter-se originado do projeto e da potência de um Ser inteligente e poderoso.

Ainda continuando Newton revela traços perceptíveis de seu outro postulado, o da uniformidade da natureza:
E, se as estrelas fixas são centros de outros sistemas análogos, tudo isso, dado que foi formado pelo idêntico projeto, deve estar sujeito do Uno, sobretudo visto que a luz das estrelas fixas é da mesma natureza que a luz do Sol e que a luz passa de cada sistema a todos os outros sistemas; e, para que os sistemas das estrelas fixas, em virtude de sua gravidade, não caiam uns sobre os outros ele pôs esses sistemas a uma imensa distância entre si.

Com isso da comprovação da ordem do mundo e através da uniformidade da natureza do universo Newton comprova que “a existência de Deus pode ser provada pela filosofia natural a partir da ordem dos céus estrelados”.

Tal hipótese metafísica nos leva a questão de sua frase “não invento hipóteses”. Como coloca muito bem Reale, “está claro para todos que Newton também formulou hipóteses. Ele ficou conhecido e sua grandeza é ilimitada não porque tenha visto uma maçã cair (...) ele é grande porque formulou hipóteses e as provou”. Porém, o cerne da questão encontra-se na continuidade do discurso de Newton e conseqüentemente o que pensa, diferentemente de nós, a respeito do que se trata uma hipótese, diz ele: “Com efeito, tudo aquilo que não é deduzido dos fenômenos deve ser chamado de hipótese. E as hipóteses, tanto metafísicas como físicas, tanto de qualidades ocultas quanto mecânicas, não têm nenhum lugar na filosofia experimental.”
A existência de um Ser inteligente e poderoso é comprovada indutivamente pela própria ordem do universo, e conseqüente a isso difere-se de uma hipótese. E assim Newton não se propõe a solucionar questões metafísicas que não sejam sujeitas a verificação indutiva.

A obra prima de Newton Princípio matemático da filosofia natural foi muito bem definida por Reale quando este afirma que aquela “representa a realização completa da revolução científica que, iniciada por Copérnico, encontra em Kepler e Galileu os dois representantes mais geniais”.

No livro I dos Principia Newton apresenta as três leis do movimento e estas exemplificam bem a construção que foi a revolução científica. A primeira lei, Lei da inércia, fora trabalhada por Galileu e Descartes, a segunda fora formulada por Galileu já a terceira fora elaborada pelo próprio Newton.
Além do mais, em outra obra, Optiks, or a Treatise of the Reflexions, Inflexions and Colours of Light, Newton:
Utilizou a Diotrica de Kepler, a tradução latina de Dioptrique de Descartes, a Physico-mathesis de lumine, coloribus et iride de Francesco Maria Grimaldi, os Experimenta et considerationes de coloribus de Robert Boyle e o trabalho de síntese desenvolvido por Isaac Barrow nas Lectiones opticae para as quais contribuiu o próprio Newton.

Exemplificando assim que não fora à toa a famosa frase, enviada ao seu inimigo Robert Hooke, “se vi mais longe foi porque estava sobre os ombros de gigantes”.

Nos últimos anos de vida Newton se dedicara a leitura e interpretação da Bíblia. Como Galileu, para Newton a chave para a interpretação da Bíblia seguia o mesmo método para a interpretação da natureza. Assim seu postulado uniformidade também é notório, já que em suas palavras:
Como se acredita prontamente que as partes de uma máquina construída por um excelente artista sejam justamente comparadas quando se vê que se adaptam verdadeiramente umas às outras (...) assim, pela mesma razão se deveria aceitar a construção destas profecias, quando se vê que as suas partes ordenadas conforme as características gravadas nelas para este fim.

As profecias citadas neste fragmento referem-se às contidas no livro de Apocalipse e ainda profecias relacionadas ao profeta Daniel. Essas reflexões foram atribuída a um distúrbio mental o que levara Newton à busca pela verdade nas santas escrituras.
Newton assim como Descartes tinha por lema larvatus prodeo, ou seja, sigo adiante mascarado. Tal lema se justifica pelo seu próprio credo religioso, pois não acreditava na doutrina católica e anglicana do Trinitarismo, porque para ele essa doutrina “foi falsamente imposta aos cristãos na época da vitória triunfal de Atanásio sobre Ário e sobre os arianos”. Segundo o próprio Newton, “o filho admite que o Pai é maior do que ele e o chama de Deus (...) subordina a sua vontade àquela do Pai isso seria irracional se ele fosse igual ao Pai”
Sendo interessante o fato que Voltaire coloca no verbete Teólogo, no Dicionário Filosófico, que “conheci um verdadeiro teólogo” e continua,
Efetuou investigações sobre a época precisa em que foi redigido o símbolo atribuído aos apóstolos e o que se coloca sobre o nome de Atanásio; (...) Acabou por chegar a conhecimentos ignorados pela maior parte dos confrades. Quanto mais foi verdadeiramente sábio, mais desconfiou de tudo o que sabia. Enquanto viveu, foi indulgente; e à hora da morte reconheceu que tinha consumido inutilmente a sua vida.

Por fim, como era um fellow Cambridge era exigido a assumir as ordens religiosas anglicanas, daí deriva o motivo de sua máscara, e em morte “na presença somente de duas pessoas recusou os sacramentos da Igreja”.




Encontro intelectual de Newton e Voltaire

Voltaire entra em contato com as idéias Newtonianas, ainda na França quando um amigo lhe mandara uma carta dizendo que “Huygens e Newton demonstraram que a natureza não age como Descartes quer que ela aja ... quase todas as leis do movimento enunciadas por ele são falsas, e os seus famosos turbilhões são uma quimeras” Daí pra frente se prolonga por mais dez anos a iniciação de Voltaire na física newtoniana, ressaltando que com “características hesitações” . A hesitação pode ser melhor demonstrada pelo o que o próprio Voltaire pensa a respeito da força gravitacional, “mesmo se a atração fosse verdadeira, não decorreria daí a mínima vantagem, o mínimo auxilio à mecânica”.

Esse fato ainda ressalta que a tomada de posição de Voltaire não é súbita, rápida, mas sim uma construção. Assim já podemos criticar o que diz Marilena Chauí quando afirma que “a rigor, Voltaire não foi propriamente um filosofo. Detestava toda a especulação abstrata e suas obras não contêm maior originalidade como reflexão analítica limita-se à exposição e defesa do pensamento dos outros.”
Rigor, segundo o dicionário Houaiss, rijeza material, física, ausência de flexibilidade, de maleabilidade; rigidez, dureza, inflexibilidade, ou seja, a rigor, no início do pensamento já demonstra uma porta de emergência, no caso de algum incêndio. Concordamos que Voltaire não tinha uma à reflexão analítica, como um de seus principais anseios, mas dizer que ele limitara-se a exposição e defesa do pensamento dos outros já complica mais as coisas.

Complica, pois Chauí continua; “Isso, no entanto, ele o faz de maneira brilhante: tem o dom de apaixonar o leitor, fazê-lo compreender as idéias mais complexas e converte-lo às suas opiniões. Desempenhou assim, um papel importante dentro da história das idéias.”

Primeiramente, a hesitação de Voltaire com a força gravitacional Newtoniana demonstra claramente que ele não aceitava as idéias de forma “religiosa”, pois fizera um exame de uma das principais idéias de Newton.
Segundo, o a rigor expressa uma possibilidade de fuga e a possibilidade amplia com a conexão com a reflexão analítica, pois claramente Voltaire não teve o domínio de Newton sobre a matemática, mas também Newton não tivera o domínio que Voltaire tivera com a escrita, evidenciada pela própria Chauí quando diz que “isso, no entanto, ele o faz de maneira brilhante: tem o dom de apaixonar o leitor, fazê-lo compreender as idéias mais complexas e converte-lo às suas opiniões.”
Terceiro, esse no entanto, esse mas, porém, contudo, entretanto, todavia dá-nos a impressão compensatória da falta da reflexão analítica, mas é sabido que para se fazer compreender bem, e no caso de Voltaire a ponto de fazer apaixonar, é primordial entender. E assim Voltaire o fez, e os dez anos de iniciação na física newtoniana o comprova.

Um dos campos de características mais marcantes do encontro dos pensamentos de Newton e Voltaire é o religioso, ou melhor, representado pelo Deísmo. Tal aspecto era tido como real em Newton por Voltaire devido às próprias características de seu monoteísmo ariano. “Apesar de que na França, especialmente a cosmologia de Newton, embora apresentada como deísta por Voltaire, estimulou o ateísmo mecanicista de muitos filósofos.” Deísmo que é descrito no verbete Teísta do Dicionário Filosófico como sendo “um homem firmemente persuadido da existência de um Ente supremo tão bom como poderoso que formou todos os seres (...). O teísta não sabe como Deus castiga, como favorece, como perdoa”.

Assim esse perfil divino encaixa-se perfeitamente na grande máquina que é o universo, este que apenas ele criara e ao qual não interfere e que coloca o ateísmo no campo da irracionalidade, no livro Tratado de metafísica ele diz:
Depois de nos arrastarmos assim, de duvida em duvida, e de conclusão em conclusão, até poder encarar a proposição Existe um Deus como a coisa mais verossímil que os homens possam pensar, e após ter visto que a proposição contraria é uma das mais absurdas, parece natural pesquisar qual a relação entre Deus e nós; ver se Deus estabeleceu leis para os seres pensantes, assim como existem leis mecânicas para os seres materiais”.

E com racionalização da máquina chega-se a racionalização de Deus:
A mais natural e mais perfeita para as capacidades comuns é a de considerar não somente a ordem que existe no universo, mas também o fim com que cada coisa parece relacionar-se. Muitos e grossos livros foram compostos centrados nessa única idéia, e todos os calhamaços juntos contêm apenas este argumento: quando vejo um relógio cujo ponteiro marca as horas, concluo que um ser inteligente arranjou as molas dessa maquina para que o ponteiro marcasse as horas.

Ou seja, “a existência de Deus, portanto, é dado da razão. Já a fé é apenas superstição”. Fé que é base das religiões, esclarecendo, portanto a negação das religiões e a intolerância nelas presente já que;
Com efeito, os mulçumanos acusam de superstição todas as sociedades cristãs e são por elas acusados. Quem julgará esse grande processo? Quem sabe a razão? Mas toda seita pretende ter a razão do seu lado. A decisão será, portanto, pela força, na expectativa de que a razão penetre em número de cabeças bastante grande a ponto de conseguir desarmar a força.

Chegamos assim à outra benesse da razão, a tolerância. Esta que tivera um significado especial para a vida de Voltaire, importância expressa por Reale, pois este dá ao capítulo de Voltaire o título Voltaire e a grande batalha pela tolerância, devido as suas próprias experiências e conhecimentos históricos.
Um acontecimento marcante em sua vida fora o caso Calas – presente em fins da biografia de Voltaire contida neste trabalho – e que o leva a elaborar o Tratado sobre a tolerância onde o capítulo primeiro e segundo tratam diretamente deste caso sendo demonstrada a importância deste acontecimento, para Voltaire, nas primeiras linhas do tratado que diz: “O assassínio de Calas, cometido em Toulouse com o gládio da justiça, a 9 de março de 1762, é um dos mais singulares acontecimentos que a atenção de nossa época e posteridade.”

Essa atenção a qual chama atenção Voltaire é devido ao fato que fora pelo “gládio da justiça” que Calas fora morto pela intolerância religiosa e assim a irracionalidade comum as seitas. Com maestria Voltaire evidencia a singularidade de tal acontecimento:
Esquece-se facilmente a quantidade de mortes em batalhas sem conta, não somente por tratar-se da fatalidade da guerra, mas porque os que morrem pela sorte das armas podiam também dar a morte a seus inimigos, e não morrerem sem se defender. Lá onde o perigo e a vantagem são iguais, o espanto cessa, e a própria piedade diminui; mas, se um pai de família inocente é entregue a mão do erro, da paixão, ou do fanatismo; se o acusado só tem como defesa sua virtude; se os árbitros de sua vida, ao decapitarem-no, apenas correm o risco de se enganar; se podem matar imprudentemente através de uma sentença, então o clamor público se levanta, cada um teme por si próprio, percebe-se que ninguém esta seguro de sua vida diante de um tribunal erigido para zelar pela vida dos cidadãos, e todas as vozes se juntam para pedir vingança. Trata-se nesse estranho caso, de religião, de suicídio, de parricídio”.

E Voltaire vai além retratando a tolerância e a intolerância desde as lendas, pelos romanos passando ainda por Jesus, gregos e chegando finalmente a tolerância universal, capítulo XXII onde diz:
Não é preciso uma grande arte da eloqüência rebuscada, para provar que os cristãos devem tolerar-se uns aos outros. Vou mais longe: afirmo que é preciso considerar todos os homens como nossos irmãos. O quê! O turco, meu irmão! O chinês? O judeu? O siamês? Sim, certamente; porventura não somos todos filhos do mesmo Pai e criaturas do mesmo Deus?

E ainda tal fragmento nos leva a recordar dos pressupostos básicos deístas, sustentados pela razão mecânica newtoniana. E que a falta desta aos da França levara Voltaire dizer:
Quando os homens não têm noções corretas da divindade, as idéias falsas as substituem, assim como nos tempos difíceis trafica-se com moeda ruim, quando não se tem a boa. O pagão deixava de cometer um crime, com medo de ser punido pelos falsos deuses; (...). Onde quer que haja uma sociedade estabelecida, uma religião é necessária: as leis protegem contra os crimes conhecidos, e a religião, contra os crimes secretos. Mas, quando os homens abraçam uma religião pura e santa a superstição torna-se não apenas útil como muito perigosa. Não se deve querer alimentar com bolotas aqueles que Deus digna-se alimentar com pão.


Voltando as Cartas Filosóficas, esta obra suscitou um escândalo devido a última carta a XXV, intitulada Sobre os pensamentos do Sr. Pascal. Tal carta criara tal rebuliço pelo fato de que para Voltaire Pascal era o maior grande apologeta da religião cristã de França. E ainda este quadro fora agravado por Voltaire reconhecer em Pascal “seu grande gênio”.
“Parece-me que o Sr. Pascal escreveu esses Pensamentos para mostrar o homem em num dia odioso. Esse obstina em nos pintar maus e infelizes.” E ainda, Imputa à essência da nossa natureza o que só pertence a alguns homens. Profere com eloqüência o gênero humano.” Assim Voltaire ataca o pessimismo de Pascal, ataca as bases da “religião verdadeira”, ou ainda, para Pascal o cristianismo é a verdadeira religião, porque explica as contradições do ser humano, “a sua miséria e a sua grandeza”.
Voltaire ainda ataca Pascal quando crítica a sua famosa aposta “segundo a qual, como é preciso apostar, então é racional apostar que Deus existe, pois, se se vence, ganhamos tudo, mas, se se perde, não se perde nada”. A crítica fundamenta-se assim “é evidentemente falso dizer: ‘Não apostar que Deus existe, é apostar que ele não existe’; pois aquele que duvida e tenta encontrar uma luz dentro de si com certeza não aposta a favor nem contra. Esse artigo aliás parece um pouco indecente e pueril; essa idéia de jogo, de perdas e ganhos, não convém a gravidade do assunto.”
Com a gravidade do assunto percebe-se que quando da aposta de Pascal ele vai de encontro ao paradigma racional de Voltaire, ou melhor, a mecânica Newtoniana. Pois não é uma certeza racional, mas sim uma aposta. E ainda “diferentemente de Pascal, não pensa que tudo é mau: ‘Por que razão deveríamos ter horror pelo nosso ser? A nossa experiência não é assim tão infeliz como gostariam de nos fazer crer. Considerar o universo como um cárcere e todos os homens como criminosos a espera de serem justiçados é uma idéia de fanático.’”

Contrapõe-se a idéia do pessimismo de Pascal o otimismo de Leibniz, este que, segundo Voltaire, “era o mais profundo metafísico da Alemanha”. A filosofia de Leibniz, uma filosofia centrada no “melhor dos mundos possíveis”, fora combatida por Voltaire através de seu livro Cândido ou o otimismo que perpassa pelo relato “tragicômico” a insensatez das “justificativas as tragédias humanas” apresentadas pelo personagem Panlgoss, representando Leibniz, ao seu discípulo Cândido, sempre justificativas tolas, que de nada valem para o entendimento das mazelas que se acentuam durante a obra. Por fim, eles chegam a um sábio mulçumano, “que não se interessa por política, não discute sobre a harmonia preestabelecida nem se imiscui nas coisas dos outros. Diz o sábio turco: ‘Tenho apenas vinte alqueires, que cultivo com meus filhos. O trabalho afasta de nós três grandes males: o tédio, o vício e a necessidade.’” E assim conclui um dos viajantes: “Trabalhemos sem discutir: esse é o único modo de tornar a vida suportável”

Assim Voltaire trata este mundo não como “o melhor dos mundos possíveis” e também não vê o homem como sendo possuidor de uma “essência miserável”, mas enxerga que “precisamos enfrentar nossos problemas, para que este mundo possa melhorar gradualmente ou, pelo menos, não se torne pior.”
Por fim, trato do ataque ao seu conterrâneo Descartes, pois como Leibniz afirmava “Eu costumo chamar os escritos de Descartes de ‘vestíbulo da verdadeira filosofia’”. Assim a opinião de Voltaire, no mínimo seria de oposição a de Leibniz.
Descartes, criador da teoria mecanicista, ou ainda da que “o mundo é máquina” e assim que “o universo é simples, lógico e coerente” E ainda com ele a matemática eleva-se a um novo patamar onde ela “não é só a ciência das relações entre os números, mas também o próprio modelo da realidade física.” Mas Descartes não conseguira em muitos casos sair do campo das hipóteses, talvez daí o repúdio de Newton com a sua frase, contida no Philosophiae naturalis principia mathematica, “não invento hipóteses”. Já Newton conseguira ser Newton por ter a capacidade de comprovar matematicamente as suas hipóteses. E este feito foi o que mais distanciou em qualidade os seus feitos e pensamentos dos eternos paradigmas gregos.

“Em Paris, vemos o universo composto de turbilhões de matéria sutil; em Londres não vemos nada disso.” Assim Voltaire demonstra de maneira clara e genial um dos principais pontos de contraste entre a filosofia cartesiana e a física newtoniana.
Esses turbilhões de matéria sutil foram à explicação mecanicista de Descartes para a máquina, que seria o universo, que ele idealizara. Já Newton comprovara matematicamente as ações “simples e uniformes” de tal. Conseqüentemente a discussão caminha para Deus.

Para Descartes as idéias dividem-se em dois tipos as idéias inatas, que nascem em conjunto com a nossa consciência e as idéias fictícias, ou construídas por nós.
Deus, segundo Descartes, seria uma idéia inata, ou seja, uma idéia intrínseca ao homem, segundo o próprio: “substância infinita, eterna, imutável, independente e onisciente, da qual eu próprio e todas as coisas que existem foram criados e produzidos.”

Já para Voltaire: “É claro que nunca se deve levantar hipóteses; nunca dizer: Começamos por inventar princípios com os quais trataremos de explicar tudo. Mas é preciso dizer: Façamos a análise exata das coisas e em seguida trataremos de ver com muita desconfiança se se relacionam com algum princípios.” Ao analisarmos este trecho é notório que o pensamento das idéias inatas se confronta diretamente com as “regras do raciocínio filosófico” newtoniano, ou seja, contra principalmente o não uso das hipóteses já que Descartes começa por “inventar princípios com os quais trataremos de explicar tudo”. Continua Voltaire, “os que fizeram o romance das idéias inatas se vangloriaram de dar explicação das idéias do infinito, da imensidão de Deus e de algumas noções metafísicas que supunham ser comum a todos os homens.”

Conseqüentemente a própria idéia de Deus, que fundamenta o deísmo de Voltaire, entra em choque com essa idéia do Deus advindo das idéias inatas. Pois o deísmo de Voltaire necessita da razão matemática contida nos sistemas newtonianos, então superior a uma quase superstição de Descartes.
Por fim, “Que todas as Idéias Vêm pelos Sentidos”. E além do sugestivo título, do capítulo terceiro do Tratado de metafísica, findo deixando o próprio Voltaire falar.
Quem quer que submeta tudo o que passou em seu entendimento a uma avaliação fiel admitirá sem dificuldade que seus sentidos lhe forneceram todas as idéias. E, no entanto, os filósofos que abusaram de sua razão pretenderam afirmar que tínhamos idéias inatas. (...) Formaram sistemas com os quais se vangloriavam de poder ariscar qualquer explicação parente dos fenômenos da natureza. Essa maneira de filosofar é ainda mais perigosa do que o jargão desprezível da escola.







Conclusão

A natureza e suas leis jaziam envoltas em trevas; Disse Deus, faça-se Newton! E tudo clareou. Não há como negar a beleza do epitáfio de Newton. Mas também não há de se negar a importância de Voltaire, será que ele esta atualmente, na frente de seu desafeto Rousseau, no panteão de Paris à toa?
Assim como o frontispício do Elémens de la philosophie de Neuton (1738), Newton iluminara Voltaire e isso é inegável, mas este não estendeu essa luz a tantos. Como nas palavras de Chauí ele tem “o dom de apaixonar o leitor, fazê-lo compreender as idéias mais complexas e converte-lo as suas opiniões.” E assim pergunto do que vale um Deus sem um emissário? Ele defendera o sistema newtoniano mais até do que o próprio Newton, pois sabia que o descobrira era genial e poderia mudar a história de sua França.

Newton, apesar de ter ficado tantas horas debruçado e decodificando as profecias, tanto de Daniel quanto de Apocalipse, não viu o que o seu discípulo e divulgador ajudara a criar. Pois o apocalipse se realizou, não como previra por volta dos séculos XX ou XXI, mas em um período mais próximo a ele, exatamente 1789, pois como Hobsbawn diz: “A Revolução Francesa foi a única ecumênica. Seus exércitos partiram para revolucionar o mundo; suas idéias de fato o revolucionaram.”
Por fim, para demonstrar que o grande Newton também tivera um grande divulgador, e que também o ajudou a ter sido tão absoluto na Europa. Friedrich Nietzsche, um personagem também muito importante e não menos complicado, o elogia quando diz: “Foi ele o último grande escritor que, ao manejar a língua da prosa, teve o ouvido de grego, a consciência artística de grego, a simplicidade e a graça de grego.”







Bibliografia

CASINI, Paolo. Newton e a consciência européia. São Paulo: UNESP, 1995.
DURANT, Will. A era de Luis XIV. 2ª ed. Rio de Janeiro: Record, 1994.
HAWKING, Stephen. W. Os gênios da ciência: sobre o ombro de gigantes. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
REALE, Giovanni. História da filosofia: Do Humanismo a Kant. 6ª ed. São Paulo: Paulus, 2003.
ROSSI, Paolo. O nascimento da ciência moderna na Europa. Bauru, SP: EDUSC, 2001.
VOLTAIRE. Cândido ou o otimismo. São Paulo: Martin Claret, 2004.
______. Cartas Filosóficas. São Paulo: Landy, 2001.
______. Dicionário filosófico. Apud Os pensadores: Voltaire. 2ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
______. O filósofo ignorante. Apud Os pensadores: Voltaire. 2ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
______. Tratado de metafísica. Apud Os pensadores: Voltaire. 2ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
______. Tratado sobre a tolerância. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

TEATRO EUROPEU NA IDADE MODERNA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
HISTÓRIA MODERNA II
PROFESSOR: SEVERINO VICENTE DA SILVA










TEATRO EUROPEU NA IDADE MODERNA






ALUNOS: DEYVIDSON THIAGO LUCAS
JULIANA REBECA ALVES
KARLA DANNIELE
MIGUEL FREITAS
RAISSA ALVES C. PAZ


RECIFE, NOVEMBRO DE 2008.


TEATRO EUROPEU NA IDADE MODERNA


As origens do Teatro da Renascença

Para John Gassner o teatro que se apresenta na época do Renascimento, ou seja, em início do século XVI, é de transição. Ao afirmar isso ele tenta expôr a característica essencial desse teatro: a recuperação dos clássicos. Supõe não haver uma atividade criativa, apenas a montagem sem nenhuma "novidade" dos "grandes" textos de seus anteriores: gregos e romanos. E continua: "durante anos a tarefa de editar e traduzir a dramaturgia grega absorve as energias dos eruditos e poetas ao ponto de excluir o trabalho genuinamente criativo", John Gassner. Nesse contexto a Itália é a precursora.
A tradição de uma atividade intelectual e artística na Itália é vista principalmente pela pintura, como Michelangelo e Da Vinci, sabendo-se que este último também era figura relevante em projetos vários. Entretanto, no que se refere a criatividade fala-se muito da herança clássica, a retomada de uma cultura superior, de povos que entendiam o homem como ser principal e central nas diversas relações do mundo. Ou seja, o ser pensante e seu pensamento eram as questões centrais na época dos renascentistas e dos humanistas.
A tragédia é majoritariamente o gênero representado no teatro dito humanista. Seu caráter é tido por pagão e de representações que coloca o homem, seus sentidos e sentimentos e sua ânsia como discussão principal. São encenados os amores, as paixões, as dúvidas e o sofrimento do homem. Por tal caráter, e outros também, há a oposição da igreja pela atividade teatral. Por tragédia Hermilo Borba Filho diz que "entendiam aquela que é feita segundo a verdadeira arte e modelo dos antigos, como Sófocles Eurípedes e Sêneca". A inserção de sátira e crítica social não é a proposta destas montagens, visto que eram representadas para uma elite, inclusive a corte.
Na perspectiva do teatro na Renascença John Gassner propõe a reflexão de três importantes figuras: Ariosto, Aretino e Maquiavel. Esses faziam de suas peças um veículo para retratar a sociedade em que viviam, utilizando-se, sobretudo da comédia para satirizar e denunciar os costumes e hábitos de seus contemporâneos. Gassner ao falar de Ludovico Ariosto ressalta: "Esse poeta elegante e bem nascido olhava argutamente para os costumes do momento. Tomando como moldura as comédias dos romanos, foi capaz de inserir nelas a carne palpitante da Renascença italiana".
Pietro Arestino igualmente denunciava as posturas dos homens de sua sociedade mas também fazia alvo de seus comentários os próprios príncipes e desmascarava a corrupção vigente. Assim como Arestino tinha uma vida social em meio à aristocracia Maquiavel também fora funcionário do governo e o escritor da "cartilha" dos príncipes e nem por isso deixou de compor duas célebres peças para satirizar a sociedade da época: Clizia e La Mandrágola. Essas duas peças tinham como pano de fundo a ascendente burguesia.

Teatro Popular e Commédia Dell'Arte

As manifestações teatrais de domínio popular iniciaram-se, de acordo com Peter Burke, com formas tidas como "semi-teatrais". Seus espaços de atuação eram as grandes feiras, os mercados e as igrejas. No gênero prosa Peter Burke destaca três tipos básicos: as realizadas apenas com uma pessoa, na maioria estórias e sermões; as com duas, em forma de diálogo ou discussão, normalmente era o encontro de dois opostos como, por exemplo, o carnaval e a quaresma; e, por ultimo, com três ou mais pessoas, mas não ultrapassando geralmente mais de dez ou doze integrantes, através de um ato encenando um curto enredo.
Entre as peças que tinham a grande população, como público, estão as peças religiosas. Nestas destaca-se duas espécies: o mistério, com temas retirados da Bíblia, e o milagre, relatando a vida dos santos. A moral era tema desses dois tipos de encenação, apesar de não ser sua propaganda principal, ou seja, as pessoas não eram atraídas para escutar uma lição de moral, mas inevitavelmente eram alvos dos "conselhos" e das lições dos religiosos. Entretanto, nesse mesmo cenário, realizadas por outros, mas provavelmente para o mesmo público, havia as "paródias" sob os temas religiosos. Seus artistas modificavam rezas para ridicularizar a hipocrisia das ações e das palavras dos religiosos.
Considerada como desenvolvimento de uma farsa, percebe-se surgir o mais influente e duradouro movimento de encenação: a Commédia Dell'Arte.
Esse movimento foi introduzido em diversas trupes européias. Seu surgimento data da primeira metade do século XVI, na Itália. Sua origem, como foi dita, está nas farsas de tipo mambembe, ou seja, grupos que se deslocavam grande parte do continente europeu para se apresentarem.
É no contexto da Commédia Dell'Arte que vemos surgir uma nova concepção do ator. Ele apresenta-se, então, como um profissional, que se dedica exclusivamente para sua carreira de encenador. Há também nesse momento a inserção da mulher como atriz, pois até então eram censuradas, e, mesmo nessa época, a maioria das outras regiões da Europa proibiam sua participação.
As trupes que seguram o estilo desta comédia utilizavam basicamente de uma única forma de desenrolar da narrativa: havia o problema principal, que era os empecilhos para a união de um casal de amantes, e, entre essa trama aparecia as diversas outras personagens. Então, o corpo de personagens se dispunha assim: os amantes, os zanni, o velho e o capitão.
Os zanni eram os criados, a origem do nome para alguns estudiosos é a abreviação de Giovanni, e normalmente se metiam em confusão e faziam também a confusão da trama. Entre os zanni se destacam até hoje as figuras de Arlecchim e Colombina. O velho normalmente era o pai ou o pretendente rejeitado da amante, caracterizava pessoas avarentas, meio para retratar a burguesia ascendente e/ou a nobreza enfraquecida. O capitão era um metido a valentão, mas que na hora do verdadeiro perigo não se atrevia a enfrentá-lo, era uma associação ao soldado espanhol, "desbravador da América".
Exceto os amantes, todas as personagens se utilizavam de máscara. Esse recurso foi uma herança da tradição do carnaval, e era o meio de estereotipar os indivíduos da sociedade em que viviam. Dessa forma faziam uma crítica a seus contemporâneos.
A técnica desse teatro era muito simples, era regida basicamente por um estilo único: um romance e suas possíveis confusões. Os atores possuíam papel fixo pelo resto da vida e improvisavam suas falas, eram dirigidos apenas por roteiros que indicavam as entradas e saídas. Entre uma cena e outra, outro recurso inovador foi a utilização de lazzi, ou seja, música, dança, ou qualquer outro efeito que não quebrasse a continuidade da peça. Todos os efeitos de cena eram feitos pelos próprios atores, que, entre outras necessidades, como, recursos financeiros, faziam um pouco de tudo para por a peça ao público.
No contexto em que nasceu a Commédia Dell'Arte, ou Commédia Itallienne, devido a sua origem, a Itália era uma região muito fragmentada, assim pois, sua população se divergia muito. Inúmeros eram os dialetos e sotaques próprios de lugar para lugar. Devido a tal caráter singular, os artistas do povo de utilizavam de diversos recursos para a encenação, ou seja, não ficavam presos a palavra, como a tragédia da corte se fazia. Esse ponto é elementar para verificarmos mais uma das influências que ficaram até hoje. Músicas, mímicas e cenários são exemplos claros. Os palcos rapidamente improvisados se faziam de acordo com a disposição de cada trupe e de cada região que se encontravam.
Apesar de seu caráter extremamente popular, como diz o próprio John Gassner: "diversão produzida para as massas", o estilo da Commédia Dell'Arte chegou mesmo à corte. Alguns príncipes dispunham de uma trupe em sua própria corte, e os atores destas eram funcionários reais. O próprio Molière, importante dramaturgo francês, que tem seu nome e sua forma de fazer teatro lembrada até hoje, foi fortemente influenciado por tal movimento.
O termo Commédia Dell'Arte foi empregado pelo dramaturgo Carlo Goldoni, já no século XVIII. Esse diretor de uma trupe em moldes da tal comédia foi o responsável pela inovação, e, conseqüentemente, modificação, do estilo singular da improvisação e da concepção das personagens. Suas peças eram redigidas e suas personagens se faziam de uma individualidade rica. Devido a esse novo caráter muitos estudiosos deizem ter sido ele o responsável pelo declínio do estilo da Commédia Dell'Arte. Entretanto não podemos esquecer que todos movimentos, seja ele de qualquer caráter, está sujeito às trnasformações do tempo e do espaço. O estilo próprio da comédia que surgiu na Itália no século XVI, portanto, não morreu, apenas se introduziu nas diversas formas atuais e mundiais de encenação.

O Teatro Francês e Molière

Para a compreensão e análise da dinâmica na produção teatral francesa do século XVIII, dita clássica e dramática, se faz necessário uma passagem pela possibilidade da tragédia, e também a construção da comedia além de analisar algumas das relações possíveis dentro de uma casa de espetáculos.
As produções na França em um primeiro momento apresentavam uma tragédia de inspiração protestante, já no período da renascença é exposta uma tragédia que entendiam segundo a “verdadeira arte e modelo dos antigos, como Sófocles, Eurípides e Sêneca ”, como foi dito. Com o destaque de nomes como o nobre Corneille e posteriormente o burguês Racine.
Uma importante inovação deste período foi o aparecimento do “Hotel de Borgonha”, primeira companhia profissional e também o primeiro teatro regular francês, “era um local comprido e estreito, com um balcão e uma arquibancada de madeira onde os espectadores de melhor situação social sentavam, os outros permaneciam de pé” , as características resignificavam as apresentações de ruas ou das feiras.
Para continuar esta análise tomaremos como lente a pessoa e a produção de Jean Baptista Poguellin, nascido em 1622, filho de um importante fornecedor de tapetes para casa real, que estudou no colégio jesuíta de Clermont, formou-se em direito, porém dedicou sua vida ao teatro: foi ator, autor, e diretor, formou e edificou companhias e troupes, escolheu como pseudônimo e ficou conhecido como Molière.
Como fruto de uma aliança entre Molière e família Bèjart surge o L’illustre Théâtre, companhia itinerante, caravana que excursionou pela França durante treze anos, até a bancarrota e o grande endividamento levando Molière a prisão. As peças apresentadas eram curtas tragédias, sem grandes criticas e com forte influência da produção italiana.
Surge, então, a grande oportunidade de apresentar Nicomède, texto de Corneille, para o Rei Luis XIV, cena exposta na sala de aula através do filme , que mostra a dificuldade de adaptação em um primeiro momento ao levar um marco das feiras e ruas para dentro de uma casa especifica e adaptá-la para a corte.
Esta corte não se agrada, em um primeiro momento, por esta dita tragédia e Molière, então, inova ao criar ou reestruturar elementos da Commédia Dell’Arte e tornar possível a comédia como uma crítica a virtude, moral, fé e civilidade, enfim, aos elementos da sociedade.
A Troupe Mousier, companhia oficial, patrocinada pelo Rei, possui sua casa de espetáculo e tem uma licitação oficial, ao contrario das companhias itinerantes, que ganham à ilegalidade e buscam outras possibilidades para não deixarem de existir, gerando o surgimento de algumas praticas como as circenses e o teatro de mamulengos e de bonecos, tentando burlar as leis e não deixar de existir.
Dentro das “Casas de espetáculo” já existe licenças e apresentações de dança e ópera. Um dos grandes nomes da ópera seria Lully, este se junta a Molière, que sempre inova a linguagem, traz diversas temáticas para o teatro e cria a commédia – ballet.
Molière também é personagem de polêmica. É interessante destacar a importância do teatro veículo de informação e canal do Rei e do Estado, estas companhias só funcionavam com licenças oficias e com o patrocínio de nobres, mas principalmente o estado, e as peças passavam pelo crivo da censura como o caso de “Tartufo”, produção de Molière, que só pôde ser exibida após a morte da Rainha.
Molière termina sua vida atuando; produz “O Doente Imaginário”, obra que questiona e relaciona as inovações da medicina e as práticas associadas a ela. Nesta obra por vezes coloca a medicina como um ritual, por vezes ciências, por ora arte, e também como simples conjunto de práticas. Escreve esta obra em meio a avanços e descobertas da ciência, relacionando estes a um fato de sua vida: a tuberculose adquirida pelo autor que sofre e padece pela patologia até a última apresentação quando, ao interpretar o Doente Imaginário, tem uma crise no palco que é confundida com um dos atos da peça. Ao chegar em casa morre as “dez horas” do dia 17 de janeiro de 1673.

Teatro Inglês

O período que seguirá essa discussão sobre o teatro inglês é o momento em que a Rainha Elisabete I reina sobre a Inglaterra, ou seja, período elisabetano.
A influência que a Inglaterra sofreu pelas peças italianas não foi um caso a parte de toda Europa, afinal, foi na Itália que o teatro ganhou vida e teve um desenvolvimento que atingiu todo o continente.
A Inglaterra inicia um processo de produção de uma arte nacional, onde os dramas outrora representados na Grécia ou Itália ganhavam versões inglesas, porém não construíram “raízes na Inglaterra” .
A crítica lançada aos teatros eram demasiadamente ferrenhas, pois, como exemplifica Will Durant, ao mesmo tempo que tocavam os clarins para os teatros eram tocados os sinos da igreja, contudo os teatros eram cheios e as igrejas vazias. Com essa realidade, centenas de leis tentavam controlar as infestações “diabólicas”, segundo a igreja, que o teatro trazia para aquele mundo protestante.
“James Burbage construiu o primeiro teatro permanente da Inglaterra” . Antes dele as representações teatrais eram feitas em uma plataforma no meio das praças ou ruas. Um ponto interessante do Sr. Burbage, segundo Durant, foi a localização de seu teatro, pois ele o montou fora da cidade para fugir da jurisdição de Londres, onde a dominação puritana não estava abrindo espaço para efetivar as atividades do teatro.
Vale salientar, também, que todos os teatros até 1623 eram construídos com madeira e que “a maioria deles era um grande anfiteatro, com capacidade para dois mil espectadores sentados em várias fileiras de galerias circundantes, e outros mil em pé no pátio em torno do palco” , quer dizer que esses teatros possuíam uma grande receptividade da população inglesa da época até mesmo da rainha.
Porém quem fazia parte do público desses teatros? Pessoas simples e nobres compartilhavam a mesma estrutura do teatro. A versão agora que se explicava a essa situação, estava relacionada a quem possuísse dinheiro, pois era a partir desse ponto (aquele que pudesse comprar ingresso) que se podia assistir a apresentação, independente da condição social.
Os atores desse período ao mesmo tempo em que sofriam dos maus salários, pois a companhia era paga pelas suas apresentações, salvo aquelas que eram em número muito restrito, patrocinadas por nobres, gozavam da idolatria do público e de uma coleção de amantes. É importante informar que as mulheres eram proibidas de representarem, em alguns casos, até de assistirem ao espetáculo, pois a casa da apresentação era considerada como uma espécie de prostíbulo, e, a moral da igreja puritana não permitia essa participação feminina. Não apenas as vontades dela – a igreja –, mas também a do Estado.
A construção do teatro inglês se desenvolve a passos gradativos, nos quais são encontrado em Shakespeare um salto imenso que distingue-o não somente como autor, mas também criador de um novo mundo, proporcionando nos poucos momentos das suas peças uma saída da realidade que atingia não apenas meros mortais, como camponeses, pequenos mercadores, burguês, mas também a fidalgos, marqueses, condes e até mesmo a representação máxima do Estado, a rainha.

Biografia de Shakespeare

Nasceu em 23 de abril de 1564 na cidade de Stratford-on-Avon, Inglaterra, o maior dramaturgo que a literatura universal conheceu: Willian Shakespeare. Vindo de uma família relativamente abastada, teve uma educação provinciana, afinal sua cidade natal não era a capital do estado que estava em vias de afirmação, Londres, e aos 18 casou-se com Anne Hathaway, a qual concebeu três filhos. Provavelmente em 1587, quando uma companhia de teatro se apresenta em Strattford, Shakespeare se muda para Londres, e lá inicia sua vida como autor teatral.
Sua estréia como dramaturgo remete ao ano de 1592 com a peça Henrique VI, mas alguns pesquisadores dizem que sua contribuição ao teatro remete a alguns anos antes.
Shakespeare contemplou demasiadamente sua obra de textos dramáticos. Onde a tragédia sempre foi bem vinda, até por que essa era mais quista que a comédia, outra linha que o autor também escreve suas peças, principalmente ao público da corte.
Ainda, sobre a ótica dos pesquisadores e críticos de Shakespeare, sua obra é dividida em três momentos : a Primeira fase, a Maturidade e os Últimos Anos.
No primeiro momento da obra de Shakespeare é dado início ao ciclo de obras sobre a história da Inglaterra, com sua obra de estréia encandeia uma série de outras obras que refletem sobre os grandes reis ingleses. É desse momento também o início de suas comédias (A comédia do erro), o ciclo de tragédias romanas, como também sua maior tragédia, Romeu e Julieta. É importante salientar que esse primeiro momento de sua produção compreende ao intervalo de 1592, com a estréia de Henrique VI, até 1600.
No segundo momento, que compreende os anos de 1600 a 1608, é tido como o período da Maturidade, onde as peças do dramaturgo atingem “uma visão fundamentalmente pessimista e amarga da existência e a profundidade no tratamento das paixões, conflitos e contradições da natureza humana” . É desse período obras de cunho exageradamente trágico e de grande profundidade psicológica, tais como: Macabeth, Hamlet, Otelo e Rei Lear. E, se assim pode dizer, contemplou ainda mais com peças sobre a história da Inglaterra.
O terceiro e último momento de sua produção artística é nomeado por “Últimos Anos”, onde é caracterizado pelo retorno de Shakespeare para sua terra natal, no ano de 1610. Suas peças nesse momento são caracterizadas pela atividade e criatividade expressada pelo dramaturgo, tal como A Tempestade que é uma peça diferenciada das demais, onde a ação é o tema central e os artifícios utilizados produzem dinamicidade a toda trama.
Ironicamente Shakespeare morre no dia 23 de abril de 1616, dia de seu aniversário. Depois de alguns anos dois “amigos” do autor reúnem suas possíveis obras e publicam em um volume único. Graças a esse esforço, suas obras são retomadas com grande efervescência na época do Romantismo, onde ela não aparece apenas como “um” exemplo, mas sim como “o” exemplo a ser seguido e referenciado.

Goethe e o Teatro Alemão

Johann Wolfgang Von Goethe (1749-1832) é um dos grandes expoentes do Romantismo, movimento que se caracterizava, dentre outras coisas, pelo impulso a expressão das emoções e individualidades do indivíduo objetivando, ao mesmo tempo, a crítica e a fuga com relação à difícil e áspera realidade humana, permeada pela rede de convenções sociais compreendida pela difícil tarefa de lidar com o outro e consigo mesmo, já que, a própria fuga já traz consigo o próprio caráter de crítica, pois, compreende uma não aceitação a respeito daquilo que se está vivendo por meio do poder da imaginação na criação de mundos interiores.
É diante desse panorama que Goethe constrói por meio de suas obras mundos/situações que convergiam para o novo/imaginário mantendo, para tanto, uma relação bastante peculiar com a realidade, através de reflexões a cerca da existência, fruto da amálgama de tensões, conflitos e buscas definidoras da angústia humana ao longo dos tempos.
Goethe teve uma juventude bombardeada por momentos bastante conturbados, adentrando num estado depressivo causado por frustrações em paixões não correspondidas, problemas de saúde e em inconstâncias nos estudos. Diante disto, vê-se que o jovem Goethe possui a sua fiel representação no Fausto (que viria a ser tornar o seu personagem mais famoso na obra homônima), pois, tanto no criador como na criatura a situação e o sentimento de falta e constante dívida com o mundo mostra-se sufocantemente presentes.
Tempos depois, é devido a sua paixão pela filha de um pastor protestante chamada Friederika Brion que Goethe tem a inspiraçãopara criar a Gretchen do Fausto.
Em outro momento de sua vida o dramaturgo alemão novamente é acometido por um sentimento amoroso, agora pela noiva de um amigo, tal situação leva-o a ter a idéia fixa do suicídio (tanto que ele dormia com uma adaga ao seu lado); é deste difícil momento de sua vida que Goethe escreve a melancólica estória Os Sofrimentos do jovem Werther (1774), considerada a “Bíblia da Escola Romântica”.
A respeito da peça Fausto, Goethe expressa de forma magistral o típico homem da modernidade, pois, simboliza a busca incessante do indivíduo moderno por cada vez mais conhecimento a respeito do mundo/realidade. Contudo, a busca pelo sentido na vida na obra mostra-se de duas maneiras: num primeiro momento da vida de Fausto por meio do conhecimento totalizante e ilimitado da realidade que o acaba frustrando; no segundo momento, com a desilusão gerada pela impossibilidade de se almejar o conhecimento pleno e a falta de sentido e realização na sua existência, Fausto se vê numa busca desesperada pelo prazer na vida, chegando ao ponto de fazer um pacto com o sombrio Mefistófeles, representação de um demônio.
Na primeira parte da peça, Mefistófeles pede permissão a Deus para tentar Fausto, é neste encontro que Deus fala: “O homem erra enquanto busca”, tal trecho emite signos a respeito da insaciável angústia humana na errática busca pela realização plena, da completude e auto-suficiência do ser enquanto tal.
Com isso, Goethe constrói na peça a nebulosa e misteriosa cena do pacto de sangue (de natureza medieval) e o compromisso de Mefistófeles em levar Fausto a desfrutar da satisfação e prazer na vida, em troca da posse de sua alma. Tomado pela expectativa em viver o momento de realização e ao mesmo tempo ciente do futuro trágico Fausto diz:

“Quando for assim, saudarei o momento que passa: “Ah, fica mais um pouco-És tão magnífico”!”
E então aprisiona-me em tuas algemas imortais, e minha ruína final declara então!”

A peça Fausto foi encenada com considerável receptividade pelo público na Europa, na sua encenação o personagem Fausto mostra-se como uma das mais peculiares figuras do teatro, externando avassaladora expressividade no palco.
Contudo, Goethe assim como seus personagens emana o que de mais fantástico há no Romantismo no que se refere ao relato do homem como uma criatura que consciente das suas limitações não se cansa de buscar o pleno sentimento do viver. Ou nas suas próprias palavras: “Se desejas atingir o infinito, atravessas o finito por todos os lados”.

Bibliografia Consultada

BERTHOLD, Margot. História Mundial do teatro. Trad. Maria Paula Zurawski, J. Guinsburg, Sérgio Coelho e Clóvis Garcia. 2ª edição, Editora Perspectiva. SP: 2004.
BORBA FILHO, Hermilo. História do Espetáculo. Coleção Pontos Cardeais. Vol. 2, Edições O Cruzeiro. RJ:1968.
DURANT, Will e Ariel. A História da Civilização. Começa a Idade da Razão. Trad. Mamede de Souza Freitas. 2ª edição, v. 7, Editora Record. RJ: 1961.
GASSNER, John. Mestres do Teatro I. Coleção Estudos. 3ª edição, Editora Pespectiva. SP: 1997.
MOLIÈRE. O Doente Imaginário. Trad. Daniel Fresnot.Coleção Obra Prima de Cada Autor. Editora Martin Claret. SP: 2003.
SHAKESPEARE, William. Júlio César. Trad. Carlos Alberto Nunes. Coleção a Obra Prima de Cada Autor. Editora Martin Claret.SP: 2007.