terça-feira, 18 de novembro de 2008

TEATRO EUROPEU NA IDADE MODERNA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
HISTÓRIA MODERNA II
PROFESSOR: SEVERINO VICENTE DA SILVA










TEATRO EUROPEU NA IDADE MODERNA






ALUNOS: DEYVIDSON THIAGO LUCAS
JULIANA REBECA ALVES
KARLA DANNIELE
MIGUEL FREITAS
RAISSA ALVES C. PAZ


RECIFE, NOVEMBRO DE 2008.


TEATRO EUROPEU NA IDADE MODERNA


As origens do Teatro da Renascença

Para John Gassner o teatro que se apresenta na época do Renascimento, ou seja, em início do século XVI, é de transição. Ao afirmar isso ele tenta expôr a característica essencial desse teatro: a recuperação dos clássicos. Supõe não haver uma atividade criativa, apenas a montagem sem nenhuma "novidade" dos "grandes" textos de seus anteriores: gregos e romanos. E continua: "durante anos a tarefa de editar e traduzir a dramaturgia grega absorve as energias dos eruditos e poetas ao ponto de excluir o trabalho genuinamente criativo", John Gassner. Nesse contexto a Itália é a precursora.
A tradição de uma atividade intelectual e artística na Itália é vista principalmente pela pintura, como Michelangelo e Da Vinci, sabendo-se que este último também era figura relevante em projetos vários. Entretanto, no que se refere a criatividade fala-se muito da herança clássica, a retomada de uma cultura superior, de povos que entendiam o homem como ser principal e central nas diversas relações do mundo. Ou seja, o ser pensante e seu pensamento eram as questões centrais na época dos renascentistas e dos humanistas.
A tragédia é majoritariamente o gênero representado no teatro dito humanista. Seu caráter é tido por pagão e de representações que coloca o homem, seus sentidos e sentimentos e sua ânsia como discussão principal. São encenados os amores, as paixões, as dúvidas e o sofrimento do homem. Por tal caráter, e outros também, há a oposição da igreja pela atividade teatral. Por tragédia Hermilo Borba Filho diz que "entendiam aquela que é feita segundo a verdadeira arte e modelo dos antigos, como Sófocles Eurípedes e Sêneca". A inserção de sátira e crítica social não é a proposta destas montagens, visto que eram representadas para uma elite, inclusive a corte.
Na perspectiva do teatro na Renascença John Gassner propõe a reflexão de três importantes figuras: Ariosto, Aretino e Maquiavel. Esses faziam de suas peças um veículo para retratar a sociedade em que viviam, utilizando-se, sobretudo da comédia para satirizar e denunciar os costumes e hábitos de seus contemporâneos. Gassner ao falar de Ludovico Ariosto ressalta: "Esse poeta elegante e bem nascido olhava argutamente para os costumes do momento. Tomando como moldura as comédias dos romanos, foi capaz de inserir nelas a carne palpitante da Renascença italiana".
Pietro Arestino igualmente denunciava as posturas dos homens de sua sociedade mas também fazia alvo de seus comentários os próprios príncipes e desmascarava a corrupção vigente. Assim como Arestino tinha uma vida social em meio à aristocracia Maquiavel também fora funcionário do governo e o escritor da "cartilha" dos príncipes e nem por isso deixou de compor duas célebres peças para satirizar a sociedade da época: Clizia e La Mandrágola. Essas duas peças tinham como pano de fundo a ascendente burguesia.

Teatro Popular e Commédia Dell'Arte

As manifestações teatrais de domínio popular iniciaram-se, de acordo com Peter Burke, com formas tidas como "semi-teatrais". Seus espaços de atuação eram as grandes feiras, os mercados e as igrejas. No gênero prosa Peter Burke destaca três tipos básicos: as realizadas apenas com uma pessoa, na maioria estórias e sermões; as com duas, em forma de diálogo ou discussão, normalmente era o encontro de dois opostos como, por exemplo, o carnaval e a quaresma; e, por ultimo, com três ou mais pessoas, mas não ultrapassando geralmente mais de dez ou doze integrantes, através de um ato encenando um curto enredo.
Entre as peças que tinham a grande população, como público, estão as peças religiosas. Nestas destaca-se duas espécies: o mistério, com temas retirados da Bíblia, e o milagre, relatando a vida dos santos. A moral era tema desses dois tipos de encenação, apesar de não ser sua propaganda principal, ou seja, as pessoas não eram atraídas para escutar uma lição de moral, mas inevitavelmente eram alvos dos "conselhos" e das lições dos religiosos. Entretanto, nesse mesmo cenário, realizadas por outros, mas provavelmente para o mesmo público, havia as "paródias" sob os temas religiosos. Seus artistas modificavam rezas para ridicularizar a hipocrisia das ações e das palavras dos religiosos.
Considerada como desenvolvimento de uma farsa, percebe-se surgir o mais influente e duradouro movimento de encenação: a Commédia Dell'Arte.
Esse movimento foi introduzido em diversas trupes européias. Seu surgimento data da primeira metade do século XVI, na Itália. Sua origem, como foi dita, está nas farsas de tipo mambembe, ou seja, grupos que se deslocavam grande parte do continente europeu para se apresentarem.
É no contexto da Commédia Dell'Arte que vemos surgir uma nova concepção do ator. Ele apresenta-se, então, como um profissional, que se dedica exclusivamente para sua carreira de encenador. Há também nesse momento a inserção da mulher como atriz, pois até então eram censuradas, e, mesmo nessa época, a maioria das outras regiões da Europa proibiam sua participação.
As trupes que seguram o estilo desta comédia utilizavam basicamente de uma única forma de desenrolar da narrativa: havia o problema principal, que era os empecilhos para a união de um casal de amantes, e, entre essa trama aparecia as diversas outras personagens. Então, o corpo de personagens se dispunha assim: os amantes, os zanni, o velho e o capitão.
Os zanni eram os criados, a origem do nome para alguns estudiosos é a abreviação de Giovanni, e normalmente se metiam em confusão e faziam também a confusão da trama. Entre os zanni se destacam até hoje as figuras de Arlecchim e Colombina. O velho normalmente era o pai ou o pretendente rejeitado da amante, caracterizava pessoas avarentas, meio para retratar a burguesia ascendente e/ou a nobreza enfraquecida. O capitão era um metido a valentão, mas que na hora do verdadeiro perigo não se atrevia a enfrentá-lo, era uma associação ao soldado espanhol, "desbravador da América".
Exceto os amantes, todas as personagens se utilizavam de máscara. Esse recurso foi uma herança da tradição do carnaval, e era o meio de estereotipar os indivíduos da sociedade em que viviam. Dessa forma faziam uma crítica a seus contemporâneos.
A técnica desse teatro era muito simples, era regida basicamente por um estilo único: um romance e suas possíveis confusões. Os atores possuíam papel fixo pelo resto da vida e improvisavam suas falas, eram dirigidos apenas por roteiros que indicavam as entradas e saídas. Entre uma cena e outra, outro recurso inovador foi a utilização de lazzi, ou seja, música, dança, ou qualquer outro efeito que não quebrasse a continuidade da peça. Todos os efeitos de cena eram feitos pelos próprios atores, que, entre outras necessidades, como, recursos financeiros, faziam um pouco de tudo para por a peça ao público.
No contexto em que nasceu a Commédia Dell'Arte, ou Commédia Itallienne, devido a sua origem, a Itália era uma região muito fragmentada, assim pois, sua população se divergia muito. Inúmeros eram os dialetos e sotaques próprios de lugar para lugar. Devido a tal caráter singular, os artistas do povo de utilizavam de diversos recursos para a encenação, ou seja, não ficavam presos a palavra, como a tragédia da corte se fazia. Esse ponto é elementar para verificarmos mais uma das influências que ficaram até hoje. Músicas, mímicas e cenários são exemplos claros. Os palcos rapidamente improvisados se faziam de acordo com a disposição de cada trupe e de cada região que se encontravam.
Apesar de seu caráter extremamente popular, como diz o próprio John Gassner: "diversão produzida para as massas", o estilo da Commédia Dell'Arte chegou mesmo à corte. Alguns príncipes dispunham de uma trupe em sua própria corte, e os atores destas eram funcionários reais. O próprio Molière, importante dramaturgo francês, que tem seu nome e sua forma de fazer teatro lembrada até hoje, foi fortemente influenciado por tal movimento.
O termo Commédia Dell'Arte foi empregado pelo dramaturgo Carlo Goldoni, já no século XVIII. Esse diretor de uma trupe em moldes da tal comédia foi o responsável pela inovação, e, conseqüentemente, modificação, do estilo singular da improvisação e da concepção das personagens. Suas peças eram redigidas e suas personagens se faziam de uma individualidade rica. Devido a esse novo caráter muitos estudiosos deizem ter sido ele o responsável pelo declínio do estilo da Commédia Dell'Arte. Entretanto não podemos esquecer que todos movimentos, seja ele de qualquer caráter, está sujeito às trnasformações do tempo e do espaço. O estilo próprio da comédia que surgiu na Itália no século XVI, portanto, não morreu, apenas se introduziu nas diversas formas atuais e mundiais de encenação.

O Teatro Francês e Molière

Para a compreensão e análise da dinâmica na produção teatral francesa do século XVIII, dita clássica e dramática, se faz necessário uma passagem pela possibilidade da tragédia, e também a construção da comedia além de analisar algumas das relações possíveis dentro de uma casa de espetáculos.
As produções na França em um primeiro momento apresentavam uma tragédia de inspiração protestante, já no período da renascença é exposta uma tragédia que entendiam segundo a “verdadeira arte e modelo dos antigos, como Sófocles, Eurípides e Sêneca ”, como foi dito. Com o destaque de nomes como o nobre Corneille e posteriormente o burguês Racine.
Uma importante inovação deste período foi o aparecimento do “Hotel de Borgonha”, primeira companhia profissional e também o primeiro teatro regular francês, “era um local comprido e estreito, com um balcão e uma arquibancada de madeira onde os espectadores de melhor situação social sentavam, os outros permaneciam de pé” , as características resignificavam as apresentações de ruas ou das feiras.
Para continuar esta análise tomaremos como lente a pessoa e a produção de Jean Baptista Poguellin, nascido em 1622, filho de um importante fornecedor de tapetes para casa real, que estudou no colégio jesuíta de Clermont, formou-se em direito, porém dedicou sua vida ao teatro: foi ator, autor, e diretor, formou e edificou companhias e troupes, escolheu como pseudônimo e ficou conhecido como Molière.
Como fruto de uma aliança entre Molière e família Bèjart surge o L’illustre Théâtre, companhia itinerante, caravana que excursionou pela França durante treze anos, até a bancarrota e o grande endividamento levando Molière a prisão. As peças apresentadas eram curtas tragédias, sem grandes criticas e com forte influência da produção italiana.
Surge, então, a grande oportunidade de apresentar Nicomède, texto de Corneille, para o Rei Luis XIV, cena exposta na sala de aula através do filme , que mostra a dificuldade de adaptação em um primeiro momento ao levar um marco das feiras e ruas para dentro de uma casa especifica e adaptá-la para a corte.
Esta corte não se agrada, em um primeiro momento, por esta dita tragédia e Molière, então, inova ao criar ou reestruturar elementos da Commédia Dell’Arte e tornar possível a comédia como uma crítica a virtude, moral, fé e civilidade, enfim, aos elementos da sociedade.
A Troupe Mousier, companhia oficial, patrocinada pelo Rei, possui sua casa de espetáculo e tem uma licitação oficial, ao contrario das companhias itinerantes, que ganham à ilegalidade e buscam outras possibilidades para não deixarem de existir, gerando o surgimento de algumas praticas como as circenses e o teatro de mamulengos e de bonecos, tentando burlar as leis e não deixar de existir.
Dentro das “Casas de espetáculo” já existe licenças e apresentações de dança e ópera. Um dos grandes nomes da ópera seria Lully, este se junta a Molière, que sempre inova a linguagem, traz diversas temáticas para o teatro e cria a commédia – ballet.
Molière também é personagem de polêmica. É interessante destacar a importância do teatro veículo de informação e canal do Rei e do Estado, estas companhias só funcionavam com licenças oficias e com o patrocínio de nobres, mas principalmente o estado, e as peças passavam pelo crivo da censura como o caso de “Tartufo”, produção de Molière, que só pôde ser exibida após a morte da Rainha.
Molière termina sua vida atuando; produz “O Doente Imaginário”, obra que questiona e relaciona as inovações da medicina e as práticas associadas a ela. Nesta obra por vezes coloca a medicina como um ritual, por vezes ciências, por ora arte, e também como simples conjunto de práticas. Escreve esta obra em meio a avanços e descobertas da ciência, relacionando estes a um fato de sua vida: a tuberculose adquirida pelo autor que sofre e padece pela patologia até a última apresentação quando, ao interpretar o Doente Imaginário, tem uma crise no palco que é confundida com um dos atos da peça. Ao chegar em casa morre as “dez horas” do dia 17 de janeiro de 1673.

Teatro Inglês

O período que seguirá essa discussão sobre o teatro inglês é o momento em que a Rainha Elisabete I reina sobre a Inglaterra, ou seja, período elisabetano.
A influência que a Inglaterra sofreu pelas peças italianas não foi um caso a parte de toda Europa, afinal, foi na Itália que o teatro ganhou vida e teve um desenvolvimento que atingiu todo o continente.
A Inglaterra inicia um processo de produção de uma arte nacional, onde os dramas outrora representados na Grécia ou Itália ganhavam versões inglesas, porém não construíram “raízes na Inglaterra” .
A crítica lançada aos teatros eram demasiadamente ferrenhas, pois, como exemplifica Will Durant, ao mesmo tempo que tocavam os clarins para os teatros eram tocados os sinos da igreja, contudo os teatros eram cheios e as igrejas vazias. Com essa realidade, centenas de leis tentavam controlar as infestações “diabólicas”, segundo a igreja, que o teatro trazia para aquele mundo protestante.
“James Burbage construiu o primeiro teatro permanente da Inglaterra” . Antes dele as representações teatrais eram feitas em uma plataforma no meio das praças ou ruas. Um ponto interessante do Sr. Burbage, segundo Durant, foi a localização de seu teatro, pois ele o montou fora da cidade para fugir da jurisdição de Londres, onde a dominação puritana não estava abrindo espaço para efetivar as atividades do teatro.
Vale salientar, também, que todos os teatros até 1623 eram construídos com madeira e que “a maioria deles era um grande anfiteatro, com capacidade para dois mil espectadores sentados em várias fileiras de galerias circundantes, e outros mil em pé no pátio em torno do palco” , quer dizer que esses teatros possuíam uma grande receptividade da população inglesa da época até mesmo da rainha.
Porém quem fazia parte do público desses teatros? Pessoas simples e nobres compartilhavam a mesma estrutura do teatro. A versão agora que se explicava a essa situação, estava relacionada a quem possuísse dinheiro, pois era a partir desse ponto (aquele que pudesse comprar ingresso) que se podia assistir a apresentação, independente da condição social.
Os atores desse período ao mesmo tempo em que sofriam dos maus salários, pois a companhia era paga pelas suas apresentações, salvo aquelas que eram em número muito restrito, patrocinadas por nobres, gozavam da idolatria do público e de uma coleção de amantes. É importante informar que as mulheres eram proibidas de representarem, em alguns casos, até de assistirem ao espetáculo, pois a casa da apresentação era considerada como uma espécie de prostíbulo, e, a moral da igreja puritana não permitia essa participação feminina. Não apenas as vontades dela – a igreja –, mas também a do Estado.
A construção do teatro inglês se desenvolve a passos gradativos, nos quais são encontrado em Shakespeare um salto imenso que distingue-o não somente como autor, mas também criador de um novo mundo, proporcionando nos poucos momentos das suas peças uma saída da realidade que atingia não apenas meros mortais, como camponeses, pequenos mercadores, burguês, mas também a fidalgos, marqueses, condes e até mesmo a representação máxima do Estado, a rainha.

Biografia de Shakespeare

Nasceu em 23 de abril de 1564 na cidade de Stratford-on-Avon, Inglaterra, o maior dramaturgo que a literatura universal conheceu: Willian Shakespeare. Vindo de uma família relativamente abastada, teve uma educação provinciana, afinal sua cidade natal não era a capital do estado que estava em vias de afirmação, Londres, e aos 18 casou-se com Anne Hathaway, a qual concebeu três filhos. Provavelmente em 1587, quando uma companhia de teatro se apresenta em Strattford, Shakespeare se muda para Londres, e lá inicia sua vida como autor teatral.
Sua estréia como dramaturgo remete ao ano de 1592 com a peça Henrique VI, mas alguns pesquisadores dizem que sua contribuição ao teatro remete a alguns anos antes.
Shakespeare contemplou demasiadamente sua obra de textos dramáticos. Onde a tragédia sempre foi bem vinda, até por que essa era mais quista que a comédia, outra linha que o autor também escreve suas peças, principalmente ao público da corte.
Ainda, sobre a ótica dos pesquisadores e críticos de Shakespeare, sua obra é dividida em três momentos : a Primeira fase, a Maturidade e os Últimos Anos.
No primeiro momento da obra de Shakespeare é dado início ao ciclo de obras sobre a história da Inglaterra, com sua obra de estréia encandeia uma série de outras obras que refletem sobre os grandes reis ingleses. É desse momento também o início de suas comédias (A comédia do erro), o ciclo de tragédias romanas, como também sua maior tragédia, Romeu e Julieta. É importante salientar que esse primeiro momento de sua produção compreende ao intervalo de 1592, com a estréia de Henrique VI, até 1600.
No segundo momento, que compreende os anos de 1600 a 1608, é tido como o período da Maturidade, onde as peças do dramaturgo atingem “uma visão fundamentalmente pessimista e amarga da existência e a profundidade no tratamento das paixões, conflitos e contradições da natureza humana” . É desse período obras de cunho exageradamente trágico e de grande profundidade psicológica, tais como: Macabeth, Hamlet, Otelo e Rei Lear. E, se assim pode dizer, contemplou ainda mais com peças sobre a história da Inglaterra.
O terceiro e último momento de sua produção artística é nomeado por “Últimos Anos”, onde é caracterizado pelo retorno de Shakespeare para sua terra natal, no ano de 1610. Suas peças nesse momento são caracterizadas pela atividade e criatividade expressada pelo dramaturgo, tal como A Tempestade que é uma peça diferenciada das demais, onde a ação é o tema central e os artifícios utilizados produzem dinamicidade a toda trama.
Ironicamente Shakespeare morre no dia 23 de abril de 1616, dia de seu aniversário. Depois de alguns anos dois “amigos” do autor reúnem suas possíveis obras e publicam em um volume único. Graças a esse esforço, suas obras são retomadas com grande efervescência na época do Romantismo, onde ela não aparece apenas como “um” exemplo, mas sim como “o” exemplo a ser seguido e referenciado.

Goethe e o Teatro Alemão

Johann Wolfgang Von Goethe (1749-1832) é um dos grandes expoentes do Romantismo, movimento que se caracterizava, dentre outras coisas, pelo impulso a expressão das emoções e individualidades do indivíduo objetivando, ao mesmo tempo, a crítica e a fuga com relação à difícil e áspera realidade humana, permeada pela rede de convenções sociais compreendida pela difícil tarefa de lidar com o outro e consigo mesmo, já que, a própria fuga já traz consigo o próprio caráter de crítica, pois, compreende uma não aceitação a respeito daquilo que se está vivendo por meio do poder da imaginação na criação de mundos interiores.
É diante desse panorama que Goethe constrói por meio de suas obras mundos/situações que convergiam para o novo/imaginário mantendo, para tanto, uma relação bastante peculiar com a realidade, através de reflexões a cerca da existência, fruto da amálgama de tensões, conflitos e buscas definidoras da angústia humana ao longo dos tempos.
Goethe teve uma juventude bombardeada por momentos bastante conturbados, adentrando num estado depressivo causado por frustrações em paixões não correspondidas, problemas de saúde e em inconstâncias nos estudos. Diante disto, vê-se que o jovem Goethe possui a sua fiel representação no Fausto (que viria a ser tornar o seu personagem mais famoso na obra homônima), pois, tanto no criador como na criatura a situação e o sentimento de falta e constante dívida com o mundo mostra-se sufocantemente presentes.
Tempos depois, é devido a sua paixão pela filha de um pastor protestante chamada Friederika Brion que Goethe tem a inspiraçãopara criar a Gretchen do Fausto.
Em outro momento de sua vida o dramaturgo alemão novamente é acometido por um sentimento amoroso, agora pela noiva de um amigo, tal situação leva-o a ter a idéia fixa do suicídio (tanto que ele dormia com uma adaga ao seu lado); é deste difícil momento de sua vida que Goethe escreve a melancólica estória Os Sofrimentos do jovem Werther (1774), considerada a “Bíblia da Escola Romântica”.
A respeito da peça Fausto, Goethe expressa de forma magistral o típico homem da modernidade, pois, simboliza a busca incessante do indivíduo moderno por cada vez mais conhecimento a respeito do mundo/realidade. Contudo, a busca pelo sentido na vida na obra mostra-se de duas maneiras: num primeiro momento da vida de Fausto por meio do conhecimento totalizante e ilimitado da realidade que o acaba frustrando; no segundo momento, com a desilusão gerada pela impossibilidade de se almejar o conhecimento pleno e a falta de sentido e realização na sua existência, Fausto se vê numa busca desesperada pelo prazer na vida, chegando ao ponto de fazer um pacto com o sombrio Mefistófeles, representação de um demônio.
Na primeira parte da peça, Mefistófeles pede permissão a Deus para tentar Fausto, é neste encontro que Deus fala: “O homem erra enquanto busca”, tal trecho emite signos a respeito da insaciável angústia humana na errática busca pela realização plena, da completude e auto-suficiência do ser enquanto tal.
Com isso, Goethe constrói na peça a nebulosa e misteriosa cena do pacto de sangue (de natureza medieval) e o compromisso de Mefistófeles em levar Fausto a desfrutar da satisfação e prazer na vida, em troca da posse de sua alma. Tomado pela expectativa em viver o momento de realização e ao mesmo tempo ciente do futuro trágico Fausto diz:

“Quando for assim, saudarei o momento que passa: “Ah, fica mais um pouco-És tão magnífico”!”
E então aprisiona-me em tuas algemas imortais, e minha ruína final declara então!”

A peça Fausto foi encenada com considerável receptividade pelo público na Europa, na sua encenação o personagem Fausto mostra-se como uma das mais peculiares figuras do teatro, externando avassaladora expressividade no palco.
Contudo, Goethe assim como seus personagens emana o que de mais fantástico há no Romantismo no que se refere ao relato do homem como uma criatura que consciente das suas limitações não se cansa de buscar o pleno sentimento do viver. Ou nas suas próprias palavras: “Se desejas atingir o infinito, atravessas o finito por todos os lados”.

Bibliografia Consultada

BERTHOLD, Margot. História Mundial do teatro. Trad. Maria Paula Zurawski, J. Guinsburg, Sérgio Coelho e Clóvis Garcia. 2ª edição, Editora Perspectiva. SP: 2004.
BORBA FILHO, Hermilo. História do Espetáculo. Coleção Pontos Cardeais. Vol. 2, Edições O Cruzeiro. RJ:1968.
DURANT, Will e Ariel. A História da Civilização. Começa a Idade da Razão. Trad. Mamede de Souza Freitas. 2ª edição, v. 7, Editora Record. RJ: 1961.
GASSNER, John. Mestres do Teatro I. Coleção Estudos. 3ª edição, Editora Pespectiva. SP: 1997.
MOLIÈRE. O Doente Imaginário. Trad. Daniel Fresnot.Coleção Obra Prima de Cada Autor. Editora Martin Claret. SP: 2003.
SHAKESPEARE, William. Júlio César. Trad. Carlos Alberto Nunes. Coleção a Obra Prima de Cada Autor. Editora Martin Claret.SP: 2007.

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