sábado, 27 de dezembro de 2008

O Pastoril, o Tempo sagrado e a contemporaneidade profana

Universidade Federal de Pernambuco
Curso de Especialização em História do Século XX
Disciplina - PANORAMA DA IGREJA CATÓLICA NO SÉCULO XX
Prof. Severino Vicente da Silva


O Pastoril, o Tempo sagrado e a contemporaneidade profana
Autor: Diógenes Arruda Ferreira




Resumo: Este trabalho busca investigar a constituição do Tempo sagrado para o homem religioso católico dentro de um contexto contemporâneo. Partindo da concepção de Mircea Eliade da experiência de duas temporalidades distintas vividas pelo homem religioso, observamos que através dos Bailes Pastoris, podemos perceber importantes aspectos dessas temporalidades.

Palavras-chave: Catolicismo; Pastoril; Tempo Sagrado.



Abstract: This study attempts to investigate the formation of the sacred Time for the religious catholic man in a contemporary context. Starting from the idea of Mircea Eliade of the existence of two distinct temporalities experienced by religious man, we observed that through the Pastoris, we can understand important aspects of these temporalities.

Keywords: Catholicism; Pastoril; Sacred Time.





O Pastoril, o Tempo sagrado e a contemporaneidade profana

1. Introdução

Vez por outra, nos surpreendemos com o retorno de alguns rituais, típicos dos cristãos, mais especificamente dos cristãos católicos, pois o catolicismo, mais que a racionalidade pós renascentista, expõe a sua fé de maneira mais simbólica, menos abstrata. (SILVA, Severino Vicente da. “Rituais de fé católica - novidade da tradição no Recife”. In www.biuvicente.blogspot.com , 03 de novembro de 2008)

Naquilo que pode estar se configurando como uma busca pelo re-encantamento da fé, ou talvez fosse melhor dizer um avivamento dos mistérios na religiosidade, o natal católico consegue nos apresenta uma riqueza de simbolismos da fé cristã que parecem entrelaçar o culto ao divino à vida social, mesmo dentro de instituições situadas em contextos mais laicos, durante o mês de dezembro.

Permeado de elementos sincréticos herdados de culturas relacionadas ao antigo Império Romano e/ou aquelas que se encontraram dentro do processo de expansão do catolicismo pela Europa, os festejos natalinos parecem reviver tradições de um mundo antigo, mais ligado ao encantamento e aos mistérios do que ao racionalismo dos iluministas ou ao cientificismo da modernidade, esta dita estar em crise ou até mesmo superada por uma pós-modernidade.

Dentro da simbologia natalina, chama-nos a atenção a convivência entre elementos do sagrado e do profano, e de quão importante são suas representações para a fé católica, seja numa escala global, como a celebração da Missa do Galo pelo Papa, transmitida ao vivo para vários países; ou numa escala mais regional, como as apresentações de pastoris no nordeste brasileiro.

No cenário configurado acima é que pretendemos compreender a importância dos elementos do tempo sagrado católico num contexto contemporâneo.

2. O tempo sagrado num panorama contemporâneo

Pressa, falta de tempo, urgência em cada ação, o tempo para o homem contemporâneo parece se encontrar cada vez mais escasso. A internet, elemento da vida deste mesmo homem contemporâneo que se posta como uma ferramenta fundamental na comunicação entre as pessoas, ilustra a urgência deste tempo; do agora, pois revela a medida de sua eficiência através da quantidade de informações por segundo que esta é capaz de suportar. Quanto mais informações por segundo, mais, mais eficiente será sua internet; quanto mais informações por segundo, mais eficiente será o homem. Eficiência e velocidade, configuram-se num binômio buscado com afinco tanto na tecnologia quanto no homem do presente, nos remetendo a construção da própria idéia de moderno, na busca, através da razão e da ciência, pelo desenvolvimento, ou, neste caso, talvez fosse mais ilustrativo o uso do termo progresso.
Contudo, esta construção do tempo desse homem máquina ou numa ótica contemporânea, de um homem virtual (principalmente em seus mecanismos de relações sociais) faz com que ele se depare com a questão: que repercussões e construções desse tempo do imediato trariam à vida desse homem do agora? A amplitude dessa pergunta impede a resposta veloz e eficiente digna da contemporaneidade, mas parece caber aqui a ilustração trazida pela obra cinematográfica (sendo também o próprio cinema uma forma de arte da modernidade) de Charles Chaplin Tempos Modernos, em que por meio das desventuras de um operário que em seu trabalho busca alcançar a velocidade e a eficiência da máquina, acaba evoluindo para um quadro de loucura compulsiva. Esse mal que aflige o operário da sátira de Chaplin e que ganha uma representação na contemporaneidade sob a forma de palavras como estresse, cada vez mais comum no vocabulário cotidiano, parece se situar dentro desta construção de uma crítica da modernidade e do lançamento de olhares para além dela ou de uma pós-modernidade, em que uma dialética entre razão e emoção são montados e fundamentam críticas e estudos sobre repercussões desse tempo do agora.

O estabelecimento de uma crise da modernidade revela uma falha na razão e no cientificismo em alcançar a variedade de desejos e sentimentos do homem. A razão e a ciência, aos moldes da modernidade, seriam eficientes, mas não suficientes na busca para saciar tais desejos e sentimentos. E é fundamental aqui percebermos o papel da religiosidade diante dessa crise da razão.

Seria negligência negar a importância da religiosidade dentro da modernidade. Contudo, com questionamento dos valores modernos, com a valorização dos sentimentos com parte influente das relações humanas, as religiões parecem provocar um re-encantamento de aspectos de um mundo laico que parecia buscar fundamentar sua existência numa forma laica, e nesse contexto o homem religioso parece encontrar nas práticas de sua fé um tempo que se encontra além dos limites da razão laicizante, o tempo do sagrado, rico em encantamento e mistérios.

Tal como o espaço, o Tempo também não é, para o homem religioso, nem homogêneo nem continuo. Há, por outro lado, os intervalos de Tempo sagrado, o tempo das festas (na sua grande maioria, festas periódicas);por outro lado, há o Tempo profano, a duração temporal ordinária (...) mas por meio dos ritos o homem religioso pode passar, sem perigo, da duração temporal ordinária pra o Tempo sagrado. (ELIADE, Mircea. “O sagrado e o profano”. 2001:64)

No caso da igreja católica, cuja presença pode ser notada no Brasil desde o período colonial, traz consigo uma variedade destes momentos do Tempo sagrado. O homem religioso católico traz ao longo do seu calendário profano (no sentido de ligado estritamente aos aspectos da vida humana) bolsões de um tempo sagrado que se difere, segundo Eliade, do tempo comum, pois: O tempo sagrado é por sua própria natureza reversível, no sentido em que é, propriamente falando, um Tempo mítico primordial tornado presente. É portanto, um tempo de encantamento, de sentimento de fé, de proximidade com o sagrado.


3. Ritos de fé e o tempo profano

Nesse contexto de vivência do tempo sagrado, percebemos a importância dos ritos periódicos do catolicismo para o homem católico contemporâneo.
De fato, o posicionamento da instituição Igreja Católica diante da modernidade não se estende apenas a esfera do sagrado. Nas relações sociais do tempo profano, o moderno e o antigo se revelaram fundamentais nas posturas políticas de alguns Papas e, por conseguinte, da Igreja Católica da época de cada um deles. Pio IX, Papa durante o período que se estende de 1846 a 1878, teve como postura refutar os elementos progressistas da sociedade industrial do século XIX. O historiador Severino Vicente da Silva afirma que:

Na verdade seu pontificado foi uma séria reprimenda a tudo que parecesse moderno e contrário às tradições e aos dogmas católicos. A postura de defensiva assumida pelo Papa era, ao mesmo tempo, uma agressão ao mundo que se formava. ( SILVA, Severino Vicente da. “Panorama da Igreja Católica no século XX”. 2008. mimeo. P 11.)

Postura diferenciada a de Pio IX, porém também preocupada com a vivência da modernidade pelos católicos, foi a do Papa Leão XIII. Em seu pontificado buscou uma adequação da instituição católica as novas questões sociais de sua época, dando ênfase na aproximação com a classe operária, em que a presença comunista, vista como doutrina herética pela propagação de posturas ateístas, se mostrava cada vez mais comum. Ou do papado de Paulo VI (durante 1962 até 1978), quando em 1966 é revogado em quase sua totalidade o Index Librorum Prohibitorum, lista de livros proibidos aos católicos, criada em 1559.

Contudo, o tempo do sagrado se encontra inserido numa outra esfera da religiosidade, em que o elemento mundano, ou profano, não mais dita a realidade vivida, ao menos enquanto o curso do tempo sagrado se faz presente.
No caso do catolicismo a expressão de seus rituais sagrados encontram-se intimamente ligados a representações simbólicas, mais que idéias abstratas e também inseridas dentro de uma cronologia histórica, posto que os elementos do calendário sagrado encontram-se situados em narrativas bíblicas que, por sua vez, trazem em seu conteúdo textual referencias históricas, como por exemplo, a administração da província romana da Judéia por Pôncio Pilatos. Desta forma, o calendário (neste caso o calendário promulgado pelo Papa Gregório XIII, ou gregoriano) acaba por computar e orientar os dias do tempo mundano e também os dos momentos de vivência do tempo sagrado para o homem religioso cristão.

A prática de ritos e festejos de comemoração de datas sagradas traz uma maior proximidade do homem religioso com a sua fé e com os que partilham dessa mesma fé. Na vivência do temo profano os ensinamentos do caminho correto para uma vivência próxima do elemento divino é gradativamente desgastado e esquecido ou distorcido. O rito e o festejo trazem de volta o tempo em que determinado valor ou símbolo se fez presente e reaviva aquilo que o tempo profano desgastou.

"Seja qual for a complexidade de uma festa religiosa, trata-se sempre de um acontecimento sagrado que teve lugar ab origine e que é, ritualmente, tornado presente. Os participantes da festa tornam-se os contemporâneos do acontecimento mítico".(ELIADE, Mircea. “O sagrado e o profano”. 2001. p.79)

No caso brasileiro o historiador Severino Vicente da Silva afirma que: "A formação do Brasil foi marcada pela experiência católica, que sempre foi uma experiência que se manifesta festivamente, sempre em alegria."(SILVA,Severino vicente da. “Feriados cívicos e feriados religiosos”. In www.biuvicente.blogspot.com , in 29 de outubro de 2008.)

O tempo sagrado para o homem religioso católico no Brasil, pais de proporções continentais, assume uma variedade de formas e de festividades que mesclam a experiência do sagrado e do profano, e de elementos de uma religião de proporções globais às práticas e costumes das localidades onde se incorporam; caso dos pastoris no nordeste brasileiro.



4. O Baile Pastoril e o tempo sagrado

O pastoril remete sua origem a uma idéia do monge germânico Tuotilo, da Abadia de São Galo, que durante o século X desenvolveu uma celebração de natal baseado na representação do episódio bíblico da natividade.
A idéia de uma representação do nascimento de Jesus ganhou popularidade na Europa cristã, tendo sua representação na península Ibérica marcada pela forma de Vilhancicos. Vilhancicos eram cantigas interpretadas por grupos caracterizados como os pastores nas comemorações natalinas. A prática dessa celebração natalina ganha em Portugal outros elementos, como adesão do presépio, de criação atribuída a São Francisco de Assis, como o cenário ao fundo da representação em que se desenrola todo o Auto Pastoril, e os muitos personagens que acabam variando de acordo com a localidade, mas mantendo alguns elementos fixos. Dentre esses temos as pastoras, divididas em dois grupos (cordões), um trajado de azul e outro de vermelho (encarnado), e a Diana, fazendo um papel intermediário no jogo das cantigas que se desenrolam entre os dois cordões.
Francisco Augusto Pereira da Costa atribui as primeiras representações dos Autos Pastoris no Brasil ao Convento dos Franciscanos na cidade de Olinda, Pernambuco, durante o século XVI.



Ganhando notável popularidade no século XIX, o Pastoril passou a assumir duas formas bastante distinta em suas representações. Uma delas é o chamado “Pastoril profano”, caracterizado pelo foco em dois dos variados elementos do auto pastoril. As pastoras e o velho.



Nesta forma desse brinquedo popular, as pastoras assumem um ar de sensualidade entoando o coro das músicas cantadas pelo velho, músicas cheias de duplos sentidos e o caráter jocoso e libertino das apresentações. Essa forma de pastoril era condenada pela Igreja Católica, posto que distancia a simbologia dos Autos Pastoris como forma de celebração do nascimento de Jesus, gerando por vezes a interdição de apresentações por autoridades do Estado, a pedido da Igreja.
A outra forma, o Baile Pastoril, ou simplesmente Pastoril, encontra-se, por sua vez, vinculado a re-vivência do tempo sagrado, neste caso, o nascimento do messias cristão, através de representações e de cantigas como:

Todo o céu e terra
Vos cantam em louvor
Ó Menino Deus
Nosso redentor

Desses céus descei
Descei Criador
De remir o mundo
É tempo, Senhor


Estes elementos serviram para revitalizar e celebrar um tempo sagrado, trazendo encantamento a um mundo profano por meio de símbolos que por si remontam uma forma anterior a contemporaneidade de se cultuar o sagrado.



Podemos dizer, portanto, que o Pastoril é uma celebração que carrega consigo elementos não apenas de uma , mas de três temporalidades: o tempo sagrado, pois celebra um importante acontecimento de uma religião; o tempo profano, pois suas festividades se deparam com elementos do cotidiano em que se insere; e um tempo histórico, em que podemos perceber heranças de uma forma de festejo oriundo de um mundo medieval fazendo-se presente em um mundo contemporâneo.


5. Apontamentos finais

A vivência desse tempo sagrado através de ritos periódicos, festas e datas comemorativas, permitem ao homem religioso um experiência mais intensa de sua fé e de uma temporalidade mais próxima do elemento divino por ele cultuado.
A escolha do Pastoril para buscar a percepção de tal temporalidade se constitui em apenas uma escolha de todo um universo de festejos e ritos que formam as práticas católicas no Brasil. Nestas, acredito, também se revelariam contribuições de elementos da temporalidade sagrada vivida por seus praticantes, auxiliando, assim, a construção de maiores conhecimentos sobre esta religião que encontra-se intimamente ligada a formação histórico-cultural brasileira, o catolicismo.



Referências bibliográficas:

ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano: A essência das religiões. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

FRANÇA, Eurico Nogueira. O ciclo folclórico do Natal. In. Jangada Brasil: Especial Natal. Ano VI – Edição 61. 2003. Disponível na Internet via: http://www.jangadabrasil.com.br/revista/dezembro61/ (acessado em 21 de novembro de 2008).

SILVA, Severino Vicente da. Panorama da Igreja Católica no século XX. UFPE. Recife-PE. 2008.

SILVA, Severino Vicente da. Rituais de fé católica: novidade da tradição no Recife. Disponível na Internet via: http://biuvicente.blogspot.com/2008/11/rituais-de-f-catlica-novidade-da-tradio.html. (acessado em 21 de novembro de 2008).

SILVA, Severino Vicente da. Feriados cívicos e feriados religiosos. Disponível na Internet via: http://biuvicente.blogspot.com/2008/10/feriados-cvicos-e-feriados-religiosos.html. (acessado em 21 de novembro de 2008).

VALENTE, Waldemar. Pastoril. Disponível na Internet via: http://www.fundaj.gov.br/docs/text/pastoril.html (acessado em 2 de dezembro de 2008).

Enciclopédia Católica Popular. Natal. Disponível na Internet via: http://www.agencia.ecclesia.pt. (acessado em 20 de novembro de 2008).

Prefeitura da cidade do Recife. Pastoril. Disponível na Internet via: http://www.recife.pe.gov.br/especiais/brincantes/ (acessado em 2 de dezembro de 2008).

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

O encontro intelectual de Newton e Voltaire

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA



O ENCONTRO INTELECTUAL DE NEWTON E VOLTAIRE



Alunos: Juliana Mangabeira
Thiago Florentino

Curso: História 5º Período Noite
Profº: Severino Vicente da Silva


Recife, 17 de novembro de 2008.

SUMÁRIO


Introdução.....................................................04
Biografia de Isaac Newton......................................05
Biografia de Voltaire..........................................08
Pensamento de Isaac Newton.....................................12
Encontro intelectual de Newton e Voltaire......................16
Conclusão......................................................24
Bibliografia...................................................25






Introdução

Anterior a esta introdução encontra-se um pequeno sumário, e este me servirá igualmente, de pequeno exemplo.
No decorrer daquela construção, sumário, impacientou-nos uma possível retirada de um tópico, chamado Pensamento de Voltaire, e que conseqüentemente nos levou a pensar sobre a razão de tal fato. A questão que se apresentou fora que, a inexistência do tal tópico quebraria uma ordem, ordem que fora construída não apenas naquele mísero sumário, mas anterior ao todo.
Reflete-se bem neste exemplo o quão avançado esta o nosso censo de ordem, a ponto de que, uma quebra de uma ordem de algo que ainda não fora nem construído, pode nos despertar os sentidos, nesse caso de algo errado.

Esse sentimento, de algo errado, pode ter sido o que Newton sentira ao ver as hipóteses mecanicistas de Descartes, não pela sua impossibilidade, mas pela sua possível contestação. Lembremos que o relógio fora inventado mais de em século antes do nascimento de Newton e com ele modificaram-se o trabalho, a sociedade. Além de que ocorrera a ascensão da técnica.
Não sendo à toa o uso do relógio como exemplo comum a duas máquinas universais. Mas a diferença entre elas foram as suas bases. Uma hipotética, Descartes, a outra com uma base matemática, Newton.

Descartes criara um turbilhão hipotético enquanto Newton estabelecera uma ordem simples e uniforme. Não que ele não soubesse que seria fundamental ter uma legitimação matemática, já que com ele, a matemática eleva-se a um novo patamar onde ela “não é só a ciência das relações entre os números, mas também o próprio modelo da realidade física” , mas ele não tivera a capacidade de realizara.
Newton o fez e abalou o mundo até então cartesiano, Voltaire sentido a revolução intelectual, estuda e a leva para a França cartesiana. Transforma os números em crítica, sarcasmo, e tolerância. Pois para o mundo e sua seguinte revolução os dois foram igualmente importantes, pois como Wolfgang Goethe dissera: “Foi Voltaire quem suscitou personalidades como Diderot, d’Alambert, Beaumarchais e outros ainda, já que, para ser simplesmente alguma coisa em relação a ele, era preciso ser muito.” Não pensemos como matemáticos, mas sim como historiadores!


Biografia de Isaac Newton


No natal de 1642 numa pequena fazenda inglesa do condado de Lincolm, Woolsthore, nasce o pequeno Isaac Newton, Filho de Hanna Ascough e de Isaac Newton, nascera prematuro e muito pequeno tanto que as parteiras consideravam um milagre que ele sobrevivesse. Seu pai morrera pouco antes de seu nascimento e sua mãe logo se casara novamente com um rico pastor, Barnabas Smith. O pequeno Isaac aos dois anos não foi muito querido pelo seu padrasto e então o menino foi morar com sua avó materna Margery Ascough,

A infância do pequeno Newton foi um tanto turbulenta, principalmente por causa de tantas tragédias e rejeições, o que refletiu e muito para a formação da personalidade forte, dura, vingativa e obsessiva, muito biógrafos de Newton afirmam que se não fosse por essa sua personalidade forte e obsessiva ele na teria se tornado o grande gênio que foi.

Vemos como exemplo de seu espírito vingativo que em seu diário estavam recordações como, “ ameaçar meu pai e minha mãe Smith de queimá-los junto com a casa” .
Aos cinco anos Isaac Newton freqüentou escolas públicas aldeãs de em Skillington e Stoke, onde era descrito como desatento e preguiçoso. Com o falecimento de seu padrasto, sua mãe recebe uma fortuna de herança, Newton tem dez anos e vai juntamente com sua avó morar com a sua mãe e seu meio irmão e suas duas meias-irmãs.

Entre os anos de 1655 a 1660, Newton vai para a Free Gramar School, uma escola pública onde aprendeu latim, grego, hebraico, aritmética e geometria. Embora fosse uma criança que desde cedo dava sinais de gostar de construir, inventar coisas como relógios, pipas, máquinas movidas a camundongo, fazer desenhos arquitetônico e pela sua paixão pelo conhecimento, não era um aluno que conseguia se aplicar nos estudos e nem tirar boas notas.

Na Gramar School, havia uma excelente biblioteca com muitos livros de história, religiosos e clássicos, além de ser vizinha de uma biblioteca pública com mais de 40 mil títulos.

Por seu descaso com a escola, sua mãe decide o tirar da instituição de ensino e decide que seu filho mais velho tomaria conta dos negócios da família, mas para a sua decepção o jovem Newton era pior na administração do que na escola. Então o irmão de Hanna a orientou a colocar o menino novamente na escola a fim de que terminasse os seus estudos. E foi a partir daí que o jovem Newton mudou radicalmente de comportamento e passando a ser um jovem distraído, contudo genial.
Em 1661, entra como pensionista pobre (subsizar) no Trinity College of Cambridge onde passaria a maior parte do resto de sua vida e, para poder estudar na universidade, Newton faz serviços domésticos, como por exemplo, arrumar os quartos dos professores.

Em 1664, foi eleito schoolar e passou a receber um incentivo financeiro para estudar, não necessitando mais realizar tarefas domésticas.
Em 1665, quando a peste assolou a Inglaterra, Newton retorna a sua cidade natal e onde ficaria por dois anos, esse período é chamado por muitos por “anos miraculosos” , “anos admiráveis”, foi nesse período que Newton produziu suas obras principais, sendo o período mais fecundo intelectualmente de Isaac Newton. Foram concebidos o teorema do binômio, o método das tangentes, o cálculo das fluxões, a atração gravitacional e a teoria das cores.
Em 1666 teve, como seu objetivo principal no estudo, o Comentário Cartesiano de van Schooten e seu mentor era Descartes.

Em 1667, tornou-se membro da Congregação de Cambridge e ao retornar a Universidade apresenta ao seu mestre, Isaac Barrow, cinco memórias sobre o cálculo infinitesimal e não relatou a descoberta que fizera durante o seu recesso: a gravitação universal. Isaac só vem relatar sua descoberta em 1689, por insistência do astrônomo Edmond Halley. Ainda nesse mesmo ano faz descobertas sobre a aceleração circular, que chamará de “centrípeta” e por conseqüência passa a estuda com mais afinco a gravitação terrestre.

Em 1669 assumiu a cátedra de matemática, onde ensinaria também geometria, astronomia, estática e outras disciplinas matemáticas, a qual pertencera ao seu mestre, que abrira mão ao seu favorecimento e ficaria ministrando essa cátedra como professor laucasiano por 30 anos. Formula a teoria das cores e constrói um telescópio de reflexão com pequenas dimensões e com grande poder de resolução.
Foi seu mestre que levou um protótipo do seu telescópio para a Royal Society, e o que rendeu a Newton um cargo de fellow, da agremiação em 1671. Apresentou um relatório sobre a teoria das cores, ou seja, a decomposição da luz branca pelo prisma e que as cores amarelo, azul e vermelho, não se decompunham por serem cores primitivas.

Hooke foi um de seus mais terríveis críticos e dizia que o trabalho sobre a tória das cores estava presente em outro, Micrografia. Durante os anos de 1672 e 1673 Newton viu-se desesperado para responder aos seus opositores, o que o levou a sair da Royal Society e a uma depressão nervosa, além de não publica nada por um bom tempo, e só publicou Lectione opticae, após a morte de Hooke.
Em 1676 Newton rebate as ofensas de Hooke na qual dizia: “Se vi mais longe foi porque estava sobre os ombros de gigantes” .
Em nos anos de 89, 90, e 1701, Newton foi representante da universidade de Cambridge no parlamento inglês.

Em 1699 foi nomeado presidente da Casa da Moeda onde também assumiu o cargo de inspetor.
Em 1703 foi presidente da Royal Society e ficou nesse cargo até o fim de sua vida.

Em 16 de abril de 1705, como homenageado de Cambridge, foi consagrado cavaleiro pela rainha Ana, passando a ser chamado como Sir Isaac Newton.
Trabalhou intensamente até o fim de sua vida e morreu aos 84 anos no dia 20 de março de 1727 e “foi sepultado, o caixão carregado por duques e condes, na abadia de Westminster, depois de funerais a que estiveram presentes estadistas, nobres e filósofos.”




Biografia de Voltaire



François Marie Arouet, ou simplesmente Voltaire, nasceu em 21 de novembro de 1694 em Paris François Marie Arouet, ou simplesmente Voltaire, nasceu em 21 de novembro de 1694 em Paris, de um difícil parto e sem esperança de viver. Sua mãe, Marquerite Daumard, descendente da pequena burguesia de Poitou morrera quando ele tinha seis anos, seu pai era tabelião, pagador de especiarias e receber de multas na Câmara de contas, possuía uma pequena fortuna e queria que seu filho se tornasse advogado real.

Quando criança adorava ler e escrever versos e dava indícios de que não seria um bom literato, contudo ainda jovem recebera uma herança de uma cortesã, de dois mil francos para que fossem gastos em sua educação, principalmente em livros, o que lhe proporcionou uma razoável biblioteca. Fora educado pelo seu padrinho, o abade de Châteauneuff.

Em 1704, vai para o colégio jesuíta – Louis, Le Grand – onde segundo um relatório escolar era descrito como “rapaz de talento, mas patife notável” , logo em seguida é introduzido pelo seu padrinho em círculos de jovens, a exemplo de “livres-pensadores”.

Em 1713, viaja numa missão diplomática para a Holanda, mas especificamente para Haya, para a realização da Paz de Utrech como secretário do Marquês de Châteauneuff. Na Holanda conhecera uma jovem chamada Olympe Dernoyer, cujo apelido era Pimpete, com quem durante o dia lhe escrevia cartas ardentes com juras de amor eterno e durante a noite pulava o muro de sua casa.
Voltaire pretendia se casar com Pimpete, contudo havia um problema ela era protestante e para que o casamento fosse realizado teria que ser autorizado pela Igreja, sendo assim o casamento não pôde ser realizado, pois o Bispo Evereux não autorizou o casamento e por isso o romance chegara ao fim. Pimpete foi a única paixão de Voltaire embora este não achasse digno algo que lhe fizesse perder a razão e admitia que suas únicas paixões eram a razão e a justiça.
Profundamente triste e desiludido Voltaire retorna à França e escreve uma ode a Luís XIII, em 1715, escreve Édipo, sua peça trágica e a Henríada, poema épico sobre a Liga e Henrique IV.

Aos 21 anos, Voltaire, escreve duas composições irreverentes sobre Luís XV, príncipe regente, e, a partir daí, todas as sátiras feitas sobre o regente lhe são atribuídas, o que resultará numa fuga de Paris, para Sully – sur – Loire; e ao retornar à Paris é preso e levado para a Bastilha, onde ficaria preso por onze meses ( de abril de 1717 a maio de 1718).

Devido as suas constantes confusões, e também às suas sátiras, faz com que Voltaire fique conhecido na sociedade como um rapaz “turbulento” e é descrito num relatório policial como: “Um Moço magro, lábios finos e apertados, sem barba, olhos vivos e perspicazes, jeito de sátiro, terrivelmente malicioso, encantador e muito bem tratado com perfume de essência de cravo” .

Torna-se amante de Suznne de Livrey, passa a freqüentar salões mundanos, com o seu jeito sedutor e malicioso agrada também a jovem rainha, Maria Leczinsk, escreve versos para as damas e poemas satíricos.
Em 1715 é estreada sua peça trágica, Édipo, e com o sucesso dessa peça passar a ter muito dinheiro e a se tornar um homem de negócios, não muito honesto; passa a emprestar dinheiro, torna-se fornecedor do exército e rouba no abastecimento, financia todo tipo de tráfico, inclusive o negreiro, que é muito rentável na época, e também passa a investir em loterias mal planejadas pelo governo, compra todos os bilhetes e é sorteado. Tais investimentos fazem com que Voltaire passe a ter uma corte que o acompanha.

Em 1726 um incidente com o duque de Sully, cavaleiro de Rohan, fez com que Voltaire levasse uma surra a mando do duque, isso causa-lhe indignação e Voltaire desafia o cavaleiro de Rohan para um duelo que não se realiza.Trata-se de um nobre, um cavaleiro não duela com qualquer um, e Voltaire era apenas um burguês. O nobre não duela com Voltaire, mas o manda para a Bastilha, Voltaire então foge para a Inglaterra e onde ficaria por três anos.

Na Inglaterra, Voltaire passa a freqüentar círculos da alta cultura inglesa e onde teve contato com escritores, filósofos, cientistas, historiadores, etc. foi um período intelectual muito fecundo para Voltaire e naquele país admira-se com a liberdade religiosa, e a relativa igualdade entre nobres e burgueses, relações que eram completamente opostas na França.

Através de cartas difunde o pensamento e os conhecimentos ingleses, principalmente a teoria empirista e John Locke e o método matemático de Newton, além de outros. Essas cartas se tornariam futuramente em sua obra “Cartas Filosóficas” que causaria um verdadeiro escândalo na sociedade e seria condenada à fogueira, por se tratar de uma obra que desrespeitava as autoridades, os bons costumes e a religião, tal obra fora publicada em 1733 na Inglaterra e, em 1734, clandestinamente, na França. Esse acontecimento faz com Voltaire, fuja mais uma vez da França, só que dessa vez ele vai para o castelo de Cirey.

Em Cirey, no castelo de sua amante, a Sra. Châtelet, escreve as cartas em forma de panfletos e somente cinco anos depois é que elas são publicadas, A marquesa era a tradutora de Newton, muito culta e inteligente. Nesse castelo Voltaire passa a se dedicar as ciências naturais, pois tinha em suas mãos um excelente laboratório.
Durante sua estadia em Cirey, recebe cartas de Frederico II, futuro rei da Prússia, o convidando para que Voltaire lhe ensinasse francês, Voltaire termina por aceitar o convite e assume o cargo de camareiro-mor e foi recebido com muitas homenagens.
Voltaire estimula Frederico II a construir um teatro na cidade, inspirado por D’Alembert e repudiado por Rosseau, o que termina com o relacionamento com este, que sempre fora contrário à construção de um teatro na cidade.

Contudo, como não poderia deixar de ser Voltaire, começa com seus negócios ilícitos na Prússia e que não agrada o rei, além disso, as publicações não autorizadas pelo mesmo, faz com que Voltaire seja expulso da Prússia, embora tempo depois seja perdoado pelo rei.

Com o apoio de Madame Pompadour, a favorita de Luís XV, é nomeado historiador-real e publica A História da Guerra de 1741, em 1746 é eleito para a academia francesa.
Em 1747, publica Mennon,a 1º versão de Zadigo e, por desobediência foge para o castelo da duquesa de Maim, no castelo de Sceaux, para quem escreve vários contos.
Em Genebra, compra a residência “as Delícias” e onde se dá bem com os pastores evangélicos, com a sociedade local e com os enciclopedistas, que querem a colaboração de Voltaire.

Em 1759 publica O Cândido e em 1762-1763 defende o caso Calas, que se refere a um jovem cometera suicídio; como era de costume, quem cometesse suicídio seria arrastado nu pela cidade para servir de exemplo aos outros. O pai do garoto por não querer ver o corpo do seu filho sofrer tal humilhação arrumou testemunhas para que dissessem que seu filho morrera de causa naturais, todavia o boato que correra na cidade era o de que o pai matara o garoto para que este na se tornasse católico, logo Jean Calas foi preso, torturado e morto. O resto da família arruinada foge e relata tudo a Voltaire, que assume a sua defesa.

Outro caso de intolerância acontece na França, foi o de um jovem cavaleiro que foi morto por carregar consigo uma edição do Dicionário Filosófico, uns dos primeiros livros de bolso, e por fazer manifestações libertinas, atribuídas aos filósofos. Tudo faz com que Voltaire sinta-se culpado por tantas mortes e vá para a Suíça, onde criticaria duramente o cristianismo e suas perseguições.
Cansado de ver tantos casos de intolerância, Voltaire decide escrever Tratados sobre a Tolerância, seus inimigos respondem queimando seus livros e, através da Madame de Pompadour, tenta comprá-lo com cargos eclesiásticos e com dinheiro. Por respeito a Madame, Voltaire nem responde às propostas.

Em 1773, tem uma crise de estrangúria, que põe sua vida em risco, e é publicado o “Touro Branco”, que é uma crítica à bíblia.
Em 1776, vê na Constituição Americana um triunfo da liberdade.
Em 1778, ocorre a representação de Irene, morre em 30 de maio de 1778, é enterrado na abadia de Sullières, na Champagne e em 1791 seu corpo é transferido para o Panteão de Paris.





Pensamento de Isaac Newton



A princípio, o pensamento newtoniano evidencia-se através da observância de quatro “regras do raciocínio filosófico” construídas pelo próprio filósofo e expressas no início do livro III dos Principia.

“Não devemos admitir mais causas para coisas naturais do que as que são tanto verdadeiras como suficientes para explicar as suas aparências.” Esta é a primeira das regras, a qual torna evidente o uso de teorias simples para a explicação da natureza, ou ainda, do postulado da simplicidade da natureza, pois ela “não faz nada em vão ao passo que, com muitas coisas, faz-se em vão o que se pode fazer com poucas. Com efeito, a natureza ama a simplicidade e não superabunda em causas supérfluas”.

Atrelada a anterior à segunda regra assim diz:
Por isso, tanto quanto possível, aos mesmos efeitos devemos atribuir às mesmas causas. Como na questão da respiração no homem e no animal, no caso da queda das pedras na Europa e na América, no problema da luz do nosso fogo de cozinha e do sol ou no fato da reflexão da luz sobre a Terra e sobre os planetas.

Assim nos é possível dizer que Newton expressa o postulado da uniformidade da natureza. Postulado que é ainda confirmado pela terceira regra que diz:
As qualidades dos corpos que não admitem aumento nem diminuição de grau e que se descobre pertencerem a todos os corpos no interior do âmbito dos nossos experimentos devem ser considerados qualidades universais de todos os corpos.

Por fim na quarta e última regra:
Na filosofia experimental, as proposições inferidas por indução geral dos fenômenos devem ser consideradas como estritamente verdadeiras ou como muito próximas da verdade, apesar das hipóteses contrárias que possam ser imaginadas, até quando se verifiquem outros fenômenos, pelos quais se tornem mais exatos ou então sejam submetidas a exceções.

Assim o pensamento newtoniano fora baseado e através desses dois postulados, onde a natureza é simples e uniforme, e que se assenta sua idéia mais caracterizadora, ou seja, “o sistema mundo é grande máquina”.

Newton chega a esse sistema através do método exposto em sua última regra do raciocínio filosófico, pois chegara a ele, pelas proposições inferidas por indução geral dos fenômenos, ou melhor, pelos sentidos, isto é, pelas observações e experimentos. Tomemos por evidência, o postulado da simplicidade da natureza nesse sistema através das próprias palavras do filosofo quando diz:

Esse sistema extremamente maravilhoso do Sol, dos planetas e dos cometas só pode ter-se originado do projeto e da potência de um Ser inteligente e poderoso.

Ainda continuando Newton revela traços perceptíveis de seu outro postulado, o da uniformidade da natureza:
E, se as estrelas fixas são centros de outros sistemas análogos, tudo isso, dado que foi formado pelo idêntico projeto, deve estar sujeito do Uno, sobretudo visto que a luz das estrelas fixas é da mesma natureza que a luz do Sol e que a luz passa de cada sistema a todos os outros sistemas; e, para que os sistemas das estrelas fixas, em virtude de sua gravidade, não caiam uns sobre os outros ele pôs esses sistemas a uma imensa distância entre si.

Com isso da comprovação da ordem do mundo e através da uniformidade da natureza do universo Newton comprova que “a existência de Deus pode ser provada pela filosofia natural a partir da ordem dos céus estrelados”.

Tal hipótese metafísica nos leva a questão de sua frase “não invento hipóteses”. Como coloca muito bem Reale, “está claro para todos que Newton também formulou hipóteses. Ele ficou conhecido e sua grandeza é ilimitada não porque tenha visto uma maçã cair (...) ele é grande porque formulou hipóteses e as provou”. Porém, o cerne da questão encontra-se na continuidade do discurso de Newton e conseqüentemente o que pensa, diferentemente de nós, a respeito do que se trata uma hipótese, diz ele: “Com efeito, tudo aquilo que não é deduzido dos fenômenos deve ser chamado de hipótese. E as hipóteses, tanto metafísicas como físicas, tanto de qualidades ocultas quanto mecânicas, não têm nenhum lugar na filosofia experimental.”
A existência de um Ser inteligente e poderoso é comprovada indutivamente pela própria ordem do universo, e conseqüente a isso difere-se de uma hipótese. E assim Newton não se propõe a solucionar questões metafísicas que não sejam sujeitas a verificação indutiva.

A obra prima de Newton Princípio matemático da filosofia natural foi muito bem definida por Reale quando este afirma que aquela “representa a realização completa da revolução científica que, iniciada por Copérnico, encontra em Kepler e Galileu os dois representantes mais geniais”.

No livro I dos Principia Newton apresenta as três leis do movimento e estas exemplificam bem a construção que foi a revolução científica. A primeira lei, Lei da inércia, fora trabalhada por Galileu e Descartes, a segunda fora formulada por Galileu já a terceira fora elaborada pelo próprio Newton.
Além do mais, em outra obra, Optiks, or a Treatise of the Reflexions, Inflexions and Colours of Light, Newton:
Utilizou a Diotrica de Kepler, a tradução latina de Dioptrique de Descartes, a Physico-mathesis de lumine, coloribus et iride de Francesco Maria Grimaldi, os Experimenta et considerationes de coloribus de Robert Boyle e o trabalho de síntese desenvolvido por Isaac Barrow nas Lectiones opticae para as quais contribuiu o próprio Newton.

Exemplificando assim que não fora à toa a famosa frase, enviada ao seu inimigo Robert Hooke, “se vi mais longe foi porque estava sobre os ombros de gigantes”.

Nos últimos anos de vida Newton se dedicara a leitura e interpretação da Bíblia. Como Galileu, para Newton a chave para a interpretação da Bíblia seguia o mesmo método para a interpretação da natureza. Assim seu postulado uniformidade também é notório, já que em suas palavras:
Como se acredita prontamente que as partes de uma máquina construída por um excelente artista sejam justamente comparadas quando se vê que se adaptam verdadeiramente umas às outras (...) assim, pela mesma razão se deveria aceitar a construção destas profecias, quando se vê que as suas partes ordenadas conforme as características gravadas nelas para este fim.

As profecias citadas neste fragmento referem-se às contidas no livro de Apocalipse e ainda profecias relacionadas ao profeta Daniel. Essas reflexões foram atribuída a um distúrbio mental o que levara Newton à busca pela verdade nas santas escrituras.
Newton assim como Descartes tinha por lema larvatus prodeo, ou seja, sigo adiante mascarado. Tal lema se justifica pelo seu próprio credo religioso, pois não acreditava na doutrina católica e anglicana do Trinitarismo, porque para ele essa doutrina “foi falsamente imposta aos cristãos na época da vitória triunfal de Atanásio sobre Ário e sobre os arianos”. Segundo o próprio Newton, “o filho admite que o Pai é maior do que ele e o chama de Deus (...) subordina a sua vontade àquela do Pai isso seria irracional se ele fosse igual ao Pai”
Sendo interessante o fato que Voltaire coloca no verbete Teólogo, no Dicionário Filosófico, que “conheci um verdadeiro teólogo” e continua,
Efetuou investigações sobre a época precisa em que foi redigido o símbolo atribuído aos apóstolos e o que se coloca sobre o nome de Atanásio; (...) Acabou por chegar a conhecimentos ignorados pela maior parte dos confrades. Quanto mais foi verdadeiramente sábio, mais desconfiou de tudo o que sabia. Enquanto viveu, foi indulgente; e à hora da morte reconheceu que tinha consumido inutilmente a sua vida.

Por fim, como era um fellow Cambridge era exigido a assumir as ordens religiosas anglicanas, daí deriva o motivo de sua máscara, e em morte “na presença somente de duas pessoas recusou os sacramentos da Igreja”.




Encontro intelectual de Newton e Voltaire

Voltaire entra em contato com as idéias Newtonianas, ainda na França quando um amigo lhe mandara uma carta dizendo que “Huygens e Newton demonstraram que a natureza não age como Descartes quer que ela aja ... quase todas as leis do movimento enunciadas por ele são falsas, e os seus famosos turbilhões são uma quimeras” Daí pra frente se prolonga por mais dez anos a iniciação de Voltaire na física newtoniana, ressaltando que com “características hesitações” . A hesitação pode ser melhor demonstrada pelo o que o próprio Voltaire pensa a respeito da força gravitacional, “mesmo se a atração fosse verdadeira, não decorreria daí a mínima vantagem, o mínimo auxilio à mecânica”.

Esse fato ainda ressalta que a tomada de posição de Voltaire não é súbita, rápida, mas sim uma construção. Assim já podemos criticar o que diz Marilena Chauí quando afirma que “a rigor, Voltaire não foi propriamente um filosofo. Detestava toda a especulação abstrata e suas obras não contêm maior originalidade como reflexão analítica limita-se à exposição e defesa do pensamento dos outros.”
Rigor, segundo o dicionário Houaiss, rijeza material, física, ausência de flexibilidade, de maleabilidade; rigidez, dureza, inflexibilidade, ou seja, a rigor, no início do pensamento já demonstra uma porta de emergência, no caso de algum incêndio. Concordamos que Voltaire não tinha uma à reflexão analítica, como um de seus principais anseios, mas dizer que ele limitara-se a exposição e defesa do pensamento dos outros já complica mais as coisas.

Complica, pois Chauí continua; “Isso, no entanto, ele o faz de maneira brilhante: tem o dom de apaixonar o leitor, fazê-lo compreender as idéias mais complexas e converte-lo às suas opiniões. Desempenhou assim, um papel importante dentro da história das idéias.”

Primeiramente, a hesitação de Voltaire com a força gravitacional Newtoniana demonstra claramente que ele não aceitava as idéias de forma “religiosa”, pois fizera um exame de uma das principais idéias de Newton.
Segundo, o a rigor expressa uma possibilidade de fuga e a possibilidade amplia com a conexão com a reflexão analítica, pois claramente Voltaire não teve o domínio de Newton sobre a matemática, mas também Newton não tivera o domínio que Voltaire tivera com a escrita, evidenciada pela própria Chauí quando diz que “isso, no entanto, ele o faz de maneira brilhante: tem o dom de apaixonar o leitor, fazê-lo compreender as idéias mais complexas e converte-lo às suas opiniões.”
Terceiro, esse no entanto, esse mas, porém, contudo, entretanto, todavia dá-nos a impressão compensatória da falta da reflexão analítica, mas é sabido que para se fazer compreender bem, e no caso de Voltaire a ponto de fazer apaixonar, é primordial entender. E assim Voltaire o fez, e os dez anos de iniciação na física newtoniana o comprova.

Um dos campos de características mais marcantes do encontro dos pensamentos de Newton e Voltaire é o religioso, ou melhor, representado pelo Deísmo. Tal aspecto era tido como real em Newton por Voltaire devido às próprias características de seu monoteísmo ariano. “Apesar de que na França, especialmente a cosmologia de Newton, embora apresentada como deísta por Voltaire, estimulou o ateísmo mecanicista de muitos filósofos.” Deísmo que é descrito no verbete Teísta do Dicionário Filosófico como sendo “um homem firmemente persuadido da existência de um Ente supremo tão bom como poderoso que formou todos os seres (...). O teísta não sabe como Deus castiga, como favorece, como perdoa”.

Assim esse perfil divino encaixa-se perfeitamente na grande máquina que é o universo, este que apenas ele criara e ao qual não interfere e que coloca o ateísmo no campo da irracionalidade, no livro Tratado de metafísica ele diz:
Depois de nos arrastarmos assim, de duvida em duvida, e de conclusão em conclusão, até poder encarar a proposição Existe um Deus como a coisa mais verossímil que os homens possam pensar, e após ter visto que a proposição contraria é uma das mais absurdas, parece natural pesquisar qual a relação entre Deus e nós; ver se Deus estabeleceu leis para os seres pensantes, assim como existem leis mecânicas para os seres materiais”.

E com racionalização da máquina chega-se a racionalização de Deus:
A mais natural e mais perfeita para as capacidades comuns é a de considerar não somente a ordem que existe no universo, mas também o fim com que cada coisa parece relacionar-se. Muitos e grossos livros foram compostos centrados nessa única idéia, e todos os calhamaços juntos contêm apenas este argumento: quando vejo um relógio cujo ponteiro marca as horas, concluo que um ser inteligente arranjou as molas dessa maquina para que o ponteiro marcasse as horas.

Ou seja, “a existência de Deus, portanto, é dado da razão. Já a fé é apenas superstição”. Fé que é base das religiões, esclarecendo, portanto a negação das religiões e a intolerância nelas presente já que;
Com efeito, os mulçumanos acusam de superstição todas as sociedades cristãs e são por elas acusados. Quem julgará esse grande processo? Quem sabe a razão? Mas toda seita pretende ter a razão do seu lado. A decisão será, portanto, pela força, na expectativa de que a razão penetre em número de cabeças bastante grande a ponto de conseguir desarmar a força.

Chegamos assim à outra benesse da razão, a tolerância. Esta que tivera um significado especial para a vida de Voltaire, importância expressa por Reale, pois este dá ao capítulo de Voltaire o título Voltaire e a grande batalha pela tolerância, devido as suas próprias experiências e conhecimentos históricos.
Um acontecimento marcante em sua vida fora o caso Calas – presente em fins da biografia de Voltaire contida neste trabalho – e que o leva a elaborar o Tratado sobre a tolerância onde o capítulo primeiro e segundo tratam diretamente deste caso sendo demonstrada a importância deste acontecimento, para Voltaire, nas primeiras linhas do tratado que diz: “O assassínio de Calas, cometido em Toulouse com o gládio da justiça, a 9 de março de 1762, é um dos mais singulares acontecimentos que a atenção de nossa época e posteridade.”

Essa atenção a qual chama atenção Voltaire é devido ao fato que fora pelo “gládio da justiça” que Calas fora morto pela intolerância religiosa e assim a irracionalidade comum as seitas. Com maestria Voltaire evidencia a singularidade de tal acontecimento:
Esquece-se facilmente a quantidade de mortes em batalhas sem conta, não somente por tratar-se da fatalidade da guerra, mas porque os que morrem pela sorte das armas podiam também dar a morte a seus inimigos, e não morrerem sem se defender. Lá onde o perigo e a vantagem são iguais, o espanto cessa, e a própria piedade diminui; mas, se um pai de família inocente é entregue a mão do erro, da paixão, ou do fanatismo; se o acusado só tem como defesa sua virtude; se os árbitros de sua vida, ao decapitarem-no, apenas correm o risco de se enganar; se podem matar imprudentemente através de uma sentença, então o clamor público se levanta, cada um teme por si próprio, percebe-se que ninguém esta seguro de sua vida diante de um tribunal erigido para zelar pela vida dos cidadãos, e todas as vozes se juntam para pedir vingança. Trata-se nesse estranho caso, de religião, de suicídio, de parricídio”.

E Voltaire vai além retratando a tolerância e a intolerância desde as lendas, pelos romanos passando ainda por Jesus, gregos e chegando finalmente a tolerância universal, capítulo XXII onde diz:
Não é preciso uma grande arte da eloqüência rebuscada, para provar que os cristãos devem tolerar-se uns aos outros. Vou mais longe: afirmo que é preciso considerar todos os homens como nossos irmãos. O quê! O turco, meu irmão! O chinês? O judeu? O siamês? Sim, certamente; porventura não somos todos filhos do mesmo Pai e criaturas do mesmo Deus?

E ainda tal fragmento nos leva a recordar dos pressupostos básicos deístas, sustentados pela razão mecânica newtoniana. E que a falta desta aos da França levara Voltaire dizer:
Quando os homens não têm noções corretas da divindade, as idéias falsas as substituem, assim como nos tempos difíceis trafica-se com moeda ruim, quando não se tem a boa. O pagão deixava de cometer um crime, com medo de ser punido pelos falsos deuses; (...). Onde quer que haja uma sociedade estabelecida, uma religião é necessária: as leis protegem contra os crimes conhecidos, e a religião, contra os crimes secretos. Mas, quando os homens abraçam uma religião pura e santa a superstição torna-se não apenas útil como muito perigosa. Não se deve querer alimentar com bolotas aqueles que Deus digna-se alimentar com pão.


Voltando as Cartas Filosóficas, esta obra suscitou um escândalo devido a última carta a XXV, intitulada Sobre os pensamentos do Sr. Pascal. Tal carta criara tal rebuliço pelo fato de que para Voltaire Pascal era o maior grande apologeta da religião cristã de França. E ainda este quadro fora agravado por Voltaire reconhecer em Pascal “seu grande gênio”.
“Parece-me que o Sr. Pascal escreveu esses Pensamentos para mostrar o homem em num dia odioso. Esse obstina em nos pintar maus e infelizes.” E ainda, Imputa à essência da nossa natureza o que só pertence a alguns homens. Profere com eloqüência o gênero humano.” Assim Voltaire ataca o pessimismo de Pascal, ataca as bases da “religião verdadeira”, ou ainda, para Pascal o cristianismo é a verdadeira religião, porque explica as contradições do ser humano, “a sua miséria e a sua grandeza”.
Voltaire ainda ataca Pascal quando crítica a sua famosa aposta “segundo a qual, como é preciso apostar, então é racional apostar que Deus existe, pois, se se vence, ganhamos tudo, mas, se se perde, não se perde nada”. A crítica fundamenta-se assim “é evidentemente falso dizer: ‘Não apostar que Deus existe, é apostar que ele não existe’; pois aquele que duvida e tenta encontrar uma luz dentro de si com certeza não aposta a favor nem contra. Esse artigo aliás parece um pouco indecente e pueril; essa idéia de jogo, de perdas e ganhos, não convém a gravidade do assunto.”
Com a gravidade do assunto percebe-se que quando da aposta de Pascal ele vai de encontro ao paradigma racional de Voltaire, ou melhor, a mecânica Newtoniana. Pois não é uma certeza racional, mas sim uma aposta. E ainda “diferentemente de Pascal, não pensa que tudo é mau: ‘Por que razão deveríamos ter horror pelo nosso ser? A nossa experiência não é assim tão infeliz como gostariam de nos fazer crer. Considerar o universo como um cárcere e todos os homens como criminosos a espera de serem justiçados é uma idéia de fanático.’”

Contrapõe-se a idéia do pessimismo de Pascal o otimismo de Leibniz, este que, segundo Voltaire, “era o mais profundo metafísico da Alemanha”. A filosofia de Leibniz, uma filosofia centrada no “melhor dos mundos possíveis”, fora combatida por Voltaire através de seu livro Cândido ou o otimismo que perpassa pelo relato “tragicômico” a insensatez das “justificativas as tragédias humanas” apresentadas pelo personagem Panlgoss, representando Leibniz, ao seu discípulo Cândido, sempre justificativas tolas, que de nada valem para o entendimento das mazelas que se acentuam durante a obra. Por fim, eles chegam a um sábio mulçumano, “que não se interessa por política, não discute sobre a harmonia preestabelecida nem se imiscui nas coisas dos outros. Diz o sábio turco: ‘Tenho apenas vinte alqueires, que cultivo com meus filhos. O trabalho afasta de nós três grandes males: o tédio, o vício e a necessidade.’” E assim conclui um dos viajantes: “Trabalhemos sem discutir: esse é o único modo de tornar a vida suportável”

Assim Voltaire trata este mundo não como “o melhor dos mundos possíveis” e também não vê o homem como sendo possuidor de uma “essência miserável”, mas enxerga que “precisamos enfrentar nossos problemas, para que este mundo possa melhorar gradualmente ou, pelo menos, não se torne pior.”
Por fim, trato do ataque ao seu conterrâneo Descartes, pois como Leibniz afirmava “Eu costumo chamar os escritos de Descartes de ‘vestíbulo da verdadeira filosofia’”. Assim a opinião de Voltaire, no mínimo seria de oposição a de Leibniz.
Descartes, criador da teoria mecanicista, ou ainda da que “o mundo é máquina” e assim que “o universo é simples, lógico e coerente” E ainda com ele a matemática eleva-se a um novo patamar onde ela “não é só a ciência das relações entre os números, mas também o próprio modelo da realidade física.” Mas Descartes não conseguira em muitos casos sair do campo das hipóteses, talvez daí o repúdio de Newton com a sua frase, contida no Philosophiae naturalis principia mathematica, “não invento hipóteses”. Já Newton conseguira ser Newton por ter a capacidade de comprovar matematicamente as suas hipóteses. E este feito foi o que mais distanciou em qualidade os seus feitos e pensamentos dos eternos paradigmas gregos.

“Em Paris, vemos o universo composto de turbilhões de matéria sutil; em Londres não vemos nada disso.” Assim Voltaire demonstra de maneira clara e genial um dos principais pontos de contraste entre a filosofia cartesiana e a física newtoniana.
Esses turbilhões de matéria sutil foram à explicação mecanicista de Descartes para a máquina, que seria o universo, que ele idealizara. Já Newton comprovara matematicamente as ações “simples e uniformes” de tal. Conseqüentemente a discussão caminha para Deus.

Para Descartes as idéias dividem-se em dois tipos as idéias inatas, que nascem em conjunto com a nossa consciência e as idéias fictícias, ou construídas por nós.
Deus, segundo Descartes, seria uma idéia inata, ou seja, uma idéia intrínseca ao homem, segundo o próprio: “substância infinita, eterna, imutável, independente e onisciente, da qual eu próprio e todas as coisas que existem foram criados e produzidos.”

Já para Voltaire: “É claro que nunca se deve levantar hipóteses; nunca dizer: Começamos por inventar princípios com os quais trataremos de explicar tudo. Mas é preciso dizer: Façamos a análise exata das coisas e em seguida trataremos de ver com muita desconfiança se se relacionam com algum princípios.” Ao analisarmos este trecho é notório que o pensamento das idéias inatas se confronta diretamente com as “regras do raciocínio filosófico” newtoniano, ou seja, contra principalmente o não uso das hipóteses já que Descartes começa por “inventar princípios com os quais trataremos de explicar tudo”. Continua Voltaire, “os que fizeram o romance das idéias inatas se vangloriaram de dar explicação das idéias do infinito, da imensidão de Deus e de algumas noções metafísicas que supunham ser comum a todos os homens.”

Conseqüentemente a própria idéia de Deus, que fundamenta o deísmo de Voltaire, entra em choque com essa idéia do Deus advindo das idéias inatas. Pois o deísmo de Voltaire necessita da razão matemática contida nos sistemas newtonianos, então superior a uma quase superstição de Descartes.
Por fim, “Que todas as Idéias Vêm pelos Sentidos”. E além do sugestivo título, do capítulo terceiro do Tratado de metafísica, findo deixando o próprio Voltaire falar.
Quem quer que submeta tudo o que passou em seu entendimento a uma avaliação fiel admitirá sem dificuldade que seus sentidos lhe forneceram todas as idéias. E, no entanto, os filósofos que abusaram de sua razão pretenderam afirmar que tínhamos idéias inatas. (...) Formaram sistemas com os quais se vangloriavam de poder ariscar qualquer explicação parente dos fenômenos da natureza. Essa maneira de filosofar é ainda mais perigosa do que o jargão desprezível da escola.







Conclusão

A natureza e suas leis jaziam envoltas em trevas; Disse Deus, faça-se Newton! E tudo clareou. Não há como negar a beleza do epitáfio de Newton. Mas também não há de se negar a importância de Voltaire, será que ele esta atualmente, na frente de seu desafeto Rousseau, no panteão de Paris à toa?
Assim como o frontispício do Elémens de la philosophie de Neuton (1738), Newton iluminara Voltaire e isso é inegável, mas este não estendeu essa luz a tantos. Como nas palavras de Chauí ele tem “o dom de apaixonar o leitor, fazê-lo compreender as idéias mais complexas e converte-lo as suas opiniões.” E assim pergunto do que vale um Deus sem um emissário? Ele defendera o sistema newtoniano mais até do que o próprio Newton, pois sabia que o descobrira era genial e poderia mudar a história de sua França.

Newton, apesar de ter ficado tantas horas debruçado e decodificando as profecias, tanto de Daniel quanto de Apocalipse, não viu o que o seu discípulo e divulgador ajudara a criar. Pois o apocalipse se realizou, não como previra por volta dos séculos XX ou XXI, mas em um período mais próximo a ele, exatamente 1789, pois como Hobsbawn diz: “A Revolução Francesa foi a única ecumênica. Seus exércitos partiram para revolucionar o mundo; suas idéias de fato o revolucionaram.”
Por fim, para demonstrar que o grande Newton também tivera um grande divulgador, e que também o ajudou a ter sido tão absoluto na Europa. Friedrich Nietzsche, um personagem também muito importante e não menos complicado, o elogia quando diz: “Foi ele o último grande escritor que, ao manejar a língua da prosa, teve o ouvido de grego, a consciência artística de grego, a simplicidade e a graça de grego.”







Bibliografia

CASINI, Paolo. Newton e a consciência européia. São Paulo: UNESP, 1995.
DURANT, Will. A era de Luis XIV. 2ª ed. Rio de Janeiro: Record, 1994.
HAWKING, Stephen. W. Os gênios da ciência: sobre o ombro de gigantes. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
REALE, Giovanni. História da filosofia: Do Humanismo a Kant. 6ª ed. São Paulo: Paulus, 2003.
ROSSI, Paolo. O nascimento da ciência moderna na Europa. Bauru, SP: EDUSC, 2001.
VOLTAIRE. Cândido ou o otimismo. São Paulo: Martin Claret, 2004.
______. Cartas Filosóficas. São Paulo: Landy, 2001.
______. Dicionário filosófico. Apud Os pensadores: Voltaire. 2ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
______. O filósofo ignorante. Apud Os pensadores: Voltaire. 2ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
______. Tratado de metafísica. Apud Os pensadores: Voltaire. 2ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
______. Tratado sobre a tolerância. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

TEATRO EUROPEU NA IDADE MODERNA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
HISTÓRIA MODERNA II
PROFESSOR: SEVERINO VICENTE DA SILVA










TEATRO EUROPEU NA IDADE MODERNA






ALUNOS: DEYVIDSON THIAGO LUCAS
JULIANA REBECA ALVES
KARLA DANNIELE
MIGUEL FREITAS
RAISSA ALVES C. PAZ


RECIFE, NOVEMBRO DE 2008.


TEATRO EUROPEU NA IDADE MODERNA


As origens do Teatro da Renascença

Para John Gassner o teatro que se apresenta na época do Renascimento, ou seja, em início do século XVI, é de transição. Ao afirmar isso ele tenta expôr a característica essencial desse teatro: a recuperação dos clássicos. Supõe não haver uma atividade criativa, apenas a montagem sem nenhuma "novidade" dos "grandes" textos de seus anteriores: gregos e romanos. E continua: "durante anos a tarefa de editar e traduzir a dramaturgia grega absorve as energias dos eruditos e poetas ao ponto de excluir o trabalho genuinamente criativo", John Gassner. Nesse contexto a Itália é a precursora.
A tradição de uma atividade intelectual e artística na Itália é vista principalmente pela pintura, como Michelangelo e Da Vinci, sabendo-se que este último também era figura relevante em projetos vários. Entretanto, no que se refere a criatividade fala-se muito da herança clássica, a retomada de uma cultura superior, de povos que entendiam o homem como ser principal e central nas diversas relações do mundo. Ou seja, o ser pensante e seu pensamento eram as questões centrais na época dos renascentistas e dos humanistas.
A tragédia é majoritariamente o gênero representado no teatro dito humanista. Seu caráter é tido por pagão e de representações que coloca o homem, seus sentidos e sentimentos e sua ânsia como discussão principal. São encenados os amores, as paixões, as dúvidas e o sofrimento do homem. Por tal caráter, e outros também, há a oposição da igreja pela atividade teatral. Por tragédia Hermilo Borba Filho diz que "entendiam aquela que é feita segundo a verdadeira arte e modelo dos antigos, como Sófocles Eurípedes e Sêneca". A inserção de sátira e crítica social não é a proposta destas montagens, visto que eram representadas para uma elite, inclusive a corte.
Na perspectiva do teatro na Renascença John Gassner propõe a reflexão de três importantes figuras: Ariosto, Aretino e Maquiavel. Esses faziam de suas peças um veículo para retratar a sociedade em que viviam, utilizando-se, sobretudo da comédia para satirizar e denunciar os costumes e hábitos de seus contemporâneos. Gassner ao falar de Ludovico Ariosto ressalta: "Esse poeta elegante e bem nascido olhava argutamente para os costumes do momento. Tomando como moldura as comédias dos romanos, foi capaz de inserir nelas a carne palpitante da Renascença italiana".
Pietro Arestino igualmente denunciava as posturas dos homens de sua sociedade mas também fazia alvo de seus comentários os próprios príncipes e desmascarava a corrupção vigente. Assim como Arestino tinha uma vida social em meio à aristocracia Maquiavel também fora funcionário do governo e o escritor da "cartilha" dos príncipes e nem por isso deixou de compor duas célebres peças para satirizar a sociedade da época: Clizia e La Mandrágola. Essas duas peças tinham como pano de fundo a ascendente burguesia.

Teatro Popular e Commédia Dell'Arte

As manifestações teatrais de domínio popular iniciaram-se, de acordo com Peter Burke, com formas tidas como "semi-teatrais". Seus espaços de atuação eram as grandes feiras, os mercados e as igrejas. No gênero prosa Peter Burke destaca três tipos básicos: as realizadas apenas com uma pessoa, na maioria estórias e sermões; as com duas, em forma de diálogo ou discussão, normalmente era o encontro de dois opostos como, por exemplo, o carnaval e a quaresma; e, por ultimo, com três ou mais pessoas, mas não ultrapassando geralmente mais de dez ou doze integrantes, através de um ato encenando um curto enredo.
Entre as peças que tinham a grande população, como público, estão as peças religiosas. Nestas destaca-se duas espécies: o mistério, com temas retirados da Bíblia, e o milagre, relatando a vida dos santos. A moral era tema desses dois tipos de encenação, apesar de não ser sua propaganda principal, ou seja, as pessoas não eram atraídas para escutar uma lição de moral, mas inevitavelmente eram alvos dos "conselhos" e das lições dos religiosos. Entretanto, nesse mesmo cenário, realizadas por outros, mas provavelmente para o mesmo público, havia as "paródias" sob os temas religiosos. Seus artistas modificavam rezas para ridicularizar a hipocrisia das ações e das palavras dos religiosos.
Considerada como desenvolvimento de uma farsa, percebe-se surgir o mais influente e duradouro movimento de encenação: a Commédia Dell'Arte.
Esse movimento foi introduzido em diversas trupes européias. Seu surgimento data da primeira metade do século XVI, na Itália. Sua origem, como foi dita, está nas farsas de tipo mambembe, ou seja, grupos que se deslocavam grande parte do continente europeu para se apresentarem.
É no contexto da Commédia Dell'Arte que vemos surgir uma nova concepção do ator. Ele apresenta-se, então, como um profissional, que se dedica exclusivamente para sua carreira de encenador. Há também nesse momento a inserção da mulher como atriz, pois até então eram censuradas, e, mesmo nessa época, a maioria das outras regiões da Europa proibiam sua participação.
As trupes que seguram o estilo desta comédia utilizavam basicamente de uma única forma de desenrolar da narrativa: havia o problema principal, que era os empecilhos para a união de um casal de amantes, e, entre essa trama aparecia as diversas outras personagens. Então, o corpo de personagens se dispunha assim: os amantes, os zanni, o velho e o capitão.
Os zanni eram os criados, a origem do nome para alguns estudiosos é a abreviação de Giovanni, e normalmente se metiam em confusão e faziam também a confusão da trama. Entre os zanni se destacam até hoje as figuras de Arlecchim e Colombina. O velho normalmente era o pai ou o pretendente rejeitado da amante, caracterizava pessoas avarentas, meio para retratar a burguesia ascendente e/ou a nobreza enfraquecida. O capitão era um metido a valentão, mas que na hora do verdadeiro perigo não se atrevia a enfrentá-lo, era uma associação ao soldado espanhol, "desbravador da América".
Exceto os amantes, todas as personagens se utilizavam de máscara. Esse recurso foi uma herança da tradição do carnaval, e era o meio de estereotipar os indivíduos da sociedade em que viviam. Dessa forma faziam uma crítica a seus contemporâneos.
A técnica desse teatro era muito simples, era regida basicamente por um estilo único: um romance e suas possíveis confusões. Os atores possuíam papel fixo pelo resto da vida e improvisavam suas falas, eram dirigidos apenas por roteiros que indicavam as entradas e saídas. Entre uma cena e outra, outro recurso inovador foi a utilização de lazzi, ou seja, música, dança, ou qualquer outro efeito que não quebrasse a continuidade da peça. Todos os efeitos de cena eram feitos pelos próprios atores, que, entre outras necessidades, como, recursos financeiros, faziam um pouco de tudo para por a peça ao público.
No contexto em que nasceu a Commédia Dell'Arte, ou Commédia Itallienne, devido a sua origem, a Itália era uma região muito fragmentada, assim pois, sua população se divergia muito. Inúmeros eram os dialetos e sotaques próprios de lugar para lugar. Devido a tal caráter singular, os artistas do povo de utilizavam de diversos recursos para a encenação, ou seja, não ficavam presos a palavra, como a tragédia da corte se fazia. Esse ponto é elementar para verificarmos mais uma das influências que ficaram até hoje. Músicas, mímicas e cenários são exemplos claros. Os palcos rapidamente improvisados se faziam de acordo com a disposição de cada trupe e de cada região que se encontravam.
Apesar de seu caráter extremamente popular, como diz o próprio John Gassner: "diversão produzida para as massas", o estilo da Commédia Dell'Arte chegou mesmo à corte. Alguns príncipes dispunham de uma trupe em sua própria corte, e os atores destas eram funcionários reais. O próprio Molière, importante dramaturgo francês, que tem seu nome e sua forma de fazer teatro lembrada até hoje, foi fortemente influenciado por tal movimento.
O termo Commédia Dell'Arte foi empregado pelo dramaturgo Carlo Goldoni, já no século XVIII. Esse diretor de uma trupe em moldes da tal comédia foi o responsável pela inovação, e, conseqüentemente, modificação, do estilo singular da improvisação e da concepção das personagens. Suas peças eram redigidas e suas personagens se faziam de uma individualidade rica. Devido a esse novo caráter muitos estudiosos deizem ter sido ele o responsável pelo declínio do estilo da Commédia Dell'Arte. Entretanto não podemos esquecer que todos movimentos, seja ele de qualquer caráter, está sujeito às trnasformações do tempo e do espaço. O estilo próprio da comédia que surgiu na Itália no século XVI, portanto, não morreu, apenas se introduziu nas diversas formas atuais e mundiais de encenação.

O Teatro Francês e Molière

Para a compreensão e análise da dinâmica na produção teatral francesa do século XVIII, dita clássica e dramática, se faz necessário uma passagem pela possibilidade da tragédia, e também a construção da comedia além de analisar algumas das relações possíveis dentro de uma casa de espetáculos.
As produções na França em um primeiro momento apresentavam uma tragédia de inspiração protestante, já no período da renascença é exposta uma tragédia que entendiam segundo a “verdadeira arte e modelo dos antigos, como Sófocles, Eurípides e Sêneca ”, como foi dito. Com o destaque de nomes como o nobre Corneille e posteriormente o burguês Racine.
Uma importante inovação deste período foi o aparecimento do “Hotel de Borgonha”, primeira companhia profissional e também o primeiro teatro regular francês, “era um local comprido e estreito, com um balcão e uma arquibancada de madeira onde os espectadores de melhor situação social sentavam, os outros permaneciam de pé” , as características resignificavam as apresentações de ruas ou das feiras.
Para continuar esta análise tomaremos como lente a pessoa e a produção de Jean Baptista Poguellin, nascido em 1622, filho de um importante fornecedor de tapetes para casa real, que estudou no colégio jesuíta de Clermont, formou-se em direito, porém dedicou sua vida ao teatro: foi ator, autor, e diretor, formou e edificou companhias e troupes, escolheu como pseudônimo e ficou conhecido como Molière.
Como fruto de uma aliança entre Molière e família Bèjart surge o L’illustre Théâtre, companhia itinerante, caravana que excursionou pela França durante treze anos, até a bancarrota e o grande endividamento levando Molière a prisão. As peças apresentadas eram curtas tragédias, sem grandes criticas e com forte influência da produção italiana.
Surge, então, a grande oportunidade de apresentar Nicomède, texto de Corneille, para o Rei Luis XIV, cena exposta na sala de aula através do filme , que mostra a dificuldade de adaptação em um primeiro momento ao levar um marco das feiras e ruas para dentro de uma casa especifica e adaptá-la para a corte.
Esta corte não se agrada, em um primeiro momento, por esta dita tragédia e Molière, então, inova ao criar ou reestruturar elementos da Commédia Dell’Arte e tornar possível a comédia como uma crítica a virtude, moral, fé e civilidade, enfim, aos elementos da sociedade.
A Troupe Mousier, companhia oficial, patrocinada pelo Rei, possui sua casa de espetáculo e tem uma licitação oficial, ao contrario das companhias itinerantes, que ganham à ilegalidade e buscam outras possibilidades para não deixarem de existir, gerando o surgimento de algumas praticas como as circenses e o teatro de mamulengos e de bonecos, tentando burlar as leis e não deixar de existir.
Dentro das “Casas de espetáculo” já existe licenças e apresentações de dança e ópera. Um dos grandes nomes da ópera seria Lully, este se junta a Molière, que sempre inova a linguagem, traz diversas temáticas para o teatro e cria a commédia – ballet.
Molière também é personagem de polêmica. É interessante destacar a importância do teatro veículo de informação e canal do Rei e do Estado, estas companhias só funcionavam com licenças oficias e com o patrocínio de nobres, mas principalmente o estado, e as peças passavam pelo crivo da censura como o caso de “Tartufo”, produção de Molière, que só pôde ser exibida após a morte da Rainha.
Molière termina sua vida atuando; produz “O Doente Imaginário”, obra que questiona e relaciona as inovações da medicina e as práticas associadas a ela. Nesta obra por vezes coloca a medicina como um ritual, por vezes ciências, por ora arte, e também como simples conjunto de práticas. Escreve esta obra em meio a avanços e descobertas da ciência, relacionando estes a um fato de sua vida: a tuberculose adquirida pelo autor que sofre e padece pela patologia até a última apresentação quando, ao interpretar o Doente Imaginário, tem uma crise no palco que é confundida com um dos atos da peça. Ao chegar em casa morre as “dez horas” do dia 17 de janeiro de 1673.

Teatro Inglês

O período que seguirá essa discussão sobre o teatro inglês é o momento em que a Rainha Elisabete I reina sobre a Inglaterra, ou seja, período elisabetano.
A influência que a Inglaterra sofreu pelas peças italianas não foi um caso a parte de toda Europa, afinal, foi na Itália que o teatro ganhou vida e teve um desenvolvimento que atingiu todo o continente.
A Inglaterra inicia um processo de produção de uma arte nacional, onde os dramas outrora representados na Grécia ou Itália ganhavam versões inglesas, porém não construíram “raízes na Inglaterra” .
A crítica lançada aos teatros eram demasiadamente ferrenhas, pois, como exemplifica Will Durant, ao mesmo tempo que tocavam os clarins para os teatros eram tocados os sinos da igreja, contudo os teatros eram cheios e as igrejas vazias. Com essa realidade, centenas de leis tentavam controlar as infestações “diabólicas”, segundo a igreja, que o teatro trazia para aquele mundo protestante.
“James Burbage construiu o primeiro teatro permanente da Inglaterra” . Antes dele as representações teatrais eram feitas em uma plataforma no meio das praças ou ruas. Um ponto interessante do Sr. Burbage, segundo Durant, foi a localização de seu teatro, pois ele o montou fora da cidade para fugir da jurisdição de Londres, onde a dominação puritana não estava abrindo espaço para efetivar as atividades do teatro.
Vale salientar, também, que todos os teatros até 1623 eram construídos com madeira e que “a maioria deles era um grande anfiteatro, com capacidade para dois mil espectadores sentados em várias fileiras de galerias circundantes, e outros mil em pé no pátio em torno do palco” , quer dizer que esses teatros possuíam uma grande receptividade da população inglesa da época até mesmo da rainha.
Porém quem fazia parte do público desses teatros? Pessoas simples e nobres compartilhavam a mesma estrutura do teatro. A versão agora que se explicava a essa situação, estava relacionada a quem possuísse dinheiro, pois era a partir desse ponto (aquele que pudesse comprar ingresso) que se podia assistir a apresentação, independente da condição social.
Os atores desse período ao mesmo tempo em que sofriam dos maus salários, pois a companhia era paga pelas suas apresentações, salvo aquelas que eram em número muito restrito, patrocinadas por nobres, gozavam da idolatria do público e de uma coleção de amantes. É importante informar que as mulheres eram proibidas de representarem, em alguns casos, até de assistirem ao espetáculo, pois a casa da apresentação era considerada como uma espécie de prostíbulo, e, a moral da igreja puritana não permitia essa participação feminina. Não apenas as vontades dela – a igreja –, mas também a do Estado.
A construção do teatro inglês se desenvolve a passos gradativos, nos quais são encontrado em Shakespeare um salto imenso que distingue-o não somente como autor, mas também criador de um novo mundo, proporcionando nos poucos momentos das suas peças uma saída da realidade que atingia não apenas meros mortais, como camponeses, pequenos mercadores, burguês, mas também a fidalgos, marqueses, condes e até mesmo a representação máxima do Estado, a rainha.

Biografia de Shakespeare

Nasceu em 23 de abril de 1564 na cidade de Stratford-on-Avon, Inglaterra, o maior dramaturgo que a literatura universal conheceu: Willian Shakespeare. Vindo de uma família relativamente abastada, teve uma educação provinciana, afinal sua cidade natal não era a capital do estado que estava em vias de afirmação, Londres, e aos 18 casou-se com Anne Hathaway, a qual concebeu três filhos. Provavelmente em 1587, quando uma companhia de teatro se apresenta em Strattford, Shakespeare se muda para Londres, e lá inicia sua vida como autor teatral.
Sua estréia como dramaturgo remete ao ano de 1592 com a peça Henrique VI, mas alguns pesquisadores dizem que sua contribuição ao teatro remete a alguns anos antes.
Shakespeare contemplou demasiadamente sua obra de textos dramáticos. Onde a tragédia sempre foi bem vinda, até por que essa era mais quista que a comédia, outra linha que o autor também escreve suas peças, principalmente ao público da corte.
Ainda, sobre a ótica dos pesquisadores e críticos de Shakespeare, sua obra é dividida em três momentos : a Primeira fase, a Maturidade e os Últimos Anos.
No primeiro momento da obra de Shakespeare é dado início ao ciclo de obras sobre a história da Inglaterra, com sua obra de estréia encandeia uma série de outras obras que refletem sobre os grandes reis ingleses. É desse momento também o início de suas comédias (A comédia do erro), o ciclo de tragédias romanas, como também sua maior tragédia, Romeu e Julieta. É importante salientar que esse primeiro momento de sua produção compreende ao intervalo de 1592, com a estréia de Henrique VI, até 1600.
No segundo momento, que compreende os anos de 1600 a 1608, é tido como o período da Maturidade, onde as peças do dramaturgo atingem “uma visão fundamentalmente pessimista e amarga da existência e a profundidade no tratamento das paixões, conflitos e contradições da natureza humana” . É desse período obras de cunho exageradamente trágico e de grande profundidade psicológica, tais como: Macabeth, Hamlet, Otelo e Rei Lear. E, se assim pode dizer, contemplou ainda mais com peças sobre a história da Inglaterra.
O terceiro e último momento de sua produção artística é nomeado por “Últimos Anos”, onde é caracterizado pelo retorno de Shakespeare para sua terra natal, no ano de 1610. Suas peças nesse momento são caracterizadas pela atividade e criatividade expressada pelo dramaturgo, tal como A Tempestade que é uma peça diferenciada das demais, onde a ação é o tema central e os artifícios utilizados produzem dinamicidade a toda trama.
Ironicamente Shakespeare morre no dia 23 de abril de 1616, dia de seu aniversário. Depois de alguns anos dois “amigos” do autor reúnem suas possíveis obras e publicam em um volume único. Graças a esse esforço, suas obras são retomadas com grande efervescência na época do Romantismo, onde ela não aparece apenas como “um” exemplo, mas sim como “o” exemplo a ser seguido e referenciado.

Goethe e o Teatro Alemão

Johann Wolfgang Von Goethe (1749-1832) é um dos grandes expoentes do Romantismo, movimento que se caracterizava, dentre outras coisas, pelo impulso a expressão das emoções e individualidades do indivíduo objetivando, ao mesmo tempo, a crítica e a fuga com relação à difícil e áspera realidade humana, permeada pela rede de convenções sociais compreendida pela difícil tarefa de lidar com o outro e consigo mesmo, já que, a própria fuga já traz consigo o próprio caráter de crítica, pois, compreende uma não aceitação a respeito daquilo que se está vivendo por meio do poder da imaginação na criação de mundos interiores.
É diante desse panorama que Goethe constrói por meio de suas obras mundos/situações que convergiam para o novo/imaginário mantendo, para tanto, uma relação bastante peculiar com a realidade, através de reflexões a cerca da existência, fruto da amálgama de tensões, conflitos e buscas definidoras da angústia humana ao longo dos tempos.
Goethe teve uma juventude bombardeada por momentos bastante conturbados, adentrando num estado depressivo causado por frustrações em paixões não correspondidas, problemas de saúde e em inconstâncias nos estudos. Diante disto, vê-se que o jovem Goethe possui a sua fiel representação no Fausto (que viria a ser tornar o seu personagem mais famoso na obra homônima), pois, tanto no criador como na criatura a situação e o sentimento de falta e constante dívida com o mundo mostra-se sufocantemente presentes.
Tempos depois, é devido a sua paixão pela filha de um pastor protestante chamada Friederika Brion que Goethe tem a inspiraçãopara criar a Gretchen do Fausto.
Em outro momento de sua vida o dramaturgo alemão novamente é acometido por um sentimento amoroso, agora pela noiva de um amigo, tal situação leva-o a ter a idéia fixa do suicídio (tanto que ele dormia com uma adaga ao seu lado); é deste difícil momento de sua vida que Goethe escreve a melancólica estória Os Sofrimentos do jovem Werther (1774), considerada a “Bíblia da Escola Romântica”.
A respeito da peça Fausto, Goethe expressa de forma magistral o típico homem da modernidade, pois, simboliza a busca incessante do indivíduo moderno por cada vez mais conhecimento a respeito do mundo/realidade. Contudo, a busca pelo sentido na vida na obra mostra-se de duas maneiras: num primeiro momento da vida de Fausto por meio do conhecimento totalizante e ilimitado da realidade que o acaba frustrando; no segundo momento, com a desilusão gerada pela impossibilidade de se almejar o conhecimento pleno e a falta de sentido e realização na sua existência, Fausto se vê numa busca desesperada pelo prazer na vida, chegando ao ponto de fazer um pacto com o sombrio Mefistófeles, representação de um demônio.
Na primeira parte da peça, Mefistófeles pede permissão a Deus para tentar Fausto, é neste encontro que Deus fala: “O homem erra enquanto busca”, tal trecho emite signos a respeito da insaciável angústia humana na errática busca pela realização plena, da completude e auto-suficiência do ser enquanto tal.
Com isso, Goethe constrói na peça a nebulosa e misteriosa cena do pacto de sangue (de natureza medieval) e o compromisso de Mefistófeles em levar Fausto a desfrutar da satisfação e prazer na vida, em troca da posse de sua alma. Tomado pela expectativa em viver o momento de realização e ao mesmo tempo ciente do futuro trágico Fausto diz:

“Quando for assim, saudarei o momento que passa: “Ah, fica mais um pouco-És tão magnífico”!”
E então aprisiona-me em tuas algemas imortais, e minha ruína final declara então!”

A peça Fausto foi encenada com considerável receptividade pelo público na Europa, na sua encenação o personagem Fausto mostra-se como uma das mais peculiares figuras do teatro, externando avassaladora expressividade no palco.
Contudo, Goethe assim como seus personagens emana o que de mais fantástico há no Romantismo no que se refere ao relato do homem como uma criatura que consciente das suas limitações não se cansa de buscar o pleno sentimento do viver. Ou nas suas próprias palavras: “Se desejas atingir o infinito, atravessas o finito por todos os lados”.

Bibliografia Consultada

BERTHOLD, Margot. História Mundial do teatro. Trad. Maria Paula Zurawski, J. Guinsburg, Sérgio Coelho e Clóvis Garcia. 2ª edição, Editora Perspectiva. SP: 2004.
BORBA FILHO, Hermilo. História do Espetáculo. Coleção Pontos Cardeais. Vol. 2, Edições O Cruzeiro. RJ:1968.
DURANT, Will e Ariel. A História da Civilização. Começa a Idade da Razão. Trad. Mamede de Souza Freitas. 2ª edição, v. 7, Editora Record. RJ: 1961.
GASSNER, John. Mestres do Teatro I. Coleção Estudos. 3ª edição, Editora Pespectiva. SP: 1997.
MOLIÈRE. O Doente Imaginário. Trad. Daniel Fresnot.Coleção Obra Prima de Cada Autor. Editora Martin Claret. SP: 2003.
SHAKESPEARE, William. Júlio César. Trad. Carlos Alberto Nunes. Coleção a Obra Prima de Cada Autor. Editora Martin Claret.SP: 2007.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

TEXTOS IMPRESSOS E PRÁTICAS DE LEITURA NA EUROPA MODERNA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTORIA





TEXTOS IMPRESSOS E PRÁTICAS DE LEITURA
NA EUROPA MODERNA




Israel Ozanam
Laércio Dantas
Raimundo Fábio
Tássia Brandão








RECIFE
2008






Trabalho apresentado na disciplina História moderna II, ministrada pelo professor Severino Vicente da Silva, como parte dos exercícios propostos para obtenção da média semestral.







Sumário

1. Introdução..................4
2. O acesso a escrita e a leitura na idade moderna.........5
3. Práticas literárias e de leituras.......................6
3.1. “Progresso” Medieval..............................6
3.2. Leituras e literatura na era Clássica.............7
3.3. Literatura erótica................................9
3.4. Nova função da Literatura Romanesca...............9
4. Os impressos e as modalidades de leituras a partir do Prólogo da Celestina, de 1507......................................................10
5. A literatura de cordel..................................11
6. Práticas e representações das leituras camponesas em França no século XVIII......................................................13
7. O povo e a Palavra Impressa..............................15
8. O Universo da literatura clandestina no século XVIII.....19
8.1. Mercado literário ilícito..............................21
8.2. Ciclos do mercado literário ilícito....................21
9. conclusão........................................................................
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................25





















1. INTRODUÇÃO

Neste trabalho temos por interesse traçar uma visão das práticas de leitura e suas bases materiais na França moderna, entendendo que algumas dessas práticas podem ser encontradas fora da França, mas nosso estudo é, sobretudo, baseado nos franceses. Não podia ser diferente devido as fontes usadas nesta pesquisa que, em sua maioria, são constituídas por autores da nova história cultural, e que os principais autores utilizados, Roger Chartier, Robert Darnton e Natalie Zemon Davis, tem um gosto especial pela França moderna.

Quem se interessar em ler esse trabalho, constatará que traçamos um perfil das várias práticas de leitura no decorrer da era moderna, e também das condições materiais, ou intelectuais, que fazem parte dessas práticas. Dessa forma, não esquecemos da “margem”, ou seja, dos protagonistas anônimos da história, parafraseando Ronaldo Vainfas, os camponeses, suas práticas de leitura, assim como as modificações desta, se fazem presente com a intervenção dos estudos de Chartier e Natalie Davis, principalmente desta última. Por fim, a literatura clandestina na França pré-revolução é a última parte de nossa empreitada, uma época onde, através de artimanhas e expedientes diversos, tanto editores quanto livreiros procuram uma maneira de obter lucros num capitalismo ainda incipiente, mas suficientemente forte para trazer ao mercado literário a “ideologia” do lucro.
Esperamos de alguma forma contribuir para aumentar o conhecimento pretendido sobre a Europa Moderna e lhes dar uma leitura agradável sobre os temas propostos. Desejamos uma boa leitura a todos.






2. O ACESSO A ESCRITA E A LEITURA NA IDADE MODERNA.

De uma maneira geral, embora variável de região para região, segundo Chartier, a Europa da Era Moderna experimenta uma fase de maior alfabetização, embora afirme que não se possa fazer uma correlação imediata entre o crescimento do número de pessoas que sabem assinar seu nome a partir do século XVI, que são as fontes utilizadas na sua pesquisa, e o número daqueles que realmente sabem ler. Nem que esse progresso tenha sido linear e contínuo, contudo afirma que isso significou uma maior difusão e maior acesso a produção da escrita, nas sociedades ocidentais, entre os séculos XVI e XVII.
O acesso à escrita, assim, se mostra crescente, mas também de forma desigual. A primeira desigualdade é entre homens e mulheres. Em todas as regiões analisadas pelo autor, se afirma que há uma predominância, um maior percentual entre 25% e 30%, dos homens em relação às mulheres. Essa análise, ressalta Chartier, não deve ser levada a termos exatos, para uma comparação em relação ao hábito da leitura. Pois em geral o ensino nas Escolas de Mulheres, instituições antigas incluíam a aprendizagem da leitura, mas não necessariamente a da escrita.
A segunda desigualdade apresenta-se entre os ofícios e as condições sociais. Os clérigos, os gentis-homens e os grandes comerciantes, em geral têm um maior conhecimento da escrita, se comparados aos artífices ( ourives, celeiros, fabricantes de tecidos), ou lavradores. A relação entre comerciantes e aldeões, estão numa relação onde apenas 30% ou 40% sabem assinar o próprio nome. Nas cidades a hierarquia das profissões também representa motivos de variação, do acesso a escrita; mas segundo Chartier, nas áreas urbanas o progresso apresenta um avanço maior que nas áreas rurais.
A dispersão espacial da escrita concentra-se, principalmente, na parte Norte/Noroeste da Europa. Segundo as próprias modificações históricas de cada Estado. Aqueles onde foi empreendida a Reforma Religiosa, com a instituição de uma Igreja subordinada ao Estado, como na Inglaterra; verificou-se uma maior difusão tanto da leitura como da escrita, uma verdadeira campanha de alfabetização. Segundo Chartier “para que todos os fiéis pudessem aprender a ler e ver com seus próprios olhos o que Deus ordena e comanda através de sua Palavra sagrada”.
As religiões desempenham um papel que vão além de compreensões diferentes de mundo, também são reguladoras de acesso ao livro. Segundo Chartier, há uma predominância de uma maior propriedade de livros entre protestantes do que entre católicos. Nas suas bibliotecas quase sempre, embora em pequena quantidade, havia livros profanos, assim entendidos o que não fosse a Bíblia, alguns livros de cantos religiosos e outros poucos. Pois havia uma idéia de ler, no medievo, um tanto restrita, “ler significa retomar sempre os mesmo livros, poucos numerosos além da Bíblia e transmitidos de geração a geração[...]. Ler numerosos livros só afasta a meditação. Ler muito constitui uma opressão da mente” (p. 134). Idéia que será modificada na Idade Moderna.
Contudo, Chartier ressalta que não se pode generalizar, nem concluir que a Reforma Religiosa foi responsável, em todo lugar, para difundir a obrigação do fiel protestante de praticar uma leitura generalizada. Ao contrário disso, na Alemanha, por exemplo, Lutero em 1520 já pregava uma leitura das escrituras sagradas disciplinada, através da prática do catecismo e da prédica; ministradas pelos pastores.
Assim, a difusão da leitura e o desenvolvimento da alfabetização, que se inicia em uma Europa ainda medieval foi, até os fins do século XVI, privilégio de poucos, como os clérigos ou mesmo um período de obscurantismo, e de fraca alfabetização. Mas a partir do século XVII, depois de um longo tempo de resistência imposta pelo cristianismo em relação à difusão da leitura e da escrita como uma forma de monopolizar o acesso ao conhecimento, as sociedades européias inseriram-se na escrita, segundo Chartier. A partir daí, cai a idéia dos clérigos como intérpretes de Deus, e únicos conhecedores da natureza e do Estado; caem as proibições e limites sobre o acesso ao conhecimento, bem com a idéia da transmissão a um grupo restrito.

3. PRÁTICAS LITERÁRIAS E DE LEITURAS

3.1. “PROGRESSO” MEDIEVAL”

A Idade Medieval é considerada um período onde havia uma predominância das relações públicas entre indivíduos, os ritos comunitários e as redes de relação impunham aos indivíduos várias obrigações sociais para com o outro. Segundo Goulemot a essa imposição opõe-se as práticas das era Clássica. Nesse período a constituição do Estado transforma a sociedade civil, o poder público passa a ter o controle da violência, começa a controlar as pessoas, as produções dos bens e dos signos culturais. Assim, surge um espaço para as práticas mais reservadas que não deveriam se expostas, dentro da lógica civilizadora, dessa forma, esse espaço se torna o refúgio para o indivíduo, é o foro privado e a sua intimidade.
Em contraposição a essa era clássica, a literatura Medieval era praticada e transmitida em geral de forma oral, e possuía um caráter público. Alguns exemplos da literatura Medieval, como as canções de gesta, chansons de toile (contada pelas mulheres enquanto teciam), representam bem essas práticas. A leitura não é, ainda, uma prática íntima ou individual. No seu conteúdo, a temática das obras medievais, segundo Goulemot, está impregnada da defesa da cristandade e pela narração de guerras fratricidas. O grande progresso Medieval na prática de leitura se dá ainda em meados do século XII, pois, a partir dessa época, os monges copistas desenvolveram um tipo de leitura que utiliza apenas os olhos, prática que se tornará costumeira entre os leitores, até se tornar a maneira usual de ler a partir do século XVI, pelo menos para os mais familiarizados com a escrita e que tiveram acesso a uma alfabetização. A leitura silenciosa servirá para distinguir aqueles que sabem ler efetivamente dos leitores incipientes, isso até pelo menos o século XIX.

3.2. LEITURAS E LITERATURA NA ERA CLÁSSICA

Nos primórdios da Idade Moderna a invenção de Gutemberg – a imprensa dos tipos móveis -, segundo Burke representou sem sombra de dúvidas um avanço na solução do problema da escassez de textos da Alta Idade Média, e que tinha uma demandada crescente no final da Idade Média devido a um número maior de homens e mulheres alfabetizados. Mas Burke analisa o outro lado desse fenômeno, ou que ele chama de “efeitos colaterais”.
Em sua análise Burke chama atenção para reviravolta causada pela difusão do livro operada pela invenção da imprensa. As reações e as críticas a invenção, segundo Burke, foram diversas, desde dos antigos copistas, acostumados a reproduzirem textos manuscritos, pois perderam essa função, passando pelos eclesiásticos que temiam que a imprensa estimulasse a leitura por leigos das escrituras sagradas, e assim perderiam ou teriam sua autoridade diminuída; ao passo que a Igreja reagiria com a instituição do Índice Católico dos Livros Proibidos – Index; até mesmo alguns humanistas temiam a propagação desmedida dos livros. Assim, junto com a difusão de impressos, geraram-se grandes “problemas” como a leitura de outros livros que não a Bíblia pelos fiéis; a divulgação dos jornais e periódicos, aumentando a discussão de medidas políticas dos governos – que Burke chamou metaforicamente de o problema da “explosão da informação”.
Para Chartier na Idade Moderna experimenta-se, ainda, a “revolução da leitura”. Representada pela passagem da leitura oral para leitura silenciosa, proporcionando a abertura de novos horizontes. Através dela estabelece uma relação íntima, entre o leitor e aquilo que se está lendo. A leitura feita sozinho, segundo Chartier, permite uma maior liberdade para determinada audácias, como realizar as leituras heréticas, idéias críticas, ou mesmo pornográficas. Contudo, se a invenção da imprensa constituiu uma revolução, pois possibilitou uma maior reprodução e, por conseguinte, maior acesso a textos impresso, a revolução na leitura permaneceu restrito a poucos laicos, convivendo lado a lado com as leituras em voz alta, e coletivas.
Outra revolução na leitura, apontada por Chartier ocorreria no século XVIII, que seria a sucessão da leitura intensiva, onde o leitor tem acesso a poucos livros que lê e relê ao longo de sua vida várias vezes e repassa de geração para geração. Entre esses livros lidos, relidos e decorados figuravam principalmente a Bíblia. Para uma leitura extensiva, onde o leitor intensivo “consome” um número maior de impresso.
A literatura, na era Clássica, adquire uma maior liberdade quanto a seu conteúdo que conterá, cada vez, um maior número de diários íntimos, memórias, romances em primeira pessoa, relatos utópicos, romances libertinos e eróticos. Segundo Goulemot, esses últimos colocam o leitor no status de voyeur, permitindo uma apropriação de informações privadas de outro. O que para Chartier constitui um paradoxo, pois o leitor não se mostra apenas passivo nesse processo; ele se apropria do alheio e “invade uma terra que não lhe pertence”, dessa forma constituindo uma nova legitimação para a literatura. Esta adquire uma importância fundamental no processo de civilidade da sociedade, sendo, cada vez mais comum, as pessoas da elite posar para retratos portando um livro. Este, por sua vez, passa a representar um símbolo de poder, status de letrado e civilidade . Contudo esse fenômeno não ocorreu sem lutas, conforme postula Goulemot; pois a literatura da era Clássica está impregnada de obscenidades, do orgânico e mesmo do escatologismo barroco. Atos orgânicos como urinar, defecar são retratados em algumas obras; a embriaguez e o vômito, representando uma ofensa ao projeto de civilidade; o ato sexual, o coito, uma ofensa a moral e ao decoro.

3.3. LITERATURA ERÓTICA

O período Clássico foi de grande expressividade na produção das narrativas erótica, libertina, obscena, e pornográfica, reunindo-os, o gênero do romance erótico, ocupa um espaço na literatura do século XVIII. Segundo Goulemot, autores e filósofos clássicos como Voltaire, Rousseau e o Enciclopedista Diderot não permaneceram de alheios a esse movimento pornográfico. Datam da era Clássica títulos como Teresa Filósofa (1748), texto anônimo, mas recentemente atribuído ao marquês d'Angens , e as obras do marquês de Sade (1740-1814).
Aceito ou não, combatido ou exaltado, segundo Goulemot o romance erótico esteve em toda partes [classes sociais e lugares], na praça pública nos salões e nos boudoirs franceses, até mesmo nos panfletos revolucionários. Para Goulemot a literatura erótica representou uma luta por uma leitura da violação, pois no romance erótico se encontra uma narração dirigida ao leitor em forma de diálogos, que segundo Goulemot se aproxima dos romances contemporâneos.
Assim, segundo Goulemot, muito mais do que representação do erotismo e do obsceno, alguns romances, em especial os de Sade, representaram a transposição de proibições, deram em seu conjunto novo sistema de credibilidade ao romance.

3.4. NOVA FUNÇÃO DA LITERATURA ROMANESCA

Nos fins do século XVII, Goulemot afirma, o romance adquire o aspecto de criar certo efeito de verdade no texto literário. Esse começa a representar um discurso espontâneo em primeira pessoa, feito não para a publicação e por um “não-escritor”; o romance tenta, assim, dar um fundo de verdade à narrativa. Eis aí a problemática que surgirá em torno da proliferação dos livros, em especial o romance, considerado corruptor das mentes mais fracas. A problemática, para Goulemot, pode ser questionada pela ótica das ideologias políticas, posto que alguns romances inserem o leitor nos conflitos da época, sendo o romance em primeira pessoa uma representação, antes de tudo, de um relato íntimo. Nessas obras as revoluções são mostradas naquilo que não aparece nas práticas políticas e que há de mais escondido, as razões privadas como paixões incontroláveis, ciúmes e desejos amorosos.
Com o apogeu do romance no século XVIII, a relação entre leitor e a obra se modifica. O leitor extrapola o seu status de passividade. Para Goulemot, com Rousseau a verdade no romance passar a ser sugerida, e não mais preconcebida, assim, cada texto inventa um leitor. Com Rousseau, segundo Goulemot, inicia-se a uma nova fase na literatura, onde a relação leitor-obra vacilará entre o íntimo, já que o romance permite ao leitor o acesso ao privado; e o público onde o leitor se reencontra aos sabores das manifestações sociais, ideologias e contradições.

4. OS IMPRESSOS E AS MODALIDADES DE LEITURAS A PARTIR DO PRÓLOGO DA CELESTINA, DE 1507

Fernando de Rojas foi um escritor espanhol do início da idade moderna, autor da tragicomédia A Celestina. No prólogo de uma edição publicada em Saragoça em 1507, quando o trabalho já havia sido publicado anteriormente, em 1499, Rojas procura entender o porquê de A Celestina ter sido interpretada de maneira tão diversa desde que foi a público.
Baseado nos conhecimentos disponíveis na época, o autor entenderá que essa diversidade provinha tanto das diferenças dos humores quanto da variedade de expectativas e capacidades dos seus leitores, os quais ele distingue pela faixa etária. Observando as formas como estes utilizam o seu texto, o autor identifica três tipos de leitura na tragicomédia: 1. aquela que dá atenção apenas a alguns episódios da história, 2. a que prima pela retenção apenas de fórmulas, lugares-comuns e expressões feitas, de forma isolada e sem relação com o conjunto da obra, e, 3. a leitura que capta o texto em sua totalidade, sem as mutilações que procedem as outras duas formas de leitura. Esta última seria a leitura correta para Rojas.
Para Roger Chartier, no seu livro História Cultural: entre práticas e representações , essa tensão entre prática criadora dos leitores e as tentativas de autores e editores de impor interpretações corretas será constante na história da leitura e, de fato, é possível perceber já no final do século XVIII uma postura semelhante por parte do Filósofo alemão Fichte em relação à interpretação da sua obra Sobre o conceito da doutrina-da-ciência. Assim, tanto no próprio conteúdo do texto quanto por meio de prefácios, advertências e notas, os editores e autores dos livros buscavam impor o que consideravam a compreensão adequada de seu conteúdo.
Conforme Chartier, as recomendações contidas nas obras podem trazer pistas sobre as sociabilidades da leitura, porquanto é possível verificar orientações para como proceder ao efetuar a leitura em voz alta, o que indica a permanência desse tipo de leitura nos séculos XVI e XVII, e mesmo as possíveis relações entre textualidade e oralidade, tanto no sentido das diferenças consideráveis entre a cultura do conto e a da narração e a cultura da escrita. As aproximações entre as duas esferas, tendo em vista as fórmulas da cultura oral em textos destinados ao grande público e, por outro lado, o regresso à oralidade de muitos textos, como os clericais.
Ainda no prólogo de Rojas, percebe-se que, para ele, a ação dos impressores foi um dos aspectos que contribuiu para a uma compreensão que ele considerava equivocada do seu livro. Dentre os textos impressos na Europa Moderna, há um conjunto cuja unidade é, em parte, devida justamente à forma como se dava essa intervenção dos impressores na sua estrutura : a literatura de cordel.

5. A LITERATURA DE CORDEL

Nos séculos XVII e XVIII ganha impulso na França, assim como na Inglaterra (chapbooks) e na Espanha (pliegos de cordel), um tipo de publicação difundido, sobretudo, pela venda ambulante em grande quantidade e a um baixo preço. Inventada na cidade francesa de Troyes, a literatura de cordel era composta por uma grande variedade de gêneros literários e não apenas aqueles considerados populares. O fato é que as obras utilizadas pelos impressores dessa literatura estavam geralmente vinculadas à tradição erudita, como, por exemplo, no caso de contos de fadas que, provenientes do meio aristocrático, já haviam recebido anteriormente edições comuns em cidades como Paris antes de serem adaptadas pelos impressores de Troyes.
Ao mesmo tempo, como afirma Chartier, embora algumas vezes uma obra chegue a tornar-se livro de cordel muito tempo depois da primeira edição, não se pode dizer que a opção por textos mais antigos era uma tendência. Isso porque, logo que os direitos do primeiro editor sobre a publicação de um livro expiravam, os editores de Troyes procuravam igualmente introduzi-los na coleção de livros de cordel. Do mesmo modo, para o autor, não são os próprios textos, visto que também provinham dos meios eruditos, que determinam a singularidade dos cordéis, mas sim a intervenção editorial no sentido de adequá-los à capacidade dos leitores que pretendem abranger. Os impressores modificavam os livros orientados pelas representações que construíam “das competências e das expectativas culturais de leitores para quem o livro não é algo familiar.”
Com isso, apesar da diversidade dos gêneros, a seleção dos livros que entrariam no catálogo dos cordéis não era aleatória, mas seguiam uma linha no que se refere à constituição do texto, a qual os editores acreditavam adequada às possibilidades que eles atribuíam a seus potenciais leitores. Por exemplo, as histórias de ficção privilegiadas eram aquelas cuja narrativa fosse descontínua e repetitiva, não exigindo muito da memória. Será, portanto, visando a reforçar os aspectos que consideravam necessários para alcançar o amplo público que desejavam que os editores de cordéis promovessem significativas intervenções nas obras a serem publicadas.
Essas intervenções poderiam dar-se de diferentes maneiras. Uma delas consistia na multiplicação dos capítulos e na ampliação do número de parágrafos, fazendo com que o texto ficasse distribuído de maneira menos densa na página. Apesar dessa não ser uma prática introduzida pela literatura de cordel, é nela que se intensifica. Esse fracionamento está relacionado à idéia de que a leitura não será contínua. “Daí também a multiplicação, nos textos do corpus de Troyes, das recapitulações e dos resumos que permitem voltar a ligar o fio de uma leitura interrompida.” Outra forma de intervenção se dava na própria construção dos períodos do texto, através da substituição ou contração de frases e de cortes em trechos das histórias considerados supérfluos.
Convém destacar que a intervenção dos editores se dava também no sentido de suprimir expressões consideradas contrárias aos preceitos morais e religiosos. Isso mostra, segundo Chartier, que a literatura de cordel participa da Reforma Católica na França, eliminando os conteúdos considerados nocivos à crença e não apenas editando obras religiosas, o que, diga-se de passagem, era amplamente realizado. Assim, esse trabalho de transformação da forma e do conteúdo dos textos, realizado pelos impressores, mas também por clérigos e homens de letras, tinha por finalidade moralizar o conteúdo que seria lido e também simplificá-lo de maneira a possibilitar essa leitura pelos seus compradores. Entretanto, essas interferências muitas vezes acabavam por aumentar as dificuldades na compreensão, muito embora esta, no final das contas, não fosse necessariamente a aspiração dos compradores dos livros, para os quais uma leitura minuciosa da obra parecia desnecessária em face à importância dela como aglutinadora de conhecimento, mesmo que não lido.
Enquanto que inicialmente os compradores de cordéis viviam principalmente na cidade, com o tempo a clientela vai se tornando cada vez mais rural. Essa será a tendência no século XVIII, no qual os cordéis, apesar da variedade de gêneros literários que abrangem, passarão a nomear especialmente os romances e contos e aos poucos passarão a integrar a cultura camponesa e mais tarde serão descriminados juntamente com ela pelas elites da Revolução.

6. PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES DAS LEITURAS CAMPONESAS EM FRANÇA NO SÉCULO XVIII

As constatações da elite letrada francesa acerca do interesse dos camponeses pela leitura no final do século XVIII foram variáveis e contraditórias. Para alguns os camponeses não possuíam qualquer contato com os livros, uma vez que, em sua maioria, nem sequer sabiam ler. Para outros, porém, a leitura era algo que os atraía e bastava que lhes dessem oportunidades de ter acesso aos livros para que bons resultados fossem atingidos. Dentre os entraves apresentados à expansão da leitura entre os camponeses era destacada a baixa circulação de livros no campo e a impossibilidade da instrução por falta de professores. A posição da Igreja parece contraditória, pois, embora em certos momentos seja representada como uma instituição contrária à leitura por parte dos camponeses, por outro, ela “enquanto instituição, não deixa de ser a única a incitar à leitura”. O fato é que até mesmo os padres são criticados por não lerem, dizia-se inclusive que liam tão pouco quanto o povo. De resto, é possível encontrar também recomendações por parte de clérigos para que eles concedessem livros aos camponeses.
Entre os livros muito citados como pertencentes aos camponeses encontram-se os livros das Horas. A considerável presença das obras religiosas no campo está relacionada a uma política diocesana de distribuição de livros, depois favorecida por um regime instituído pela Coroa em 1777, segundo o qual poderiam ser reeditadas livremente as obras cujos direitos tivessem expirado. Os homens de letras que comentam esses aspectos da cultura camponesa no final do século XVIII não incluem as obras religiosas entre os cordéis; a essas alturas estes parecem estar associados a crenças supersticiosas, fábulas inúteis e preconceitos antigos que levam alguns homens de letras a acreditarem na necessidade impor livros que eduquem o homem do campo.
Buscava-se, portanto, evitar que a literatura, que deveria ser fonte de instrução e patriotismo, se tornasse exemplo de depravação para os camponeses com a leitura de obras perigosas trazidas pelos vendedores ambulantes, que são muito mencionados como difusores de livros de baixa qualidade, como os almanaques e os de cordel. Mais de uma vez aparece a oposição entre “o camponês e o comerciante, o natural e o forasteiro, a piedade e a virtude naturais dos campos e a corrupção vinda de fora, da cidade.”
Talvez, decorrente desse tipo de percepção do campo em oposição à cidade, a idéia de que a leitura, em voz alta durante os serões, fazia parte do cotidiano dos camponeses, permeava o imaginário de uma elite letrada que guardava expectativas em relação ao homem do campo que nem sempre correspondiam às suas atitudes. Para Chartier, se por um lado esse tipo de representação da família camponesa que escuta atenta a uma leitura oralizada era um motivo recorrente nas obras de arte do século XVIII, por outro lado não é possível encontrar evidências documentais que indiquem que os camponeses tivessem de fato o hábito de realizar esse tipo de leitura em seus espaços de sociabilidade.

7. O POVO E A PALAVRA IMPRESSA

A historiadora Natalie Zemon Davis em seu livro, Culturas do Povo – Sociedade e Cultura no início da França Moderna-, trata entre outras questões, da relação entre: o povo e as práticas de leitura e escrita, e que influência a palavra teve numa sociedade onde o dito povo em sua boa parte não era alfabetizado.
Para compreender a trajetória desta prática cultural, Davis traça um paralelo desde a entrada da palavra impressa na vida popular do século XVI, até o século XVIII com a consolidação da função da (..) no seio da sociedade moderna, fazendo desta uma de suas grandes características. Para Davis a palavra impressa, juntamente com seu uso e deciframento, penetrou de variadas e complexas formas na vida popular moderna, criando novas redes de comunicação, abrindo novas opções para o povo e também oferecendo novas formas de controlá-lo .
Para compreender essa trajetória há inicialmente a problematização de duas questões primordiais: que influência a escrita e a leitura poderiam ter numa sociedade onde o nível de analfabetismo era elevado até mesmo para os nobres? E o que significam exatamente as palavras povo e popular dentro da teia da construção e dissipamento dos saberes?
No século XVI a palavra povo era utilizada com as seguintes conotações: nativos do reino, corpo de habitantes no qual uma lei os objetivaria, cidadão não letrados e ainda o trabalhadores da terra e ou aqueles que se ocupavam de serviços menores . Na cultura popular escrita do século XVII e XVIII continua sendo utilizado como povinho, contudo, passa a designar e enfatizar mais os camponeses do que os cidadãos urbanos.
Davis observa que durante os séculos XVII e XVIII, houve na França uma grande impressão de livros chamados de capa azul, onde seus editores tinham o objetivo de manter o cidadão comum informado, por meio da venda destes livros que tratavam sobre as necessidades e gostos das aldeias, na Inglaterra houve um movimento parecido a chamada literatura elizabetana – por ou para o cidadão comum –. No entanto, observa que não é possível traçar um perfil de um grupo social dado, pelo simples fato que nem sempre a escrita é feita por um cidadão comum e também não são apenas estes que consumiam estes impressos. Outro ponto que é necessário chamar a atenção é que o leitor não necessariamente concorda ou toma pra si aquilo que lê, que a construção da compreensão é bastante complexa e repleta de variáveis.

Assim, poderemos entender melhor as relações entre a palavra impressa e o povo se fizermos duas coisas: primeiro, se complementarmos a análise temática dos textos com evidências sobre os públicos, que possam oferecer um contexto para o significado e os usos dos livros; segundo, se considerarmos um livro impresso não apenas como uma fonte de idéias e imagens, mas como um mensageiro de relações. Os dados para apoiar tal abordagem estão espalhados pelas páginas das próprias edições originais; nos estudos sobre a alfabetização e os dialetos, a compra e o preço dos livros, a política de publicações e de produção e em fontes sobre os costumes e a vida associativa de camponeses e artesãos.

A partir da análise comparativa de outros estudos sobre produções escritas e o uso da leitura na Europa moderna, Davis procura no artigo enfatizar a maneira como se deu esta estrutura social de consumo e produção intelectual, e os valores que traçaram o uso da alfabetização e da palavra impressa. Desse modo o texto foca o uso dos livros impressos entre ambientes populares definidos na França moderna, e defende a idéia que as cidades de: Paris, Lyon, Ruão, Toulouse, Poitiers, Bourdeux, Troyes, tornaram-se o centro editorial da Europa, que o modelo adotado pelas gráficas francesas servia de modelo para outros editores europeus, justifica-se pelo fato que as gráficas francesas mesmo após a reforma religiosa continuaram sob o controle de “capitalistas industriais” e alguns artesãos (famílias de editores) que decidiam o que era lucrativo/útil para ser impresso.
Os camponeses do início da idade moderna geralmente só obtinham acesso a palavra escrita ou a leitura através de anúncios oficiais, da igreja ou através de tabeliães itinerantes que passavam nas aldeias para homologar contratos, nos inventários quase não se mencionava manuscritos ou livros, entretanto a questão não se tratava apenas de poder aquisitivo, durante os primeiros séculos da era moderna, era deveras difícil encontrar um livreiro próximo ou mesmo a presença de gráficas no mercado mais contíguo a aldeia, além de que o francês era a língua mais utilizada nas impressões o que dificultava a compra de impressões pro camponeses que eram letrados apenas em dialetos.
O livro mais popular no período para o público camponês eram os Calendários de Pastor, que além de conter informações de uso agrícola, tinham também ditos populares e questões de comportamento, o que Davis questiona é a usabilidade de um livro que continha informações que todo agricultor sabia ou qualquer parteira. As edições do século XVII eram repletas de figuras e transformou-se num verdadeiro almanaque, mas na verdade reunia em si um conjunto de práticas comuns entre os camponeses, o que na verdade o tornava um uniformizador de comportamentos do que propriamente um formador destes.
Como a idéia de impacto da produção escrita e leitura está ligada à mudança de comportamentos sociais, até então os camponeses tinham nas suas tradições orais e locais todo o seu substrato cultural? Mas na passagem do século XVI para o XVII institui-se a villée nas aldeias, que era um ponto de encontro dos habitantes em determinadas épocas do ano onde havia intenso convívio social onde homens alfabetizados liam livros em voz alta, o título mais popular era Ésopo.
As gráficas passaram a disponibilizar livros para essas reuniões, mas em sua maioria eram edições bem antigas, cheias de erros tipográficos e com linguagem ultrapassada, quanto nos meios urbanos os cidadãos experimentavam as novas edições em grego e latim, ou num francês mais contemporâneo. O camponês que realizava a leitura, na verdade traduzia para o entendimento dos ouvintes, e este ato de escuta ia formando novos universos mentais dentro do imaginário camponês, com o advento da reforma a bíblia em francês passou a figurar entre os títulos mais populares para essas leituras. Para a maioria dos camponeses, a religião da bíblia, dos salmos, dos consistórios deixava pouco espaço à cultura oral e ritual, tradicional do mundo rural, às formas existentes de vida e de controles sociais , talvez por isso a penetração do calvinismo entre o campesinato francês tenha sido mais forçada por poderosos do que propriamente uma adesão doutrinária.
Natalie Davis chama a atenção que o trabalho do editores protestantes foi de fundamental importância para disseminar a cultura escrita na área rural, pois, estes não temiam a rejeição ou a possibilidade de lucro zero, objetivavam levar o evangelho reformado a todas as pessoas. Esse fluxo de idéias e de livros motivou também a escrita de livros que tratavam do camponês como ator, muitos escritores na modernidade francesa buscaram olhar para como pensava o camponês na produção das suas obras, não somente o que o camponês precisava saber como nos antigos calendários. Os almanaques do século XVII e XVIII continham novas informações sobre cultivo e colheita, além de informações comerciais.
Para o campesinato francês a palavra impressa abriu novos horizontes no imaginário, contudo não foi eficaz ao ponto de transformar práticas sociais ou de trabalho, por conta principalmente do seu difícil acesso aos livros e do que era publicado, além do uso destes para o camponês.
Já o cidadão urbano vivia numa realidade diferente, boa parte dos artesãos e outras profissões correlatas, eram alfabetizados, até meninas órfãs aprendiam o ABC nos orfanatos recém criados. O estímulo a educação estava associado ao progresso econômico, tecnológico e social, só o trabalho gráfico criou uma enorme aglomeração de ofícios (incluindo-se a encadernação e a moldagem de tipos gráficos), nos quais o índice de alfabetização eram altos .
Naturalmente não era homogêneo o nível de alfabetização, profissões como gráficos e boticários tinham altos índices de leitura, enquanto pedreiros e cultivadores urbanos apenas sabiam assinar o próprio nome. Uma diferença significativa entre o potencial leitor camponês e o urbano é o fato que o segundo tinha maior domínio da língua francesa, que no século XVII já era a língua oficial do governo e deste modo o cidadão urbano poderia aproveitar melhor o que estava sendo impresso.
O leitor urbano muitas vezes não comprava o livro, compartilhava-o através de grupos de leitura, juntado letrados e iletrados, em reuniões de divertimento que contrastavam a villée rural, os cidadãos das cidades possuíam livros específicos para a leitura em voz alta ou para consulta (relacionados ao trabalho que desenvolviam), eram comuns também os manuais de aritmética e de profissões, como também os livros com vidas de santos. Uma característica bastante específica nos manuais produzidos por e para leitores urbanos, é a intenção de estabelecer diálogo com o leitor, esta ação acontecia especificamente nos manuais, onde artesãos das mais diferentes áreas compartilhavam suas experiências com outros ou até mesmo com acadêmicos.
Mulheres também se lançaram no mercado editorial, se concentrado em manuais de bom comportamento ou da prática do parto, e dentre as citadas no texto, acreditavam que suas ações incentivariam outras mulheres ler e escrever. Ao analisar o menu peuple Natalie Zimon Davis defende que entre o povo, seja rural ou urbano, a chegada e instalação no cotidiano da leitura e da palavra impressa não minou as suas tradições, pelo contrário fortaleceu a cultura já existente. As imagens mentais que criavam enriqueceram suas relações, mas não a mudaram, pois, não eram apenas receptores passivos do que liam ou ouviam apenas, eram usuários e interpretes e ajudavam a dar forma ao que era produzido.

8. O UNIVERSO DA LITERATURA CLANDESTINA NO SÉCULO XVIII

É difícil encontrar título melhor que o dado por Robert Darnton a seu trabalho sobre a literatura clandestina no século XVIII, edição e sedição. Como pensar na revolução francesa sem os grandes autores das luzes? É o que constatou Daniel Mornet, antigo historiador que teve por tema o mesmo de Darnton, o universo dos livros no antigo regime. Tal trabalho, ou melhor, a constatação da ausência dos grandes autores das luzes, serviu de impulso para a imersão de Darnton pelo universo da literatura proibida do século XVIII. Pois que, sem dúvida esses livros circulavam na França, mas não de maneira lícita, devido à censura do Estado absolutista francês, e sim por debaixo dos panos, onde os códigos da sociedade do século XVIII se fazem necessários para se entender como tais livros chegavam aos ávidos leitores franceses.
Mas, antes de tudo, o autor adverte que: deve-se entender a presença de sedição no título não como tomada de armas nem violência esporádica contra as autoridades, e sim como um desvio, que mediante o texto e no texto, se instaura com relação às ortodoxias do antigo regime; sendo assim não tem respostas para a apropriação da leitura desses livros proibidos pelos leitores, por isso deve entender-se como edição e sedição, não como edição, logo sedição, não há a relação de causa e conseqüência direta, mas possível.
Assim, a primeira grande pergunta a ser feita seria “quais são os livros proibidos e por que são proibidos?” É uma pergunta um tanto difícil de responder, pois não há nenhuma definição precisa, sendo a mais usual, “todos os livros que ferem a religião, o Estado e os costumes”. É preciso lembrar também que o Index católico não teve força de lei na França, pois não foi proclamado como édito pelo rei nem registrado nos parlamentos. Apesar de alguns esboços de listas, não houve nenhum que contivesse com clareza todos os livros proibidos.
Assim o livro não sofre uma separação rígida entre o legal e o ilegal, as definições, ou a falta de uma precisa, faz com que sejam muito próximos o que faz com que os Livreiros, sabendo dos perigos de tal comércio, usassem códigos e estratégias. A primeira e mais importante é codificar os livros nomeando os proibidos por “filosóficos”, artimanha utilizada pela maioria dos livreiros e que abarcava livros pornográficos, de cunho político e também os filosóficos. Outra medida importante e que se faz necessário entender, é que as grandes editoras não produzem as obras “filosóficas” elas trocam com pequenos editores que vêem nesse mercado uma maneira de fazer dinheiro, o que, entretanto, não lhes garante muita prosperidade, pois, mesmo comerciando por baixo dos panos, cedo ou tarde são presos e quando soltos retomam o negócio do zero.
Entendido como funciona a produção dos livros proibidos, ou impróprios, vamos entender como estes chegavam à França, pois não são produzidos lá, mas nos arredores (na Suíça, na Holanda, etc.), e são enviados aos ávidos leitores, à medida que são condenados, e é bem bom que sejam queimados pelos carrascos; assim, nesse momento, a procura aumenta consideravelmente. Mas, uma vez produzidos, trocados das pequenas para as grandes editoras, os livros proibidos chegam aos franceses através de expedientes diversos, sendo o mais interessante o “casamento”, onde folhas de livros ilegais são escondidas dentro dos livros legais, com o intuito de evita chamar atenção dos inspetores que também são aliciados com propinas. (p.33-34)
Ainda há aqueles que recorrem aos “seguros”, naturalmente utilizados pelos grandes livreiros que podiam arcar com os custos, que seria o “contrabando profissional” na gíria dos livreiros. Encarregam-se de levar os livros proibidos além da fronteira por uma porcentagem do valor dos livros, assim contratam camponeses que levam os livros nas costas e depositam em depósitos secretos de onde são reenviados para os locais como mercadoria nacional. Os custos são repassados até o comprador, se pegos os seguradores pagam a quantia dos livros apreendidos, e os camponeses vão para as galés.

8.1. MERCADO LITERÁRIO ILÍCITO.

Para se entender como funciona o mercado literário na França, é necessário explicar os três níveis de privilégios que existiam na França do Antigo Regime: os livros traziam um privilegio do Rei, pois todo livro passa pelo Rei e recebe uma carta de privilégio afirmando sua legalidade, qualidade e exclusividade da venda ao detentor da carta de privilégio; o segundo privilégio seria dos livreiros, pois recebem sua mestria do rei, ficando aptos a se tornarem membros de uma corporação oficial explorando o monopólio de seu ofício; o terceiro e último são os privilégios gozados pela comunidade dos livreiros, como a função de polícia que também exerciam nas visitas as tipografias onde impediam a publicação de textos não autorizados.
Por isso torna-se necessário que tudo o que inova seja produzido na ilegalidade, que fuja de Paris, da França, se aloje nas vizinhanças, e encontre nas províncias, inimigas dos livreiros de Paris, um refúgio seguro para a entrada das obras “filosóficas”. As grandes editoras, como a STN estudada por Darnton, necessitam saber o que os franceses querem ler, pois, como vimos, estão longe, dessa forma encontram três maneiras de “auferir a pressão” do mercado francês, seja através de agentes literários em paris, de representantes em viagem por toda França, ou de cartas recebidas dos livreiros do reino. As demandas, apesar de variarem de uma província para outra, não são tão diferentes, são apreciados romances leves, a literatura das luzes e interesse pelos assuntos do dia misturados a desafeições ao regime como o decaimento do Rei e dos ministros.

8.2 CICLOS DO MERCADO LITERÁRIO ILÍCITO

Em seu trabalho, Darnton procura articular três figuras pertinentes ao mercado literário ilegal, o vendedor ambulante, o dono de loja e o grande livreiro, propondo capítulos individuais através de estudos de casos, mas não nos deteremos neles, iremos às constatações, pois o espaço é curto. Cada qual encarna uma etapa da difusão do livro proibido, que vai das artérias aos capilares do circuito clandestino.
Assim, se começarmos com o livreiro médio, veremos que possuem má reputação, sendo as queixas constantes, afinal nada mais comum que ser enganado por um deles, pois fazem de tudo para não gastar dinheiro. Inventam várias desculpas uma vez que receberam os livros: atraso, a encomenda do concorrente chegou primeiro, as folhas estão estragadas, etc. Mesmo quando emitem uma letra de câmbio com prazo determinado, adiam o pagamento. Mas precisamos entender que eles negociam em uma atmosfera pesada, na qual o regateio se transforma em desconfiança e conchavo, especialmente quando se age por debaixo dos panos; basta lembrarmos das práticas da profissão e das condições econômicas que a sustentam, sempre muito próxima da falência.
Entretanto, tal situação dá margem a outros expedientes utilizados pelos pequenos lojistas, pois se não paga, o editor tende a colocá-los na justiça, o que evita pela origem da mercadoria e pela demora no julgamento. Mas quando o faz o pequeno livreiro se aproveita da ineficácia do sistema judiciário, separando-se por corpos e bens e fugindo para nunca mais se achado sem pagar o que deve. Essas coisas aconteciam porque o mercado dos livros proibidos era cheio de aventureiros, que engendravam mil táticas e estratégias para se abastecerem sem pagar suas encomendas, e dos fornecedores, que se esforçam a o Máximo para aumentar suas vendas.
Assim, obrigados a enviar pedidos a lugares e pessoas que nunca tinham visto, as editoras decidiram regular o comércio por um princípio que o protegerá da malevolência: a confiança. (p.101) Esta assume acepção quase técnica, funciona como uma cotação onde se dá confiança a medida que os negócios vão bem e paga-se em dia, e retira-se quando do contrário. Para saberem como vão os negócios de seus clientes, são enviados agentes, consultam-se amigos e familiares através de cartas. Estas funcionam como cartas de recomendação onde as “faculdades morais” também são analisadas e fazem parte da cotação da confiança. Assim, não basta ser rico, mas que se recomende também pelos bons costumes, pois se busca o cliente com “boa conduta”, pois nas “faculdades morais” é que se regula a confiança. Dessa forma, desenha-se o tipo ideal do bom livreiro: rico, mas honesto; empreendedor, mas não aventureiro; casado, mas não sobrecarregado com muitos filhos; instalado e reconhecido em sua comunidade; frugal, leal e assíduo no trabalho.
Outro sinal importante onde a confiança é firmada seria a assinatura, pois sem nunca ter visto o cliente, a assinatura é uma das poucas, se não única, maneira de reconhece-lo. A assinatura ainda possui duas funções, uma prática e a outra simbólica: a primeira refere-se a uma forma de proteção contra o risco de fraudes, pois só se dá valor a assinatura do cliente; a segunda funciona como um emblema, visto que corporifica não apenas seu crédito, mas também sua honra, seu prestigio, sua pessoa.
Dessa forma, vê-se que o mercado de livros no século XVIII baseia-se em valores tais como confiança, honra e solidez para manter o equilíbrio, mas choca-se com o mundo tal como se organiza ao redor do mercado. Este é desestabilizado garças as práticas utilizadas por aqueles que aplicam expedientes nos grandes livreiros ou editores, o que abala o equilíbrio do mercado baseado na confiança.
Estes livreiros do século XVIII podem ser divididos em dois grupos, compostos por pequenos varejistas e ambulantes, que ocupam as margens do mercado, de um lado, e os livreiros estabelecidos, que formam uma rede para proteger seus interesses, do outro. Dessa forma os livros proibidos tendem a escorrer para a margem do mercado, sendo negociados, principalmente, pelos pequenos, pois os grandes só negociam com o proibido quando o risco é muito pouco, e os médios quando os lucros estão muito baixos.
Por fim é importante lembrar que aqueles que negociavam com livros, os profissionais, não o faziam para difundir ideologias, mas para obter lucros, esta era sua visão de mundo. Assim fica fácil entender a citação de Darnton: “Os livreiros e editores estão persuadidos de que os livros participam de um sistema simples no qual a qualidade física e o conteúdo intelectual da mercadoria só devem ser privilegiados na medida em que aumentem os ganhos.” Dessa forma, Se os livreiros eram intermediários culturais, o eram por incutir os livros na rede livreira do antigo regime. Intermediário entre a oferta e a procura, o comercio livreiro, é o “sismógrafo” da literatura tal como esta evoluiu no mercado de idéias da França pré-revolucionária.



9. CONCLUSÃO

Entre todas as diversas formas de leitura que encontramos na França moderna, estas estão ligadas as condições materiais existentes nessa época. A difusão do livro com Gutenberg e seus tipos móveis, proporcionou novas práticas de leitura, da leitura em voz alta, a leitura solitária, em silêncio. Também podemos constatar tal afirmativa na oposição entre o campo e a cidade, entre o analfabetismo do primeiro, e as exigências provenientes de um público mais letrado no segundo.
Também não podemos esquecer que a própria leitura, como é possibilitada aos camponeses, não traz mudanças culturais significantes, ou mesmo das maneiras de sociabilidade. Seja pelo índice de analfabetismo expressivo no campo, seja pela dificuldade de alcance dos livros, em sua maioria almanaques. As imagens mentais que os livros criavam enriqueceram as relações dos homens do campo, mas não a mudaram, pois, não eram apenas receptores passivos do que liam ou ouviam, eram usuários e interpretes e ajudavam a dar forma ao que era produzido.
Dentro dessa perspectiva aberta pela Natalie Davis, podemos encontrar o livro como um ingrediente do universo revolucionário da França do século XVIII, e não como uma causa direta desta. Darnton lembra que os livreiros não eram movidos por motivos ideológicos, mas pelo lucro, dessa forma o comércio livreiro funcionava como um “sismógrafo” da literatura tal como esta evoluiu no mercado de idéias da França pré-revolucionária. O que nos leva a pensar que o descontentamento com o regime absolutista francês leva a busca pelos livros proibidos no antigo regime e não o oposto, assim o livro pode ter funcionado como catalisador da revolução, mas não como sua causa direta.
Por fim, encontramos a intervenção do editor nas obras que imprimiam e distribuíam, recortando, colando e resignificando, em certos momentos, as obras por motivos diversos, como a facilitação da apreensão pelo público analfabeto que teria acesso a obra apenas através da oralidade. Mas também as intervenções feitas nas obras tinham um sentido moralizador, principalmente nos cordéis como mostra Chartier, evitando termos e conteúdos que fossem opostos aos bons costumes e a religião, sendo o oposto dos livros veiculados principalmente por ambulantes. Nesse momento é importante lembrar que tais obras impróprias, são aquelas pertencentes ao comércio de livros ilegais, que também eram comercializados por mascates.



10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

• BURKE, Peter. Problemas causados por Gutenberg: a explosão da informação nos primórdios da Europa Moderna. Artigo. Instituto Estudos Avançados - Universidade de São Paulo. Tradução de Almiro Piseta. 2002.
• CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Tradução de Maria Manuela Galhardo. 2° ed. Lisboa: Difel, 2002.
• CHARTIER, Roger. As Práticas da Escrita. In: História da Vida Privada: Da Renascença ao Século das Luzes. Vol. 3. Companhia das Letras. 3ª reimpressão. São Paulo. 1991.
• CHARTIER, Roger. Do codige ao monitor: A trajetória do escrito. Artigo. Instituto Estudos Avançados - Universidade de São Paulo. Tradução de Jean Briant. 1994.
• DARNTON, Robert. Edição e sedição: o universo da literatura clandestina no século XVIII. Trad. de Myriam Campello. São Paulo: Cia. das letras, 1992.
• FICHTE, Johann Gottlieb. A doutrina da ciência de 1794 e outros escritos. 3ªed. São Paulo: Nova cultural, 1988. (Os pensadores).
• FISCHER, Steven R. História da leitura. Trad. de Claudia Freire. São Paulo: UNESP, 2006.
• FOISIL, Madeleine. A. Escrita do Foro Privado. In: História da Vida Privada: Da Renascença ao Século das Luzes. Vol. 3. Companhia das Letras. 3ª reimpressão. São Paulo. 1991.
• GOULEMOT, Jean Marie. As Práticas Literárias ou a Publicidade do Privado. In: História da Vida Privada: Da Renascença ao Século das Luzes. Vol. 3. Companhia das Letras. 3ª reimpressão. São Paulo. 1991.
• DAVIS, Natalie Zemon. Culturas do Povo – Sociedade e Cultura no Início da França Moderna. Oficinas da História, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.