quinta-feira, 4 de junho de 2009

Companhias de Comércio na Idade Moderna

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
PROFESSOR: SEVERINO VICENTE DA SILVA
DISCIPLINA: HISTÓRIA MODERNA II










COMPANHIAS DE COMÉRCIO NA IDADE MODERNA.






Escrito por:
Anna Maria Litwark
Cláudio Muniz
Karolina Kneip
Poliana Priscila





RECIFE - 2009


ÍNDICE

1. Introdução
2. Companhias Holandesas
3. Companhias Ibéricas
3.1 Companhias Portuguesas
3.2 Companhias Espanholas
4. Companhias Inglesas
5. Companhias de Outros Estados
5.1 Companhias Suecas
5.2 Companhias Francesas
5.3 Companhias Dinamarquesas
6. Conclusão
7. Bibliografia


1. INTRODUÇÃO
O sistema de Companhias de Comércio foi um reflexo das medidas mercantilistas adotadas pelos Estados nacionais europeus. Desempenharam, portanto, um papel preponderante na montagem e manutenção de seus Impérios coloniais durante a Idade Moderna. Esse viés expansionista desempenhado por essas nações desemborcou na estruturação da burguesia mercantil em detrimento da aristocracia representada pelos setores arcaicos da sociedade.

O Estado centrou em suas mãos as rédeas para promover a riqueza das nações e indivíduos. Para tanto, se utilizou do intervencionismo monopolista no mundo mercantil. “Os pioneiros da expansão européia foram Portugal e Espanha e a primazia garantiu-lhes a montagem de um vasto Império colonial” (JUNIOR, 2004, p.09). No entanto, esse pioneirismo não lhes conferiu a dianteira na formação das Companhias de comércio.

A prática de comercializar “em conjunto” desde a Roma antiga rendeu os subsídios necessários para que os mercadores, posteriormente conhecidos como “homens de negócio”, lançassem os alicerces para a estruturação de grandes grupos e associações de capital para o comércio em grande escala. Foram, portanto, primeiramente, sociedades anônimas e depois Companhias, que promoveram o intercâmbio do capital anônimo com o estatal, que marcaram definitivamente as estratégias de colonização e comércio na Europa Ocidental moderna. Societas Maris/ Vera (do século XI), Compagnia (século XII), Sociedades em Comandita (século XVI), Sociedades por ações (século XVI e XVII) foram concebidas no seio do comércio do Mediterrâneo e desembocaram, finalmente, nas Companhias monopolísticas do século XVII.

O mercantilismo de privilégios das Companhias se delineou de diversas formas; diferenciando-se de país a país, de acordo com suas tradições políticas e ideológicas. Enquanto que, por exemplo, na Inglaterra moderna a Coroa permitia certa liberdade de ação por parte dos administradores de tais companhias, na Holanda, a empresa era o sustentáculo da Coroa: ela a representava no ultramar e seus lucros eram basicamente recambiados para pagar as dívidas do Estado. Já na França, elas eram feitas e refeitas ao bel-prazer monárquico.

Essas companhias participavam de um jogo capitalista “nervosíssimo”. Segundo Braudel. Os privilégios das Companhias eram regidos por uma regra de três;
O monopólio de uma companhia depende da confluência de três realidades: primeiro o Estado, mais ou menos eficaz, nunca ausente; o mundo mercantil, isto é os capitais, o banco, o crédito, os clientes – um mundo hostil ou cúmplice, ou as duas coisas ao mesmo tempo; e por fim uma zona de comércio para ser explorada de longe, a qual, por si só, determina muitas coisas. (BRAUDEL, 2000, pp.392-393).


Tais empresas eram regidas por estatutos. Neles constavam as obrigações e os diretos dos participantes, o funcionamento geral da companhia, sua administração e estrutura, levando em conta sempre que se estruturavam em vias de metrópole para colônia.

A dianteira e o sucesso das grandes Companhias inglesas e holandesas influenciaram uma gama de outras empresas; assim como acirraram as disputas no mundo mercantil, fazendo com que outros países incursionassem nessa empreitada.


2. COMPANHIAS HOLANDESAS

As companhias de comércio holandesas tiveram seu inicio de forma bastante evolutiva, partindo das companhias menores dominadas pelo capital familiar para as grandes companhias monopolistas de capital aberto e anônimo.
As pequenas companhias chamadas de Pré-companhias (voor-compagnies) tiveram seu começo nas experiências anteriores das províncias do norte, a “União de Utrech”, com o chamado por Braudel de “Périplo triunfal” em 1595 à direção do Indico, expedição essa chefiada por Houtman. Ocupando Java em 1597 e tomando a Ilha Mauricia em 1598 tornando um sucesso essa primeira experiência. Depois das vantagens, Houtman, obtém apoio dos Estados Gerais para continuar as viagens com fins comercias, surgindo desta forma a companhia de lugares distantes (Compagine van Verre). Na esteira desse sucesso outras companhias foram surgindo para continuar a explorar e dominar no mar Báltico e Norte o comércio marítimo de madeira, equipamento naval e metais, peixes, manteiga e queijo.

Antes mesmo da criação das Companhias das Índias Orientais(1602) e Ocidentais(1621), os holandeses haviam acumulado toda uma experiência com a navegação. Primeiro, ao realizarem comércio no Mar Báltico e do Norte. Segundo, ao se lançarem para as Américas, especialmente para o Brasil. (NASCIMENTO, p.32)

As experiências na América datam de 1587, quando um corsário inglês observa no momento do ataque a Salvador, a presença de uma nau holandesa no ancoradouro da cidade. As províncias mantinham boa relação com Portugal e faziam o transporte de diversas cargas para a colônia como o vinho do Porto, o sal de Setúbal, o açúcar do Brasil e os Escravos da Angola. As experiências na América não se resumiram apenas ao comércio formal. As práticas piratas também foram amplamente exploradas, não sendo exclusividade dos holandeses já que os ingleses, franceses e alemães faziam uso desse artifício.

O uso freqüente uso, até em então seguido, de preferirem os comerciantes de Lisboa o fretarem, para o Brasil, urcas flamengas, mais bem construídas e artilhadas do que os barcos portugueses, não só foi prejudicial à marinha de guerra, que da mercante se alimenta, como levou ao Brasil muitos estrangeiros.(VARNAGEM apud NASCIMENTO, p.35)

Assim, a Companhia das Índias Orientais (1602) surge de uma experiência marítimo-comercial bem sucedida, trazendo uma união de outras companhias menores, saindo de um capital de investimento mercantil mais reduzido de clã para uma experiência de capital aberto, formando uma sociedade anônima, cujo corpo diretor compunha-se de dezessete membros (os herren XVII). Ela se forma como uma representação do Estado no estrangeiro, podendo fazer acordos, tratados, erguer fortes, atacar e saquear navios. Tudo isso com a concessão estatal que, teoricamente, duraria 20 anos e perdurou até 1740. A companhia se estrutura no momento de guerra do estado holandês contra a união ibérica e estendo a luta até ao ponto que Boxer (BOXER, 2001) chama de Primeira Guerra Mundial (por levar a luta desde Amazonas até a Angola e as ilhas de Timor). A companhia tem como função, de fato, a atividade da guerra para o controle comercial, seguindo-se do controle territorial e um esforço de colonização. Na luta contra os portugueses, a companhia leva vantagem e toma o controle do comércio de cravo, pimenta, noz-moscada e canela, fazendo trocas comerciais com o Japão, China e Índia.

Saindo em direção ao Oriente, depois de algumas décadas, conseguiu a Companhia das Índias orientais o controle do comércio do cravo, pimenta, da noz-moscada e da canela de forma que, já por volta de 1663, alerta Boxer “granjearam dos portugueses a posição de proprietários da parte do leão no negocio de transportes em águas asiáticas, entre o Japão e a Arábia” (NASCIMENTO, p.46)

A criação da Companhia deu inicio as atividades de forma organizada e empreendedora, que travava disputas não apenas militarmente, mas também diplomaticamente; obtendo com isso os lucros, que eram o objetivo máximo e irredutível da companhia, não importando “onde”, “quando” ou “como fosse” para que essa meta fosse alcançada.
A experiência holandesa no Oriente, nos moldes de um empreendimento organizado, teve vez com a criação da Companhia das Índias Orientais (VOC) em 1602. Contra os portugueses que aí já haviam instalado desde o inicio do século XVI, travou a Companhia uma disputa que envolveu não só armas, mas a diplomacia. Para conquistar um espaço no comércio asiático, contou a VOC com diversas tentativas.(NASCIMENTO, p.45)

A Companhia das Índias Ocidentais surge na esteira de sua irmã mais velha e bem-sucedida oriental, mas ela não surge inconseqüentemente, apenas para atacar as possessões ibéricas no atlântico. Pelo contrario, ela é resultado de uma experiência de sucesso anterior, por mais que um dos seus objetivos seja realmente fazer a guerra para dividir o bolo de comércio de açúcar, pau-brasil, sal e escravos no Atlântico. Tinha a pretensão de ocupar vários pontos, por haver vários objetos de interesse como o açúcar de Pernambuco e da Bahia; da Angola, os escravos e do Rio da Prata, o ouro e a prata, que sempre compuseram a lista de ambição flamenga, não podendo assim apenas se focalizar em uma área portuária.
Tudo indica que as intenções da Companhia das Índias Ocidentais, pelo menos no Brasil, não estivesse, voltadas única e exclusivamente para a conquista de um só ponto do litoral, Na mira dos neerlandeses se encontravam outros portos do Atlântico, Além do Recife e Salvador, o Rio de Janeiro e a região do Prata compuseram a lista de possibilidades. (NASCIMENTO, p.49)
Ela, como a Companhia Oriental, tinha um capital semi-privado, mas se organizava de uma forma um pouco diferente, pois havia dezenove conselheiros e era subdivida em câmaras de comércio.

Subdivida em câmaras de comércio, a WIC era presidida pelo Conselho de XIX, dos quais oito representavam a Câmara de Amsterdam, quatro a da Zelândia, dois a de Mosa (Roterdam), dois para o Distrito do Norte (Hoorn e Frísia), dois para a cidade e distrito de Groningen e um décimo nono nomeado para representar os Estados Gerais.

À Companhia Ocidental ficou o legado de perdedora, pois ela não obteve o mesmo sucesso que a sua predecessora.

3. AS COMPANHIAS IBÉRICAS

A perda do monopólio comercial europeu pelos países ibéricos botou em risco a manutenção de seus impérios ultramarinos. A revitalização da economia colonial, tanto quanto a da Península, nasceu da aplicação de políticas mercantilistas que tomaram corpo com a adoção do sistema de companhias privilegiadas de comércio.
As companhias espanholas e portuguesas podem ser compreendidas como estatais. Baseadas no exclusivismo metropolitano, mecanismo essencial do sistema colonial, essas empresas ligavam as colônias à Metropóle através do monopólio das relações comerciais. Entretanto, é interessante analisar um pouco mais detalhadamente o funcionamento das mesmas para perceber que o controle estatal esbarrava na ação dos personagens principais do mundo mercantil (homens de negócio).

3.1 COMPANHIAS PORTUGUESAS

Foram uma tentativa do Estado português de modernizar o sistema de monopólios comerciais, atingindo seu apogeu no período pombalino (iniciado durante o século XVIII). As grandes companhias foram criadas tardiamente e com pouco capital quando comparadas às companhias inglesas e holandesas. E após, a Restauração (1640) tinham o objetivo basilar de savaguardar o vunerável império português das ambições das mais fortes nações européias.

O privilégio das companhias iam desde o monopólio do comércio, da navegação e dos direitos ficais até o “direito de senhoria”, ou seja, a organização política dos territórios ocupados, podendo armar exércitos e marinhas de guerra para executar operações terrestres e navais que resultassem na ampliação das possessões marítimas. (VAINFAS, 2000, p. 128).

1. Primeiras Companhias

Companhia da Índia Portuguesa – Foi fundada em 1549. É a mais antiga das companhias de seu gênero no país. Esta companhia foi instituída com capitais da Coroa. Visava incrementar os negócios com o Estado Português da Índia, diante da crescente concorrência da Espanha e dos Países Baixos nos Oceano Índico e Pacífico.
• Companhia de Comércio das Índias Orientais – Foi fundada em 1628, sob o governo filipino. Foi logo extinta, em 1633, por falta de capitais.
• Companhia Geral do Comércio do Brasil – Fundada em 1649, essa Companhia era, primeiramente, responsável por expulsar definitivamente os holandeses que ainda ententavam contra a costa brasileira. Também fazia o viés de revitalizadora dos processos de produção de açucar. Mas o seu monopólio tinha a função de comercializar e assim fornecer mão-de-obra escrava para a região Nordeste do Brasil; e, em segundo plano, garantir o abastecimento e a qualidade do açucar destinado à metrópole. Atuava nas capitanias brasileiras que iam do Rio Grande à São Vicente. Ímpar pelo seu regimento, que lhes conferiam o dever e direito de armar suas frotas e de construir navios em estaleiros importantes, tanto em terras lusitanas, quanto no ultramar. Detinha, por fim, o monopólio de vinhos, cereais, azeite e bacalhau a ser destinado à colônia na América, podendo fixar os preços dos produtos. Podia também exportar madeiras tropicais, pagando uma parte dos impostos à metrópole.

• Companhia de Cacheu, Rios e Comércio da Guiné - 1676, detinha o monopólio do comércio de escravos (direito ao tráfego na Guiné e no Cabo Verde; exportar escravos para Portugal e Américas), tecidos e marfim. Decai em 1682.

• Companhia do Comércio do Maranhão - Fundada em 1682, detinha o monopólio de comércio com o Estado do Maranhão por 20 anos; tendo ainda privilégios de isenção de algumas taxas, de um juizo privado e da escravidão de indígenas que pudessem ser conquistados. Detinha também o comércio de escravos para a região, sobre a plantação e comercialização do açucar e do algodão, e o dever do transporte seguro desses gêneros ao seu lugar de destino. A Companhia começa a decair a partir do escandalo do abuso de poder dos seus diretores, que desvalorizavam e cobravam em excesso os gêneros, além de não cumprir acordos relativos ao tráfego de escravos para a colônia. Desse escândalo, resultou a eclosão da Revolta dos Beckman (em 1684) e à posterior extinção da Companhia em 1685.

• Companhia do Cacheu e Cabo Verde – Companhia criada por um Alvará Régio de 1690; visava a substituição da Companhia de Cacheu, extinta em 1682. Apresentava, portanto, objetivos mesmos: comercializar tecidos, marfim e escravos da Guiné e do Cabo Verde para o Brasil. Apresentou um curto período de sucesso, comcomitante ao seu monopólio de comércio de escravos na América espanhola (1696-1703).

2. Companhias de Pombal

“As companhias criadas sob inspiração do Marquês de Pombal deveriam ter uma função associada a Coroa, integrando um plano integrado de colonização formulado pelo Estado”. (JÚNIOR, 2004, p.23). Está associação também tinha o intuito de fortalecer a elite mercantil portuguesa em detrimento do capital estrangeiro e dos anseios da elite colonial.

• Companhia de Comércio da Ásia Portuguesa – Fundada em 1753, detinha o monopólio de 10 anos de comércio com a China e Índia. Suas pretenções logo tiveram que ser abandonadas; um maremoto ocorrido em Lisboa em 1755 (que destruiu os navios da Companhia e os produtos contidos neles); as aspirações políticas do filho de seu principal acionista, Feliciano (que tentara derrubar o marquês de Pombal); e o reembolso de empréstimos concedidos pelos Estado português, trouxe-lhe prejuízos irreversíveis em 1760.

• Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão - Fundada em 1755, propunha o controle e o formento da atividade comercial nessa região. A partir da escravidão, traçou uma política de desenvolvimento agrário e do comércio; tendo para tanto, contado com inúmeros privilégios: monopólio de vinte anos para o tráfico de escravos, do transporte naval e de outras mercadorias para o Grão-Pará e Maranhão; dispunha também de navios da Armada Real para a escolta de seus navios de transporte; tinham o reconhecimento real dos seus funcionários (à serviço da Coroa); prioridade para as suas mercadorias nas Alfândegas; foro especial. Maria I extinguiu a Companhia em 1778, depois de ter paulatinamente retirado o privilégio do monopólio. A sua liquidação porém, só foi concluída em 1914.

• A Companhia Geral de Comércio de Pernambuco e Paraíba - Fundada em 1759, detinha o monopólio do comércio na área de Pernambuco e suas capitanias subalternas; como também do tráfico delas para a Costa da África. Possuia privilégios parecidos com os de sua congênere do Grão-pará e Maranhão. A empresa que em tese iria promover o dinamismo da empresa açucareira, maior circulação de numerário, promover empréstimos aos produtores coloniais, como também fortalecer a elite mercantil da capitania; foi um instrumento de barganha para os que ocuparam os cargos diretivos da respectiva Companhia, em Pernambuco. O empobrecimento da capitania como um todo, foi a principal causa para que a população pernambucana exigisse sua extinção. Foi destutuída de seus privilégios em 1780, mas suas liquidação se arrascou até o início do século XX.

• Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro - Fundada em 1756, detinha o exclusivo da produção e distribuição dos vinhos da região demarcada do Douro, os conhecidos vinhos do Porto, privilegiados com isenção de impostos no comércio e nas exportações. Estes tinham uma grande procura no mercado britânico e um peso crescente na balança comercial portuguesa, à época. A Companhia estabeleceu a primeira região vinícola demarcada do mundo. A resistência e a hostilidade dos ingleses e de boa parte da burguesia de negócios do Porto quanto à Companhia, antes e depois da sua formação, obrigaram Carvalho e Melo, em 1756–1757, a tomar medidas duras e repressivas, mas determinantes para o sucesso daquela Instituição, que veio a ter um papel determinante no crescimento. Os comerciantes da época aperceberam-se com surpresa de que os comuns vinhos do Dourienses, que pecavam pela sua aspereza e adstringência, ao casarem com a aguardente adicionada perdiam a sua acidez excessiva, amaciavam-se no paladar e os seus aromas eram consideravelmente realçados.

• A Companhia Geral das Reais Pescarias do Reino do Algarve - destinava-se a controlar e fomentar a actividade da pesca no litoral sul do reino. 1773, à qual eram concedidos privilégios e garantias tais como o monopólio na exploração das pescarias em todo o Algarve, a redução de todos os direitos do pescado a 20%, e a entrega, à Companhia, de todo o espólio das armações pertencentes à Fazenda Real o que, em si, representava significativo aporte de capital. A Companhia, com sede em Lisboa, era composta por quatro membros (um dos quais residia no Algarve), eleitos pelos accionistas que detivessem, no mínimo, cinco acções. Possuía ainda três administradores, um em Lagos, um em Faro e outro em Tavira. As concessões da Companhia foram sempre anualmente renovadas até 1836, data da extinção da mesma.
Após o vislumbrar das principais características de funcionamento das empresas, pode-se dizer que tanto em Portugal como na Espanha, a elite mercantil dirigente não era um joguete nas mãos do Estado, e sim o elemento poderoso no jogo capitalista. O homem de negócio ibérico tirou proveito da necessidade que realeza tinha de arregimentar capitais em torno das companhias, para que a partir delas, pudessem controlar o mercando ultramarino em seu próprio proveito. Estas artimanhas fizeram com que paulatinamente, os ódios da população das áreas monopolizadas aumentassem, como também promoveu o aumento do comércio ilícito.

Pode-se dizer que até determinado ponto as companhias ibéricas atingiram seu objetivo principal: manter os impérios ibéricos. Mas não fez com que a economia destes países fosse estruturada, o que ocasionou no não aproveitamento da aceleração e acumulação de capitalista que outras nações européias usufruíram na época moderna.

3.2 COMPANHIAS ESPANHOLAS

Estas empresas dividem-se em dois grupos - aquelas formadas para comércio exterior, e aquelas formadas para fins internos dentro da Espanha (principalmente para promover a indústria têxtil). A Compania de San Fernando de Sevilla se enquadra entre os dois, sendo formada principalmente, para o reavivamento da indústria têxtil em torno de Sevilha, mas também tinha a autorização de comerciarlizar com as colônias espanholas.

3.2.1. Companhias ultramarinas

• Compania de Honduras - Foi criada em 1714, para importar determinados produtos de madeira na área da América Central. A empresa rapidamente desmoronou.

• Real Compania Guipuzcoana de Caracas – Foi criada em 1728, por um grupo de comerciantes da província Guipuzcoa, na parte basca da Espanha, para o comércio com a província de Caracas, na Venezuela, com os objetivos de : desenvolver a sua agricultura, principalmente de cacau ; vigiar a costa para impedir o comércio ilegal com estrangeiros, principalmente os holandeses de Curaçau. A empresa tinha o direito de enviar dois navios por ano a partir de San Sebastian ou Pasajes, carregando todos os tipos de mercadorias espanholas. Para a viagem de regresso dos navios traziam metais preciosos, cacau, açúcar, tabaco e couros. Desde o início, a empresa foi muito rentável, pagando substanciais dividendos aos seus acionistas. A empresa abusou de seu monopólio, cobrando preços exorbitantes para os bens importados, além de baixar constantemente os preços pagos pelos produtos aos coloniais. Os desmandos desemborcaram, no ano de 1749, em uma rebelião por parte dos colonos. Em desses desmandos da companhia, o governo espanhol reduziu os privilégios da empresa e introduzir preços fixos para a compra de produtos coloniais. Em 1781 a empresa perdeu o monopólio com a Venezuela, e em 1785 foi absorvido pela companhia Filipina.

• Compania de Galícia – formada com o intuito de preencher o espaço deixado pela companhia de Honduras, detinha o monopólio sobre corante advindo da madeira encontrada em Campeche. Durou poucos anos, pois o mercado de corante já estava nas mãos do ingleses.

• A Real Compania de Comércio de la Habana – criada em 1740, essa empresa detinha o monopólio de comércio de mercadorias espanholas (essencialmente têxteis, porcelana e farinha) e cubanas (tabaco, açucar e couro), sendo responsável também pelas transações entre esses dois países. Situada em Havana, tinha acionistas metropolitanos e criollos, mas logo sua relativa prosperidade decaiu, quando se descobriram fraudes da administração cubana (o diretor Arosteg fazia o uso indevido do monopólio para comercializar escravos, para lucro próprio); e a corrupção foi tamanha que, mesmo afastados os infratores, o monopólio foi perdido. Posteriormente, já bastante abalada e quase paralisada, a empresa sofre vários reveses, mas sua dissolução final só ocorre em meados do século XIX.

• Real Compania de Comércio de Barcelona – Empresa espanhola mais comentada, foi fundada em 1755 e detinha o monopólio do comércio com várias partes da América Central (São Domingos, Porto Rico e Ilha Margarita), bem como tarifas e privilégios (como o direito de travessias em Honduras e Guatemala). Pouco rentável no início, só detinha 2 navios, ilhas pobres e muitos prejuízos. Posteriormente, consegue, baseando-se no trabalho escravo, a concessão pela Coroa do comércio com outras ilhas e terras, como a Venezuela e Argentina. Atingiu seu climax em 1771, quando foi capaz de pagar suas primeiras dívidas. Porém decaiu em 1785, devido à falta de recursos, sendo depois incorporada pela Compania Filipina.

• Compania de Filipinas – Empresa desenhada aos moldes da Companhia de Caracas, foi enfim posta em prática em 1785 (55 anos depois de ser pensada). Detinha o status de comercializar todos os produtos produzidos na metrópole com as colônias americanas ; assim como também produtos orientais. Incorporou as empresas de Caracas e Barcelona, e recebeu o monopólio de 20 anos para comercializar com as Filipinas, China e Índia. Enfrentou problemas diplomáticos e comerciais com a Holanda. Teve entre seus grandes acionistas, o Banco de San Carlos e os cinco grêmios de Madrid. Conseguiu manter um alto padrão lucrativo, até que a partir de 1789, começa a sofrer duros e sucessivos golpes (emissões de obrigações, baixas na frota, guerra espanhola contra a Inglaterra, Guerra Peninsular), mas consegue sobreviver até 1834, quando é formalmente dissolvida.

3.2.2. As companhias internas

• Compania de Zarza la Mayor – criada em 1746, detinha amplos privilégios de comercializar na própria Espanha e em países vizinhos a lã e a seda fabricadas em Extremadura; assim como as frutas e o couro. Abusou de seus privilégios, e acabou sendo unida com a Compania de Granada, fundando a Compania de Extremadura; o que apresentou um completo fracasso.

• Real Companhia de Comercio y fábricas de Zaragoza – criada em 1746, a empresa detinha o comércio de todos os produtos industrializados de Aragão, com o intuito de promover essa área espanhola atrasada. Comercializava, sobretudo, o papel, a lã e a seda. Porém logo entrou em declínio; muitas foram as fraudes e a corrupção se alastrou na empresa, levando-a a falência em 1774.

• Real Compania de San Fernando de Sevilla – criada em 1747, tinha o intuito de promover os produtos da província, principalmente os de caráter têxtil. Vendia seus excedentes às províncias vizinhas e também para as colônias espanholas nas Índias; e detinha o comércio com áreas em que comercializavam também as Companias de Caracas e Havana. Corrupta e ineficaz, Foi dissolvida em meados de 1780, culminação de um processo de baixa crescente.

• Compania de Granada – criada em 1747, detinha o monopólio do setor têxtil de Granada, podendo exportar para várias áreas circunvizinhas. Apresentou uma vida útil muito pequena, de apenas 3 anos, devido principalmente ao abuso de poderes monopolísticos.

• Compania de Comercio y fábricas de Toledo – Resultante da antiga companhia da província, foi formada em 1748 e detinha o monopólio têxtil da região. Posteriormente é unida as Companias de Extremadura e Granada, mas logo se separa destas. Apresentou sempre lucros modestos, decretando falência em 1755. Sobreviveu às duras penas até 1778, quando foi formalmente dissolvida.

• A Compania General de Comercio y de los cinco grêmios mayores de Madrid (Guildas) – Grupo famoso de guildas (que produziam seda, lã e outros panos), de 1679, adquiriu privilégios, direitos e caracteres monopolísticos em 1731. Em 1732, já aparentava ser uma empresa bastante lucrativa e já fazia pequeno comércio às Índias. Foi um sucesso, sendo uma das principais companhias espanholas e se alargou rapidamente, alcançando o comércio com outras áreas, como Cidade do México, Vera Cruz, Lima e Guatemala. Formou escritórios comerciais em Londres, Paris e Hamburgo. Possuía sua própria frota de navios. Adquiriu posteriormente também o direito de recolher os impostos reais; controlando várias fábricas; construindo canais; fornecendo ao exército e marinha nacional os subsídios. Também ofereceu alimentos para Madri, dentre outras ações. Realizou por esses tempos, monopólio de comércio com o Marrocos, adquirindo também caracteres de Banco e principal financiador. Decaiu a partir de 1790 (devido as guerras espanholas, avanço das tropas napoleônicas, por fim, a Emancipação da América Espanhola); sendo finalmente liquidada na primeira metade do século XIX. Algumas de suas atividades continuaram sob uma nova Companhia, a Fabril de los cinco Gremios.

• Compania de Comercio y Fomento de fabricas de San Carlos – Criada em 1767, detinha a função de desenvolver a indústria têxtil de Castela. Pouco lucrativa, foi dissolvida em 1773.

• Compania de Ezcaray – criada em 1773 com o intuito de promover o comércio dos produtos da região da Rioja, apresentou curta vida, sendo extinta logo depois.


4. COMPANHIAS INGLESAS.

As Companhias de comércio inglesas surgem, como já foi visto, em meio a um contexto mercantilista no qual outras companhias européias se constiruíram. Entretanto, algumas companhias inglesas duraram muitos anos, sendo consideradas como o esteio do expansionsimo britânico. A Companhia das Índias Ocidentais é o exemplo máximo dessa afirmação. (JÚNIOR, 2004, p. 13)

A partir do século XV, começam a surgir na Inglaterra associações comerciais com características de companhias de comércio. A Company of Merchant Adventurers of London, resonsável pela comercialização interna e exportação de roupas de origem lanífera, é criada em 1407, através de uma Carta Real concedida por Henrique IV. Sua organização ainda é similar a uma grande “irmandade”, na qual todos os sócios são igualmente responsáveis pelos lucros e prejuízos da companhia. Essa forma estrutural é muito comum à outras companhias desse mesmo período, que seguiam uma lógica organizacional muito similar às das primeiras sociedades comericias italianas.
É válido ressaltarmos que as ilhas britânicas ainda eram constituídas por regiões essencialmente agrárias. A Inglaterra dos primeiros anos do século XVI era um país “atrasado”, sem uma marinha forte e com a maior parte de sua população vivendo nas zonas rurais. (BRAUDEL, 1996, p. 395) Não obstante, havia uma nascente expansão de suas atividades manufatureiras, especialmente ligadas a produção têxtil. Paralelamente, Portugal e Espanha colhiam os frutos do comércio com as índias, enquanto o estado inglês “aceitou sem murmurar o duplo monopólio ibérico.” (CHAUNU, 1984, p. 314)

Após a primeira metade do século XVI, outras duas importantes companhias foram criadas pela Inglaterra, suficientemente interessada em aproveitar-se das vantagens que cricundavam a expansão comercial moderna: a Muscovy Company e a Levant Company.
A Muscovy Company, criada em 1555, tinha a intenção de manter comércio de peles e roupas em lã com a longíqua região onde atualmente se situa a Rússia. O império russo, além de ser um parceiro potencialmente rico, é relativamente próximo de uma das principais áreas visadas pelos ingleses: a China. (BRAUDEL, 1996, p. 374) Já a Levant Company colocava-se em um ponto estratégico e se estabelecia em uma importante rota comercial no Oriente Médio, onde as especiarias e produtos vindos de várias regiões eram comercializados.

Essas companhias criadas não eram suficientes para uma Inglaterra, que já anseava pela quebra do monopólio espanhol e português. Era necessário estabelecer comércio direto com as Índias Orientais e, para tanto, comerciantes ingleses resolvem criar a primeira Companhia das Índias Orientais.

Em 1600, integrantes de muitas companhias se reuniram em prol de um projeto que visava ao estabelecimento de entrepostos mercantis na região do Índico. Para tanto, foi enviado um pedido à rainha Elizabeth no mesmo ano, para a concessão de monopólio na região das índias. Aceita a requisição, a Companhia das Índias Orientais envia suas primeiras embarcações ao Índico em 1601.

É válido ressaltar que a Inglaterra do século XVII já começava a contar com uma importante rede de banqueiros, financistas, transportadores e seguradoras; que tinham o papel de facilitar as transações comerciais das companhias e garantir a integridade das mercadorias. (MAURO, 1975, p. 29-31) A companhia das Índias Orientais, obviamente, colherá os benefícios dessa malha de infra-estrutura de transportes e comércio.

Começando com um capital inicial que girava em torno de 80.000 libras, a Companhia das Índias Orientais gerou lucros exorbitantes não só para os seus acionistas , mas também ao governo inglês, que recebia parte dos lucros em troca da concessão do monopólio. Karl Marx (MARX, 1853) faz duras críticas às relações entre governo e a Companhia, que se utilizavam, muitas vezes, da corrupção para garantir privilégios e lucros mútuos. É importante frisar que o corte temporal feito no artigo de Marx não atinge apenas a época da monarquia absoluta inglesa, mas também o período após a Revolução Gloriosa (1689), onde o Parlamento ganha mais poder.

A hegemonia dessa companhia, durante os séculos XVII e XVIII foi ameaçada não só por companhias de mesma finalidade criadas por outros países, mas por companhias constituídas no seio da própria Inglaterra. Essas últimas eram, vez ou outra, formadas no seio de setores insatisfeitos com os privilégios concedidos pela Coroa. No entanto, apesar das constantes crises enfrentadas, a Companhia das Índias Orientais teve um papel hegemônico no Índico e na China, absorvendo outras sociedades criadas posteriormente e fincando as bases para uma futura intervenção política nesses territórios.

Na parte ocidental do globo terrestre, os ingleses estabeleceram importantes relações comerciais no Atlântico. Na África Ocidental, o comércio inglês foi semelhante ao holandês e ao francês (MAURO, 1975, p. 51). A primeira Companhia com carta de privilégios foi fundada em 1618 e em 1672, foi criada a grande Royal African Company of England. Essa última foi uma gigante na comercilização de escravos africanos para as colônias portuguesas, espanholas, norte-americanas e as ilhas do Caribe.

Na América Central, a Inglaterra contava com sólidas possessões no Mar das Antilhas (MAURO, 1975, p. 52). A produção agrícola nessas ilhas era voltada para a exportação e para a fabricação de “moedas de troca” de escravos africanos. Além disso, parte do território hoje pertencente aos Estados Unidos da América, era oficialmente uma possessão inglesa. Ainda na América do Norte, a Inglaterra concede carta a Hudson’s Bay Company em 1670. Essa empresa disputou com os franceses o comércio de peles em territórios pertencentes, atualmente, ao Canadá e Estados Unidos.
5. COMPANHIAS DE OUTROS ESTADOS

5.1 COMPANHIA SUECA

A Suécia no reinado de Gustavo Adolfo, em 1619, criou a Companhia de Comércio da Suécia para controlar o cobre e depois o ferro. Os suecos possuíam grandes vantagens quanto ao cobre sobre o ferro, pois o ferro se encontrava em toda a Europa, enquanto na Suécia havia uma farta quantidade de cobre.Entretanto, a Suécia, para o ferro, levava a vantagem de ter um minério de ferro altamente qualificado e puro. A qualidade do produto colocava a Suécia em posição confortável sobre as outras nações européias. Argumenta Wallerstein que a Suécia “conseguiu concorrer, e muito eficazmente, tirando partido de uma questão de sorte e transformando-a numa vantagem sócio-econômica”. A participação do Estado foi decisiva para a Suécia.
A extração do ferro remontava na Suécia pelo menos ao século XII. Já então a fina qualidade do seu ferro maleável, o osmund, era conhecida em toda a Europa. Foi Gustavo Vasa o primeiro que, na primeira metade do século XVI, se irritou ao ver que o osmund de baixo preço era exportado para a Alemanha, para ser forjada em barras de alto preço. Para acabar com esta fuga de recursos, mandou vir técnicos alemães e criou forjas na Suécia. Apesar disso, continuou a produzir-se mais osmund que ferro em barra. O osmund representou dois terços da produção até ao período de 1600 a 1650, altura em que a proporção de ambos se equilibrou. Lançou-se uma indústria de aço. A passagem da extração de osmund para a forja de ferro em barra exigiu um investimento de capital considerável, em boa parte adiantado pelo rei.(WALLERSTEIN apud KAMINISHI)

A Suécia concentrou esforços na expansão político-comercial, no comércio marítimo e na frota mercante. Porém, os recursos foram insuficientes para a manutenção da política sueca. A Suécia tinha uma população muito escassa em termos europeus e, portanto, uma pequena base financeira para o seu aparelho de Estado.

5.2 COMPANHIAS FRANCESAS

A primeira tentativa francesa de instalar uma Companhia privilegiada de comércio se deu no governo de Luis XI, que decidira implantar uma companhia de comércio no mediterrâneo, bem anterior às grandes navegações. A tentativa se mostrou fracassada; e frustrou algumas que vieram posteriormente, até cerca do século XVII.

Mais tarde, a idéia de implementação de tais Companhias encontram maturidade principalmente a partir do governo de Luis XIV. Richelieu foi o primeiro estadista que encorajou a criação de Companhias de Comércio (como a de Morbihan e a dos Cem associados no Canadá). Posteriormente, essa iniciativa encontrou em Colbert um grande defensor. Colbert participou do planejamento e instauração de cerca de 10 Companhias, sendo, portanto, o maior implementador dessa empreitada, que visava à unção de súditos e Estado, para um comércio forte e global.

Em 1603, a “França” viaja formalmente para as Índias; e, numa tentativa de assegurar o monopólio da colonização em terras “conquistadas” , Henrique IV autoriza a primeira Compagnie des Indes Orientales em 1604. Essa Compagnie contou com todo um aparato governamental; que lhe assegurou o monopólio dos produtos extraídos por 15 anos. Mas, é apenas em 1610 que podemos destacar uma certa relevância da empresa, quando ela conta com viagens regulares e com uma pequena frota. Porém, logo a empresa é extinta: a organização da frota, utilizando-se de aparatos e tecnologia holandesa, acaba por irritar a VOC, causando sérios embaraços externos com as Províncias Unidas. Outras tentativas foram realizadas de restauração ou implantação de uma nova Compagnie, em 1615 e em 1635.

Podemos destacar que, apesar de inúmeras tentativas, apenas em 1664 a implementação de Companhias francesas de Comércio aparentam ser uma bom negócio. Nesse ano, Colbert instala suas duas principais Companhias: As Compagnies des Indes Orientales e Ocidentales; empresas autárquicas, porém voltadas também à receita estatal.
A Compagnie des Indes Orientales, responsável pelas relações no hemisfério oriental, apresentou uma vida útil de 55 anos (1664-1719), e era resultado direto da fusão de três importantes Companhias: a Compagnie D´Oriente, a Compagnie da China e a Compagnie de Madagáscar. Detinha o monopólio por 50 anos do Índico e Pacífico, assim como todas as Ilhas e Terras que podia conquistar. Apresentou durante seus dez primeiros anos, fracasso, apesar da grande venda inicial de ações; e fracassada também se tornou sua tentativa de ocupação e colonização a Madagascar (transformada em principal Ilha de extração). A Companhia apresentou relativo progresso chegando, inclusive, a aumentar sua rota comercial com a implantação, em 1668, de escritórios comerciais espalhados pela Índia. Porém em 1671, seu transporte marítimo decaia, devido aos maus negócios, trazendo ruína e guerras constantes em 1672. Em 1682, a empresa perde o monopólio devido à desconfiança da Coroa; mas luta até 1719, quando é formalmente dissolvida.

A Compagnie des Indes Ocidentales, responsável pelas relações no hemisfério ocidental, foi bem menos sucedida do que sua gêmea Oriental. Durou cerca de dez anos (1664-1674), apesar de gozar de grandes privilégios cedidos pelo governo; como o monopólio de comércio e colonização dos importantes territórios do Canadá, Antilhas, Cayenne e todos que pudessem vencer na América Central e também do Senegal e costa da Guiné. Contava, para tanto, com 40 anos de monopólio em que só se pagava metade dos direitos à Coroa. Sua ruína se dá em 1764, quando o Rei lhe retira os privilégios e reúne sob sua égide, novamente, os territórios envolvidos. Após sua dissolução; parte advinda das constates guerras com a Inglaterra, parte devido a desconfiança estatal na Companhia; muito se foi feito na tentativa de não- cessação total do comércio com esses territórios.

Em 1717, o banqueiro John Law funda a Compagnie d´Ocidente (ou Du Mississipi), também em resposta às reivindicações desses comerciantes. Essa importante Companhia detinha por 25 anos o monopólio do comércio de pele de castor canadense e da exploração de territórios franceses no além-mar ocidental. Porém só dura até 1719, quando junto com Compagnie des Indes Orientales e outras, funda a maior e mais importante Companhia francesa: A Compagnie des Indes.

Esta Compagnie des Indes durou cerca de 70 anos; e representou, portanto, um rearranjo de importantes empresas nacionais; como a Compagnie d´Ocidente, a des Indes Orientales, a Compagnie da China, a de Santo Domingo, da África, Guiné e Senegal. Ela realizou, a partir de então, a unção também de todos os monopólios dessas empresas; tendo recebido, posteriormente, o monopólio de todos os comércios ultramarinos franceses. Através de sua fusão com o Banco Royale, ganhou o direito nunca concedido anteriormente a uma empresa comercial, o de emitir notas. Porém essa fusão resulta num colapso apenas um ano depois e faz com que a Companhia decrete falência em 1721. Limitou-se ao comércio, e em 1722, conseguiu se reorganizar e resistir, recebendo em 1723, um voto de confiança de Luis XV, que concede a ela livre privilégios, principalmente sobre o monopólio de tabaco e café.

Até 1626, a empresa progride; mas esse ano marca, acima de tudo, o começo do período áureo da Companhia, que dura até 1746. Esses 20 anos representam anos de grandes feitos, como o pagamento de dívidas anteriores e trazem riqueza e prosperidade para os principais portos franceses, como o L´Oriente. Nesses tempos também se estabeleceu em vários escritórios na Índia, Cantão, Lêmen, Pérsia, Basra e Norte da África; que eram responsáveis pelo comércio de porcelanas, papéis de parede, lascas e chá da China, pano de algodão e seda da China e Índia, café do Lêmen, pimenta do Mahé, ouro, marfim e escravos da África.

Em 1746, a companhia começa a decair; fato acelerado pelas guerras francesas com a Inglaterra, principalmente a dos Sete Anos, que traz mais ruína à França, que perde navios nos combates, e territórios de bastante valor, como a região canadense. Em 1769, a Coroa francesa, que sempre fora desconfiada quanto a Companhias privilegiadas de Comércio, retira o monopólio de sua principal Companhia monopolística. A situação se agrava e, em 1770, o Rei lança um edital exigindo que a Companhia transfira todos os bens, direitos e propriedades para o Estado francês, cabendo à Coroa, a partir de então, a liquidação das dívidas dos acionistas e as anuidades das ações até a liquidação total. Essa atitude reinol extingue em 1770 a Companhia, e sua junta de liquidação termina os trabalhos em 1790.

Luis XVI tenta, em 1785, criar uma nova Companhia, na tentativa de gerir o comércio e manter os comerciantes sob seu domínio. A essa nova Compagnie des Indes, é dado um monopólio de 7 anos de comércio com todos os territórios ao leste do Cabo da Boa Esperança. Possuía uma frota média de 11 navios, que faziam escassas e regulares viagens à Índia e Ásia; e prospera até meados de 1790, quando a Assembléia Nacional revolucionária retira seus privilégios em 1790. Comercializa até fins do século XVIII, mas sua liquidação se dá apenas em 1826.

No entanto, escritórios de comércio e portos indianos continuam sob égide francesa até 1949.

5.3 COMPANHIA DINAMARQUESA

A principal Companhia privilegiada dinamarquesa de comércio foi a East India Company, empresa baseada nas contemporâneas holandesas e inglesas. Nunca alcançou a potência e a capacidade de monopólio de comércio de uma região, assim como foi tida como bastante frágil e intimamente ligada ao bel-prazer reinol.

Foi instaurada em 1616, pelo monarca Christian IV e contou, logo de início, com a desconfiança dos comerciantes nacionais. Empresa instalada com a parceria da Holanda fez de Tranquebar sua principal possessão além-mar; sua colônia e ponto de referência na Índia.

Foi tida como de pequeno porte; e, viajando a partir de 1618 (com o objetivo de alcançar a costa Coromandel e firmar acordos com o Ceilão) fez cerca de sete viagens de Tranquebar à Companhag, metrópole dinamarquesa. Apresenta, nos primeiros anos, ineficiência comercial; devido, sobretudo aos inúmeros naufrágios e ao pouco dinheiro lançado na empreitada.

Ocupa efetivamente Tranquebar em 1621 e os dinamarqueses passam a comercializar sobre duas principais rotas: a de pimenta, vinda de Tenasserim, e a de Massacar, de cravo. A partir de então participam do chamado “país de comércio”, adotando em 1625, uma postura essencialmente neutra no comércio global; e criando por outro lado, uma extensa rede de escritórios na Índia, a exemplo de outros países contemporâneos. A partir dessa posição, ocorrem sucessivas transferências de poder, advindas, sobretudo da crise monetária e comercial (que começa a se revelar em 1627 e desemboca com o bloqueio marítimo a Tranquebar em 1639); e uma insistência cada vez mais impertinente do Rei em manter a empresa colonizando uma Tranquebar já bastante combalida. Em 1639, dois navios (os últimos por um período de 29 anos) são mandados pelo Rei na tentativa de findar os impasses em Tranquebar.

A partir de 1640, a situação de Tranquebar piora. Isolada, sem apóio da metrópole (comprometida com seus próprios problemas externos), se vê assolada por uma afinidade de guerras com ilhas e territórios vizinhos; além de motins dinamarqueses na colônia. 1648 assume papel chave nesse processo: ano do motim , enfim, tira Leyel do comando supremo de Tranquebar (comando designado pela Companhia e pelo Rei) e instaura sucessivos governos não-oficiais na colônia. Também foi o ano da morte de Christian IV. Isso faz com que, em 1650, pressionado por acionistas, Frederico III, seu sucessor, enfim dissolvesse a sociedade, pondo Tranquebar na posição, mais uma vez, de “terra de ninguém”; não-colonizada pela Companhia nem pelo Reino, preocupado com guerras religiosas e externas contra, principalmente, a Suécia.
Tranquebar resiste a duras penas, e em 1669, o bloqueio de 29 anos chega ao fim: a fragata Faero parte de Compenhag, com a tentativa de reavivar a colônia (expandindo-a e firmando acordos de paz com as terras em guerra, além de proclamar Andersen comandante supremo); e instaura, em 1670, uma segunda East India Company. Esta segunda empresa tenciona novas rotas de comércio com Bantam e a Ilha de Sunda. Detinha 40 anos de monopólio, privilégio subscrito numa carta régia. Após relativo progresso, recebe de Christian V mais 40 anos de monopólio. Esse período é reconhecido como o período áureo da Companhia, em que muitas negociações importantes são tratadas, e o comércio apresenta lucros bastante significativos.

O fim dessa Companhia começa a se dar a partir da primeira década do século XVIII; devido principalmente às Grandes Guerras do Norte, que causam prejuízos incalculáveis ao reino da Dinamarca, e consequentemente, à Companhia. Mesmo depois da paz de 1720, pouco pode ser feito no sentido de recuperar a economia da Companhia. Em 1726, Frederico IV recusa um pedido de ajuda à Companhia, e em 1729, os acionistas dissolvem a lucrativa empresa.




CONCLUSÃO

Nesse breve trabalho a respeito das companhias modernas de comércio, procurou-se caracterizar essas empresas, suas formas de organização e sua relevância econômica e política para as metrópoles européias; em meio a um contexto de competição entre as potências européias. Essas potências procuravam garantir privilégios e postos de influências em regiões produtoras de produtos valiosos no mercado internacional ou em zonas de intercâmbio comercial.
Assentamos as bases dessa pesquisa nas obras de alguns renomados estudiosos, que tratam desse tema tão importante a respeito das práticas comerciais e suas influências na construção dos estados modernos europeus.

Pudemos acompanhar a criação dessas sociedades em vários países, sendo observados os interesses expansionistas que pululavam no universo do comércio além-mar europeu e a estreita relação que a maior parte delas possuía com os Estados Nacionais modernos. Também foram vistas algumas causas de sucesso ou fracasso desses empreendimentos comerciais, que representavam a mentalidade “colonizadora” presente em diversos países da Europa durante a Idade Moderna.

Por fim, esperamos ter contribuído, ao menos de forma modesta, para o entendimento geral da relevância das Companhias de Comércio na construção histórica de interações comerciais e políticas entre as mais variadas regiões, desde o Atlântico ao Pacífico.









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2 comentários:

Unknown disse...

O senhor não faz idéia de como o seu post me foi útil. Muito grato pela sua contribuição.


Claudio. L. O.

Estudante de Economia (UFRGS)

Anônimo disse...

Seu post foi decisivo em minhas pesquisas. Muito obrigada!

Mariana Karine
Escritora