segunda-feira, 12 de maio de 2008

Agreste Meridional - Colonização e questões Indígenas

Este é um trabalho que foi realizado e apresentado por alunos da disciplina Problemas da História de Pernambuco, disciplina eletiva do curso de História do Departamento de História da UFPE





Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
Centro de Filosofia e Ciências Humanas – CFCH
Departamento de História



Agreste Meridional - colonização e questões indígenas


Maria Eduarda Alves P. Silva
Maria Falcão S. da Cunha
Mariana Andrade Lima
Problemas da História de Pernambuco
Prof. Severino Vicente
Período 2008.1


Sumário

1.Região de Desenvolvimento Agreste Meridional................................
03
2. A Colonização da Região do Agreste Meridional..............................
04
3. Índios Fulniô.....................................................................................
07
4. Vale do Catimbau e Parque da Pedra Furada...................................
09
5. Referências Bibliográficas.................................................................
10







1. Região de Desenvolvimento Agreste Meridional


Localizada na mesorregião do agreste pernambucano, a Região de Desenvolvimento do Agreste Meridional é formada por vinte e seis municípios, e tem uma população de 561.940 habitantes distribuídos nas áreas urbana e rural. Conhecida como bacia leiteira do Estado, o Agreste Meridional têm como base econômica a pecuária leiteira com produção de leite e derivados de forma artesanal e industrial, com a perspectiva de crescimento através da chegada de novos investimentos privados na região. Além da pecuária, a agricultura, a floricultura e o turismo são atividades econômicas dinâmicas e empregadoras de mão-de-obra local, cuja População Economicamente Ativa (PEA) é de 251.224 habitantes, sendo 227.316 ocupados.
A RD do Agreste Meridional se diferencia das demais RDs do Estado pelo clima e pelo relevo, o que propicia a diversidade do cultivo agrícola e da floricultura. O escoamento da produção local e o abastecimento da região são feitos pela rodovia BR-232, principal via de acesso ao Agreste pernambucano. As demais rodovias que formam a malha viária são deficitárias e sem manutenção. Dos 26 municípios que formam a RD do Agreste Meridional, Garanhuns concentra o maior número de habitantes (117.749 hab), seguido de Buíque com 49.169 habitantes.
Diante da posição de destaque, Garanhuns representa o pólo econômico ativo da região porque concentra as atividades industriais, do comércio e do turismo, entre elas, o Festival de Inverno que acontece no mês de julho e leva milhares de turistas à cidade. Este evento do calendário turístico aquece a economia local, gera empregos temporários e incrementa às vendas no comércio. Com boa infra-estrutura de hotelaria, restaurantes, bares e cafés, Garanhuns é conhecida como a Suíça pernambucana pelo clima frio no período do inverno, cuja temperatura chega aos 15º C. Garanhuns é também centro cultural da região, abrigando cursos da Universidade Federal rural de Pernambuco, Universidade de Pernambuco, bem como faculdades particulares e centros experimentais de ensino.
Embora tenha grande potencial econômico entre as RDs do Estado como pólo comercial, de turismo, e de beneficiamento de leite, o Agreste Meridional participa com apenas 3,6% do Produto Interno Bruto (PIB) de Pernambuco. O PIB é a soma das riquezas produzidas pelo Estado. Além disso, a região tem infra-estrutura básica deficitária no que se refere ao abastecimento de água e saneamento básico. A taxa de abastecimento de água adequado é de apenas 33,9% das residências, considerada a terceira pior das RDs do Estado.
A falta de infra-estrutura básica se reflete nos índices sociais da região. A taxa de mortalidade infantil é de 39,0 em 1.000 nascidos vivos, considerada a segunda pior das regiões pernambucanas. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,598, inferior ao de Pernambuco que é de 0,705. Caetés, município do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem o segundo pior IDH do Estado. No quesito educação, a RD do Agreste Meridional tem taxa de analfabetismo de 40,7%, apontada como a mais elevada entre as regiões do Estado.
A maioria dos municípios que formam a RD Agreste Meridional é de base rural e se originaram como distritos de Garanhuns, sendo dependentes economicamente dos repasses do governo federal, através do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e dos recursos da Previdência Social pagos aos aposentados e pensionistas. A maioria da mão-de-obra desses municípios é absorvida no serviço público, em especial, nas prefeituras e Secretarias Municipais.

2. A Colonização da Região do Agreste Meridional

A povoação efetiva da Região do Agreste Meridional teve início no século XVII, mas já existem registros de organização de expedições à região do Rio São Francisco desde a fundação da Capitania de Pernambuco, em 1534. Duarte Coelho, além de promover a expulsão dos índios Caetés da Aldeia de Marin (futura Olinda), tratou de enviar vaqueiros e soldados de milícia para desbravar a região do São Francisco, de forma que se começa a criar fazendas de gado e vilas.
O próprio rei de Portugal, D. João III, também estava preocupado em garantir a posse da região em questão, quando em 1548 ordenou que Tomé de Souza, Governador Geral, enviasse soldados de milícia para que tomasse posse das terras desbravadas. Também o filho de Duarte Coelho, Duarte de Albuquerque promoveu expedições para a restauração de alguns povoados e para a conquista de índios, campanha esta que durou cinco anos.
Outro fator importante que contribuiu para a interiorização via Rio São Francisco foi a fundação da Capitania de Sergipe Del Rei, por Garcia D’Ávila, da Casa da Torre, em 1573. De acordo com o professor Joaquim Silva, os empreendimentos exploradores desta Casa são responsáveis por boa parte do povoamento da região Nordeste do Brasil, através da expansão da criação de gado e da contração de paulistas para desbravar as terras a serem transformadas em currais de gado e capturar índios – entre eles, o sertanista Domingos Jorge Velho.
De acordo com o professor Osório de Souza Reis, a criação de gado foi o principal fator de interiorização da colônia, cujo movimento foi iniciado em locais próximos a Salvador – uma vez que as primeiras reses foram trazidas por Tomé de Souza – e se expandiu para Sergipe e Pernambuco.
Sobre o modo de vida dos criadores de gado nestas regiões, ainda pouco ou quase nada conhecida. Capistrano de Abreu afirma que não eram os donos das sesmarias que se deslocavam para o interior, mais os escravos e prepostos. A alimentação, rica em carne e leite, carecia de farinha, inicialmente; a coleta de frutas silvestres complementava a dieta dos vaqueiros. Uma das características mais marcantes deste segmento é a chamada “Sociedade do Couro”, na qual todos os utensílios – das cabanas e leitos aos recipientes de comida e água – eram feitos em couro.
Nas proximidades do fim do século XVI, entre 1590 e 1600, a região já estava tão povoada que alguns anos depois, em 1627, já constitui um abastecedor de bovinos para os engenhos de Pernambuco e da Bahia, segundo Frei Vicente do Salvador.
A partir do século XVII, na sua primeira metade, há o estabelecimento da tribo dos índios Cariris na região que hoje é a cidade de Garanhuns e nas cidades em torno – São João, Paranatama, Brejão, Saloá, entre outras. A tribo que ali se estabeleceu, os “Unhanhu”, de corruptela “Garanhu”, fez com que o lugar ficasse conhecido como “Campo dos Garanhu”. Paralelamente a este fato, a Casa da Torre, em 1627, retoma as expedições ao longo do Rio São Francisco, devido aos rumores da existência de minas de prata na região, contribuindo ainda mais para o povoamento da região.
A expansão da criação de gado e a navegabilidade do Rio São Francisco não foram os únicos fatores que explicam e justificam o surgimento de núcleos de povoamento na Região do Agreste Meridional. Na primeira metade do século XVII, um fato contribuiu para o deslocamento de pessoas – escravos e livres – para a região em destaque: o período da dominação holandesa em Pernambuco, que vai de 1630 a 1654. Neste período, muitos proprietários tentaram escapar ao domínio flamengo migrando para o interior; também seus escravos aproveitaram a divergência da atenção dos portugueses para fugir e integrar o já significativo Quilombo dos Palmares. Aliás, a denominação correta seria os Quilombos dos Palmares, uma vez que havia várias comunidades quilombolas, espalhadas desde União dos Palmares (cidade do atual Estado de Alagoas) até o Cabo de Santo Agostinho e as proximidades de Garanhuns. O fluxo constante de escravos africanos para esta região e sua interação com as populações locais constituem um fator importantíssimo para o desenvolvimento e crescimento da região.
Ainda sobre os Quilombos dos Palmares, a maior parte da historiografia brasileira ainda coloca este evento de forma diminuída nos conteúdos ensinados em História do Brasil, de forma que a visão que a maioria das pessoas – e até mesmo historiadores – tem do movimento é bastante distorcido. O senso comum a respeito deste assunto pinta um quadro de um grupo pequeno de escravos fugidos e assustados, vivendo de forma precária em alguma mata obscura na Serra da Barriga. Ao contrário, os integrantes dos quilombos constituíram várias comunidades, algumas delas com mais de mil habitantes – a maior delas, a do Macaco, possuía algo em torno de oito mil membros – sendo a estimativa total de habitantes quilombolas entre dez e trinta mil habitantes. Tinham um comércio baseado em trocas bastante ativo, em que trocavam produtos como milho, fumo, açúcar, batatas por armas, munições e sal em cidades “grandes” para os padrões da época, como Porto Calvo, Serinhaém e Ipojuca. Com a chegada dos holandeses, os portugueses se viram divididos, lutando em duas frentes: no litoral, contra os flamengos, e no interior, contra os palmarinos.
Um outro conceito errôneo sobre os quilombolas reside no fato de que apenas negros habitavam estas comunidades. Na verdade, havia índios, brancos pobres e/ou criminosos, mestiços aproveitando a cobertura das matas para escapar à escravidão, perseguição ou à péssimas condições de vida. Um outro fato interessante são as relações entre quilombolas e vaqueiros que iam desde trocas comerciais a acobertamento de fugas; tal fato também serviu para povoar a região, já que, uma vez findos os principais núcleos de resistência quilombola, muitas comunidades ainda persistiram nos arredores das fazendas de gado, mesclando-se à população local.
As inúmeras expedições que foram empreendidas para a destruição dos quilombos contribuíram para um maior espalhamento das comunidades – já que quando se conseguia destruir uma comunidade, os remanescentes se dirigiam para outros lugares. Além disso, após quase um século de luta portuguesa contra os palmarinos, quando em 1694 as forças lideradas por Domingos Jorge Velho destruíram o principal núcleo dos Palmares, as terras onde se localizavam os quilombos foram doadas em sesmarias, o que sacramentou a ocupação portuguesa na região.
Portanto, por tudo o que foi explanado, pode-se dizer que a Região do Agreste Meridional foi povoada devido a três fatores principais: à proximidade com o Rio São Francisco, a expansão da criação de gado e a existência do Quilombo dos Palmares à pouca distância.


3. Índios Fulni-ô


O município de Águas Belas, desmembrado do município de Buíque, foi criado em 1871. É lá onde se encontra a aldeia do grupo indígena Fulni-ô, palavra esta que significa “povo da beira do rio”. Os Fulni-ô são os únicos índios do Nordeste Brasileiro que mantêm viva até hoje a sua língua nativa, o Ia-tê (Yaathe).
Após a expulsão dos holandeses de Pernambuco os portugueses reorganizaram administrativamente os indígenas da região. É provável que tenha se dado nessa época o aldeamento dos Fulni-ô.
Os Fulni-ô estão organizados em duas aldeias, uma junto à cidade e a outra é a aldeia sagrada onde é realizado o ritual do Ouricuri. Todos são bilíngües e o Iatê é falado principalmente pelos adultos e idosos.
O ritual do Ouricuri é um ritual religioso secreto no qual os Fulni-ô são proibidos de falar sobre o que acontece durante o período do ritual. Porém, algumas informações são de conhecimento público. Os preparativos para o ritual iniciam-se nas últimas semanas do mês de agosto. Os índios mudam-se para a aldeia do Ouricuri e o ritual tem a duração de três meses (setembro, outubro e novembro). Todos os índios do município participam do ritual. Homens e mulheres dormem separadamente. Manter relações sexuais, ingerir bebidas alcoólicas e ouvir música são proibidos. No ritual a língua nativa dos Fulni-ô, o Ia-tê, tem um papel fundamental. É a língua que se fala preferencialmente durante o período do ritual e é, também, onde acontece a socialização dos índios mais jovens com o ensino da língua, mantendo-a viva por gerações.
É indispensável ser filho de pai e/ou mãe Fulni-ô para ter o direito de participar do ritual sagrado. Para eles, a participação no ritual é fundamental para ser considerado um índio Fulni-ô. Por esse motivo, as crianças desde pequenas já participam do ritual.
Os descendentes Fulni-ô são classificados em duas categorias sociais, porém não são considerados parte do grupo. São os remanescentes e os descendentes. Os primeiros são considerados índios pela FUNAI e vivem nas áreas de reserva, os segundos são os filhos de índios e brancos que não participam do ritual.

4. Vale do Catimbau e Parque da Pedra Furada

O Vale do Catimbau é o segundo maior parque arqueológico do Brasil, perdendo apenas para a Serra da Capivara no Piauí, e o terceiro sítio arqueológico indígena do país. Localizado no município de Buíque, tem mais de 150 milhões de anos e 23 sítios arqueológicos, sendo o sítio de Alcobaça o mais importante. A região que abriga diversas cavernas e canyons foi transformada pelo Governo Federal em Unidade de Conservação de Proteção Integral para que seja garantida a conservação da biodiversidade da região.
A presença humana na região é datada de seis mil anos e, de acordo com estudiosos, os grafismos encontrados no Vale foram feitos por diferentes grupos étnicos em diferentes épocas.
Entre os principais atrativos do município de Venturosa estão os sítios arqueológicos Pedra do Tubarão (ou Buquinha), Peri-Peri (ou Morro dos Ossos) e o Parque Municipal da Pedra Furada. O Parque da Pedra Furada abriga vários vales e tem a forma de um “viaduto”. Constitui-se em um bloco de formação granítica de aproximadamente 50 metros de altura, com diversas inscrições rupestres e é utilizado para a prática de rapel.


Referências Bibliográficas:

DIAS, João de Deus O. A Colonização. In: CAVALCANTI, Alfredo Leite. História de Garanhuns. Volume I. Garanhuns: Ipanema, 1968. p. 9-21

DÍAZ, Jorge H. Povos Indígenas de Pernambuco. [S.I.], 1998. Disponível em: <>. Acesso em abril, 2008.

FREITAS, Décio. Palmares – A Guerra dos Escravos. [S.I.]: Graal, 1982. Disponível em . Acesso em 23 abr. 2008.

PERNAMBUCO (Estado). Agência Estadual de Planejamentos e Pesquisas de Pernambuco. Região de Desenvolvimento Agreste Meridional. Recife, 2004. Disponível em: http://www.condepefidem.pe.gov/regiao_desenvolvimento/agreste_meridional/perfil.asp. Acesso em abril, 2008.

______. Vale do Catimbau. Disponível em: . Acesso em abril, 2008.

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