quinta-feira, 1 de maio de 2008

O Saber Universitário e as Guerras de Religião nos Tempos Modernos

Trabalho realizado como avaliação na disciplina de História Moderna II, ministrada pelo Prof. Dr. Severino Vicente da Silva

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA









O SABER UNIVERSITÁRIO E AS GUERRAS DE RELIGIÃO NOS TEMPOS MODERNOS (SÉCULO XVI-XVIII)








Grupo: João Dias
José Gustavo
Márcio César
Viviane



RECIFE2008






RECIFE2008
ÍNDICE


1. APRESENTAÇÃO - 1
2. DESMISTIFICAÇÃO DAS GRANDES CONSEQÜÊNCIAS DA REFORMA - 2
3. O DESPERTAR DA CIÊNCIA E DA RACIONALIDADE - 5
4. CIÊNCIA E RELIGIÃO - 7
5. RELIGIOSIDADE E AS UNIVERSIDADES - 9
6. CONFLITO RELIGIOSO - 12
7. PARTICULARIDADES EUROPÉIAS - 13
8. CONCLUSÃO - 16
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS - 17





1. APRESENTAÇÃO

O saber universitário desenvolvido nos séculos XVI e XVII, impostos geralmente de cima para baixo, tanto nos países ligados às pastorais protestantes quanto católicas, logrou êxito à medida que foi disseminado rapidamente. O povo nesse período, obrigado a adequar-se às novas doutrinas e políticas defendidas pelos reis e príncipes, adotou posições muitas vezes contraditórias e avessas ao interesse real. Interessados na riqueza e bens materiais, os soberanos escolheram para si e para seu povo as doutrinas dos novos evangelistas, transformando-as segundo a realidade do Estado Moderno instituído.

Caracterizado por uma formação conflituosa e contraditória, percebe-se nesses Estados, interesses não-religiosos nos conflitos, como por exemplo, a Guerra dos Três Henriques ou a Guerra dos 30 Anos, na qual o cardeal Richelieu apoiou os luteranos do Sacro Império contra a Espanha católica. Além disso, a produção de conhecimento, sobretudo científico, fica marcada pela emergência de novos raciocínios alheios aos interesses da academia, que passa a sentir diretamente as conseqüências desses conflitos.
Impossibilitados de deslocarem-se em períodos de guerra, os letrados criam novos centros de estudo para atender as novas condições sociais e religiosas impostas, desarticulando assim, os poderes das universidades e dos centros renomados católicos e protestantes. Interessados em uma educação mais laica, esses centros perpetuam-se à medida que o conflito religioso se acentua. Este trabalho procura assim, discutir alguns pontos importantes sobre o fenômeno pós-universitário, delineando aspectos relevantes que permitiram a eclosão das guerras.












2. DESMISTIFICAÇÃO DAS GRANDES CONSEQÜÊNCIAS DA REFORMA

Um dos grandes acontecimentos da era moderna, com certeza foi a Reforma. Mas apesar disso, ela não teve responsabilidade por todas as grandes conseqüências que lhe foram atribuídas. Ela não foi a única construtora do mundo moderno.

As principais conseqüências que lhe são atribuídas são: a ascensão do capitalismo, a revolução científica, o racionalismo, o declínio da magia, a secularização e as origens das liberdades civis.

O Historiador Armesto Fernandez em seu livro Reforma: o cristianismo e o mundo 1500-2000, procura mostrar e desconstruir essas conseqüências da Reforma para a construção do mundo moderno.

Inicialmente trata da relação que se atribui ao protestantismo e o capitalismo. Essa associação do protestantismo ao desenvolvimento do capitalismo tem a sua origem precisamente na obra de Max Weber A ética protestante e o espírito do capitalismo, livro este publicado em 1904. Weber acreditava que o espírito do capitalismo era essencialmente religioso; e, ao analisar a Europa durante os séculos XVI e XVII, percebeu que as nações católicas que prevaleceram durante o século XVI (como Portugal e Espanha) passaram a entrar em decadência durante o século XVII enquanto as nações protestantes (como Holanda e Inglaterra) estavam ascendendo e transformando-se nas novas potências mundiais.

Ampliando essa visão podemos ver que a partir do século XVII as principais potências mundiais são essencialmente protestantes e, com o advento da industrialização, chega-se a relacionar a religião puritana com o pioneirismo inglês na Revolução Industrial, como o faz Thompson em seu livro Costumes em comum. Mas deve-se tomar cuidado e verificar se o protestantismo tem essa imensa relação com o capitalismo tal como o afirmou Max Weber e se toda nação protestante (não católica) tende a prosperar. Armesto mostra, por exemplo, que mesmo a Turquia não sendo católica entrou em decadência e um dos seus melhores exemplos refere-se à França que ascendeu mesmo sendo católica.

A idéia advém de que algumas comunidades (como os puritanos) tinham uma relação de desprezo pelo luxo e pela ostentação e assim não gastando seu dinheiro com coisas supérfluas tinham mais fundos para investir e mesmo poupar. Esse ponto de vista não demonstra com veracidade o fato dos acontecimentos. A diferença ocorre porque a acumulação da riqueza por parte dos puritanos se fazia por meio de bens, confinados em suas casas.

Outra questão é a interpretação que se faz do discurso de João Calvino, o qual pregava que Deus abençoava o lucro, sendo uma recompensa do trabalho. Assim, convencionou-se que muitos banqueiros no início da era moderna eram calvinistas cujo exemplo mais forte é a Holanda. Porém, o desprezo pelo luxo e ostentação era típico, primeiramente dos judeus, assim como a questão do lucro, pois eles consideravam a riqueza como uma preferência divina. A cidade de Amsterdã, tipicamente calvinista, era conhecida por possuir edifícios suntuosos e, mesmo os edifícios simples por fora eram bastante luxuosos em seu interior. Afora que um capitalismo comercial já fora praticado (não em proporções globais como a partir do século XVI) por muitos outros povos no passado, e mesmo a Idade Média (por volta do século XII). Conhecida como a Idade das Trevas, ela é responsável pelo surgimento da burguesia, a qual sempre esteve atrelada ao mundo moderno.

Assim a ética protestante não teria como conseqüência a ascensão do capitalismo, mas pode-se afirmar que os protestantes (não pela sua teologia) contribuíram bastante para a consolidação do capitalismo através de sua participação na economia mundial segundo interesses específicos de cada pessoa. Até por que o protestantismo através de um discurso de igualdade e compartilhamento (como foi praticado por alguns grupos como os Quinta-Monarquistas) tenderia naturalmente ao socialismo, bem longe da ética capitalista.

Outra grande conseqüência atribuída à Reforma é que dela originou-se as liberdades civis, assim como o racionalismo, a revolução científica e o declínio da magia. O rompimento feito por Martinho Lutero é muitas vezes levado como uma libertação contra a opressão da Igreja Católica, sendo esta última responsável pela falta de liberdade na produção das descobertas científicas e pela falta de liberdades civis. Então, com este raciocínio alimentado ainda mais com a retratação feita por Galileu Galilei (este reiterava as afirmações de Copérnico a respeito do heliocentrismo) por pressão da Inquisição Católica fez a fama de que o catolicismo recusava realizações científicas. Todavia deve-se destacar primeiramente que a intenção de Lutero não fora de romper com a Igreja Católica, mas reformá-la, modificar alguns pontos seja da fé ou dos dogmas católicos. O rompimento aconteceu assim, não como advento de uma força libertadora, mas como falta de concordância entre o Papa e Lutero. Contudo, Lutero também condenava o heliocentrismo de Copérnico.

Além disso, deve-se ressaltar que os protestantes também foram hostis a muitas descobertas científicas e intolerantes a extensão de direitos civis a católicos (ocorrência recíproca), assim como perseguiram e queimaram muitas bruxas, cientistas etc. E ainda, muitas investigações e descobertas foram feitas em países católicos e, inclusive a universidade de Salamanca na Espanha, foi a única a pôr as teorias de Copérnico nos programas dos cursos no século XVI.
A autoridade da Igreja atenuada pela Reforma, provavelmente criou a ilusão de que a partir dela, a Reforma, há uma pré-condição para uma revolução científica, mas a autoridade religiosa reformada se fazia bastante presente quando se questionava um texto bíblico considerado inquestionável. Então a inovação intelectual aconteceu tanto nos países de fé católica quanto nos de fé protestante. “Se as inclinações religiosas e o método científico estão interligados, só pode ser de uma forma muito geral, através do respeito pela verdade, que é comum aos valores da religião e da ciência.” (FERNANDEZ, 1997, p.381)

O declínio da magia tão atribuído à Reforma fora causado principalmente pelo próprio avanço da ciência que excluiu os objetos ditos mágicos (pata de coelho, por exemplo) que faziam uma fórmula funcionar, e verificou-se, pela observação crítica que nada alterava no efeito. Os rituais foram sendo excluídos, assim como esses objetos mágicos. Isso aconteceu de tal forma que vemos uma evolução da alquimia para a química e da astrologia para a astronomia. A tradição católica - com suas relíquias de santos que intermedeiam a cura entre o fiel e Deus – atribuía um caráter mágico para a ciência e, por a Reforma se posicionar contra esta fé em relíquias disseminou-se a crença de que os protestantes eram contra magia. Que os protestantes eram contra a magia, isto é fato, mas os católicos também o eram (apesar de sua crença em relíquias de santos que iam de cabelos e ossos a objetos usados pelos apóstolos e mesmo por Jesus); e, portanto perseguiram, também, a bruxaria e feitiçaria em geral, isto bem antes da Reforma.

Outra afirmação com relação à Reforma é a de que ela teria promovido as liberdades políticas. “A lógica por trás dessa afirmação é simples: o despotismo e o papismo são aliados naturais; a servidão política é conseqüência da fé escravizada.” (FERNANDEZ, 1997, p.383) A este respeito podemos também tratar da secularização que também é atribuída à Reforma. A primeira coisa é que o protestantismo pregava a submissão da Igreja à autoridade do Estado estando mais perto do Absolutismo político do que de algum tipo de liberdade política. Se isso se deve a alguma passagem bíblica (como o lema do “Daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, como também a recomendação de Pedro de se sujeitar a toda instituição humana por causa de Deus) cabe a um estudo religioso, mas a questão é que desde os primórdios da Reforma Lutero esteve sob a proteção de Frederico da Saxônia, um cristão que tinha a maior coleção de relíquias do mundo.

Além disso, ao longo dos séculos os protestantes sempre buscaram proteção de alguma autoridade secular para poderem se estabelecer. Mas a própria Igreja Católica ao longo de sua história sempre procurou apoio de Reis para neste caso ampliar seus domínios e seu poder como também aumentar a evangelização. Também esteve abaixo das autoridades seculares de forma espontânea como no caso do Padroado característico dos países ibéricos. Mas claro que houve um aumento considerável da secularização após a Reforma, e este não é de todo um mito, a não ser quando se atribui a sua origem à Reforma. Vale lembrar que esta secularização, iniciada ainda no Renascimento anterior à Reforma, teve suas abordagens ampliadas e é atualmente conhecida nas Igrejas (tanto protestante como católica) como mundanização ou mundanidade. Este conceito leva em consideração a decadência moral, assim como o ateísmo que foram aumentando com o tempo.

Todas essas conseqüências atribuídas à Reforma seriam, no mínimo atenuadas, se se levasse em consideração que a Reforma fora feita no âmbito religioso e não no político ou econômico, apesar de haver tido algumas relações com a política e a economia, mas isso jamais por causa da ética protestante ou mesmo católica, e sim devido à utilização dos ideais defendidos como embasadores desses movimentos. A mentalidade desse período ligava-se diretamente à religiosidade.


3. O DESPERTAR DA CIÊNCIA E DA RACIONALIDADE


O mito de que, o surgimento da racionalidade na Idade Moderna, provocada pelo despertar da ciência, causou uma rivalidade entre religião e ciência não pode mais ser defendido. Na realidade, os cientistas não foram perseguidos como hereges, como se imagina. Hoje, não se pode mais pensar em ciência e religião como abordagens absolutamente opostas e incompatíveis à compreensão das verdades fundamentais acerca do mundo. As religiões só combatiam os estudos que iam de encontro à fé e aos dogmas de cada uma. Às vezes, essas contendas tinham uma conotação mais política, já que os estados absolutistas eram religiosos.

Outro mito, o de que o Catolicismo era a única religião a persegui-los, também se desconstrói, pois os protestantes também perseguiram cientistas. Mas, devido o papel desempenhado pela Inquisição Católica, convencionou-se utilizá-la como foco das perseguições. Roma não rejeitava os aspectos práticos das contribuições científicas, seus membros também se dedicavam ao desenvolvimento científico. Os jesuítas, por exemplo, eram conhecidos pelo seu saber científico e, até mesmo o papa Gregório XIII desenvolveu um calendário que foi adotado por todo o mundo católico, pela Alemanha protestante e a Inglaterra, tal era sua eficiência.

Os cientistas modernos, em sua grande maioria, eram homens religiosos, e não queriam acabar com a fé, demonstrando que as religiões estavam enganadas. Eles só queriam provar que havia outra maneira de explicar os fenômenos naturais, mesmo assim, em uma concepção que não ferisse os princípios de sua crença.

Desta forma, podemos notar a importância que as questões religiosas tinham para os pensadores mais destacados, fornecendo uma motivação geral paras suas pesquisas. Seus estudos foram todos cuidadosamente desenvolvidos de modo a fornecer sustentação às concepções teológicas individuais dos respectivos cientistas. Essa influência teológica exercida sobre os cientistas, fazia com que, entre eles, surgissem algumas divergências, pela razão de basearem suas pesquisas de acordo com pressupostos opostos sobre a providência de Deus.

Nessa época havia duas correntes teológicas que discutiam a providência divina: a corrente voluntarista e a intelectualista. Enquanto a voluntarista defendia que Deus rege o mundo de acordo com a sua vontade, a intelectualista enfatizava a razão de Deus. O voluntarista dizia que nada era capaz de restringir a onipotência de Deus, ao passo que o intelectualista, apesar de acreditar na onipotência de Deus, acreditava que havia algumas verdades eternas ou preexistentes que conduziam Deus a agir de certas maneiras por meio de sua razão. Os voluntaristas supunham que o que Deus decide é bom, já os intelectualistas acreditavam que Deus decide o que é bom. O voluntarista defendia que só era possível descobrir o sistema do mundo empiricamente. O intelectualista, em contraposição, acredita ser possível, pelo menos em certa medida, entender os pensamentos de Deus à maneira dele e assim chegar a uma compreensão racional do mundo.

Essas duas correntes influenciaram de maneira fundamental os estudos desenvolvidos na época, não só de maneira individual, como também grupos de pesquisadores. Um exemplo desses grupos são os cientistas ingleses que, diferentemente dos pesquisadores do continente, davam maior ênfase ao experimento, se ajustando ao voluntarismo.

Os filósofos naturais não se preocupavam apenas com as questões práticas da natureza, eles também almejavam desvendar, na medida do possível, os segredos que envolviam o sobrenatural. Foi por esse motivo que os membros da primeira geração de construtores de sistemas mecânicos se interessaram pela alma humana. Eles afirmaram que sua filosofia mecânica fornecia uma certeza muito maior da imortalidade da alma do que o aristotelismo.

Como os corpos são formados de partículas materiais que ocasionam mudanças ao se redistribuírem ou dispersarem, eles concluíram que a alma racional por ser imaterial era incapaz de mudança sendo, portanto, imortal. Entenda-se por alma racional somente a alma humana.
Isso não significa que havia uma unanimidade entre eles, havia algumas diferenças de detalhes, mas isso estava relacionado com a diferença de perspectiva religiosa.

Voltando à questão dos mitos, existe uma afirmação de que o avanço científico na Inglaterra, no século XVII, foi estimulado pelo puritanismo. Esta afirmação se baseia nas características atribuídas ao puritanismo, entra as quais estava a preocupação com o trabalho socialmente útil como um meio de glorificar Deus e indicar o próprio estado de graça, por exemplo. Mas essa e outras características podiam ser consideradas como relevantes para grupos não-puritanos e, em alguns casos, até para católicos.

Mas também havia um fator que poderia ameaçar os cientistas devotos. Na mesma época que se desenvolveu a ciência moderna, originou-se o ateísmo, e houve um grande temor que ele se disseminasse. Por isso, muitos dos estudos desses cientistas foram associados ao ateísmo. Eles passaram, então, a defender seus estudos, demonstrando que não eram ateus; e através deles tentaram derrotá-lo. Para reforçar essa luta era dito às pessoas que a Natureza era o outro livro de Deus e que o estudioso dedicado dela era semelhante a um sacerdote.

Outra corrente, também devota, foi uma que tentou conciliar a nova filosofia à crença na feitiçaria e nos demônios. Negar Satanás e suas obras eram também negar Deus. Essa corrente foi pouco difundida. Os poucos filósofos naturais discutiam fenômenos sobrenaturais para fugir do ateísmo. Ao se mostrar à realidade do mundo espiritual, evidenciava-se convenientemente o benefício da filosofia mecânica para a religião. A filosofia mecânica mostrou-se útil na guerra contra a irreligião.

Observando todos esses indícios nós podemos perceber que além de não serem inimigas ente si, ciência e religião se ajudaram mutuamente. E, principalmente, que a religião e a teologia desempenharam um grande papel no desenvolvimento científico.


4. CIÊNCIA E RELIGIÃO

A questão dos cientistas no que se diz respeito à religião é visível, por exemplo, no caso de Nicolau Copérnico, que criou uma teoria heliocêntrica do universo, colocando a Terra e todos os outros planetas desse sistema girando em torno do Sol. Essa teoria foi considerada um abuso contra a visão da Igreja Romana de que Deus criou a Terra como o centro do Universo, pois considerava o ser humano como “coroa da criação divina”. Copérnico, ciente de que seria confrontado em vida por sua teoria, somente permitiu que fosse publicada após sua morte.

A teoria copernicana foi melhorada com o passar dos anos por Tycho Brahe, Johannes Kepler e principalmente por Galileu Galilei. Esse último iria enfrentar como ninguém problemas com a Inquisição Romana. Suas observações das fases da lua, em especial sua teoria, hoje comprovada, até mesmo pelos que já foram a Lua, das crateras lunares, e também das manchas e explosões solares foram consideradas espúrias, tendo em vista que a teoria Aristotélica de perfeição dos astros era mesmo confortável para a Igreja comprovar que Deus faz todas as coisas perfeitas.

O fato de também apoiar a teoria copernicana complicou ainda mais Galileu. Suas teorias tiveram que ser abdicadas após a publicação do Dialogo di Galileo Galilei sopra i due Massimi Sistemi del Mondo Tolemaico e Copernicano, ou por vezes abreviado para Dialogo sopra i due massimi sistemi del mondo (Diálogo sobre os dois grandes sistemas do mundo) completado em 1630 e publicado em 1632, onde voltou a defender o sistema heliocêntrico e a utilizar como prova a sua teoria incorreta das marés. O livro expõe um diálogo entre três personagens, Salviati (que defende o heliocentrismo), Simplício (que defende o geocentrismo e é um pouco tonto) e Sagredo (um personagem neutro, mas que termina por concordar com Salviati). O Papa Urbano VIII acreditou que Salviati era uma paródia de si mesmo e chamou Galileu para o tribunal. Assim, Galileu teve que abdicar suas idéias.

Outro pensador bastante afetado pelas perseguições da Igreja foi Giordano Bruno. Mesmo tendo sido um dos maiores teólogos da Igreja, foi condenado após criar uma teoria da infinitude do Universo, em que incluía também a crença em vidas extraterrenas. Tal teoria foi completamente repudiada pela Igreja Católica, que condenou Bruno à fogueira em 1600.
Outro caso, esse ainda pior, foi o de Miguel Servet. Esse cientista foi perseguido pela Igreja Católica Romana por suas idéias opostas à Trindade Divina, considerando a mesma como uma impostora. Ele foi condenado pelos Romanos, e fugiu pra Genebra, lar dos Calvinistas e de Jean Calvino, que aconselhou Servet a não vir, no que não foi ouvido; e o Conselho de Genebra atribuiu a mesma pena que lhe havia sido daa pela Igreja Romana contra ele, sendo queimado na Praça de Champel a 27 de Outubro de 1553.

No século seguinte a Galileu, as coisas teoricamente ficaram menos complicadas, apesar disso, a oposição da Igrejas continuava forte. Quando Isaac Newton publicou sua Teoria da Gravitação Universal, foi duramente criticado, ainda que ele tenha sido bastante sutil ao afirmar que Deus é quem regia tais leis, inclusive pelo fato de o mesmo Newton ter sido bastante religioso. Aliás, essa era uma tendência muito comum na época, todos os aqui citados eram bastante religiosos, mesmo que não respeitassem as visões da Igreja oficial. René Descartes é um dos maiores exemplos disso. Seu Discurso do Método diz provar a existência divina graças ao fato de existir o pensamento, crendo ele que o pensamento só existe por uma presciência divina (logicamente isso é completamente vago).

Sendo, ao mesmo tempo, religiosos e contra algumas idéias da religião, esses homens foram os precursores do desenvolvimento científico que chegou até os dias de hoje. Apesar disso, como foi dito, eles não queriam destruir a religião, mas sim tentar explicar o mundo com uma dose de ciência, ainda que para isso tivessem que desrespeitar alguns dogmas pré-estabelecidos.


5. RELIGIOSIDADE E AS UNIVERSIDADES

O processo de internacionalismo das ciências no século XVI e XVII, iniciado com a construção de novas universidades e novos centros de saber, voltou-se para atender as necessidades de homens interessados em desligar-se do controle estatal e eclesiástico. Essa iniciativa particular procurava fundar um ensino desligado do controle estatal e eclesiástico direto, fugindo do “supernaturalismo para o secularismo, da teologia para ciência, da esperança do céu e temor do inferno”[1]. Assim, em busca da ampliação de seus conhecimentos além do proposto pelas universidades católicas e protestantes, esses homens interessaram-se em conhecimentos que atendessem a fins práticos e que permitissem a melhoria da vida humana.

A transmissão do saber, oriundo em grande parte do interesse individual de homens que estudavam por conta própria ou custeado por nobres, passa a ser fundamentada e regida por interesses laicos. As bibliotecas se constituíam nos novos centros de conservação do conhecimento e de acumulação da ciência nova que expandia e multiplicava-se tanto nas pastorais católicas e protestantes, como nos centros laicos. A fundação de jornais, bibliotecas, instituições de caridade, escolas acadêmicas e universidades amplamente acessíveis como a de Oxford, Berlim, Londres e França (fundação da Biblioteca Real de Paris) permitiu que houvesse uma disseminação maior de práticas científicas e de ensino laico, cada vez mais procurando fugir dos conflitos religiosos em busca de uma liberdade sem limites.

Will Durant evidencia isso ao relatar que: “Onde a liberdade civil é completa (...), o homem, segundo os ditames da própria consciência, poderá fazer pleno uso de sua religião, sem impedimento para a sua promoção ou emprego do Estado”. Evidencia-se assim, uma das conseqüências tomadas pela secularização do conhecimento, o de permitir uma difusão maior e mais intensa de livros, bibliotecas, jornais, universidades laicas.

Na Alemanha, segundo Durant esse movimento permite a fundação da primeira universidade moderna, caracterizada pelo abandono do escolasticismo, impulso ao ensino da língua vernácula, pela inclusão de cursos científicos e não só de religião no currículo escolar, além de desenvolver uma luta em defesa da liberdade de pensamento de professores e estudantes.

Na França o ensino era dirigido pela paróquia, de forma controladora, onde apesar da permissão para que um professor leigo pudesse lecionar na universidade católica, esse era escolhido e controlado pelo bispo, de modo que houvesse o reforço ao código religioso de moral, censura, austeridade e reclusão em escolas e conventos. Um exemplo conservador desse tipo de instituição é Port-Royal, onde segundo o padre La Salle, a “religião é a essência da educação”.

Apesar do intenso controle exercido pelo Estado e Igreja, algumas instituições conseguem manter reuniões secretas entre cientistas, corroborando assim para a fundação da Académie des Sciences, que segundo Will Durant,tinha a finalidade de “trabalhar para o desenvolvimento das ciências e das artes e procurar, em geral, tudo o que possa ser de utilidade e consciência para a raça humana”.

Na Inglaterra, essas fundações particulares, favorecidas e financiadas pelo governo, buscavam o aperfeiçoamento do conhecimento natural, de forma que ele estivesse acessível a todas as classes – duques, plebeus, burgueses e pobres, estes recebiam isenção de taxas – minando desse modo, o respeito pela universidade e pela igreja oficial.
Vê-se assim, que a principal finalidade desses centros concentrava-se não só no desenvolvimento de conhecimento científico, mas em conhecimento útil à sociedade embasados no interesse de forma uma educação experimental, sem interferência religiosa, na qual prioriza-se a experiência e investigação, evitando assim, discussões de religião e política. Além disso, enquanto na França a Igreja conduzia a educação e a instituição se sujeitava às ordens reais, fortalecendo os laços religiosos e eclesiásticos, na Inglaterra, o processo desenvolveu-se de forma contrária, minimizando a participação dos clérigos e aumentando o poder do Estado recém formado, permitindo que ocorressem melhorias agrícolas, científicas, botânicas e geológicas superiores.

Esse processo de amadurecimento científico vivido pela Inglaterra permitiu que ela se dedicasse a áreas de estudos mais aprofundadas e específicas. Muitos de seus avanços como, por exemplo, nas áreas médicas, foram obtidos pela dissecação de corpos de criminosos e executados, tornando-os repositórios de relatórios clínicos e aperfeiçoamentos técnicos cada vez mais acentuados. Outro, desencadeado pelo secularismo concentra-se na contestação de formas sociais de dominação, onde Defoe não poderia conceber “que o Deus Todo-Poderoso tenha feito as mulheres tão delicadas e tão gloriosas criaturas, dotando-as de tais encantos (...) para serem apenas despenseiras de nossas casas, cozinheiras e escravas”.

O ensino no processo de emancipação, segundo Durant, procura a formação do caráter, da disciplina e da virtude do indivíduo, de forma que dominassem seus desejos. Abandonando-se os ideais defendidos pelo filósofo Locke – a educação era regada por castigos físicos por motivo de má conduta com o interesse de lançar princípios de coragem para suas vidas – a educação firmou-se em um rigor de raciocínio, de modo que estimulasse o raciocínio e criasse criaturas mais razoáveis.

Analisando o ensino no período, Durant afirma que “o problema da educação não é tornar o jovem perfeito em qualquer ciência, mas abrir-lhe e dispor-lhes o espírito, da melhor maneira, para torná-lo apto a qualquer das ciências a que se possa se dedicar”. Assim, ocorre uma maior rejeição às práticas religiosas e teológicas e dedicação em preparar jovens para o futuro.
Essa rejeição é atenuada pela ampliação do conhecimento, em benefício da melhoria da vida humana. Segundo Will Durant, a superstição nesse contexto de guerras religiosas alcança patamares diferentes nas diversas configurações sociais, políticas, ideológicas e religiosas dos Estados Modernos envolvidos no processo de secularização. Na Inglaterra, por exemplo, ocorre um descrédito e abandono de práticas de superstição e feitiçaria, de modo que, “não há necessidade de recorrer a formas inexplicáveis e qualidades ocultas”2. Esse movimento desencadeado pelo advento da ciência moderna, na Alemanha alcança patamar diverso e tardio, onde pode-se verificar na Época moderna a presença de varas mágicas sendo utilizadas para deter hemorragias, curar feridas e recompor fraturas de ossos.

Percebe-se nesse período que as superstições, o ideal de caça às bruxas, o interesse pela astrologia dominavam o íntimo da sociedade nesse período e que em ambas as religiões , em pleno florescimento procuram atuar de maneira inquisitorial, voltando-se agora com olhares altivos e ciumentos, contra o progresso científico que tinha lugar nas faculdades, bibliotecas, observatórios astronômicos, laboratórios de pesquisa, jardins botânicos e criações particulares de animais. Um dos mecanismos de atuação utilizados pela cristandade, tanto católica quanto protestante era a censura das publicações, principalmente de livros.

Isso demonstra como o processo de internalização e internacionalização da ciência e das práticas reformadas eram difíceis e provocavam choques entre os poderes instituídos e o povo. Barradas ou estimuladas segundo as necessidades dos Estados Modernos e a força exercida pela Igreja, na transformação da ciência como instrumento prático para afirmação do poder. Assim, vê-se, que durante os conflitos religiosos existentes, as Igrejas (Católica e protestante), possuíam práticas religiosas e de dominação iguais, no interesse de manter um grupo de pessoas ligadas aos seus dogmas e preceitos.


6. CONFLITO RELIGIOSO


Durante os séculos XVI e XVII, perseguições e guerras forma estimuladas por grupos religiosos que em nome de Deus promoveram a destruição e mortalidade. Percebe-se nesse período que os ideais de guerra, de perseguição e de pecado são acirrados e se apresentam de modo tão radical que devastam novamente o mundo, desta vez em proporções maiores. De um lado configura-se a grande civilização cristã, construída pela Igreja sobre as grandes bases das virtudes de Fé, Castidade, Disciplina e, de outro lado, o mundo que nasceu com os ensinamentos de Lutero e os reformadores. O início do conflito religioso na Europa promoveu assim, o acirramento dos ideais religiosos. Com armas, ambas as “pastorais” dedicam-se à construção na sociedade da “superculpabilização” e do “medo” excessivo.

Além disso, destaca-se que a justificativa para o início do conflito era a repressão das heresias, como se vê nas pastorais católicas e a oposição aos desvios religiosos, característica da protestante. Em vez de se dedicarem à pregação da palavra, a pratica da tolerância religiosa e o ensino, vê-se que dedicam-se a perpetuação de valores políticos e econômicos que se entrelaçam com os interesses das camadas sociais do poder. Uma das formas utilizadas para incutir certos hábitos e praticas, atenuados pelas pastorais eram respaldar-se em ideais bíblicos, permitindo assim que se estruturasse e se consolidasse no século XVIII o Estado Moderno. “As traduções não hesitavam em corrigir as passagens demasiado católicas”, fixando-se em atenuar as hostilidades ao corpo.

Nesse período se percebe que todas as pastorais se esforçavam em “despertar e converter as multidões, compartilhando e afirmando a convicção de que o corpo é de certo modo a prova de nossa corrupção”, evitando imagens demasiado chocantes referentes à morte e decomposição, como por exemplo, as imagens da morte e julgamento. Ao mesmo tempo em que o discurso pretende ser inquietante, também se torna tranqüilizante, expondo a abnegação e o sofrimento como caminho mais seguro para a salvação.

Na França, os conflitos ocorridos são tradicionalmente pela existência de dois grupos rivais, os católicos e os calvinistas. O primeiro, “partido papista”, era formado por membros da família real e por setores da nobreza e do alto clero, que encastelados no poder defendiam o absolutismo a partir do modelo europeu, em que a nobreza e o clero controlavam as estruturas políticas e militares. O grupo calvinista ou “huguenote”, reunia setores da burguesia francesas, alguns nobres, com uma política oposta à da corte, já que estavam fora das estruturas do poder.

Vale ressaltar que o mito de que os calvinistas são contra o absolutismo é errôneo. Eles estavam naquele momento contra o absolutismo exercido pelos católicos, opondo-se a um governo a qual estavam segregados do poder. Os huguenotes reuniam setores importantes da burguesia, em um país onde o desenvolvimento capitalista foi bastante retardado, devido à Guerra dos Cem Anos e a peste, necessitando eliminar as influencias política dos setores tradicionais. Assim, percebemos que apresar de setores da burguesia terem aderido ao calvinismo, a grande maioria permaneceu católica em toda a Europa.

Esses discursos religiosos, entretanto, não expunham com exatidão os reais interesses dos conflitos e das guerras travadas nos períodos. Ao longo do século XVI e XVII, importantes contradições nos permitem perceber os interesses não-religiosos nos conflitos europeus, como por exemplo, a Guerra dos Três Henriques e as Guerras dos 30 anos. A Europa, imersa nessas agitações, se encaminhava para a era das guerras religiosas, movidas geralmente por motivos políticos e econômicas, mais que religiosos.

7. PARTICULARIDADES EUROPÉIAS

INGLATERRA: a Igreja foi formada pelo desejo do rei Henrique VIII que queria se divorciar de Catarina de Aragão para casar-se com Ana Bolena, alegando querer um herdeiro para o trono. Como a Igreja não consentiu, ele fundou a “sua” igreja obrigando o parlamento a aprovar o "ato de supremacia do rei sobre os assuntos religiosos" em 1534. Após excomunhão pelo papa, o rei decreta que padres e bispos sejam presos e decapitados, igrejas e mosteiros arrasados, católicos aos milhares foram mortos. Tribunais religiosos (inquisições) foram montados em todo o país.
Irritados, os camponeses da Irlanda pegaram em armas para defender o catolicismo. Foram trucidados impiedosamente pelos exércitos de Cromwell. Ao fim da guerra, as melhores terras irlandesas foram entregues aos ingleses protestantes e os católicos forçados a migrar para o sul do continente. Cerca de aproximadamente 1.000.000 de pessoas morreram de fome no primeiro ano do forçado exílio. Esta guerra criou uma rivalidade entre ingleses protestantes e irlandeses católicos que dura até hoje, e volta e meia aparecem nos noticiários.

ESCÓCIA: o poder civil aboliu por lei o catolicismo e obrigou que todos aderissem à Igreja "calvinista presbiteriana". Os padres que escolhessem permanecer na Escócia deveriam escolher outra profissão. Quem fosse encontrado celebrando missa era condenado à morte. Católicos foram perseguidos e mortos, igrejas e mosteiros arrasados, livros católicos queimados. Tribunais religiosos (inquisições) foram criados para condenar os católicos clandestinos.

DINAMARCA: O protestantismo foi introduzido por obra e graça de Cristiano II, que ficou conhecido pelas suas crueldades sob o apelido de "o Nero do Norte". Encarcerou bispos, confiscou bens, expulsou religiosos e proclamou-se chefe absoluto da Igreja Evangélica Dinamarquesa. Em 1569 publicou os 25 artigos que todos os cidadãos e estrangeiros eram obrigados a assinar aderindo à doutrina luterana. Ainda em 1789 se decretava pena de morte ao sacerdote católico que ousasse por os pés em solo dinamarquês.

SUÉCIA: Gustavo Wasa suprimiu por lei o Catolicismo. Jacopson e Knut, os dois mais heróicos bispos católicos foram decapitados. Os outros obrigados a fugir junto com padres, diáconos e religiosos. Os seminários foram fechados, igrejas e mosteiros reduzidos a pó. O povo indignado com tamanha prepotência pegou em armas para defender a religião de seus antepassados. Os Exércitos do "evangélico" rei afogaram em sangue estas reivindicações.

SUIÇA: O Senado coagido pelo rei aprovou a proibição do catolicismo e proclamou o protestantismo religião oficial. A mesma maldade e vileza ocorreram. Os mártires foram inumeráveis.

HOLANDA: Aqui foram as câmaras dos Estados Gerais que proibiram o catolicismo. Com afã miserável tomaram posse dos bens da Igreja. Martirizaram inúmeros sacerdotes, religiosos e leigos. Fecharam igrejas e mosteiros. A fama e a marca destes fanáticos chegou até ao Brasil. Em 1645 nos municípios de Canguaretama e São Gonçalo do Amarante ambos no atual Rio Grande do Norte cerca de 100 católicos foram mortos entre dois padres, mulheres, velhos e crianças simplesmente porque não queriam se "batizar" na religião dos invasores holandeses. Foram beatificados como mártires em 2001. Em 1570 foram enviados para o Brasil para evangelizar os índios o Pe Inácio de Azevedo e mais 40 jesuítas. Vinham a bordo da nau "S. Tiago" quando, em alto mar, os interceptou o "piedoso" calvinista Jacques Sourie. Como prova de seu "evangélico" zêlo mandou degolar friamente todos os padres e irmãos e jogar os corpos aos tubarões.

ALEMANHA: Na época era dividida em Principados. Como havia muito conflito entre eles, chegaram no acordo que cada Príncipe escolhesse para os seus súditos a religião que mais lhe conviesse. Princípio administrativo do "cujus regio illius religio". Os príncipes não se fizeram rogar. Além da administração mundana, passaram também a formular e inventar doutrinas. A opressão sangrenta ao catolicismo pela força armada foi a consequência de semelhante princípio. Cada vez que se trocava um soberano o povo era avisado que também se trocavam as "doutrinas evangélicas" (Confessio Helvetica posterior (1562) artigo XXX). Relata o famoso historiador Pfanneri: "uma cidade do Palatinado desde a Reforma, já tinha mudado 10 vezes de religião, conforme seus governantes eram calvinistas ou luteranos".






8. CONCLUSÃO

No século XVI percebe-se que as tradições nacionais, devido a um quadro geográfico mais dilatado revelam-se bastante diversificadas, pouco ou quase nada havendo de comum entre as histórias produzidas na França, na Inglaterra, na Alemanha etc. A não ser principalmente pelo fato de esse período na Europa ser caracterizada por uma transição das formas feudais e organizacionais de organização par forma primitiva de uma acumulação de capitais.
Os saberes universitários, importantes tanto nos países ligados às pastorais protestantes quanto católicas, lograram êxito à medida que foi disseminado rapidamente, ligado a setores afastados do centro de poder. O povo, excluído do processo de organização do poder, teve que se se adequar às novas doutrinas e políticas defendidas pelos reis e príncipes, muitas vezes através da imposição e por meio de conflitos, na tentativa de incutir na sociedade um novo pensamento e imposição da disciplina, competência e dignidade. Interessados na riqueza e bens materiais, os soberanos escolheram para si e para seu povo as doutrinas dos novos evangelistas, transformando-as segundo a realidade do Estado Moderno instituído.
Caracterizado por uma formação conflituosa e contraditória, percebe-se nesses Estados, como é o caso particular da França e da Inglaterra, que interesses não-religiosos motivaram os conflitos, como, por exemplo, provocando choques entre os católicos e protestantes. A produção de conhecimento, sobretudo científico, fica assim, a serviço dos novos intelectuais interessados em expandir novos raciocínios além dos muros da academia.
A guerra permite assim, a criação de novos centros de poder, de estudos, atendendo as novas condições sociais e religiosas impostas, desarticulando assim, poderes tradicionalistas das universidades e dos centros educacionais católicos e protestantes. Interessados em uma educação mais laica, os novos centros perpetuam-se à medida que o conflito religioso se acentua, procurando assim, discutir alguns pontos importantes sobre o fenômeno pós-universitário, delineando aspectos relevantes que permitiram a eclosão das guerras e da caracterização do Estado Moderno.




9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CORVISIER, André. História Moderna. Difel, 1998.
DURANT, Will. A Era de Luís XIV, tradução de Souza Freitas, 2º ed, Rio de Janeiro: Record, 1994.
HENRY, John. A Revolução Científica e as origens da ciência moderna. Jorge Zahar Editora, 1998.
THOMPSON, E. P. Costumes em comum São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
WILSON, Derek; FERNANDEZ-ARMESTO, Felipe. Reforma: o Cristianismo e o Mundo 1500-2000. Rio de Janeiro: Record, 1997.


[1] DURANT, 1994, p.444

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