quarta-feira, 28 de maio de 2008

BRINCADEIRAS E FESTAS JUNINAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Departamento de História







Brincadeiras e Festas Juninas







Aluna: Suzana Rebeca da Silva Lima
Professor: Severino Vicente










Recife, 28 de maio de 2008


Apresentação

No dizer de Câmara Cascudo (2001), as festas juninas são ‘(...) ocasião de reencontro de amigos e parentes (...) são bastante concorridas. Fogueiras e casamentos caipiras, as quadrilhas, as leituras de sorte, sempre acompanhadas das comidas e bebidas típicas’. Este trabalho pretende abordar um pouco da história e de alguns destes elementos abordados por Cascudo, presentes nas festas do chamado Ciclo Junino.





Índice
Introdução

Parte I: Festas Juninas

I.I. Os três santos de junho-------------------------------------------------------------------
I.I.I Santo Antônio------------------------------------------------------------------------------
I.I.II. São João----------------------------------------------------------------------------------
I.I.III. São Pedro-------------------------------------------------------------------------------
I.II. Comidas Típicas----------------------------------------------------------------------------
I.III. Músicas-----------------------------------------------------------------------------------
I.IV. Danças------------------------------------------------------------------------------------
I.IV.I. Coco-------------------------------------------------------------------------------------
I.IV.II Quadrilha------------------------------------------------------------------------------


Parte II: Brincadeiras Juninas

II. I. Balões-------------------------------------------------------------------------------------
II.II. Fogos de artifício--------------------------------------------------------------------------
II.III. Adivinhações e Simpatias----------------------------------------------------------------












Introdução

No mês de junho, são comemoradas algumas das festas mais populares e tradicionais do catolicismo e da tradição brasileira, especialmente na região do Nordeste. As chamadas festas do Ciclo Junino prestam homenagens aos três santos de junho: Santo Antônio, celebrado no dia 13º do mês; São João Batista, no dia 24 e São Pedro, no dia 29. Estas três festas são de natureza agrária e remontam à tradição do Velho Mundo.
Nas regiões da África, Ásia e Europa os povos pagãos praticavam ritos para festejar as divindades que protegiam a colheita e afastavam ‘(...) os demônios da esterilidade, da estiagem e da miséria’ (MONTEIRO, 2001). O fogo era o ‘elemento afugentador’ desses ‘demônios’. Nos ritos de fertilidade, também estava presente a idéia da fertilidade humana. Tais rituais ocorriam por ocasião do solstício de verão, entre os dias 22 e 23 de junho e marcavam também o início da colheita dos cereais.
Esses ritos ‘(...) estão incorporados nos vários sistemas religiosos da atualidade’ (TRIGUEIRO, 1995), assim como tantas outras festas consideradas como profanas que acabaram por ser congregadas à tradição cristã. Na região Centro-sul do Brasil, as festas juninas não estão ligadas ao cerimonial agrícola propriamente dito. Constituem-se apenas de festejos em comemoração ao devocionário dos santos de junho. Na região Nordeste, entretanto, estas festas estão diretamente ligadas ao início da colheita do milho e é exatamente sobre ele que se concentra toda a culinária junina.
As festas de junho são bastante populares no Nordeste. Suas tradições, suas histórias, sua culinária e suas brincadeiras são, por muitos, esperadas com muita ansiedade.






FESTAS JUNINAS



I.I. Os três santos de junho

A devoção aos três santos celebrados no mês de junho remonta à tradição portuguesa. Com a colonização no Brasil, o costume de festejar os santos de junho, em Portugal, integrou-se a costumes e práticas ‘(...) de tradições indígenas e estranhas, de outra origem, que não portuguesa. Esse jeito que tomou, manifesta nitidamente o esteio principal da (...) formação (...) do folclore brasileiro desses santos e dessas festas (Chaves apud BETTENCOURT, 1947). Esta característica religiosa presente nos festejos juninos confere-lhes o sabor de misticismo e eternidade.

I.I.I. Santo Antônio

Para a cultura popular, pouco importa que o frade português, cujo nome de registro é Fernando de Bulhões, tenha sido um grande pregador e professor de teologia de diversas universidades situadas na Europa. Para Bettencourt (op. Cit.), o povo o quer ‘seu camarada’, a quem as moças pedem, ansiosamente, por um bom casamento:

Santo Antonio me case já,
Enquanto sou moça e linda,
Porque o milho colhido tarde
Não dá palha nem espiga!

Santo Antonio que eu tenho
É trançado de cipó
Muitas vezes a gente gosta
Mas amá é uma vez só.

Este segundo verso dedicado a Santo Antônio refere-se ao costume que muitas mulheres têm, de amarrar uma fita no corpo do santo, rezando quadrinhas, com muita fé e esperança. Por ser conhecido como ‘o santo casamenteiro’, Santo Antônio é comumente sujeitado aos mais variados sacrifícios, a fim de atender à petição das mulheres desesperadas por um marido. Dentre estes sacrifícios, podemos citar:
Tirar o menino Jesus de seus braços;
Colocar o santo de cabeça para baixo;
Atar nele uma corda e jogá-lo no poço;
Colocar uma moeda pregada com cera sobre a tonsura.
Santo Antônio não é apenas buscado pelas moças sequiosas por um bom casamento. Na tradição brasileira, o santo aparece ligado às causas do amor em geral:

O Santo Antônio que eu tenho
É feito de nó de pinho;
Da mulher eu gosto muito.
Da sogra ...nem um pouquinho.

Santo Antônio pequenino
Mansador de burro brabo,
Vem amansar minha sogra, que é levada do diabo.

E ainda:

Me apeguei com Santo Antônio,
P’ra casa c’uma crioula:
As alma ganha uma saia
Santo Antônio uma ciroula.

Meu Santo Antônio adorado
Acabô de me conta
Quem em amô não há pecado
Que pecado é não amá.

Santo Antônio é também conhecido como ‘o santo milagreiro’, o que faz achar as coisas perdidas:
Quem milagres quer achar
Contra os males e o demônio,
Busca logo Santo Antônio
Que aí os há de encontrar

Ainda com relação à figura de Santo Antônio como milagreiro, temos a seguinte trezena:
Se queres milagres
Implora confiante
De Antônio o favor:
Seu braço é tão forte
Que do erro e da morte
Destrói o furor...

O dia dedicado ao santo é o dia 13 de junho, que é a data de seu falecimento, em 1231. Nos treze primeiros dias do mês, realizam-se as trezenas e outras rezas para implorar milagres ou agradecer pelos pedidos atendidos.
I.I.II. São João
Das noites dedicadas aos festejos juninos, a noite de São João é, para muitos, a mais festejada e esperada. Tal é seu vislumbre que teve ‘(...) o poder de dar ao mês seu nome (mês de São João) e qualificar de ‘joaninas’ as festas realizadas no decurso de seus trinta dias’ (Wanderley apud BETTENCOURT, 1947).
A tradição pagã das fogueiras que espantam a estiagem e a seca mantém-se, porém sob a égide cristã. As fogueiras são acesas à porta das casas na noite da véspera do dia consagrado a São João, o que relembra a fogueira acesa por Isabel – mãe de João Batista – para avisar a sua prima, Maria, do nascimento de seu filho.
A noite de São João é a mais misteriosa e cheia de lendas do Ciclo Junino: acredita-se que a fogueira de São João ‘(...) pode ser atravessada com os pés descalços, sem perigo de serem queimados, tendo o caminhante muita fé no santo’ (BETTENCOURT, op. Cit.); também na véspera do dia joanino era costume rasgar-se a casca da mangueira para que o seu caule engrossasse; na mesma ocasião, acredita-se que plantando-se alho, no dia seguinte já amanhecem brotados; as pessoas também podem colher água no rio, ao raiar do dia do santo. Esta água, diz a tradição popular, serve para espantar baratas e percevejos; também as moças - a fim de deixar seus cabelos mais belos e de rápido crescimento - cortam as suas pontas na madrugada do referido dia.
Outra tradição relatada por Bettencourt em meados do século XX é a cerimônia que simboliza o batismo dos gentios pelo filho da Santa Isabel. O ritual é conhecido como ‘banho de cheiro’ e é mais comum em Belém e Manaus. O banho é preparado com ervas aromáticas e, acredita-se, pode trazer sorte, restituir a felicidade aqueles que a perderam e ‘lavar o mal’ de todo aquele que tomar o banho.
Há, nas comemorações joaninas, uma série de hábitos e crenças que não se sabe precisar de quando datam, mas que são repetidos, ano após ano. A fogueira, por exemplo, é pulada no afã de se tornar primo, madrinha, padrinho, irmão ou qualquer outro grau de parentesco com alguma pessoa (BETTENCOURT, op. Cit.). Existe também outro costume, o da troca de presentes, ou, como se costuma falar nas regiões interioranas, o de ‘pedir as festas’.
A noite de São João é lembrada pelas suas danças, fogueiras, comidas e pela quantidade de pessoas a brincar, sorrir, cantar e pular, como mostra a música que Bento Mossurunga compôs para celebrar o dia do santo:
É noite de São João
Em torno de uma fogueira
A caipirada faceira
Dança o fandango e o baião

Sapeca, estala o pinhão.
Ao lado, numa braseira
Ferve a água na chaleira
Para o mate chimarrão

No meio de tanta gente
Que pula e ri de contente
Somente a Rita, somente,
Não se diverte, a pensar

No pobre do namorado
Seu caboclo bem amado
Que lhe roubara o malvado
Sorteio militar.[1]

I.I. II. São Pedro

A noite de São Pedro também é festejada em junho, no vigésimo nono dia. Porém, em virtude dos festejos anteriores, diz-se que as pessoas já não têm resistência para muita folia. Assim, o dia 29 é conhecido muito mais pela sua solenidade do que pelas festividades.
Encontramos poucos versos, quadrinhas, músicas ou danças dedicadas a São Pedro, por ocasião das festas juninas. Este santo é reverenciado como um personagem humilde e abstêmio e é festejado principalmente pelos marítimos e pescadores - uma vez que o próprio Pedro tenha sido um – e pelas viúvas, por também ter sido viúvo. No Nordeste, costuma-se amarrar o santo com uma fita no braço no dia 29 e assim, fica o santo obrigado a dar um presente à pessoa que o amarrou.
Ao santo é atribuído o dia 29 porque foi num dia de junho, provavelmente no ano de 67 d.C., que ele e o apóstolo Paulo foram levados ao tribunal militar para serem condenados. O dia também é dedicado a São Paulo, entretanto, ele é pouco lembrado durante as festividades juninas.

I.II Comidas Típicas

As festas juninas também estão relacionadas à colheita do milho, que é largamente utilizado em diversos pratos típicos do São João, tais quais: broa de milho, mungunzá, canjica, pamonha, cuscuz, pipoca, dentre tantas outras.
Foi o índio quem ensinou aos ibéricos o cultivo e consumo do milho, que foi levado para a Europa, onde recebeu processos de tratamento diferenciado dos demais cereais como o trigo e o arroz. Embora tenha sua origem indígena, as comidas típicas do Ciclo Junino receberam influência dos portugueses e do negro.
Outro ingrediente bastante utilizado na culinária nordestina nesta época é o coco, comum em vários pratos típicos da região, independentemente do período do ano. Em seu livro Açúcar, Gilberto Freyre recolheu 91 receitas de bolos e doces nordestinos, dentre os quais, 57 utilizavam o coco como um dos ingredientes principais. ‘Nos festejos juninos, de mãos dadas com o milho, o coco também ajuda no preparo de pratos que, sem o gosto que ele dá, não seriam tão gostosos, eternizando, assim, uma tradição regional (SOUTO MAIOR, 1995). Dentre as receitas da culinária junina em que o coco aparece temos o bolo de São João, a canjica, o mungunzá, o bolo cabano, a pamonha, o pé-de-moleque e tantos outros.
Transcreveremos agora a receita do Bolo de São João, menos ‘ortodoxo’ que o pé-de-moleque, mais igualmente afamado, segundo nos diz Bettencourt.

Bolo de São João
Ingredientes:
- 250g de massa de mandioca;
- 14 gemas de ovos;
- 120g de manteiga;
- 150ml de leite de coco;
-500g de açúcar.

Modo de fazer:
Bater as gemas e juntá-las à manteiga e ao leite de coco. Posteriormente, colocar o açúcar e a massa até formar uma massa homogênea. Levar ao forno médio numa forma untada com manteiga.


I. III. Músicas

As festas de junho são algumas das mais musicais do folclore nordestino. Com as ‘trezenas de Santo Antônio’, que começam no primeiro dia do mês, durante treze noites, nos espaços urbanos ou rurais, entoam-se coros em louvor ao santo milagreiro:

Milagroso Antônio
Nosso Padroeiro
Enche de alegria
Pernambuco inteiro

Para além dos coros religiosos, as festas juninas também trazem rituais que se utilizam de vários estilos e instrumentos musicais típicos da cultura nordestina, como por exemplo, o ritual do chamado ‘Acorda Povo’, que sai às vésperas do dia de São João, acordando os habitantes das localidades próximas ao cortejo, com zabumbas, sanfonas, ganzás e outros instrumentos, tudo regado a muita cachaça.
Nas zonas rurais é possível encontrar manifestações musicais de origens diversas e, por vezes, desconhecidas, como por exemplo, o xote, de origem polaca e o coco, advindo das ‘batucadas’ africanas. Ambos os estilos musicais são acompanhados por suas danças específicas.
Existem também outros conhecidos estilos musicais joaninos, que têm muita procura durante todo o ano, nos centros urbanos: o baião, e, principalmente, o forró, que também se tornou bastante popular nas regiões centro-sul do país.
As letras das músicas procuram ao máximo reter o sotaque nordestino, acentuando-se as últimas sílabas de determinadas palavras ou grafando-as da maneira como o ‘matuto’ costuma falar. Um compositor que procurava sempre retratar bem essa ‘fala’ do nordestino foi Luiz Gonzaga: ‘(...) mas o dotô nem inzamina (...) ela só qué, só pensa em namorá.’[2]; Eu nesse coco num vadeio mai/ apagaro o candihero derramando o gai’.[3]
Ademais, ‘(...) nas composições ligadas ao ciclo junino está toda a moral do sertanejo: Sertão das muié séria e dos home trabaiadô (Volta da Asa Branca); Cabra assim desse geitinho (sic) / no sertão do meu Padrinho / Cabra assim num tem vez não... (xote dos cabeludos)’ (BETTENCOURT, op. Cit.).

I. IV. Danças

As danças são elementos de extrema importância dentro do folclore junino. Existem muitos estilos, que são dançados ao som das músicas próprias. Neste trabalho, nos deteremos em abordar apenas o Coco, e a Quadrilha.

I. IV. I. Coco
Rodrigues de Carvalho, em seu ‘Cancioneiro do Norte’ (1928), afirmou que o Coco era a dança preferida dos negros e caboclos que trabalhavam nos engenhos, Posteriormente, ultrapassou esses espaços e penetrou nos litorais, nos salões de dança dos grandes centros urbanos.
O Coco é uma dança típica de Alagoas, mas é amplamente conhecido em várias regiões do Norte e Nordeste do Brasil. Como falado anteriormente, é marcado pela influência africana, entretanto, coreograficamente tem fortes influências indígenas.
Embora exista grande variedade de cocos, a coreografia e formação têm, em geral, a mesma base: uma grande roda de casais, cantando e dançando ao som das palmas, sapateados e das percussões. Um casal se coloca no centro da roda, executando passos típicos. Posteriormente, esse mesmo casal se coloca em frente a outro casal que compõe a roda e trocam de posição.
Segundo Astermann (1995):
Do trabalho de quebrar cocos com pedras, de forma rítmica e cadenciada (...) do canto de quebrar o coco ou ‘vamos quebrar o coco’, inicialmente dirigido ao trabalho, e do grito excitante de ‘quebra’, posteriormente dirigido ao baile, forma-se o convite para uma noitada alegre de coco dança.

I.IV.II. Quadrilha

Na definição de Câmara Cascudo (2001), a Quadrilha é ‘(...) uma dança palaciana do século XIX, protocolar, que abria os bailes da corte em qualquer país europeu ou americano, preferida por toda a sociedade’. Era bastante popular na França, no final do século XVIII. O nome ‘quadrilha’, vem do francês ‘quadrille’, que por sua vez vem do italiano ‘squadra’, que era um termo utilizado para designar a formação dos soldados dispostos em quadrado.
No Brasil, a dança era formada nos salões dos palácios da elite imperial, porém, com o passar do tempo, a dança foi tomando lugar entre os trabalhadores industriais urbanos e alcançou o interior do país, onde se tornou parte dos festejos do Ciclo Junino.
De volta aos grandes centros urbanos, a quadrilha passou a ser considerada como uma dança de origem caipira, por ser o ponto culminante dos festejos de um casamento interiorano.
Assim, atualmente, os noivos e o padre aparecem como figuras de destaque na coreografia, e por anos foram representados em tom jocoso, com matutos desdentados e roupas remendadas, o que não corresponde à realidade, uma vez que à época de grandes festas, os assim chamados ‘matutos’ vestem as melhores roupas de seus armários.
Nos dias de hoje, entretanto, as quadrilhas têm deixado tais elementos de lado para dar lugar à ‘(...) novos passos, até mesmo de aeróbica (...) e enredo atualizado da parte dramática’ (TRIGUEIRO,1995). Sobre esse processo de ‘modernização’ pelo qual tem passado a quadrilha, Alberto da Cunha Melo (2001) escreve o seguinte:
Os folcloristas que, com razão criticavam a caricatura do camponês nas quadrilhas antigas, com calças e saias de remendos, hoje se batem contra a excessiva estilização daquela dança, pois (...) havia quadrilhas dançando funk.

Por todas essas inovações, Ovaldo Trigueiro (1995), escreveu que a quadrilha estava passando por um processo de transição, deixando de ser uma dança para se estruturar como um folguedo. Treze anos depois desta constatação, é possível dizer que a quadrilha, como todo elemento histórico, cultural e social, continua em processo de transição, entretanto, já é possível classificá-la como um folguedo popular, uma vez que, recorrendo mais uma vez a Cascudo, o folguedo reúne as seguintes características ‘(...) 1) Letra (quadras, sextilhas, oitavas ou outros tipos de versos); 2) música; 3) coreografia; 4) temática (enredo de representação teatral).’ Atualmente, a quadrilha apresenta todas estas características.
A seguir, descreveremos alguns passos da coreografia:
Anavantur (En avant, tout): cavalheiros tomam as damas e andam até o centro do salão;
Anarriê (En arriére): os pares voltam, de mãos dadas até o ponto da fila em que estavam;
Balancê com seus pares: o cavalheiro e a dama fazem o balanço em seus lugares;
Caracol: os pares se colocam em fila indiana e a dama do cavalheiro guia começa a marchar em direção ao centro do salão. Quando o caracol estiver formado, todos esperam a ordem do marcador. Quase sempre, as quadrilhas terminam com o caracol.
A quadrilha é, para muitos, um dos momentos mais esperados do São João. Como as Escolas de Samba da Sapucaí, aqui no Nordeste várias quadrilhas passam o ano inteiro ensaiando o enredo, decidindo e preparando as roupas, para participar das mais variadas competições:
O furor da contradança,
Por toda parte s’estende,
A todo gênero humano
A quadrilha compreende

Nas baiúcas mais nojentas,
Onde a gente mal se vê,
Já se escuta a rabequinha
Já se ouve o balancê.






BRINCADEIRAS JUNINAS

II. I Balões

‘Na noite escura, profundamente estrelada – a surpreendente beleza desse céu do sertão brasileiro! – balões sobem, aos boléus no vento, de formas impagáveis (...) chameiam estrelinhas, esfuziam as rodinhas, lampejam os pistolões ardem, piramidais, alumbradoramente’ (BETTERCOUT, op. Cit). Esta é a descrição de um céu de beleza ímpar, iluminado pelos balões juninos, em meados do século XX.
Embora recobrissem o céu de fantasia e beleza, já em 1970 os balões eram conhecidos por sua periculosidade: incêndios, florestas e casas em chamas, mortes e um sem número de acidentes, citados em ‘Bruno, o Balão Azul’, de autoria de Rubem da Rocha Filho.
A tradição junina, entretanto, não deixa esquecer esse elemento que torna as noites de junho ainda mais lúdicas, fantasiosas e belas, quando se contentam em apenas subir, tornando-se ‘anjinhos do céu’:[4] ‘cai, cai balão/você não deve subir/ quem sobe muito/ cai depressa sem sentir/ a ventania/ da tua queda vai zombar/ cai, cai balão/ não deixa o vento te levar’ (cai, cai balão – Assis Valente); ‘olha pro céu meu amor/ vê como ele está lindo/ olha aquele balão multicolor/ meu amor vê como no céu vai sumindo’ (olha pro céu, meu amor – José Fernandes); ‘Meu balão azul/ foi subindo devagar/ o vento soprou/ meu sonho carregou/ nem vais mais voltar’ ( Sonho de papel – Carlos Braga Alberto Ribeiro).

II.II. Fogos de artifício

Ultrapassando a ‘roda em torno da fogueira’ dos solstícios de verão europeus, aqui no Nordeste o ‘culto ao fogo’ também é composto pelos fogos de artifício. A presença destes fogos já é relatada no São João de 1603, descrito por Frei Vicente Salvador.
Assim como os balões, os fogos também representam um perigo desde os tempos mais remotos. Benjamin e Araújo (1995) relatam que desde os primeiros tempos do Diário de Pernambuco, as notícias e histórias que eram contadas a respeito dos fogueteiros envolviam sempre acidentes. Assim, em sete de agosto de 1715 foi proibido o lançamento de fogos de artifício no Recife e em Olinda. Em 1716, por não ter sido respeitada a proibição, ficou estabelecida uma pena de dois meses de cadeia e multa de 50 mil réis.
A tradição dos fogos ou foguetes, entretanto, continuou a freqüentar as páginas de nossa história, nas festas, coroações, vitórias militares na vinda da família real, etc. Nas cidades, entretanto, a produção de fogos entrou em considerável declínio.
Alguns fogueteiros, porém, mantém essa tradição, não mais fabricando os fogos nas suas próprias casas, como se costumava fazer, mas sim, por determinação das autoridades, em oficinas estabelecidas em prédios isolados, a pelo menos 500m de distância das casas, o que praticamente confinou a atividade dos fogueteiros às zonas rurais.
A profissão de fogueteiro é principalmente reservada aos homens, mas algumas mulheres auxiliam os maridos no fabrico.
É possível classificar os fogos de artifícios em três grandes grupos, a saber: os fogos-de-chão: são aqueles destinados principalmente às crianças, como por exemplo, a bombinha, o chuveirinho, a estrelinha e a bomba; fogos-de-subida: são os fogos atirados para o céu e que podem produzir um estouro ou podem ser luminosos, como os rojões, as salvas, meia-salvas, etc. Por fim, existem também os fogos-de-vista, que são preparados para eventos especiais e devem ser queimados apenas pelo mestre fogueteiro que os fabricou.
Segundo escrevem Benjamin e Araújo ‘(...) a alegria, o sonho e esperança de todo fogueteiro é poder preparar para a próxima festa um espetáculo de beleza e vida, luz e som, onde (...) queimam-se fogos em luxúria de cores, espoucam bombas de sete estouros. Os pistolões atiram para o céu estrelas artificiais que furam a bruma da noite e se perdem dentro dela.

II.III Adivinhações e simpatias
Como mencionado anteriormente, o São João é uma das festas populares que mais envolve misticismo e mistério, a começar pelas lendas que cercam o dia. O tom místico completa-se com as adivinhações, que são crendices populares que sobrevivem na tradição oral e terminaram por passar de uma geração para outra.
As adivinhações e as simpatias estão ligadas, em sua maioria, aos assuntos referentes ao romance, uma vez que as noites de São João, pelos elementos que possuem (o céu estrelado os fogos de artifícios, as danças aos pares, as fogueiras, etc.) tornam a atmosfera propícia ao romantismo.
Assim, nas festas juninas existe a tradição das adivinhações, que mostrarão às moças o seu futuro pretendente, ou, muitas vezes, a idade deste e as simpatias, que devem garantir o casamento que se quer, resolver problemas conjugais ou permitir que se sonhe com a pessoa amada.
Segue abaixo algumas simpatias e adivinhações comuns nas festas do ciclo junino[5]:
Simpatia para sonhar com a pessoa amada:
Escreva em um papel o seguinte:
Anjo da Guarda
Me deixe sonhar com (fulano)
A quem hei de amar.

Em seguida pegue uma pétala de rosa, que deve ir, junto com o papel escrito, para dentro de um envelope. Na hora de dormir coloque este envelope por baixo do travesseiro. Ao fechar os olhos para adormecer, repita trinta vezes o dito:

Anjo da Guarda
Me deixe sonhar com (fulano)
A quem hei de amar.
Depois, repita trinta vezes o nome da pessoa

Simpatia da volta
Esta simpatia é muito rezada em casos de abandono de lar, por parte da esposa ou do marido, assim como em casos de noivos e namorados que sumiram sem paradeiro. Consiste em pegar um pombo vivo, com as asas boas para voar, amarrando no seu pé um bilhete com os seguintes dizeres:
Vai meu pombo
Encontrar quem se foi
Voando e sendo
Sobre a terra onde ele/ela se escondeu
Vai meu pombo levar minha lembrança,
Pois só assim (fulano)
Voltara para casa (ou para mim)

Algumas adivinhações:

*Em noite de São João, passa-se um ramo de manjericão na fogueira e atira-se ao telhado; se na manhã seguinte o manjericão ainda estiver verde, o casamento é com moço, se murcha, é com velho;

*Em noite de São João, dão-se nós nas quatro pontas do lençol, tendo-se previamente escrito nelas os nomes de quatro pessoas queridas, mas os nós sendo bem frouxos; ao amanhecer, o nó que estiver desmanchado indicará o nome do esposo ou da esposa;

*Em noite de São João, introduz-se numa bananeira uma faca, que ainda não tenha servido; no dia seguinte, aparecerá na faca a inicial da noiva ou do noivo.

*Em noite de São João, escrevem-se em papelitos os nomes de várias pessoas, enrolam-se os papelitos, e se põe numa vasilha com água; o pedaço que amanhecer desenrolado indicará o nome da noiva ou do noivo.

*Em noite de São João, põe-se um pouco de clara de ovo num copo contendo água; no dia seguinte aparece uma igreja (casamento) ou um navio (viagem próxima), etc., etc.






Bibliografia

BETTENCOURT, Gastão de: Os três santos de junho no folclore brasílico, Livraria Agir Editora, Rio de Janeiro, 1947;
CASCUDO, Câmara: Dicionário do folclore brasileiro, Global Editora, São Paulo, 2001;
MELO, Alberto da Cunha: São João (fogo, folk e mores nordestinos) in Continente Multicultural, Ano 1. Nº 6, Junho/2001;
MONTEIRO, Maria Letícia: Milho na fogueira in Continente Multicultural, Ano 1. Nº 6, Junho/2001;
SILVA, Leny de Amorim (org.): Ciclo Junino, Recife, Prefeitura da Cidade do Recife, 1992;
TRIGUEIRO, Osvaldo Meira: Festejos juninos e os ritos de origem agrária in INTERCOM Revista brasileira de comunicação, São Paulo, Vol. XVIII, nº 2, julho/dezembro de 1995;

[1] Canção retirada do livro Os três Santos de Junho, de Gaspar de Bettencourt.
[2] Xote das meninas, Zé Dantas e Luiz Gonzaga
[3] Derramando o gai, Zé dantas e Luiz Gonzaga
[4] Expressão utilizada por Rubem da Rocha Filho no livro citado.
[5] As simpatias e adivinhações foram retiradas do livro Ciclo Junino, que está presente na bibliografia.

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