sábado, 31 de maio de 2008

SURUBIM: ONTEM E HOJE

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
PROBLEMAS DA HISTÓRIA DE PERNAMBUCO
PROFESSOR: SEVERINO VICENTE DA SILVA
ALUNO: JOSÉ ZITO JÚNIOR CASADO






SURUBIM: ONTEM E HOJE




RECIFE
2008



SURUBIM: ONTEM E HOJE

Localização

Surubim se localiza na mesorregião do Agreste Setentrional e microrregião do Alto Capibaribe, distando 124km do Recife, ligando-se à capital pela PE-90 (Surubim-Carpina) e pela BR 408 (Carpina-Recife). Limita-se ao norte com os municípios de Vertente do Lério e Casinhas; ao sul com Riacho das Almas e Cumaru; a leste com Orobó, Bom Jardim, João Alfredo e Salgadinho; e a oeste com Frei Miguelinho e Santa Maria do Cambucá. Está a 394m acima do nível do mar e situa-se numa zona de transição climática, observando-se o predomínio do clima semi-árido (Bsh), com vegetação típica de caatinga (xique-xique, mandacaru, etc), encontrando-se as cactáceas e as bromeliáceas. A temperatura média anual é aproximadamente 24,7º C e precipitação medida em torno de 692,6 mm.


Surubim está contido na bacia hidrográfica do Capibaribe, sendo abastecido, após vários anos enfrentando o problema da falta d’água dado o crescimento da população e os períodos de estiagem, pela barragem de Jucazinho, obra orçada em torno de 60 milhões de reais, beneficiando também a população rural e os pequenos e médios produtores.


O nome

O nome “surubim” é proveniente, segundo reza a tradição, do nome dado a um boi, admirado por todos por sua força e valentia, da primeira fazenda que se instalou na região. Foi assim denominado por ser pintado da mesma forma que o peixe de mesmo nome. Diz-se que certo dia, uma onça entrou no curral e devorou o boi Surubim, para lamentação geral. A notícia se espalhou e passaram a chamar Fazenda do Boi Surubim. O nome ganhou força quando da criação, em 6 de junho de 1881, da freguesia de São José do Surubim, ficando posteriormente somente freguesia de Surubim.

Ocupação

Podemos dizer que a ocupação de Surubim ocorreu da mesma maneira e pelas mesmas razões que a ocupação do Agreste. Concomitantemente ao estabelecimento da indústria açucareira, nos séculos XVI e XVII, desenvolveram-se atividades paralelas como, por exemplo, a instalação de serrarias para o acondicionamento do açúcar e do próprio fabrico; a pecuária, dada a necessidade de animais para o transporte da cana e do açúcar e para os trabalhos da moagem; e, conseqüentemente, o aparecimento da cultura de subsistência nas circunvizinhanças. A partir de então, as fazendas de gado foram surgindo nos sertões – visto que a boiada precisava de espaço – ao longo dos rios, com o estabelecimento dos “currais de gado”. Assim,
o roteiro que utilizava o rio Capibaribe buscava as terras setentrionais da capitania de Pernambuco, penetrando nas meridionais da de Itamaracá, atravessando terras da Paraíba até encontrar as nascentes do Pajeú. Ao longo desse roteiro, fundavam-se não só roteiros, mas aproveitando a vastidão da terra inculta, coberta de pastagens nativas, longe das plantações de cana-de-açúcar.[1]

De fato, como afirma Andrade, o espaço agrestino era propício ao desenvolvimento das atividades pecuárias (...) Além disso, as dificuldades estabelecidas pelo relevo fizeram dessa área, um local de auto-abastecimento de produtos alimentícios.[2] Dessa forma, ratifica-se a hipótese acima de que a ocupação do agreste se deu por duas atividades: a pecuária e a cultura de subsistência.
Portanto, não é à toa que Surubim é conhecido como “Capital da Vaquejada” e cidade referência na exposição de animais, uma vez que tem em sua origem e formação a presença do elemento pecuário.
O primeiro núcleo populacional de que se tem conhecimento na região que hoje chamamos de Surubim se estabeleceu em 1864, quando Lourenço Ramos da Costa fundou uma fazenda de gado e aí construiu uma casa de oração dedicada a São José – tendo sido elevada à Paróquia em 1881, decretado pelo bispo de Olinda D. Manoel dos Santos Pereira, atendendo às solicitações do coronel Dídimo Carneiro –, desenvolvendo-se a partir de então o povoamento efetivo da região. Construiu-se a Matriz de São José, a partir da Casa de Oração, incentivada pelo padre Augusto Cassuelti, mas foi demolida em 1963 para construção de uma nova igreja, pelo Monsenhor Ferreira Lima. Foi sagrada em 1965 com a presença do Núncio Apostólico. Atualmente, a Paróquia pertence à diocese de Nazaré da Mata.
A Lei Municipal nº 03, de 27 de abril de 1893, criou o distrito de Surubim, pertencente a Bom Jardim – este pertencia ao município de Limoeiro, tendo sido desmembrado em 1870, criando-se a Vila de Bom Jardim. Posteriormente, Surubim foi elevado à categoria de vila, em 1909, pela Lei Estadual nº 991, de 01 de julho. Sua emancipação ocorreu em 11 de setembro de 1928, desmembrando-se do município de Bom Jardim. Na década de 90, os distritos de Vertente do Lério (1992) e Casinhas (1996) que outrora pertenciam a Surubim, conseguiram sua emancipação, fazendo com que este município perdesse grande parte de sua área territorial, que se reduziu de 539 km² para 285 km².

Fragmentos da política

O primeiro prefeito eleito de Surubim foi o coronel Dídimo Carneiro da Cunha, que gozava de grande reputação por ter liderado o processo de emancipação política, além de desenvolver o distrito de Surubim quando era prefeito de Bom Jardim.[3] Não terminou o mandato, uma vez que era contrário a Vargas, e foi deposto pelos partidários deste “em nome da revolução” (de 1930).
Um dos prefeitos que mais se destacou foi Nelson Barbosa, sobretudo por ter dado grande impulso à urbanização da cidade, além de ter sido eleito deputado estadual por duas vezes. Muitas construções foram feitas durante o seu mandato: Hotel Municipal, prefeitura, mercado público, algumas escolas. Publicou, em 1979, o livro Recordações de Minha Terra e minha gente, onde é possível conhecer um pouco da história política, econômica e social do município, mesmo antes da emancipação.
Outra figura de destaque foi o Monsenhor Luís Ferreira Lima (prefeito de Surubim por dois mandatos) o qual começou com vários trabalhos assistenciais sem ainda ocupar cargos públicos, como a construção da Maternidade Nossa Senhora do Bom Despacho, Hospital São Luís, Posto de Saúde Mário Pinott. Sem falar na liderança que exercia junto à população humilde.
Citemos também o Ex-Senador Antônio Farias, que foi vereador em Surubim, deputado estadual, federal e prefeito do Recife. Fazia parte da chamada oligarquia algodoeira, que predominou no poder ao longo de toda a história de Surubim. Segundo Medeiros,
a hegemonia dessa oligarquia [algodeira] perderá a sua continuidade com a eleição de Flávio Nóbrega [atual prefeito, filiado ao PT] para prefeito nas eleições municipais de 2002. Vale ressaltar que, de pronto a mudança não será cristalina, pois com o correr do tempo adesões de momento sinalizaram para um passado não muito distante marcado pelo jogo de interesse de líderes militantes da oligarquia a qual nos referimos.[4]


Bandeira e escudo

A bandeira do município foi instituída em 1969, pelo então prefeito o Monsenhor Ferreira Lima, tendo sido idealizada por Osvaldo Leal e desenhada por Severino Apolinário de Lucena Filho. O verde representa a vegetação, a esperança; o branco, a paz; o azul seria o ponto de chegada de todos os sonhos e planos; a cruz como sinal de religiosidade e sacrifício da luta cotidiana; e a estrela como caminho a seguir, utopia.
O escudo foi sancionado em 1990, pelo então prefeito Humberto da Mota Barbosa, e desenhado por Romero Silva Melo. É constituído por uma faixa, em baixo, com a data de emancipação do município; ramos de milho e algodão, expressando a vocação agrícola; além de um boi – haja vista a importância da pecuária desde o início da povoação, até hoje – e uma paisagem característica da zona rural, com cercas, etc.


Evandro Cavalcanti e reforma agrária

Um fato histórico importante, ainda hoje comentado pela população, foi o assassinato do então vereador Evandro Cavalcanti, advogado do chamado Pólo Sindical, que reunia 16 sindicatos de trabalhadores rurais de várias cidades, e defendia a reforma agrária, a contragosto dos grandes latifundiários. No dia 21 de fevereiro de 1987, Evandro foi brutalmente assassinado, com oito tiros à queima roupa, quando se dirigia ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais – como sempre costumava fazer aos sábados, atendendo gratuitamente aos camponeses –, acompanhado da mulher e da filha de 11 anos. Poucos dias antes de morrer, como que prevendo o que aconteceria, Evandro fez o seguinte pronunciamento na Câmara Municipal:

Até quando teremos que conviver com tanta violência, tanto barbarismo, com tanta impunidade? Os latifundiários são cada dia mais ousados. Do privilégio de continuarem senhores do baraço e cutelo de grandes extensões de terras, mesmo a custo da miséria e exploração de doze milhões de brasileiros sem-terra, não querem abrir mão, mesmo que para isso afrontem a lei e as autoridades. O movimento sindical dos trabalhadores rurais e aqueles que o apóiam não podem e não suportam mais verem aumentar a cada dia a lista de mártires da terra. Reforma agrária já. Cadeia para os assassinos.[5]

Por ocasião da missa de sétimo da morte, Dom Hélder Câmara assim comentou a respeito de Evandro: “Evandro morreu porque defendia os trabalhadores. Morreu, não por ódio; morreu por amor aos trabalhadores...”[6]

Na verdade, a luta pela reforma agrária já vinha sendo intensa, inicialmente com as Ligas Camponesas organizando passeatas e protestos pelas ruas do município. A luta formalizar-se-ia com a criação do Sindicato dos Trabalhadores rurais, a partir da década de 60. De fato, esses pequenos produtores eram uma ameaça para os proprietários de terra, pela própria concorrência; por conseguinte, estes passaram a não mais ceder terras a arrendatários, agregados, etc. Sem oportunidade de trabalho, restou a essas pessoas migrar para os grandes centros, com destaque para São Paulo, como até hoje acontece!

Algodão

Quanto à agricultura, Surubim sempre se destacou pela produção algodoeira. Para se ter uma idéia, haviam instaladas cinco usinas de beneficiamento de algodão, que chegavam exportar lã até para a Europa. Isso até meados da década de 70. O município foi perdendo importância na agricultura, desde que a praga do bicudo atingiu a produção algodoeira e a invasão da tecnologia passou a instituir o império da fibra sintética.

Educação

Com relação à educação, temos mais de 13 mil alunos matriculados nos ensino Fundamental e Médio, segundo dados do IBGE 2007. Destacamos, além dos colégios Nossa Senhora do Amparo[7] e do Marista Pio XII[8], a Escola Estadual Severino Farias[9], estabelecida na década de 70, que chegou a ganhar, em 2005, o Prêmio Nacional de Referência em Gestão Escolar, concedido pelo Conselho Nacional de Educação, concorrendo com mais de duas mil instituições de ensino em todo o Brasil.
Antes do colégio do Amparo ter sido criado
a formação educacional dos munícipes processava-se das seguintes formas: individualmente em casa, sendo o ensino ministrado pelos próprios pais; e/ou em escolas onde uma única professora era responsável por toda a formação dos indivíduos para a presteza do exame admissional.(ANDRADE, 2005, p. 32)

Atualmente, é destaque nos jornais um jovem de 17 anos, André Gentil Guerra Agostinho, natural de Surubim, que foi classificado, com mais quatro estudantes brasileiros, para a Olimpíada Mundial de Física – de 20 a 29 de julho –, em Hanói, no Vietnã. Apesar de ter estudado o Ensino Médio no Recife, esse fato demonstra que Surubim possui uma estrutura educacional com certa qualidade; sobretudo, quando comparado a outros municípios. Segundo o estudo feito por Andrade,
os serviços educacionais em Surubim têm destaque na centralização da região a qual esta cidade está inserida, representando principalmente nas unidades educacionais do Colégio Nossa Senhora do Amparo e Colégio Marista Pio XII, onde ambos os estabelecimentos recebem alunos de outros municípios para usufruírem de seus serviços. (ANDRADE, 2005, p. 101)


Casa-Grande

Um registro cultural do qual Surubim é privilegiado é de uma construção, uma Casa-Grande, do final do século XVII, datação atestada pela FIAM, tendo sido tombada pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco, em 1980. Segundo estudos da FIAM, existiam nessa Casa-Grande da Fazenda Cachoeira do Taepe dependências construídas com o intuito de abrigar escravos, mostrando que estes eram utilizados também na agricultura, sobretudo da cultura do algodão predominante na região.[10] Segundo Barbosa, baseada nos escritos de um antigo proprietário,
a Casa-Grande foi construída no final do século XVII, quando os portugueses desbravando o interior de Pernambuco, subiram pelo rio Capibaribe à procura de terras para criatório de gado e para agricultura. Andando 120 quilômetros rio acima, encontraram o riacho do Taépe, afluente do Capibaribe. Seguindo uns seis quilômetros depararam-se com terras baixas, grandes matas e uma bonita cachoeira. Agradando-se do local, decidiram construir uma fazenda. De volta ao Recife, compraram escravos e tudo o que foi necessário para começar a fazenda de criação e cultivo e a construção do açude e da Casa-Grande, até hoje é conhecida como Casa-Grande da Fazenda Cachoeira do Taépe.(BARBOSA, 1995, p. 2)



Manifestações artísticas

Na literatura, destaca-se a figura do doutor José Nivaldo Barbosa de Sousa. Segundo Costa Porto,
romancista do melhor metal, José Nivaldo traz para as letras aquelas tônicas do menino nascido no campo, do fazendeiro do médico do interior – de que tão justificadamente se ufana: a marca da terra, o sentido local, o cheiro da terra virgem, fazendo da gente da roça a matéria-prima da sua bagagem literária, a ganga donde extrai os veios ricos de sua obra de intelectual e homem de letras... Um romance, em suma, que, deliciando como manifestação da arte, na palavra escrita, do mesmo modo instrui e se oferece como documentário objetivo, abrindo caminhos para uma visão global do processo político de um povo, empenhado, por vezes em vão, em encontrar-se, encontrando seus rumos e a realização de seus destinos heróicos.[11]
Na música, temos como destaque a figura de Capiba, filho de um mestre de bandas, tendo, assim, estudado música desde muito cedo. “Capiba”, apelido que na gíria local designava “jumento” e que se estendia a toda família, inaugurado pelo avô que era baixinho e teimoso. Compôs sua primeira música aos oito anos e gravou seu primeiro disco em 1925, com a valsa Meu Destino. Após ter ganho um concurso no Rio de Janeiro, em 1929, com o tango Flor das Ingratas, volta ao Recife uma vez que tinha sido aprovado num concurso para escriturário do Banco do Brasil. Aqui conclui o seu curso de Direito. Capiba fundou a Jazz Band Acadêmica – foi nesse momento que compôs seu primeiro frevo, É de amargar, em 1934, que lhe deu o prêmio campeão do concurso de músicas de carnaval do Recife – e, posteriormente, a Bando Acadêmico, reunindo alunos dos mais diversos cursos – Medicina, Direito, etc. Na década de 50, passa a estudar harmonia e composição com o maestro Guerra Peixe. Já na década de 70, dedica-se à composição de peças para o movimento armorial, ganhando destaque a música Toada em Desafio, gravada pelo Quinteto Armorial, em 1975, e Sem Lei nem Rei, gravada, em 1974, pela Orquestra Armorial de Câmara. Compôs também maracatus, mas ficou conhecido mesmo como autor de frevos. Teve composições gravadas por intérpretes como Nelson Gonçalves que, em 1943, gravou o sucesso Maria Bethânia. Em parceria com Carlos Pena Filho, compôs o samba A mesma rosa amarela, um dos seus maiores sucessos.
Merece destaque também a figura de Juarez Araújo, maestro responsável por orquestrar grande parte da produção oriunda da modernização do frevo, na década de 70.[12]
Depois d’Os meigos, grupo de jovens o qual tocava rock, influenciado pela Jovem Guarda, e que caiu nas graças da população surubinense, fazendo shows nos diversos clubes da cidade, tendo se desfeito por que cada integrante resolveu seguir destinos diferentes da música, surge, atualmente, a banda Hanagorik. Para se ter uma idéia da sua importância, em 1999, no festival Abril Pro Rock, abriu o show da consagrada Sepultura, além de ter feito algumas excursões pela Europa.
Falemos da vaquejada, o esporte folclórico praticado há muito em Surubim. Realiza-se na segunda semana de setembro no parque João Galdino e atrai vaqueiros de todo o Estado. Na verdade a sua origem está ligada à captura do boi, que era marcado e solto, já que não existiam cercas. Então, os vaqueiros apanhavam os bois através de laços de corda. A competição começou quando algum deles se destacava por prender um boi mais agressivo. A vaquejada de Surubim ficou imortalizada na letra do Quinteto Violado, que se tornou um hino à cidade, tendo uma verdadeira veneração pelos vaqueiros que ficam de pé quando de sua execução. Abaixo, a canção Vaquejada gravada pelo Quinteto Violado em 1973, no LP Berra Boi, composta por Toinho Alves, Luciano Pimentel e Marcelo Melo:

Viola camarada
Prepara o seu cantar
E conta prá essa gente
Aquela vaquejada
Que a cidade em festa
Viveu sua história
Que nem sei lembrar
Contar, falar, lembrar

Eia! Vaqueiro
Sua vez e sua hora
Na derrubada do boi
Ta escrito a sua glória

Doutor, venha ver Surubim
A rua principal Toda embandeirada
É festa em Surubim
É dia de vaquejada

Na pintura, temos como grande nome Fernando Guerra, aluno de Abelardo da Hora. Começou sua vida profissional assim que passou a freqüentar a Escola de Belas Artes do Recife, sendo incentivado por Lula Cardoso Ayres. Guerra ficou conhecido por seus “quadros-de-bolso”, tendo participado de vários salões em Recife, Olinda, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, etc, ganhando vários prêmios, como o do XVIII Salão do Museu do Estado, aqui em Pernambuco. Foi também ilustrador do Jornal do Commercio e de várias revistas de São Paulo e do Rio, além de ter fundado, junto com outros artistas, a Associação dos Artistas Plásticos de Pernambuco, no ano de 1980.

O hino de Surubim tem letra de Jessé Cabral e melodia de Juarez Assis de Araújo:

Surubim, meu Surubim
Por que te chamam assim?
Disse o poeta no verso
Terra santa, consagrada
Pelas festas, vaquejada
Outra igual quem foi que viu?
Terra de filhos ilustres
Em, prosa, em verso cantada
Surubim dos cereais,
Terra dos cajueirais,
Terra dos algodoais.
Terra de misses faceiras
Meninas belas brejeiras
Meu Surubim folclorista
Do pastoril, do “São João”,
Do mamulengo afamado
Do forró, “coco”, “torrado”,
Surubim do coração.
Terra do bumba meu boi
Quem foi que disse, quem foi?
Foi meu boi “Surubim”
Que me falou ao nascer:
“De minha infância querida”
Em Surubim vou viver
Até um dia morrer...


Por fim, destaquemos o folclore surubinense a partir do excelente livro de Mariza de Surubim, onde conta a história do município baseando-se, sobretudo, na boca do povo. Citemos duas lendas, que ainda hoje faz parte do imaginário da população. A primeira é a de Comadre Fulozinha:
- Conte aquela história de Comadre Fulorzinha!
- Cale a boa menina, não se brinca com coisa séria.
E Severina Joana, de Capoeira do Milho, cantora de novenas e indelenças, se benze e chama pela Virgem Maria, “mode espantar os maus espíritos”.

Contam os camponeses mais antigos, que Comadre Fulorzinha é uma mulher pequenina, de cabelos loiros quase arrastando pelo chão, que gosta de fumo, dá pisa em cachorro, faz trança nas crinas dos cavalos e assobia pelo meio do mato fazendo “homé macho corré e treme de medo”.(BARBOSA, 1995, 70-71)

A segunda é a estória das botijas, que eram uma espécie de vaso cilíndrico, onde as pessoas guardavam sua “herança”, dinheiro em moedas, geralmente, já que não havia uma rede bancária como se tem hoje. Muitas vezes acontecia do “tesouro” ser uma enorme quantidade... de níqueis enferrujados apenas. Diz a crendice popular que

muitas vezes a “alma” [do falecido que havia deixado a botija] aparecia em sonhos e entregava a botija sem muitas complicações: ponto tal, debaixo daquela árvore, que fica atrás daquela casa. Outras vezes indicava como referência uma pedra, mas a pessoa devia andar dez passos à frente, trinta à esquerda, até que, obedecendo a uma série de exigências, encontrasse o lugar para cavar.
(...)
Tudo se fazia no maior segredo. Quem sonhasse não podia contar pra ninguém, senão a botija desaparecia. Devia cavar sozinho e de noite. Dizem que na hora de arrancar apareciam bichos estranhos, cavalos em disparada, diabos e outras assombrações para desviar a atenção do afortunado. Muita gente “sonhou” com botija, mas não teve coragem de desenterrar. Outros desistiram no meio do caminho, com medo das aparições.
Conversa daqui, conversa de acolá, e as estórias vão surgindo, todas verdadeiras, segundo seus contadores. (BARBOSA, 1995, 81)

Palavras finais

Procuramos mostrar um pouco do município de Surubim, a partir das mais diversas dimensões, passando pela evolução política até as crendices populares. No que tange à sua importância, podemos constatar que já a partir da década de 70 se apresentava como um centro regional de atração, e com o passar do tempo cristalizou-se como sendo uma cidade de porte médio. (ANDRADE, 2005, p. 74) Atualmente, Surubim atende a cerca de 11 municípios da região, quanto ao comércio e à prestação de serviços, sobretudo o serviço bancário, o que demonstra sua relevância frente às cidades vizinhas. Constata-se hoje enorme crescimento urbano no município, com grande número construções de casas no seu entorno. Entretanto, alertamos para os problemas enfrentados pelas metrópoles e que são inerentes a esse processo: falta de saneamento para a população dos bairros mais afastados, precariedade no atendimento à saúde, uma vez que a população vem aumentando, etc.
Concluímos com uma homenagem a Surubim, um trecho da música Marcha de Surubim, tendo sido escrita por Marcos Accioly e musicada por Capiba:

Verão é pedra de luz amarala
No inverno a chuva é verde no capim
Cidades das cidades, Surubim
Colhi aboio e moça na janela
Onça-de-agreste, minha cidadela
Tens uma estrela de espora na garganta
Que o tempo ao espaço se levanta
Se um destino é de encontro ao teu destino
Pois a canção de paz é o mesmo hino
Que no peito da guerra o povo canta.[13]



















BIBLIOGRAFIA


ANDRADE, Gevson Silva. Análise da Funcionalidade Urbana de Surubim-PE: um olhar em sua função enquanto cidade média. Recife: Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco, 2005.

BARBOSA, Mariza Paula, Surubim pela boca do povo. Museu Histórico de Surubim: Surubim, 1995.

BARBOSA, Nelson. Recordações de minha vida, minha terra. Surubim, s/ ed., 1979.
GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO. FUNDAÇÃO DE INFORMAÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DE PERNAMBUCO – FIDEPE. Monografias Municipais, 11. Surubim. Recife, 1982.

Jornal Luta Popular, Órgão de Divulgação do PMDB em Surubim, Fevereiro de 1988, Nº 09.

Jornal Tribuna Regional, Ano I, Número 07, Surubim, Fevereiro de 2002.

MEDEIROS, Luiz Antonio. Surubim: a história de todos os tempos. 3ª edição revisada e atualizada. Surubim-PE, 2007.





Sites:

< http://pt.wikipedia.org/wiki/Surubim>, acesso em 11/05/08.
, acesso em 11/05/08.




[1] GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO. FUNDAÇÃO DE INFORMAÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DE PERNAMBUCO – FIDEPE. Monografias Municipais, 11. Surubim. Recife, 1982, p. 20.
[2] ANDRADE, Gevson Silva. Análise da Funcionalidade Urbana de Surubim-PE: um olhar em sua função enquanto cidade média. Recife: Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco, 2005, p. 21.
[3] Na verdade, por causa do destaque que a vila de Surubim vinha tendo e sendo Cel. Dídimo de lá, seu nome foi indicado para prefeitura de Bom Jardim, conseguindo ser eleito anos antes da emancipação da vila.
[4] MEDEIROS, Luiz Antonio. Surubim: a história de todos os tempos. 3ª edição revisada e atualizada. Surubim-PE, 2007, p. 51.
[5] Jornal Tribuna Regional, Ano I, Número 07, Surubim, Fevereiro de 2002, p. 4.
[6] Jornal Luta Popular, Órgão de Divulgação do PMDB em Surubim, Fevereiro de 1988, Nº 9, Capa.
[7] Fundado pelas irmãs franciscanas, que chegaram em Surubim dois dias depois de sua emancipação, vindas do Rio de Janeiro. A Casa das irmãs foi inaugurada em julho de 1929, sendo que em setembro já começava a receber as primeiras alunas. Em 1932, as irmãs receberam do então prefeito Dídimo Carneiro um terreno para a construção de um novo prédio. Posteriormente, a escola passou a receber alunos de ambos os sexos. Hoje é uma escola de referência, com um prédio central, uma capela, uma quadra de esportes, etc.
[8] Fundado em 1960, tendo como principais fundadores o Monsenhor Ferreira Lima e o Irmão Bernardo Aguiar (primeiro diretor da escola).
[9] A ESF originou-se do desmembramento do Colégio Estadual Pio XII que era mantido por um convênio entre a Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco e os Irmãos Maristas. Em 1975, com o fim deste convênio, passou a existir duas escolas distintas: uma da rede privada e outra de rede pública.
[10] Segundo a Fundação de Desenvolvimento Municipal/FIAM, a Casa-Grande apresenta algumas peculiaridades bem interessantes, além do fato de tratar-se de uma edificação totalmente inédita e desconhecida, até a elaboração do Plano de Preservação dos Sítios Históricos do Interior/PPSHI. Uma dessas peculiaridades é a já referida semelhança entre as duas habitações conjugadas que formam, da parte externa, uma única moradia. Uma outra diz respeito à presença, ainda visível no soalho das duas salas, de alçapões destinados à remessa de alimentos aos escravos que cumpriam castigos nos cômodos do pavimento inferior, hoje funcionando como depósito. (...) Uma terceira peculiaridade é a existência, tambem bastante visível, de trincheiras para a passagem de armas (por ocasião dos ataques externos) em várias alturas de todas as janelas e portas que se comunicam com o exterior. Essas duas últimas ocorrências atestam a real antiguidade da casa, provando ter sido a sua construção efetuada, ao que tudo indica, início do século XVII. (BARBOSA, Mariza Paula, Surubim pela boca do povo. Museu Histórico de Surubim: Surubim, 1995, p.22)
[11] FUNDAÇÃO DE INFORMAÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DE PERNAMBUCO – FIDEPE. Monografias Municipais, 11. Surubim. Recife, 1982, p. 53-56.
[12] Para saber mais sobre a modernização do frevo, cf. ROSENBERG, Carlos (org.) Pernambuco: 5 décadas de arte. Quadro Publicidade e Design Ltda: Recife, 2003.
[13] BARBOSA, 1995, p. 37.

6 comentários:

Unknown disse...

Prezado Professor Biu Vicente,

Obrigado pela atenção dada ao meu querido Surubim e, também, pelo registro do meu livro - "Surubim a História de todos os tempos".
Gostaria que o ilustre professor fizesse um adendo (autoria) sobre o Escudo (um dos símbolos municipais).
Um abraço fraterno Luiz Antonio Medeiros

fofocas e babados disse...

surubim e uma cidade linda essa historia esta de parabens

Cláudia Leal disse...

Parabéns pelo belíssimo trabalho que mais parece uma poesia, sou apaixonada por Surubim, que além de ser a capital da Vaquejada é também a capital da simpatia. Tenho a curiosidade de saber qual a região de Portugal que veio a Família de Lourenço Ramos da Costa, pois entenderíamos melhor nossa origem. Parabéns, Cláudia Leal.

KZY disse...

Estive pesquisando e a estória do Boi Surubim é uma fábula portuguesa, e não é a história real do município. Mas se a população aceita, assim como aceita tantas outras estórias, deixemos como está.

Unknown disse...

Maravilhosas histórias e Contos urbanas
......

Unknown disse...

Meu surubim lindo a amado. Parabéns pela descrição espetacular professor!