segunda-feira, 16 de junho de 2008

O grande século das luzes e o Iluminismo numa perspectiva de construção

Este é mais um exercício escrito por alunos do curso de História da UFPE


Universidade Federal de Pernambuco
CFCH- Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Departamento de História
Disciplina: História Moderna II
Prof: Severino Vicente da Silva
Alunos: Jorge Ricardo e Victor Hugo L. Peres







“ O GRANDE SÉCULO XVIII DAS LUZES”
... e o Iluminismo numa perspectiva de construção.

















Índice





Preâmbulo ............................................................................................................... 03
“As Luzes de um cenário Barroco”. Por: Victor H. L. Peres
Os Precedentes ...................................................................................................... 06
O Grande Século das Luzes ................................................................................... 12
Voltaire ................................................................................... 21
Montesquieu ................................................................................... 23
Rousseau ................................................................................... 25
Da difusão e Importância da Enciclopédia ..................................................... 28
Por: Jorge Ricardo
Do Iluminismo e seu sentido (uma reflexão) .................................................. 31
Bibliografia ............................................................................................................... 35

















“As Luzes” de um Cenário Barroco”



A Idade Moderna, como toda grande divisão temporal, converte-se sempre numa época de mudanças, com seus movimentos de continuidade e de transformação ou re-organização de práticas e hábitos, mais antigos. Nela desenvolvem-se processos e idéias que passam a modelar, compor e impulsionar as formas de ser e agir de todos os elementos que a compõem, em prol de um novo sentido. Como muitas vezes, já afirmado em sala e reforçadamente visto nos textos e artigos, há o caráter contraditório entre os ideais e as práticas, ao menos nos níveis individuais dos quais tratam a história das mentalidades e dos comportamentos; essas contradições nunca antes demonstraram-se tão alinhadas com as formas do sistema macro que regia o comportamento dos homens europeus no cenário mundial como no século XVIII.
As perpetuações e as transformações são sentidas e difundidas das mais diversas maneiras, tanto nas diversas regiões como nos diversos grupos sociais que as compõem. Na Europa onde surge nosso elemento de estudo o conjunto de idéias e concepções de ser e viver, do homem, da sociedade e do Estado: o Iluminismo não foge a regra e é fruto destes mesmos processos. Enquadra-se ele nesse contexto: de marca identificadora de uma época e de lastro para o início de outra que surge de seus anseios e de suas certezas. Ele é o fruto desta época “moderna”, nascido de permanências do fim do medievo; das estruturas dos estados monárquicos; das reformas religiosas; do pensamento renascentista e das práticas mercantis-capitalistas; com novos elementos característicos dessa nova fase e nela construídos (ou re-adotados, da Antigüidade) como: o comércio ultramarino; as idéias de racionalidade; abstração [e progresso[1]] e; das novas formas de concepção e percepção que se estabelecem entre o homem, a natureza, e a divindade.
O Iluminismo foi saído do pensamento humanista propagado e concretizado nos fins do período medieval e nos dois primeiros séculos da Idade Moderna. Este que preparava o caminho ao surgimento de comportamentos e ideologias que viriam a produzir um homem mecanicista, a exemplo de Descartes (1596-1650): um homem que já não mais se enclausurava no mundo teológico, mas preparava o seu claustro nos limites da realidade do mundo, do mundo concreto e de suas estruturas “racionais” de regência da vida tanto natural quanto social; do homem que saia das mãos de Deus para as mãos e os conhecimentos dos próprios homens.
No entanto este novo homem não logrou em sua totalidade na Europa ocidental senão um século depois. Tal entendimento como se perpetuou e floresceu, apenas, ocorreu para [e dentro], das camadas de intelectuais e das elites cobiçosa da manutenção de suas posições, no caso da aristocracia e da conquista de novas, no caso da burguesia crescente.
Nesse meio, os trabalhadores mais humildes, servos e camponeses, ainda submetidos às relações senhoriais, não completamente livres, viram-se englobar nestas novas estruturas ou se ratificar suas ações e movimentos. Como exemplo, apresentam-se as constantes e violentas repressões aos movimentos camponeses, e as tentativas de controle destas massas por parte dos governos que caracterizam a quase totalidade deste período, que vai do século XVI ao XVII. Tais situações ocorreram na Inglaterra, na França em reação às Frondas, ou mesmo na distante Rússia onde nesse período registrou-se o marco, principal do início da subjugação e do controle sobre as massas de população camponesa, em nome do Estado.
Se o discurso teórico intelectual foi de revelar as formas humanas, naturais e sociais, e de delas tratar sem nenhuma explicação teológica[2], serviu-nos tal para mostrar em toda sua potência, a carne e as convulsões humanas dentro deste sistema que se instalava e se desenvolvia com puras e claras tendência ao progresso, mas também, a dominação e a não “libertação” dos homens (em seu geral). E se alguma classe, dela se viria beneficiar, esta seria a que mais desenvolveu e prosperou, mesmo aqui, por um consenso divino[3], ao ordenamento e condução do mundo, as elites européias ocidentais burguesas. Detentoras e porta-vozes deste novo (antigo) conhecimento racional, e que por ele, eram designadas guias da direção [dominação e exploração] do Mundo.
Estas racionalidades retomadas das tradições clássicas, como nos mostram os discursos idílicos e ufanísticos[4] declamados por Rousseau, aquém da capacidade de qualquer tentativa de melhoramento real das condições de vida dos homens, e que de fato, serviram muito mais a defesa de certas manutenções retrogradas, agora com nova roupagem, do que a real liberdade utópica, já descartada pelos próprios sujeitos de tal movimento. Assim o poria Voltaire que,ao pôr, a explicitação da sua racionalidade e da sua concepção de liberdade, automaticamente descartava a inconseqüente liberdade do simples querer humano e punha em foco a liberdade de escolha dentro do que se lhe era possível nos constrangimentos sociais, como todo bom racionalista para os quais: “Nada vem do nada, tudo vem de alguma coisa que o precede” e que neste caso, o era, a própria dominação. Só sendo ela agora, esclarecida.
*
Os Precedentes
O caminho para o florescimento do Iluminismo como movimento e para as Luzes européias do século XVIII, inicia-se e traça-se sobre os eventos e fatos que conduziram ao aumento do nível intelectual do homem europeu, pois que, deste desprendeu-se a construção do conhecimento e do saber racional e mecanicista que viria a iluminá-la e a conduzi-la. Dentre estes se pode citar a retomada do estudo da lógica aristotélica nas universidades por volta do século XIII[5], de onde, independentemente da forte subjugação teológica desprendeu-se o ensaísmo e a experimentação[6], tão caros aos homens do Renascimento, dos séculos seguintes; e a que, afastados das formas mais severas de controle dos dignitários da Igreja, puderam ser trabalhadas sobre a ótica da arte e da própria representação do homem nas cidades do Mediterrâneo.
De forma lenta e gradual, passaram a adquirir novos itens de saber e até mesmo de auto-conhecimento (ou reconhecimento), mas não haviam avanços coletivos e inter-relacionados; é somente nos séculos XV e XVI que tais registram-se de forma mais clara e mesmo nomeados, a exemplo: do Humanismo[7], como elemento de saber e representação; e como também, dos próprios homens que as trabalharam sobres estes “novos” (antigos) preceitos, da Antigüidade clássica.
Nomes como o de Leonardo da Vinci, Petrarca, Maquiavel, entre outros, é que acabaram por propagar os gritos abafados dos intelectuais universitários que haviam retomado os estudos e as discussões filosóficas das tradições lógicas e racionalistas no século anterior, mesmo estando estas ainda sob o véu da teologia cristã, as quais vinham ainda, a reforçar[8] nestes novos tempos que se anunciavam.
Contudo, passo fundamental havia sido dado e tal havia ficado marcado no solo humano, como em mil anos não se havia feito melhor, do que os dados pela própria Igreja. Pois que, não mais mil anos se precisariam percorrer para atingir-se o alcance que por ela havia sido conseguido. A partir daí, a passos médios, mas, de profundas transformações, reforçadas também por uma nova ordem econômica[9], tais ideologias e re-posicionamentos representativos dos homens e das coisas[10], sobre sua ação, viriam a se registrar com relativa rapidez.
É senão no século XV que, enquanto ainda nesta fase, tais conceitos racionalistas (lógicos) mesmo que de forma muito dispersa, em poucos lugares da Europa como as cidades italianas de Veneza e Florença e em partes dos Países Baixos – onde haviam relações mais precoces e fluidas, devido às atividades mercantis[11] - , e estivessem esses apenas na consciência de alguns poucos homens dentro de uma multidão de almas perdidas na ignorância da “Graça Religiosa” e nos campos senhoriais, que certas instituições destas novas percepções e entendimentos se fizeram aliar. Esta “consciência de si” que tais conhecimentos proporcionados pelo saber permitiam, davam-lhes agora, uma melhor margem de manobra dentro do cenário europeu de ocorrências e fatos, e aí se iniciava sua marca de força, que se alinhava com a formação dos Estados Monárquicos.
Fora, em parte, este novo saber liberto que dirigira e instigara a aliança entre a nobreza, o Rei e a nascente burguesia para a instituição destes novos corpos governativos, assim como o coloca Perry Anderson[12]: um acordo (consciente por parte da nobreza, mais instruída) para a manutenção do seu poder secular quanto classe, ameaçado pela crescente desintegração do estado comunal de servidão (também de inocência e ignorância das coisas), em função dos desdobramentos provocados por estes novos entendimentos.
A esta altura ,as novas formas de saber e entender já se colocavam a níveis mais consideráveis dentro das camadas mais altas da sociedade, através da via universitária, então mais humanizada que havia se propagado bastante pela Europa dos séculos XV e XVI[13], e que a impulsionava à adoção de novas posturas, as vezes contra e as vezes a favor, de acordo com os já compreensíveis interesses, de si e para si, despertos nestes homens de poder. Os acordos, invariavelmente, refletiam a procura pelos melhores posicionamentos a que se podiam optar (quanto grupo), em alguns cantos com uma postura mais inovadora e em outros com uma postura mais retrograda, mas sempre conservadoras para com sua posição e seu poder.
O posicionamento dentro deste contexto das Reformas religiosas deixa clara tal afirmação. Muito mais do que uma questão puramente espiritual e de fé, a tomada ou não destes rompimentos precedentes com a Igreja e com muito de sua doutrina por alguns dos Estados Nacionais, e mesmo por alguns homens portadores deste saber, refletiam o grau político (e mesmo econômico) da necessidade de afirmação de sua própria consciência e de libertação dos seus passos e mentes. As discussões muito mais se encontravam nestes âmbitos político-administrativo que nos da fé mística e transcendente, pura e simplesmente. A tal ponto que, com o rompimento com a Igreja Católica e a fundação das novas Igrejas Protestantes, em sua grande maioria, estes homens muito mais queriam romper com as tradições de cunho e influências, retardantes e estagnantes, no comportamento social, como: a leitura da Bíblia restrita ao latim, o desvios de capitais e de produção em indulgências e mesmo a proibição do lucro (usura), elemento fundamental a lógica comercial; do que com os reais paradigmas da fé cristã ou seu foco imagético[14]. Muito embora que, nesta primeva esfera, tais questionamentos também se colocassem, assim como, quanto a manutenção da ignorância e da dependência do homem em sua relação com Deus e com o caminho da salvação, como os eram promovidos pela Igreja.
Tal libertação promovida pela simples saída de apenas alguns poucos por cento da população do véu da ignorância do saber e, por conseqüência de suas próprias consciências, demonstravam a força, que o saber despertava nas pessoas e sua ação transformadora tanto nos campos científico-tecnológicos, como no político: que em três séculos[15] compeliria a transformações drásticas, as estruturas de toda uma tradição hexa-secular[16], e de uma subjugação da fé milenar aos propósitos dos próprios homens.
Durante o séculos XVI E XVII, com a continua ampliação territorial da qual se vê desbravadora a Europa, tanto em direção ao leste[17] como nos territórios americanos, africanos e mesmo asiáticos pelo mar, com uma profusão de nomes e homens a incrementar a mente e o saber científico, passa ela também, por um processo de curiosa repercussão futura, que é: o de uma continua estagnação estatística[18], frente a uma convulsão social profunda, dentro destas novas estruturas dos Estados Monárquicos com suas movimentações externas e internas; e que vinha estendendo-se desde os fins da Idade Media, como afirma Chaunu a partir de dados estatísticos, e mesmo Josep Fontana; sobre estes intensos acontecimentos, tão bem expostos por Eric Hobsbawn e outros, nos campos social, econômico e político europeus.
Se os séculos XIV e XV foram os da libertação e da expansão por que passaram as idéias na Europa, com o novo desenvolvimento das ciências, com a exploração do mundo e com a grande disseminação do saber pelo papel e pela imprensa; o XVI e XVII seriam o de incorporação profunda destas (idéias) nas estruturas de governo e de seu aprofundamento pelos intelectuais, agora até mesmo nas universidades onde anteriormente eram vistas com receio e controle. Pois delas passaram a sair os elementos que comporiam os quadros burocráticos desses novos Estados Monárquicos e, inclusive, porque agora, por advento das Reformas Religiosas e da Contra - Reforma outras instituições de ensino de caráter Protestantes, e mesmo católicas, passaram a configurar suas grades sobre estes novos preceitos e esta nova mentalidade, que facilitariam o avanço dessas idéias mais racionais e livres no corpo de ações sociais européias, e ao avanço da fé cristã nos novos domínios ultramarinos.
A formação intelectual, entretanto, como antes já referenciado, continuava ao alcance de apenas uma pequena parte da sociedade, geralmente, das camadas mais abastadas. Contudo, por advento da nova configuração social e econômica européia que se impunha à agricultura e ao senhorialismo, com o avanço da vida urbana e do incremento das atividades mercantis burguesas, um novo percentual de homens passou a integrar esta estreita faixa das camadas abastadas. Estes eram da burguesia que passava agora, principalmente nos países reformados, a ingressar seus filhos em universidades e academias, com vistas a uma elevação futura à classes mais elevadas na hierarquia social, pelo ingresso em postos do corpo burocrático estatal. A própria necessidade destes novos Estados de novas práticas e de novas ideologias que respondessem as demandas de um cenário barroco[19],social, político e econômico, como o que se apresentava. Instigava este novo tipo de formação, nas mais diversas áreas do conhecimento e de um constante afastamento ou, em alguns casos, a adaptação das convenções religiosas, para dar-lhe sustentação e razão às ações.
As crises internas e as instabilidades desbravadoras no mundo exigiam cada vez mais ações racionais sobre à política; as médias demográficas registravam avanços frente aos séculos negros que se passaram, mas estes mesmos, entretanto, eram agora gastos, com as séries de movimentos que por tais ações de conquista eram exigidas. A capacidade produtiva, porém, encontrava-se já mais evoluída com novas técnicas e instrumentos de trabalho que lhes agilizavam a colheita e permitiam-lhes uma melhor conservação das safras, mas não diferentemente do que com as safras humanas, encontravam-se estas em relativa estagnação frente as próprias dinâmicas internas: uma série de maus tempos eram conseqüentemente de más safras, assim como, por umas guerras aqui e outra ali, é que se consumiam as safras com que se alimentariam no porvir.
Tais necessidades crescentes, frente ao grande sistema econômico e colonial que se propunha a encarar o mundo europeu, pôs a Europa e seus Estados a se reavaliar e a empreenderem certas transformações institucionais que se registraram ao longo do século XVII e mesmo do XVIII e XIX (em regiões mais atrasadas), como: na Inglaterra em 1649, na França em 1789 e até mesmo na Espanha a partir de 1810. A corrida mercantilista punha a Europa numa situação de constantes provas a que tinha de responder. Por volta da segunda década de mil e seiscentos passam-se a se registrar os efeitos das lentas e constantes modificações que se vinham fazendo necessárias para o alcance de seu posto como cabeça de um sistema de economia-mundo (capitalista), como aponta Wallerstein[20]. A crescente necessidade de homens e de cabeças pensantes fazia-se urgente, e as transformações até então citadas, mostravam-se bastante profícuas.
Daí em diante a Europa clássica barroca, como coloca Chaunu, apareceria numa trajetória crescente sobre o prisma das Luzes, do pensamento mecanicista, racional e matematizado. Com vista a um futuro, de desenvolvimento progressivo e seguro, de conformação social e tecnológica. Mas que não impunemente seria posto em ação e não sem provas, em concretização.
*
O Grande Século XVIII das Luzes[21]
O primeiro dos entendimentos que se deve ter sobre o que foi o século das Luzes, e o que representou o conjunto do “movimento” Iluminista, se assim o podemos chamar de verdade, é que tais luzes existiram muito mais como vivência do que como ideal para os seus sujeitos contemporâneos; o segundo é de que o Iluminismo, longe está, de representar por si só um movimento revolucionário, ele sozinho não encerra o conteúdo das Luzes; e terceiro é que este século não se restringem apenas nas barreiras do século XVIII e com a morte do último de seus ícones intelectuais. Assim, feito logo de início tais apontamentos, o percurso que temos por percorrer se torna mais claro e límpido, entretanto, não menos complexo e variável à interpretações, como de fato o é tal temática.
Então, como já afirmado anteriormente, o Iluminismo e as Luzes que encobriram o século XVIII na Europa, são frutos do aumento da capacidade intelectual do homem europeu, como tentei traçar no tópico anterior, e da multiplicação de cérebros[22], como coloca Pierre Chaunu, que nela se processou. Entretanto, tal processo desenvolvia-se lentamente desde o final do séculos XV e XVI em resposta “as baixas da peste”, chegando ao inicio do XVII, com medíocres resultados de recuperação do número populacional, anterior ao de tal período (o da peste); devido também, às intensas convulsões provocadas com os movimentos de conquista e expansão europeus tanto nos territórios do próprio continente, com as disputas internas de Estado contra Estado; como no Ultramar, nas colônias distantes da América, da África e da Ásia.
Os conhecimentos tinham avançado e até certo grau haviam se disseminado nos núcleos intelectuais, universitários e acadêmicos. Nas estruturas do Estado também se viam achegar novos sujeitos formados a esta nova cartilha humanista e clássica; entretanto, devido a tal estagnação demográfica e ao nicho restrito em que se podiam originar, além do consumo destes também, nas atividades de conquista, mantinham-se eles sempre em níveis ínfimos de representação, frente a população total da Europa. Esta ainda, permanecia em sua grande maioria populacional, sobre o véu da ignorância e subjugada pelos senhores e pelas Igrejas, nos campos.
Quanto às populações citadinas e burguesas, para tais a situação apresentava-se um pouco mais favorável, contudo não resolvida. Eram somente as camadas mais ricas destas que podiam vislumbrar a possibilidade de uma formação clássica, para os demais a formação restringia-se mesmo, ao “ver-fazer e ouvir-dizer”.
Porém, por volta de 1620-1650 no campo intelectual dá-se uma organização do pensamento e das idéias segundo preceitos matemáticos e racionais, chega-se a uma racionalidade já muito mais límpida, abstrata, e especializada que a legada pelos renascentistas. É este o período a que se denomina de “crise da consciência européia”, por nele se setorizar os diferentes âmbitos das ciências e da política, assim como, da religião, deixando-se de fora, ou mais afastado do que nunca até então, Deus e agora até o próprio homem. Nele se situam a primeira geração de filósofos mecanicistas, que preparariam os instrumentos e aportes aos futuros filósofos iluministas e a própria re-configuração, dos meios e das estruturas de produção, com avanços tecnológicos que impulsionariam os artesãos burgueses ao take off[23].
As pesquisas científicas e os avanços filosóficos fazem-se cada vez mais em âmbitos bastante reservados, a partir dos métodos de exploração natural, a exemplo: da Matemática, da Física, do Direito e até da Religião Natural e das discussões políticas, sobre bases predominantemente racionais. 1680 registra-se como marco desta fase de mutação das consciências[24]. O Deus que aí se põe para esta geração de pensadores, não deixa de ser um Deus criador, mas que não se interpõe nas relações humanas; este deus aparece como um expectador distante deste mundo natural que se apresenta ao homem racional, e que o deixa seguir nos caminhos de perscrutação da realidade natural.

Movimento das populações européias por Estados durante o séc.XVIII[25]

No âmbito demográfico deste período em diante, após o fim da Guerra dos 30 anos, principalmente, no último quartel, os índices de natalidade aumentam e o crescimento demográfico também, não só na Europa assim como na China; os melhoramentos técnicos na produção, passaram a permitir maior excedente, uma relativa paz e mesmo uma nova postura nas frentes de colonização, acrescidos ao aumento dos capitais nos países da Europa Meridional e Setentrional, permitem uma considerável elevação do poder aquisitivo nas diversas camadas da sociedade, principalmente na burguesa, que passam a produzir uma massa humana mais generosa, que chega a multiplicar-se por duas, em quatro gerações antes do fim do século XVIII, e que representa a “Vital Revolution”.
Esta camada privilegiada pelo cenário internacional do comércio ultramarino, que é a burguesia, passa a engrossar também, mais significativamente, a estreita camada dos cérebros intelectualmente educados. Estes passam a compor em muito maior número os corpos universitários e acadêmicos da Europa.
Origens sociais dos estudantes da universidade Glasgow no séc.XVIII[26].
Legenda: A, Administração; B, Exercito, Marinha; C, Igreja; D,Industria e Comércio; E, Lei; F, Medicina; G, Nobres e proprietários rurais; H, Professores; I, Pequenos exploradores(trabalhadores rurais); J, Cidadãos e K, Diversos.

Por isso, não deixam de imprimir novos anseios e experiências aos novos conhecimentos científicos; juntamente com suas contribuições científicas, passam a vir implícitos novos discursos e mudanças de perspectiva social; a estagnação e o tradicionalismo ignorante, passam ao alvo dos filósofos, que tentam propor novas posturas para a re-acomodação social, frente as constantes e contínuas interações que por este século, e por estas condições previamente fornecidas se impõem.
As duas fronteiras que ainda fortemente se impunham por volta do fim do séc. XVII, mas que ainda nele passaram a ser derrubadas e que viriam a contribuir fortemente com os desdobramentos futuros de avanço da sociedade européia, como a própria Revolução Industrial (o take off) e a Revolução francesas, foram as da linguagem. As linguagens dividiam os homens entre aqueles que sabiam ler latim, aqueles que sabiam ler os idiomas vernáculos e os nove décimos restantes que aprendiam apenas pelo “ver fazer e ouvir-falar”. As Luzes desde já se colocavam na movimentação de derrubada destas barreiras; as Luzes trataram da derrubada do latim como idioma científico e promoveram uma maior disseminação do saber ao publicarem, os trabalhos científicos, em idioma vulgar, o que pôs à multiplicar os cérebros por dez no espaço do continente europeu, ao que Chaunu tende a chamar de uma “alfabetização”: pelo rompimento de barreiras ao acesso ao material científico e à aquisição de um nível eficaz de leitura por parte considerável da população.

A Europa Educada[27] A alfabetização dos homens (de acordo com as assinaturas paroquiais) é seguida
aqui na França, na Inglaterra, Pais de Gales e Escócia.
É dentro desta grande disseminação do saber que nascem e crescem aqueles que viriam a compor o corpo de pensadores do panteão Iluminista. Os quais passariam, através da Enciclopédia, a plantar e disseminar ainda de forma mais ampla a transmissão dos conceitos, ideologias e termos, que davam, e dariam sentidos a estas transformações sociais que, um século à frente, levariam o mundo ao ribombar das vozes revolucionárias e das sinetas das fábricas.
Entretanto, dentro deste grande cenário barroco em que se propagam as idéias mecanicistas de progressos e racionalidade, tanto nas áreas científicas duras como nas recém instituídas de âmbito social; a desigualdade de propagação do saber, era grande e assim permaneceria até próximo a virada do século, e mesmo além em partes da Europa. Tais idéias e sujeitos esclarecidos, mesmo com a prática e discurso de uma difusão do saber para os homens, conviviam em seu mundo, seu espaço e seu tempo, com os não esclarecidos, a que no entanto, um anônimo, sobre isto disse: Esclarecidos e não esclarecidos, estavam em uma mesma época, no mesmo espaço, mas não os eram contemporâneos.
Os abismos que se abriam entre uns e outros, mesmo com toda a expansão da leitura e do saber, nunca viriam a sanar-se em uma mesma época: enquanto uns discutiam a razão e os espectros mais profundos de objetos epistemológicos, tais como os conceitos dos termos Direito, Liberdade e mesmo, Deus, os outros ainda faziam os primeiros avanços em uma parca alfabetização.
Os desníveis, intelectuais e sociais foram, durante todo o grande século XVIII, fatores de inquietação dentro de uma consciência geral dessa intelectualidade iluminista, preocupada com as questões de discurso social e político. Porém, é se não no último momento deste século que se vê nascer uma preocupação deveras significante para com os mais humildes, para com as massas populacionais. É frente às situações de insustentabilidade da manutenção dessa ignorância, não de forma gratuita, mas também dirigida pelas intensas transformações no cenário produtivo, causa e fruto desta previa libertação das mentes, que ações e posturas mais enfáticas são adotadas, a exemplo: as manifestações de Voltaire ao saber das justificativas dadas pelos padres franceses nos púlpitos a respeito do terremoto ocorrido em Lisboa (1755), a que justificavam como “castigo divino contra o povo português pelos seus pecados”; e da reação dele as perseguições clericais ao povo, neste caso na figura de Jean Calas, que fora torturado e morto por suspeitas infundadas incitadas por aqueles a que chamava de “fanáticos e patifes ignorantes”.
As produções da primeira metade deste longo século XVIII sob ação das Luzes, tinham referências e correlações bastante especificas e localizadas, dentro da esfericização do saber[28], promovido pelo mecanicismo naturalista, inclusive em âmbitos políticos e sociais. É nesta fase que tomam lugar entre 1680 e 1730, principalmente na Inglaterra, a produção dos esteios discursivos e especulativos que mais tarde seriam disseminados pelo mundo pelos propagandistas enciclopedistas.
Qual situação refletia o elemento barroco do grande cenário europeu. Na Inglaterra respirando-se ares mais livres, as Luzes, já no século XVII, pelas reformas internas do Estado e da própria mentalidade, chegara a produzir Milton, Hobbes, Locke e um Newton[29]; que adentraria o século XVIII, imbuído de tal espírito de disseminação e libertação. Na França, mesmo com os incentivos estatais ao desenvolvimento científico, e inclusive com a fundação da Academia Francesa por Luís XIV, seu desenvolvimento crítico via-se sobre as severas restrições morais e políticas estatais, bem como, clericais pelo poder das Ordens e do monarca nos centros de ensino. A produção em sua grande maioria restringia-se a uma literatura de obras frias, corretas e vazias, como afirma H.G.Wells. As grandes luzes francesas, no entanto, brilharam e brilhariam no exterior, muitas vezes em condições de exílio e mesmo de revolta. O próprio Descarte (1596-1650), libertador da ciência, vivera a maior parte de sua vida numa Holanda relativamente segura; Voltaire, sempre em fuga das prisões reais, hora encontrava-se na Inglaterra absorvendo o espírito daquela geração inglesa anterior, hora na Prússia sob a proteção do seu “príncipe ideal” ou ainda na Suíça em sua propriedade de refúgio; sem contar com J. J.Rousseau e a sua eterna pátria, Genebra.
Tais exemplos, contudo, bem demonstravam o palco convulsivo em que se apresentava a Europa continental: as mentes dos homens (de algum capital) estavam em movimento; as relações estavam em reforma; a economia estava à os incentivar e mesmo a fé, a exemplo da francesa vinha a transforma-se (neste caso esvaziar). Entretanto, as estruturas dos estados em seu auge de forma; as hierarquias sociais dele derivadas e a mão paralisante das estruturas clericais fortes, encerravam-nos como um poderoso invólucro em ebulição interna, que não tardaria a se deflagrar pela ação da fermentação de tais idéias na mente dos homens.
Mas antes, faz-se necessário expor as diretivas do movimento correlato as Luzes, o Iluminismo, aquele que em si sintetizaria o espírito da época, no interregno deste século, o XVIII; e que seria no seu fim, talvez, o maior responsável pelo rompimento, com a estrutura da Grande Monarquia, o Estado Absoluto, e com às últimas amarras religiosas para o desenvolvimento do homem (burguês) na Europa Continental[30].
Para isso tomemos três dos grandes idealizadores e sintetizadores destas idéias esclarecidas: Voltaire, Montesquieu e Rousseau, para que a partir de suas próprias idéias e formações, possamos fazer uma análise mais clara de seus discursos e efeitos, dentro do cenário das Luzes e do parco cordão que delineia o que chamamos de movimento Iluminista[31].

*
Voltaire
Voltaire, com certeza configura-se como um dos homens mais influentes do século XVIII. Não havia monarca esclarecido, que não lhe conhece-se a reputação, sempre pediam-lhe conselhos. Seus escritos eram lidos e publicados em toda a Europa, e circulavam mesmo nos lugares onde este era perseguido; suas composições teatrais eram representadas nas mais diversas casas e rodas de espetáculos, nem sempre com grande aclamação, mas sempre com enorme repercussão. Muitas de suas idéias facilmente triunfaram, de tal modo, que acabaram por se tornar “lugares-comuns” e as vezes mesmo armadilhas para seu produtor.
François-Marie Arouet descendia de abastada família burguesa, que lhe proporcionou, sob muitos cuidados, uma educação acurada. Estudou ele com os jesuítas no Colégio Louis-le-Grand em Paris e como quase, todo intelectual de seu tempo freqüentou suas rodas boêmias, além também, de algumas sociedades anônimas como a Société du Temple, de livres-pensadores (e libertinos).
Entretanto, como já afirmado antes, Voltaire fora em 1726, obrigado a exilar-se na Inglaterra, viveu durante três anos nos quais absorveu o espírito liberto e especulativo, fortemente desenvolvido lá. É neste período, e no de seu retorno a França onde de fato, inicia-se a grande fase de Voltaire, como intelectual construtor de uma nova mentalidade em territórios francos e no mundo. Escreveu então um dos trabalhos, que mais o projetara: as Cartas filosóficas ou Cartas sobre os Ingleses de 1734, nas quais fazia claras comparações entre a mentalidade e liberdade inglesa e o atraso, conservador e retrogrado do Regime Absolutista francês, clerical e obsoleto, fazendo amplo convite a seguir-se o modelo inglês, pondo tudo em dúvida. Entretanto, o livro fora condenado pelas autoridades. Más, não tardaria para que ele volta a ser perseguido por seus pensamento e escritos.
Em 1753, depois de um conflito com o rei da Prússia, Frederico II em quem via o exemplo de “príncipe ideal” para um governo esclarecido, e para quem estava de serviço, teve ele de retirar-se para Genebra. Com uma mente bastante capitalista, desde a juventude: entrementes grandes negócios, especulações na bolsa e no tráfico negreiro; Voltaire aparecia como um homem de posses, a que em 1758 compraria um castelo, para nele instalar uma fábrica de relógios e outra de tecido, e que garantir-lhes-iam, ao morrer em 1778, uma renda anual de 350,000 libras.
Ao longo de todo terceiro quartel do século XVIII, ele produziria intelectualmente de forma intensa, e adentraria a cada novo trabalho em novas e delicadas questões que lhe garantiriam uma intensa migração pela Europa, pelos desconfortos por estes causados a sociedade. Novas empreitadas surgirriiam, como a de 1753, de escrever uma História universal, “o Ensaio sobre os costumes e o espírito das nações”, que seria sua primeira tentativa a partir do ponto de vista do liberalismo religioso e político.
Contudo, ainda assim Voltaire que detestava a “Igreja Católica” e todas as formas de intolerância, não era ateu. Era deísta, muito embora alegando o argumento pouco sincero de que Deus, “se não existisse, deveria ser inventado para refrear os maus instintos das massas”. Defendeu a burguesia, enquanto sua classe, contra a aristocracia feudal e antecipou a revolução francesa como revolução da burguesia.
Muito bem colocado durante toda a sua vida, do lado de uma burguesia abastada, freqüentava os grandes e famosos “salões” da época e que não dispensava a oportunidade de fazer-se presente nas cortes, ele não viria a opor-se ao geral da estrutura do Estado e de suas formas, excetuando-se a influência clerical e da hierarquização estagnante (para a burguesia), como o fazia Rousseau em seus ideais de retorno ao estado natural, e a que respondeu quando do lançamento de um livro do último:
“Acabei de receber seu último livro contra a espécie humana, e agradeço. Ninguém foi tão refinado quanto o Senhor na tentativa de reconverter-nos em brutos. A leitura de seu livro produz o desejo de voltar a ficar de quatro. Como, entretanto, faz uns sessenta anos que deixei de exercer tal prática, sinto que é impossível, para mim, voltar a ela”
Ao que, podemos dizer que ele, em suas posições e propostas político – sociais, não longe de um conservadorismo reformado, se colocava. E que suas proposições de um discurso burguês esclarecido, somente a estes se prestavam, “mas aos demais, não”.

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Montesquieu
Intelectual influente nas rodas de filosofia, história e de direito (constitucional), Montesquieu era também um dos maiores literatos de prosa da língua francesa. Sob sua influência, bem como da de Voltaire, os escritores franceses passaram a se tornar algo mais que bons literatos: passaram também a discutir questões de âmbito públicos e a influir nos rumos da política do país. Barão, membro de uma influente família da aristocracia provincial, fez sólidos estudos humanísticos e jurídicos, entretanto não abstêmio era dos círculos da boêmia literária parisiense.
Em 1714 adentrou nos quadros do Estado, no tribunal provincial de Bordéus, ao qual presidiu de 1716 a 1726. Fundamentalmente um aristocrata de província, da estirpe de seu conterrâneo Michel de Montaigne e, como ele, humanista e cético; Montesquieu ajuntou, porém, a essa herança espiritual o otimismo característico do século XVIII - adquirido em longas viagens pela Europa e pelo intercâmbio com outros intelectuais, inclusive ingleses -, e acreditou firmemente na possibilidade de resolver os problemas da vida pública da França.
Com a mente de um livre-pensador, sobretudo em matéria religiosa, e apreciador dos prazeres da vida, ele imprimiu tal espírito em seus escritos, a exemplo de Cartas Persas de 1721, Considerações sobre a causa da grandeza dos romanos e de sua decadência de 1734 e do O espírito das Leis de 1748. Nesses escritos procura determinar as causas da grandeza e da queda das nações e dos impérios, não gratuitamente frente as próprias convulsões e transformações internas de sua nação; e delinear o curso da história através de fatos naturais, econômicos e políticos, a exemplo do clima, da conformação geográfica, e da amplitude de seus domínios no e o que ele chamou de "gênio" das nações.
Sobre as bases e critérios das ciências naturais foi um dos fundadores da filosofia da história e primeiro a usar o termo “decadência”, a propósito de um Estado e de seu destino histórico. Tal que passaria em gerações subseqüentes, a tema permanente desta nova filosofia, que ganharia corpo durante os séculos XIX e XX. Entretanto, mesmo como homem do século XVIII, Montesquieu não se entregou ao pessimismo, em oposição a Voltaire e ao próprio Rousseau, e acreditava numa possível recuperação do Estado por meio de instituições políticas adequadas.
Ele elabora, em muito sobre o modelo inglês, o conceito das formas de governo e do exercício da autoridade política:
“...considera que cada uma das três formas possíveis de governo é animada por um princípio; a democracia baseia-se na virtude; a monarquia na honra e o despotismo no medo. Ao rejeitar este último e afirmar que a democracia só é viável em repúblicas de pequenas dimensões territoriais, decide-se em favor da monarquia constitucional. Elabora a teoria da separação dos poderes, em que a autoridade política é exercida pelos poderes executivo, legislativo e judiciário, cada um independente e fiscal dos outros dois. Sendo esta a melhor garantia da liberdade dos cidadãos e, ao mesmo tempo, da eficiência das instituições políticas”.

Tais idealizações de Montesquieu perpetuaram-se como modelo ideal de Estado no pós Revolução Francesa. Seus escritos levaram a discussões profundas sobre várias questões de ordem prática e mesmo teóricas dentro da conjunção paradoxal entre o novo e o tradicional, entre o antigo regime e o sue poder de moderação e os novos regimes e o liberalismo estrutural (burguês).
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Rousseau
Sobre Rousseau muito pouco posso acrescentar, que lhe seja mais relevante, que sua própria postura dentro deste cenário das Luzes e do que ele mesmo nos legou em sua autobiografia, “As Confissões”:
...nasci em Genebra, em 1712, de Isaac Rousseau, cidadão e Suzanne Bernard,cidadã. Uma herança bem medíocre, para ser dividida entre quinze filhos, havia reduzido a quase nada a parte que coube a meu pai, que não tinha outro meio de subsistência senão a profissão de relojoeiro, na qual era, na verdade muito hábil.
Entre todos os intelectuais dessa época, seria ele o mais afastado dos salões e das cortes, em muito por toda sua trajetória de cunho social tanto quanto por seu ideal pessoal de aversão a tais coisas; ainda que sua literatura dentro delas circulassem e a muitos agradassem, e que por isso, vez ou outra, fosse ele elevado a alvo de alguma polêmica e a estes tivesse que ir para prestar explicações. Chegando mesmo por isso, a contribuir com artigos para a Enciclopédia de Diderot, que desta forma passou a conhecê-lo.
Para se entender o seu trabalho e o mote principal de suas idéias, se deve compreender que ele esteve na contramão, ou melhor, levado à ela pela própria confusão e percalços de seu tempo e vida, como ocorre algumas vezes com pessoas em meio a uma turba. Fora conduzido à adoção de uma postura de negação a todos os impulsos construtores de sua época, assim como ele mesmo expôs, em sua resposta ao premio que lhe daria ingresso a Republica das Letras feito pela Academia de Dijon, que era: O restabelecimento das ciências e das artes teria contribuído para aprimorar os costumes? A que respondeu, negativamente: “Se nossas ciências são inúteis no jogo que se propõem, são ainda mais perigosas pelos efeitos que produzem”.
As profusões científicas e mesmo as ideologias político-sociais, de progresso e reestruturação do estado, que a um tempo visavam a elevação social e intelectual, da população – de camadas bem especificas da sociedade – mas que a outro, acabavam por aprofunda-las com uma corrida frenética a um desenvolvimento, a que nem todos poderiam chegar; era já, apontado por ele como problema e questão, à discussão em seus trabalhos. Como fica claro neste trecho:
“Se o progresso das ciências e das artes nada acrescentou à nossas felicidades, se corrompeu os costumes e se a corrupção dos costumes chegou a prejudicar a pureza do gosto, que pensamos dessa multidão de autores secundários... Que pensarmos desses compiladores de obras que indiscriminadamente forçaram a porta das ciências e introduziram em seu santuário uma população indigna de aproximar-se delas, enquanto seria de desejar-se que todos aqueles que não pudessem ir longe das letras fossem impedidos desde o início e encaminhados às artes úteis à sociedade?

A elas, estas desigualdades dentro do processo de formação de uma sociedade, ou melhor, desta nova sociedade “esclarecida” que se formava. Ele divisava como solução: a construção de um “ Contrato Social ” no qual após terem perdido (todos os homens) sua liberdade natural, ganhassem, em troca, diferentemente do que era exposto no “Discurso sobre a origem da desigualdade”, a “passagem para a servidão” sob um Estado esclarecido a moda de uma classe, sim, a passagem para a liberdade civil, assim como exposta, neste trecho:
“ .... quando bem compreendidas, reduzem-se a uma só: a alienação total de cada associado, como todos os seus direitos, à comunidade toda, porque, em primeiro lugar, cada um dando-se completamente, a condição é igual para todos, e sendo a condição igual para todos, ninguém se interessa por tornar onerosa para os demais”.

Desta forma, como apresentada por ele, seguem-se diversos passos a aplicação deste modelo nos diversos âmbitos da estrutura social, incluindo o funcionamento da máquina política, O Estado e de seus representantes, que também, deviam estar assim: “como um corpo submisso à autoridade soberana, expressa por este [povo, em sua coletividade toda, pelo] Contrato Social”. Entretanto, não esqueceu ele das inúmeras variáveis que da regulação das massas saem, deixando por isso uma série de recomendações para a manutenção deste estado de coisas, inclusive da ciência e da artes, tão nocivas ao estado idealizado do “sufrágio universal”.
Quando foi convidado a elaborar à constituição para Córsega e a redigir à reforma das leis polonesas, Rousseau foi bastante moderado e usaria sempre da máxima que havia dado por ocasião do Contrato social, como saída as próprias adaptações práticas de seu sistema, que era a de que: “...a primeira tarefa do legislador é conhecer muito bem o povo para o qual irá redigir as leis”.
Desta forma, ao fim do século, quando da Revolução Francesa, por esta fórmula, julgou-se a Coroa; por ela seria ele elevado a categoria, pelos propagandistas de 1789, como patrono e primeiro revolucionário, por haver assim colocado e proposto, esta passagem do exercício de poder, as mãos do povo, verdadeiros detentores do poder.

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Da Difusão e Importância da Enciclopédia
Se há um instrumento que mais que qualquer outro fora responsável pela disseminação do saber e pela propagação das idéias deste período, fora ele o livro. Entretanto, se há um entre todos eles a que se possa relegar a responsabilidade de uma maciça difusão das idéias, daquilo a que se viria chamar de Iluminismo, este fora à Enciclopédia. Organizada por D´Alambert e depois por Diderot, esta publicação constituía-se num resumo preciso da profusão de idéias e formas com que se apresentava a enorme produção científica da época.
Através dela propagava-se os ideais dessa geração de cientistas, filósofos e livres pensadores, que a passos largos propagavam profundas transformações, as modas e as estruturas da sociedade daquele grande século de vivacidade em que se alocava à Europa. Racionalidade, progresso, desenvolvimento e transformação, juntamente com um anti-clericalismo e anti-tradicionalismo, eram valores divulgados e apoiados por ela, através dos escritos de seus contribuintes.
Por isso, não livre de perseguições viu-se a Enciclopédia, ao longo de sua publicação. Muitas vezes perseguida, pelo clero e mesmo pelo rei, divisou-se em constantes manipulações e joguetes para lograr sair dos manuscritos. As invariáveis, alterações para gozar de uma edição publicada, acabaram por criar diversas inquietações e intrigas entre os pensadores da época, que a ela faziam contribuições.
Contudo, independente das perseguições e das reformulações a cada nova impressão, chegou ela a um grau de difusão e leitura, como poucos livros da época chegaram a ter. Das costas francesas voltadas para o canal da mancha às distantes paragens, da Rússia czarista, e mesmo as ultramarinas colônias americanas, viu-se ela alcançar[32]. Através, do cada vez mais movimentado, comércio internacional e das mãos dos mercadores livreiros do período, chegara ela mesma a representar um dos artigos mais lucrativos para este comércio de pequenos artigos. Era, ela mesmo, um objeto de ostentação e luxo: suas edições mais primorosas, chegavam a algo em terno de uma pequena fortuna e era um cobiçado elemento decorativo, as mais renomadas bibliotecas da época.
Sua forma, a esta movimentada disseminação, também respondia. A cada lugar e cada período, uma ou outra forma, era eleita a formatar a Enciclopédia. Na França, a edição in-quarto fora a preferida; na Polônia a assinatura chegara a ter trezentos assinantes, outras formas, como as in-folio, também vinham a atender as necessidades de consumo de regiões em específico, de acordo com as necessidades de seus consumidores aonde esta chegava. Outra variação por que tinha de se adaptar era a das traduções, a que se visavam uma mais ampla distribuição dela nas diversas partes do mundo onde tomava parada.
Assim como seu grau de transformação editorial demonstrava, esta aparecia como alvo do consumo de uma gama muito grande e variada de sujeitos, de acordo com o lugar e o seu nível intelectual. Desde os mais renomados nobres da França, passando pelos profissionais liberais dos Países Baixos, até as camadas crioulas e colonas da América, dela tomavam a leitura e a ela interpretavam e re-interpretavam, um significado. A diversidade de mentes a que agradava e a amplitude de âmbitos que com alguma contribuição respaldava; não de graça é que, se transformava em instrumento de disseminação ideológica e a que se veria copiada posteriormente, como instrumento em função de ideais, que não mais eram os seus.
Porém, não é por menos do que isso, a incrível capacidade de a tantos espíritos despertar o interesse, que ela fez-se a mais importante publicação de sua época, e a que viria a ser lembrada – mesmo que não o fosse de fato -, até os nossos dias, como a fonte das luzes Iluministas e dos raios do movimento revolucionário francês.
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Do Iluminismo e seu sentido, uma reflexão
Cabe então agora, após esta rápida visualização dos próprios gênios e suas ideias, e daquele que foi o seu mais eficaz transmissor de idéias; fazer-nos algumas perguntas e observações, a respeito de questões bastante relevantes, principalmente, quando tratamos daquilo que fora, o ensaio para a composição e conformação de todo o alicerce sobre o qual, nós mesmos nos colocamos agora. E que dele não tão poucas coisas assim, saíram, sem que marcassem a vida de milhões de homens.
A primeira delas coloca-se mesmo, sobre o Iluminismo, sobre como se pode chamar e colocar tão próximas, em um mesmo movimento, idéias tão divergentes quanto as que aqui já foram indicadas, como as de Voltaire e Rousseau? E a que, tal conjunto, se propunha para dentro desta perspectiva de futuro e de progresso ao mundo iluminado que construía?
À primeira, em parte já respondida no rodapé 31, deve se acrescentar que não gratuita e inofensivamente, fora ele armado, a conjugar em um ideal três projetos tão distintos. Uma entre várias das hipóteses dadas, e é aquela a que mais tendo a aceitar: é a de que tal fora uma composição estimulada pelo próprio sistema capitalista, representante das vontades de uma engrandecida burguesia, dentro de sua estrutura de uma economia-mundo[33] pautado no comércio e nas relações produtivas de mercado, nessa fase industrial; que necessitando de um novo suporte legalizante empreende a construção de um (novo) modelo de Estado e de sociedade, que o favorece-se, e o aponta-se como suporte, a uma burguesia que o representaria, como classe esclarecida, dominante e dirigente, para o mundo.
Exemplo o é, quando da conformação deste conjunto híbrido de idéias Iluministas, que extraiam das Luzes suas razões, e que assim se colocavam, no momento do rompimento com as antigas formas, a um de seus lados, o idílico pensamento rousseauniano, como o esperavam “os revolucionários que a tal (Revolução) foram levados pela propaganda” de uma ilusórias realidade liberta; mas que, como construída, no momento seguinte viria a desampara-los, frente aos seus reais projetos, apenas de: uma substituição das mãos de poder, por outras não menos ferozes e vorazes, quanto as antigas que lhes haviam precedido, na cobrança do “sangue” e do suor. E a que de sábias e esclarecidas, estas mais o sabiam de verdade que as primeiras, apenas as melhores formas de ludibriar e dominar, como as a que recorreram livremente, no agora real e limítrofe mundo dos homens, e seu.
Ao largo do jogo das Luzes, propulsoras de incríveis melhoramentos a todos os sentidos do desenvolvimento progressivo por elas desejados e vislumbrados no campo das experimentações racionais: de um constante superar-se, positivo as próprias representações de si e das coisas ao seu redor.
A cobiça, as armadilhas do vislumbre do alcance da completude sapiencial e dos melhoramentos, individuais e particulares, acabaram por pôr o pensamento iluminado num jogo de muitas contradições internas e externas, e de ações práticas de caráter duvidoso, que tendia a pôr, a humanidade, no covil e na “escravidão da procura do progresso”[34], no qual se divisava, apenas, como modelo possível e melhor, aquele forjado aos interesses do sistema.
Uma segunda coisa referencia-se mesmo a progressão desse movimento Iluminista à ruptura com as antigas estruturas de poder. Tal medida, contudo, somente adotada, de fato, após a morte de seus idealizadores conceptivos, não visava mais que a retirada de certos entraves à exploração, mais próxima e intensa, daquilo que lhe era imprescindível ao crescimento do sistema capitalista, os mercados e as pessoas. A agilidade na estruturação de tais artifícios, já no pós revolução, nos indica, uma prévia consciência e planejamento, mesmo que não consciente, tácito (para todos os sujeitos contemporâneos), daquilo que representaria os desejos coletivos desta classe burguesa frente aos já “despretensiosos” interesses das camadas aristocráticas e mesmo da inexistência, devido a falta de força político-representativo, das camadas mais baixas, a que viam-se cooptar com banais estratagemas. A semelhança deste, aqui já discutido, de apresentar o movimento revolucionário, como a realização das previsões e das idéias esclarecidas de forma a racionaliza-lhe, tal fenômeno; mesmo que estes “filósofos” nunca tivessem clamado por revolta e a que o objetivo não era o de subverter a ordem, mas sim, pelo contrário, protege-la contra os cataclismos, modernizando-a e reformando-a, como afirma Baczko.
Entretanto, como se verificou, foi muito mais a re-interpretação dos pensamentos de tais filósofos, por parte de uma camada burguesa previamente esclarecida, numa postura de condução das demais mentes em um estagio menor de compreensão do mundo e de seus parâmetros, que haviam conduzido a Revolução e à projeção híbrida, sobre a forma das propostas Iluministas, forjadas, em um Estado, que comportasse estes novos anseios: uma liberdade, igualdade e fraternidade, que de fato nunca existiriam, e que serviriam somente, à sua própria ascensão e institucionalização, como classe dominante no mundo, sobre o simples princípio de defesa da propriedade privada, que alimentava (e alimenta) o sistema capitalista.
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Bibliografia

British Enciclopaedia
Great Books of the Western World. Montesquieu and Rousseau.
VOLTAIRE. Dicionário Filosófico.
CHAUNU, Pierre. A Civilização da Europa das Luzes.v.1. Lisboa. Estampa,1985
BACZKO, Bronislaw. Iluminismo
Raymond Williams. O Campo e a Cidade: na história e na literatura. SP,Cia das Letras,1989.
WEFFORT, Francisco C. Os Clássicos da Política. SP, Ática,2006.
Voltaire, Vida e Pensamentos. SP, Martin Claret,2001
DABAT, Christine Rufino. Moradores de Engenho. Ed.Universitária, Recife, 2007.
GOMBRICH, E. H. The story of Art.
DARTON, Robert. O Iluminismo como Negócio.
[1] Este conceito, exclusivamente, construído na época moderna.
[2] Pois dentro da visão Deísta, mais comum a estes pensadores do século XVII E XVIII, no movimento da religião natural: Deus, já não mais interferia nas coisas de âmbito material, as quais havia criado, mas à que, guardava uma distância transcendente. Nelas este atuava como um distante mantenedor e nunca como mediador. Por isso estava ele fora das buscas de justificação das coisas coisas sociais e mesmo naturais, uma vez,que as havia criado com leis que as auto regiam.
[3] Neste caso principalmente a partir das concepções protestantes, a exemplo: do calvinismo.
[4] Ufanístico vem de ufania:S.f 1. qualidade do ufano. 2. Vaidade descabida, vanglória, jactância, soberba. 3. Motivo de orgulho, de honra, de glória, etc. Ufano: 1. Aquele que se orgulha de algo. 2. Que se vangloria e se arroga méritos extraordinários, arrogante, ostentoso, jactancioso, bizarro. 3 .Satisfeito consigo mesmo; vaidoso. Tal característica é a ele empregada, a partir de uma análise do seu discurso literário em As confissões, no qual deixa clara por sua posturas , a possibilidade de emprego deste adjetivo a se mesmo, e também á suas idealizações, pôr tal passagem em que demonstra o grau de sua vaidade e orgulho, frente aos demais de sua época: “Tomo uma resolução de que jamais ouve exemplo e que não terá imitador. Quero mostrar aos meus semelhantes um homem em toda a verdade de sua natureza, e esse homem serei eu. Somente eu. Conheço meu coração e conheço os homens. Não sou da mesma massa daqueles com quem lidei; ouso crer que não sou feito como os outros. Mesmo que não tenha maior mérito, pelo menos sou diferente. Se a natureza fez bem ou mal quando quebrou a forma em que me moldou, é o que poderão julgar depois que me tiverem lido”. Neste expressa ele a sua auto representação, seu EU poético, como expõe Maria de Lourdes D. Santos(UNESP), e ao mesmo tempo, os moldes com que idealizara uma nova sociedade, por esta o ter, o seu EU poético (natural), como padrão. O pensador e artista romântico em seus devaneios nivela-se a Deus e condena a sociedade, desvirtuadora do homem. É celebre a frase dele, na qual afirma que o Homem é bom, porém a sociedade, o corrompe. Entretanto, tal ideal por ele proposto, nada mais é que a representação desse mesmo EU que se põe como modelo, elevado a um nível de sociedade: com seus mesmos anseios e desejos , em certa medida puramente orgulhosos e mesmo egoístas, por pôr-se, e a ela (a tal sociedade natural) como verdadeiros moldes, a todas as demais coisas, tomadas por seu desprezo.
[5] Verifica-se, então nas universidade em desenvolvimento de Paris, Oxford e Bolonha, um crescente movimento de discussões filosóficas sobre parte dos ensinamentos de Aristóteles, e não sua massa inteira. Pois que , somente, mais tarde , através das traduções de Averroés, ficariam estes melhor conhecidos no mundo europeu. H.G.Wells
[6] No qual papel importante deve-se a Roger Bacon (1210-1293), que insistia sobre a necessidade de “experimentação” e de “classificação” do saber. H.G.Wells
[7] “Humanismo é a palavra inventada no século XIX para descrever o programa de estudos e seu condicionamento de pensamento e expressão, que era conhecido desde o final do século XV como a província do umanista, o professor dos STUDIA HUMANITATIS ou roteiro de estudos das artes liberais em escolas e universidades. Isso passou então a incluir o estudo do latim (e em muito menor medida o grego), textos que tratavam de gramática, retórica, história, poesia e filosofia moral. Tal programa era secular, preocupado com o homem, sua natureza e seus dons...” HALE,John R. Dicionário do renascimento Italiano. RJ.Zahar.1995.
[8] Tal fato devia-se, a reconstrução do catolicismo iniciada por Tomas de Aquino (1225-1274) sobre em um sistema mais sólido de raciocínio, também em cima de aportes aristotélicos, mas diretamente ligada a uma melhor sustentação da teologia cristã.
[9] O capitalismo.
[10] Entre eles o naturalismo, o realismo, o antropocentrismo, o individualismo e o hedonismo.
[11] Que os punha em contato com outras culturas, como a Islâmica e a Bizantina ainda com fortes aportes clássicos, no caso dos Italianos.
[12] Anderson, Perry. Linhagens do Estado Absolutista.
[13] Em muito devido aos próprios efeitos da Reforma Protestante, concebida sobre esse olhar humanista, e que agora criava seus próprios centros de produção e difusão de saber.
[14] Imagética: s.f. conjunto de imagens (símbolos, metáforas, etc)

[15] Conta-se aqui, a partir do século XIII, quando da retomada das idéias clássicas aristotélica nas universidades, e da penetração pela via comercial ítalo – bizantina e moura na Península Ibérica.
[16] A estrutura senhorial, que passa mais fortemente a se registrar a partir do ano 1000.
[17] “Os anos 80 do século XVII marcam a passagem decisiva de uma pequena para uma grande Europa,... É esta parte central da Europa é a que, no plano político, conheceu maiores mudanças. França alargou as suas fronteiras pelo antigo corredor lotaringiano-borguinhão. A Áustria absorveu a Europa danubiana arrancada aos Turcos. Um processo de reagrupamento em volta de alguns estados territoriais médios foi timidamente desencadeado no Império. Este processo de reagrupamento territorial sobrepõe-se ao processo profundo da recolonização a oeste, e da colonização do solo a leste”. Pierre Chaunu.
[18] Tal refere-se a média, tanto demográfica como produtiva (cerealífica), que aparece frente a uma comparação com outros recortes temporais semelhantes e que demonstram: que neste não houvera maiores avanços que nos anteriores.
[19] Por o ser de um intenso dinamismo e profusão em todos os âmbitos da sociedade e de suas ações, como já apontado, mas que entretanto revelava em se todas as contradições e antagonismos que podiam insurgi-se contra os tais primeiros avanços, compondo assim um cenário de características incrivelmente antagônicas, “absurdas ou grotescas”. GOMBRICH. E.H., The Story of art.
[20] Mostra ele que o capitalismo histórico nasceu na escala intercontinental entre 1450 e 1650. E que : “Em torno de 1650 as estruturas do capitalismo histórico enquanto sistema social viável estavam implantadas e já consolidadas”. DABAT, 2007 apud WALLERSTEIN 1990.
[21] Conceito proposto por Chaunu, de um grande século estendido, que se inicia por volta de 1650, 1680 com à atuação do espírito das Luzes, e que com suas conseqüências, atingiria mesmo o século XIX em regiões mais atrasadas, mas que via de regra se delimita em 1789, e o início da Revolução Francesa.
[22] Estes eram o resultado da conjunção: aumentos demográficos com aumento da acessibilidade ao saber, mesmo que de “ver-fazer e ouvir-dizer”.
[23] Termo empregado em economia para referenciar-se ao processo da Revolução Industrial, de arrancada e decolagem da produção, e da própria civilização capitalista industrial.
[24] Período de profusão dos debates e dos avanços científicos, principalmente, encarnados pelas produções da geração Inglesa. Ver nota 29.
[25] Retirado de “A Civilização da Europa das Luzes”, Pierre Chaunu
[26] Retirado de “A Civilização da Europa das Luzes”, Pierre Chaunu
[27] Retirado de “A Civilização da Europa das Luzes”, Pierre Chaunu
[28] Da separação das ciências e de suas transformações em setores autônomos, com desenvolvimentos próprios.
[29] Geração inglesa, pós Revolução Gloriosa.
[30] Do homem europeu setentrional. Pois os demais, só posteriormente, no século XIX e mesmo XX, viriam a conhecer tais frutos que dele se retiraram.
[31] Pois como exposto por Bonislaw Baczko, este era uma representação ideal, de construção posterior, criado com o objetivo diretivo de respaldar e dar um sentido de continuidade, do século e das idéias das Luzes, ao movimento da Revolução Francesa, como que estando esta numa relação de espelho com a anterior.
[32] Assim como, também, ao norte nas planícies protestantes holandesas e ao sul, nos Estados Ibéricos católicos e na Itália.
[33] “O conceito de "economia-mundo" configura um espaço único de ação social com a integração de múltiplos processos de produção e de divisão social do trabalho que, juntos, permitem uma incessante acumulação do capital. Daí a "economia-mundo" forjar suas próprias estruturas institucionais, políticas e jurídicas, estabelecendo limites para seus integrantes e criando suas próprias regras de legitimação, transformando o Estado numa conseqüência e não mais na causa do capitalismo; distribuída em algumas áreas em que suas elites empresariais promoveram uma integração ativa no mercado globalizado e em áreas com grande concentração de renda, mão-de-obra aviltada e conseqüente debilidade da economia, onde as forças empresariais e governos foram levados a uma integração passiva”.
[34] CHAUNU, Pierre. A Civilização da Europa das Luzes.v. I

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