sexta-feira, 20 de junho de 2008

Rap e Repente

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CURSO DE TURISMO
HISTÓRIA DA CULTURA
PROF. SEVERINO VICENTE DA SILVA

RAP E REPENTE

EQUIPE:

DANIELLE RODRIGUES MENDES FERREIRA
INÊS HEBRARD
MARIANA MELO DO NASCIMENTO
RENATA MAGALHÃES DE LIRA


SUMÁRIO


INTRODUÇÃO.................... .................... .................... .................... .................... ............p. 2

I. CONCEITOS-CHAVE.................... .................... .................... .................... ..... ....p. 3
a. Tradição e renovação
b. Improviso na fala, nas artes, na música

II. REPENTE .................... .................... .................... .................... .................... ..........p. 6
a. Definição de Repente
b. História
c. Métrica
d. Subdivisão do gênero: embolada, aboio e cantoria de viola
e. Principais repentistas
f. O Repente na atualidade

III. RAP.................... .................... .................... .................... .................... ............. .......p. 10
a. A cultura hip-hop
b. O Rap: definição e evolução
c. O Rap brasileiro

IV. RAP-REP.................... .................... .................... .................... .................... .............p. 13
a. Personagens
b. Eventos
c. Depoimentos e considerações finais

CONCLUSÃO .................... .................... .................... .................... .................... ........................ .p 16
BIBLIOGRAFIA.................... .................... .................... .................... .................... ........................p. 17


INTRODUÇÃO

"Nada se perde, nada se cria, tudo se tranforma", disse Lavoisier. Essa lúcida constatação adapta-se particularmente bem ao tema de nosso trabalho. Rap e repente são gêneros musicais que apareceram em épocas, lugares e ambientes completamente distintos, porém têm certos pontos em comum que explicam o seu recente encontro. Nos últimos meses, poetas repentistas e rappers tem começado a cruzar suas artes, num movimento que recebe o rítmico nome de rap-rep.
Vamos mergulhar na história e na evolução destes dois gêneros musicais, que ainda não foram consagrados nem nas pesquisas nem nos manuais. Seu encontro exemplifica uma das problemáticas inerentes à História da Cultura: a tradição lida com a modernidade, o contemporáneo se inspira no passado... A particular trajetória do repente e do rap, elementos que fazem parte da cultura musical brasileira, servem de ilustração ao conceito dinâmico de "Cultura".
Depois de fazer esclarecimentos necessários à comprensão do tema, passaremos a apresentar separadamente cada um dos gêneros, o repente e o rap. Finalmente, falaremos da sua mistura.

I. CONCEITOS-CHAVE

a. Tradição e Renovação

O conflito entre tradição e renovação na cultura é um tema recorrente, no qual a teoria é mais fácil de impor do que a prática. A cultura é dinâmica e é importante preservar a tradição, contudo a renovação é essencial para se manter viva uma tradição, o problema é a dosagem. Quando as culturas alcançam a união entre tradição e renovação elas se fortalecem, mantendo os alicerces sobre os quais se erguem e acrescentando soluções criativas para os desafios da contemporaneidade e da globalização.
Encontros entre grupos de repentistas e rappers acontecem sem muita divulgação, por todo país, resultando numa surpreendente miscigenação cultural entre elementos aparentemente incomunicáveis: a cantoria de viola e o hip-hop. As resistências e dificuldades vão sendo quebradas e surgem interações que ainda é cedo para saber em que vão dar. A mistura entre o rap e o repente tem um lado mercadológico e um lado cultural. Em termos de mercado, não se compara à gigantesca máquina que existe por trás do hip-hop.
O rap da mesma forma que o repente é um estilo de cantar versos improvisados. Existem diferenças na sua base rítmica, do modo como rimam e como se organizam em estrofes. Entretanto, tudo que é improviso é repente, e as formas de improviso nordestina têm pontos de contato com improvisos da cultura hip-hop. O hip-hop e o repente têm raízes parecidas e na maioria das vezes têm a intenção de retratar a realidade em que estão inseridos. Rap significa ritmo e poesia e isso equivale ao que os emboladores fazem.
Atualmente os poetas (repentistas) estão sendo inseridos em um cenário urbano, em grandes festivais e congressos ou em meios como rádio e televisão. Além de cultuarem o universo mítico em que se originaram suas artes incorporam temas da atualidade em seus desafios, do mesmo modo que os folhetos de cordel sempre fizeram. Os rappers começaram a procurar os poetas na maioria das vezes em uma atitude reverencial, na qualidade de mestres da poesia. Essas notáveis iniciativas receberam as atenções do poder público que passou a incentivar o “diálogo entre as culturas”.
O repente nordestino e o hip-hop descendem da poesia oral africana. Esta descendência pode ser notada através de características como: a propensão lúdica ao jogo de palavras puro e simples; a vocação agonística, competitiva, dos grandes desafios; o sentido profundo de que dois poetas são porta-vozes de suas comunidades; e até mesmo recursos específicos como trava-língua, a enumeração, as perguntas e respostas.
A aproximação que existe entre o rap e o repente gera convivência entre manifestações artísticas de mesma origem e espírito semelhante, contudo são separadas pelo gigantismo financeiro que uma veio a atingir e pela desvalorização que sofre a outra, existente há 150 anos no Nordeste, e que sempre foi vista com desdém pela maioria dos nordestinos ricos e letrados.

b. Improviso na Fala, nas Artes, na Música

"Todos nós improvisamos o dia inteiro, - só que em prosa. Nenhum de nós prepara e decora o que vai dizer no dia-a-dia, e quando tenta fazê-lo (declaração de amor...entrevista de emprego...depoimento à polícia...) geralmente dá com os burros n'água. Somos todos improvisadores – mas em prosa", diz Braulio Tavares. Mas certas pessoas falam com mais fluidez que outras, ou seja, certas pessoas têm uma maior capacidade para improvisar. O professor de oratória de executivos, artistas e políticos Reinaldo Polito é mestre em ciências da comunicação, e autor de 17 livros sobre o assunto. Segundo ele, "a capacidade de improvisar é uma das qualidades dos bons oradores". E acrecenta que “improvisar não significa falar sobre o que não se conhece, e sim organizar os pensamentos e transformá-los em palavras diante de situações não esperadas.”
Segundo Nuno Matos Duarte, quando se trata de definir o improviso no relacionamento que este tem com a arte, os dicionários usam expressões tais como “é o discurso, poesia ou trecho musical proferido, feito ou executado sem preparação”. Mas essa falta de preparação é relativa. Com efeito, como diz Eugênio Mussak, "Só improvisa quem conhece o assunto sobre o qual deve improvisar". Desta forma, nas artes o improviso pode desenvolver-se com certa preparação, não deixando de ser improvisação por esse motivo. Esta teoria pode ser verificada através de vários exemplos.
Assim, já nas origens do teatro, na famosa Comédia dell'Arte, ou Comédia dell'Improviso, os atores deviam ter uma grande capacidade de improvisação, sendo que não existiam os "scripts". Na época era comum que um ator representasse a mesma personagem durante muitos anos seguidos, aumentando assim a sua capacidade de improvisação na pele desse personagem. Não podemos dizer que o ator saía em cena "sem preparação", já que sua atuação era o resultado de uma experiência, de um trabalho prévio. Mas ele, certamente improvisava.
O mesmo acontece na música. A improvisação é usada em vários gêneros musicais, nacionais e internacionais, eruditos e populares. Na Europa ocidental, já na Idade Média, juglares eram capazes de improvisar poemas e cantorias. No Nordeste brasileiro, no maracatú rural, existia antigamente a "sambada de pé na parede". Na Bahia, nas rodas de capoeira, ao som dos pandeiros e berimbaus, o coro às vezes improvisa cantorias. De forma geral, o gênero de música mais comunmente associado à improvisação é o jazz, mais particularmente o "be-bop". Mas os improvisadores desta música possuim o que Nuno Matos Duarte chama de "uma espécie de léxico musical que, no fundo, não é mais do que uma extensa coleção de clichés, “vocábulos”, com o poder de tornar o discurso musical coerente, embora este, sendo improvisado, se vá tornando obra à medida que o músico o vai inventando em tempo real".
E essa constatação, na verdade, é válida para todo tipo de improvisação: "Só improvisa quem conhece o assunto sobre o qual deve improvisar. Chefes de cozinha improvisam nas panelas, músicos improvisam com os instrumentos, professores improvisam na sala de aula, médicos improvisam no hospital de campanha, poetas improvisam ao ouvido de suas musas" (Eugênio Mussak). Assim, como aqueles jazzman possuem um "léxico musical", rappers e repentistas possuem um repertório bem completo de palavras, versos e rimas que permitem inúmeras combinações, de forma que eles podem inovar – e, portanto, improvisar - constantemente. Eles são especialistas das palavras, por isso podem improvisar com elas. Com razão o rapper fancês MC Solaar fez famosa a sua declaração "meu livro de cabeceira é o dicionário".

II. O REPENTE

a. Definição

O repente pode ser chamado de improviso, é a arte do instante, a arte de criar no momento da execução da obra, pois se considera o momento do improviso como o ponto mais alto alcançado pela arte do cantador nordestino. É nesse momento, com o verso feito na hora, metrificado, bem rimado, no calor do momento e diante da platéia, que se observa a maestria desse artista do povo, que é o repentista. Esse ritmo, que também pode ser chamado de desafio, é uma forma de criação artística ainda não consignada nos manuais. Tem presença marcante no Nordeste brasileiro, é mescla entre poesia e música na qual predomina o improviso – a criação de versos “de repente”. É uma arte transversal, que pode ocorrer em diferentes atividades. Define-se o repente genuíno, como aquele que é criado no calor do momento, sem que seja possível voltar atrás e consertar os detalhes, os pequenos defeitos, já que criação e exibição foram simultâneas para o público.
A palavra repente pode ser usada com dois significados principais, segundo uma discussão dos próprios poetas. Primeiro, querendo dizer improviso, coisa feita na hora, é o verso resultante da imaginação do próprio cantador. Por outro lado, a expressão O Repente também tem um significado mais amplo, sendo sinônimo de Cantoria de Viola, referindo-se a arte dos cantadores, juntamente com: os modelos poéticos, o jeito de cantar, os valores estéticos, os rituais.

b. História

O Repente é uma tradição folclórica brasileira, tendo sua origem relacionada com os trovadores medievais. No caso do Brasil, a tradição ibérica dos trovadores deu origem aos cantadores, os chamados poetas populares, que vão de região em região, com a viola nas costas, para cantar os seus versos. Estes versos aparecendo na forma de trova gaúcha, do calango (Minas Gerais), do cururu (São Paulo), do samba de roda (Rio de Janeiro) e do repente nordestino. Diferente dos outros, o repente nordestino se caracteriza pelo improviso, em um desafio com outro cantador. Não se leva em consideração a beleza da voz ou a afinação, o que vale é o ritmo e a agilidade mental, fazendo com que o oponente fique encurralado apenas através da força do discurso.
O repente se insere na tradição literária nordestina do cordel, de histórias cantadas em abundantes versos, publicadas em pequenos folhetos, que são vendidos nas feiras por seus próprios autores. Ele foi para o Sudeste em meados do século XX, junto com a migração de nordestinos para as grandes capitais: chegou a São Paulo por volta de 1946 com o alagoano Guriatã de Coqueiro (Augusto Pereira da Silva) e, no Rio de Janeiro, instalou-se na Feira de São Cristovão.

c. Métrica

O repente possui diversos modelos de métrica e rima, tendo ainda uma variação na organização dos seus versos. O seu cantar normalmente é acompanhado de um instrumento musical, podendo ser o dedilhar de uma viola de sete ou dez cordas. Nas cantorias é preciso seguir as métricas delimitadas para modalidade. A rima deve ser feita de acordo com a estrutura das palavras e não pelo som. Existe ainda um rigor com as métricas da rima improvisada.

Estrutura de alguns estilos:
· Sextilha: Seis versos de sete sílabas cada.
· Brasil Caboclo: Estrofe da décima, com refrão nas 2 linhas finais: "Neste Brasil de caboclo, de Mãe Preta e Pai João", e melodia própria.
· Quadrão mineiro: Oito versos de sete sílabas, com o refrão "Cantando quadrão mineiro" na última linha, e melodia própria.
· Martelo agalopado: 10 versos, com 10 sílabas cada. Os versos são acentuados nas sílabas três, seis e dez.
· Martelo alagoano
· Martelo miudinho
· Galope beira-mar
· Gabinete
· Quadrão de meia-quadra
· Toada alagoana
· Gemedeira
· Mourão de sete linhas
· Décima
· Dez pés a quadrão
· Mourão Voltado
· Dez de queixo caído
· Oito pés a quadrão
· Mourão você-cai

d. Subdivisões Do Gênero

Os improvisos cantados variam em função da parte instrumental. A partir disso acontece uma subdivisão desse gênero em embolada, aboio e cantoria de viola, que se baseia no fato de que os repentistas, de um modo geral, são poetas que fazem versos improvisados.
Ø EMBOLADA: pode ser chamada de coco ou coco de embolada. Arte surgida no Nordeste, diferenciada pelo uso de pandeiro ou ganzá, tem um estilo mais livre, mais solto. É feita com uma dupla de cantadores que usam versos rápidos e improvisados onde um tenta diminuir, desfazer, a imagem do outro, com versos ofensivos, famosos pelos palavrões e insultos utilizados. O cantador ofendido deve improvisar uma resposta rápida e ao mesmo tempo bem bolada, caso não consiga, o outro é coroado triunfante.

Ø ABOIO: é um canto utilizando apenas a voz. Foi se modificando e hoje é cantado em dupla, no norte de Minas Gerais e em versos no estado de Pernambuco.

Ø CANTORIA DE VIOLA: é uma atividade musical que se baseia em uma improvisação de versos por dois cantadores que se alternam, respeitando normas poéticas. A cantoria é uma arte que se iniciou no meio rural, especialmente no sertão, e aos poucos conquista o público das grandes e pequenas cidades. Apesar do pouco reconhecimento que a cantoria tem, ela continua até hoje encantando através dos violeiros.

e. Principais Repentistas

O Repente tradicional, composto pelos violeiros-cantadores em duelo, se manteve graças a alguns nomes importantes como: Oliveira das Panelas (vencedor do 1º Campeonato Brasileiro de Poetas Repentistas, realizado em 1997), Mocinha da Passira, Valdir Teles, Lourinaldo Vitorino, Sebastião da Silva, Azulão, Miguel Bezerra, Otacílio Batista, Ivanildo Vila Nova, Zé Cândido, Ismael Pereira e Natan Soares. Ivanildo Vila Nova venceu inumeráveis concursos de Repente, têm dezenas de CDs gravados, participou de muitas excursões tanto no exterior, como no Brasil, é considerado um divisor de águas na cantoria. Além deles merece destaque, a dupla de emboladores mais célebre do Brasil, Caju e Castanha. Viraram estrelas de cinema pelas telas de Walter Sales. Cantando no Mercado São José e também em outros pontos do Recife foi como eles começaram a ganhar a vida. Além de suas rimas próprias eles produziam os seus próprios pandeiros. A dupla já fez shows na França, em Londres e até mesmo no Rock in Rio. Em 2001, o Caju faleceu, e no seu lugar ficou Cajuzinho. Sendo assim, atualmente Castanha divide os desafios com o sobrinho Cajuzinho.

f. O Repente na Atualidade

O cantador moderno acompanha as mudanças que acontecem no perfil social da população nordestina. Atualmente o cantador, continua fazendo shows aonde ele é chamado, mas já acrescenta a sua atividade elementos da modernidade como, como celular, automóvel e avião. Os estilos próprios da cantoria se mantêm, mas os temas utilizados é que se modificam, já que a arte do cantador consiste em se apodera do presente, sem abrir mão do passado. Não se substitui a tradição, mas se acrescenta a ela novas técnicas, novos temas e novas motivações.

III. O RAP

a. A Cultura Hip Hop

O Hip-hop é geralmente definido como um movimento cultural urbano que surgiu a partir dos anos 60, entre a Jamaica e os Estados-Unidos. A "cultura hip-hop" se compõe, básicamente, de quatro tipos de manifestação artística: o canto, a instrumentação, a dança e a pintura (cf. tabela aqui embaixo).

MANIFESTAÇÃO

Instrumentação
NOME -Disc-Jockey
PESSOA - Disc Jockey e/ou MC (Mestre de Cerimônias)
DEFINIÇÃO - Música feita a partir do uso de dois discos de vinil, dos quais se usa :
- a parte instrumental da música, chamada de "Break", com a qual se podem fazer "Scratchs" (atrito da agulha do toca-discos no disco de vinil).
- Os "Samples", pedaços instrumentais ou vocais de outras músicas reutilizados para criar outra peça.
Dança
Break-Dance
Breaker
Movimentos rápidos e malabarismos corporais, com formas e equilibrismos herdados das artes marciais.
Pintura
Graffiti
Tagger
Pintura realizada em muros, geralmente em espaços públicos. É uma forma de "marcar o territorio", usada por gangs ou rappers.
Canto
Rap
Rapper
Ver embaixo.


O Rap: definição e evolução

Rap (sigla inglesa para "Rythm and Poetry", Ritmo e Poesia) é o que podemos chamar de "expressão musico-verbal" da cultura hip-hop. O rap tem uma batida rápida e acelerada e a letra vem em forma de discurso, com muita informação e pouca melodia. Segundo o texto de suapesquisa.com, "quando o rap possui uma melodia, ganha o nome de hip-hop"...
Não existem estudos empíricos sobre a origem deste tipo de música, mas as pesquisas apontam que sua origem estaria na década de 60 na Jamaica.
Nos anos 70 houve um forte movimento de imigração de jamaicanos para os Estados-Unidos, e começa a ser conecido em Nova Iorque um DJ jamaicano, Kool Herc. A ele se atribui a combinação do Sound-Stystem e o canto falado, assim como da técnica do "scratch". Certas historiografias insistem em remontar as origens do rap até as músicas negro-americanas como o Funk e o Jazz, se bem parece mais exato falar de "influência" ou "uso" do funk pro surgimento do Rap. Com efeito, as primeiras gravações identificadas como Rap consistiam na declamação de um texto sob o ritmo das batidas de tambores africanos, sendo a negritude o tema principal.

Gangsta Rap
O Gangsta Rap (Rap Gângster) surgiu nos Estados Unidos no meio dos anos 80. Com letras duras e brutais o gangsta rap logo ganhou espaço na mídia mundial, e foi desde o começo alvo de muitas críticas. Entre os maiores gangsta rappers destacam-se Tupac, Eazy-e, Compton Most Wanted ,entre outros, que em suas rimas falavam das desigualdades e do racismo além do ódio que sentiam uns pelos outros e pela sociedade que os rejeitava. Este tipo de Rap apresenta, basicamente, letras baseadas no estilo de vida dos membros de gangues.

Free-style Rap
É o modo de cantar o rap de forma improvisada, colocando versos feitos na hora, no que se chama uma "batalha ou "desafio" de rappers. Os versos são, assim, baseados nos versos dos seus adversários. No Brasil existem cada vez mais rimadores que vem alcançando sucesso, como por exemplo Marechal, Max B.O., Kamal e Slimrimografia.
A princípio as batalhas de freestyle no Brasil tinham pouca força, mas passaram a ganhar mais espaço depois de serem organizadas por Mc's do Rio de Janeiro como Dom Ngrone, Marechal, Aori, entre outros.

c. O Rap Brasileiro

Segundo o rapper Master Tee, o nascimento do Rap brasileiro aconteceu em São Paulo nos anos 80 (quase simultaneamente com os Estados-Unidos). Lá, um grupo de jovens começou a dançar breack, e logo depois alguns deles tornaram-se rappers, isto é começaram a criar e declamar versos ao som da batida.
A primeira música de RAP a surgir no Brasil foi "Kátia Flávia", em 1987, de autoria de Fausto Fawcett e Laufer, gravada com os Robôs Efêmeros.
O registro inicial do rap brasileiro é a coletânea Hip Hop Cultura de Rua (1988, Eldorado). Ela trouxe faixas dos grupos Thaíde e DJ Hum (produzidas por Nasi e André Jung, do grupo de rock Ira!), MC Jack, Código 13, entre outros. No começo dos anos 90, Thaíde e DJ Hum e os Racionais eram reconhecidos como os mais sérios e importantes nomes do rap paulistano, sempre envolvidos com campanhas de conscientização da juventude e movimentos de divulgação, unificação e promoção do hip-hop no Brasil.
Naquela mesma época, surgiu no Rio de Janeiro uma nova figura no rap: o adolescente branco de classe média alta Gabriel Contino, vulgo Gabriel o Pensador, que estourou no final de 1992 nas rádios com a música Tô Feliz, Matei o Presidente, direcionada para Fernando Collor, que tinha acabado de renunciar, acusado por corrupção. Ele pode ser considerado o Eminem brasileiro, já que conseguiu inserir-se no mundo do rap, antes dominado exclusivamente pela população negra.
Quase desde seu início, o rap começou ser utilizado e misturado por outros gêneros musicais. O movimento manguebeat, por exemplo, presente na música de Chico Science & Nação Zumbi fez muito bem esta mistura. Em Recife, o Faces do Subúrbio apostava, por sua vez, na embolada-rap.

IV. RAP-REP

a. Personagens

No início da década de 90, surgiu no Alto Zé do Pinho a banda Faces do Subúrbio, formada por jovens da periferia, fortemente influenciada pelo movimento hip-hop americano. O líder do grupo Zé Brown, juntamente com os outros integrantes, incluiu em suas letras a temática da realidade ao seu redor assim como os outros rappers por toda a América Latina. Através do contato com a realidade local construíram uma ligação entre ritmos brasileiros como o repente, literatura de cordel, a embolada e as batidas do hip-hop. Conhecido como rapper de respeito, Zé Brown, percebeu algumas afinidades entre o rap e o repente, através de certas características que os dois ritmos têm em comum, principalmente versos livres, rimas repetidas e batidas rítmicas, desde então ele passou a compor letras de rap com batidas de embolada. Simultaneamente no eixo Rio-São Paulo, com a forte presença de nordestinos em comunidades pobres, houve uma influência dos emboladores no rap local.
Um dos destaques do rap paulistano, Thaíde, participou em 1994 de um vídeo com Raio de Luz, poeta repentista e embolador que se apresentava nas ruas do centro de São Paulo. Em 2000, o rapper teve um encontro no interior do Ceará com o lendário Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré, o maior nome da poesia de cordel. Este encontro foi promovido pelo jornalista e escritor Bruno Zeni na Serra de Santana, junto à pequena Assaré, Ceará. O poeta e o rapper declamaram versos e conversaram entre outros temas sobre meninos de rua, Deus, Luiz Gonzaga e Lampião. O encontro foi gerador de razoável repercussão na mídia. Para Thaíde, “a juventude precisava de uma maneira mais direta para transmitir sua mensagem. O repente sempre teve o dom da palavra, e se juntou ao hip-hop de uma maneira muito natural.” Ele faz uma homenagem à Patativa, dizendo que é preciso “conhecer pra respeitar”. Também fala que: “o Brasil tem uma música muito rica em termos de matemática literária, em termos de produção musical, em termos históricos”.
Rappin Hood, outro rapper paulistano, gravou um disco com a famosa dupla Caju e Castanha, assim como fizera Zé Brown, que também teve a oportunidade de gravar com os emboladores e desde então mergulhou numa pesquisa no universo do coco de embolada que o fez conhecer vários mestres anônimos.

b. Eventos

Em 2005, na programação do Ano do Brasil na França, no Carreau du Temple e, depois, na Torre Eiffel, o mais consagrado dos cantadores nordestinos, Ivanildo Vila Nova, se apresentou com o Faces do Subúrbio. Ao que consta, com sucesso de público. A experiência foi repetida no Rio, desta vez entre Ivanildo e os rappers BNegão, Bernardo e Gabriel o Pensador.
Em outubro passado, entre os dias 26 e 28, na cidade de Campina Grande, na Paraíba, foi realizado o I Encontro Nacional de Rappers e Repentistas no Spazzio, com entrada franca. O evento contou com a participação de artistas e profissionais de todos os cantos do país e apresentou um versátil leque rico de opções, como shows musicais, apresentações teatrais, mostra de dança, cinema e vídeo e exposições de xilogravura e cordel. Além de oficinas e seminários, que pretendiam abordar e discutir a diversidade da cultura brasileira. O evento foi promovido pelo Ministério da Cultura, em parceria com o Governo da Paraíba, por meio da Subsecretaria de Cultura do Estado e com o apoio cultural da Petrobrás, por sugestão do próprio ministro da Cultura, Gilberto Gil. Estavam presentes nomes importantes como: Zé Brown, Gabriel o pensador, Caju e Castanha, “As Ceguinhas” de Campina e Nelso Triunfo. A idéia do I Rap & Rep foi mostrar que gêneros aparentemente tão distintos têm muito mais em comum do que se pensa. Assim a rima e a poesia, a dança de rua, a discotecagem e o graffiti coexistiram com a embolada, o cordel e o próprio repente.

c. Depoimentos e Considerações finais

Essa combinação de ritmos foi registrada pelo documentário “Poetas do Repente” produzido pela Fundação Joaquim Nabuco. O documentário é composto por quatro programas dentre eles, um que é intitulado Recriando o Repente, trata da interação entre essas diversas formas de expressão poética e mescla cenas de shows, conjuntos e depoimentos de rappers, poetas populares, produtores, jornalistas e teóricos. Pelos depoimentos, percebe-se a riqueza da situação e suas dificuldades. Afinal, não se faz por decreto a união de formas poéticas diversas no tempo, no espaço, nas classes sociais, nos objetivos e no posicionamento mercadológico. Recriando o Repente relaciona as modernas formas urbanas de improviso, como o rap, e procura ver suas possíveis ligações com a poesia popular nordestina.
O poeta (erudito e popular) paraibano Astier Basílio resume: “A cantoria vive dessa contradição de ser rígida e ao mesmo tempo possibilitar várias renovações. É um código que tem pilastras que não se alteram, mas ao mesmo tempo essas pilastras se renovam de forma diferente. Não é possível pensar a contemporaneidade como algo adversativo à tradição. (...) A possibilidade de diálogo teria de crescer muito mais. É muito mais possível ao rapper brincar com elementos formais da cantoria, introduzindo no seu desempenho, do que o cantador jogar a viola do lado, pegar um microfone e colocar uma base. Por que ele não pode fazer isso? Porque o código em que ele se insere não permite esse tipo de procedimento. Quando se estabelece essa relação de diálogo, ela é muito mais possível pela liberdade que o rapper faz com outras coisas - com o samba, com outros elementos musicais, pode fazer com a cantoria. (...) Essa renovação segue uma exigência do mercado. Não pode dissociar. Não é só uma fruição estética...A cantoria tem exigência de mercado, de aperfeiçoamento, de adaptação”. Ele também considera que a cantoria evolui pela necessidade de adeqüar-se a novos públicos e a novas condições técnicas, não é apenas por opção estética.
Ivanildo Vila Nova comenta a experiência da mistura do rap com o repente, afirmando que para que os dois grupos se entendam, um deles não precisa cantar igual ao outro: “Nem o pessoal do hip-hop pode cantar no tom do cantador, nem nós podemos cantar dançando e balançando, porque assim ia descaracterizar a cantoria”.
Bruno Zeni arremata: “O repente é um avô do hip-hop. O hip-hop tem muito a aprender com o repente. Acho que o repente pode aprender um pouco com o hip-hop também”.
Assim, nessa dialética entre tradição e renovação, a cantoria de viola, do alto dos seus quase 150 anos de prática, encara agora o diálogo com os jovens do hip-hop brasileiro, nascido em meados dos anos 80.


CONCLUSÃO


Uma frase popular diz que “Você não pode depender do improviso para viver, mas se não souber improvisar, estará perdido”. Poderiamos dizer que os repentistas fizeram dessa frase a regra de base de seu trabalho. O mesmo aconteceu com o genêro musical relativamente recente, o rap. Finalmente, a fusão de rap e repente aconteceu em boa hora. Talvez seja o golpe de ar fresco que ambos precisavam: o repente, pelo desgaste natural que sofrem as manifestações culturais que gostamos de chamar de "tradicionais", o rap pela constante demanda de inovação.
"A criação improvisada, por ser “performativa”, parece aceitar erro e defeito, bem como o seu fim cronológico, fundando mesmo a sua estética no efémero, isto é, estabelece-se como processo criativo que respeita a sequência “nascimento – vida – morte”, diz Nuno Matos Duarte em seu artigo. Certamente, rap e repente aceitam essa idéia de efêmero para as suas criações, mas não para elas mesmas como artes. Com todas as aspas necessárias para o uso destas noções, podemos dizer que o encontro do rap e o repente é uma "renovação" da cultura popular "tradicional". Com o rap-rep, presente e passado mostram-se juntos, desafiam-se e ao mesmo tempo misturam-se, transformando-se num exemplo perfeito do conceito dinâmico de "cultura".

BIBLIOGRAFIA – WEBOGRAFIA


MASTER TEE, "Freestyle rap", http://www.planetablack.com/arquivoshtm/materias/freestyle.html
"O Rap", http://www.suapesquisa.com/rap/
"Rap Brasileiro", http://www.mundosites.net/musica/rap.htm
MATOS DUARTE, Nuno, "Artes e improviso", http://nuno-matos-duarte-textos.blogspot.com/2007/03/arte-e-improvisao-uma-questo-de.html
MUSSAK, Eugênio, "O improviso", em http://vidasimples.abril.com.br/edicoes/048/pensando_bem/conteudo_236906.shtml?pagina=1
TAVARES, Braulio, "O verso que cai do céu", Continente, fevereiro de 2008, n° 86
ZENI, Bruno, Encontro de Patativa do Assaré com Thaíde, em http://www.memorial.sp.gov.br/memorial/revistaNossaAmerica/20/esp/musica-es.htm
Poetas do repente, Ed. Massangana, Recife, Fundação Joaquim Nabuco, 2008 (Livro e DVD)
"Cantoria de viola", Tesauro de Folclore e cultura popular brasileira http://www.cnfcp.com.br/tesauro/00002148.htm
Site “Aboio” http://www.teia.art.br/sites/aboio/
"Embolada", http://pt.wikipedia.org/wiki/Embolada
Site do evento Rap-rep, http://www.raprep.com.br/programacao.php

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